É possível uma revolução socialista no mundo atual?

Por Alan Geraldo Myleô | 17/05/2011 | Filosofia

OBS: Ethos, na Sociologia, é uma espécie de síntese dos costumes de um povo. O termo indica, de maneira geral, os traços característicos de um grupo, do ponto de vista social e cultural, que o diferencia de outros. Seria assim, um valor de identidade social.


A humanidade vive uma crise em suas relações. Ao compararmos a essência das relações sociais das antigas sociedades coletivistas (que sobrevive em alguns pontos do planeta na forma de comunidades tribais e rurais de subsistência) percebemos o quanto nossas relações se distorceram da origem.


Ao longo do tempo nossas relações sócio-culturais em todas as suas amplitudes estão se tornando complexas à mesma medida em que multiplicam-se os habitantes em nosso planeta. Uma das dimensões de maior relevância no processo de "evolução" da humanidade, foi o surgimento dos sistemas econômicos complexos, que por sua vez definiu o caráter das estruturas sociais, culturais e políticas. O sistema econômico e suas estruturas não se limitam à padrões administrativos, comerciais e legislativos. Ele define também a essência, o ethos dos grupos humanos.


O polêmico sistema capitalista criou seu padrão moral e ético que tem como bases o individualismo, a liberdade de consumo e a acumulação de bens como estado de felicidade. Porém nem todos aceitam pacificamente tal condição, e se inspiram nas ideologias de esquerda para se manifestarem contra o sistema capitalista.

Essa constante, comum e necessária insatisfação em relação ao capitalismo, que se baseia no discurso socialista, e que defende a necessidade de uma revolução social, quase sempre se perde e se esvazia quando se remete ao fracasso dos governos socialistas já implantados assim como à questão das liberdades individuais tão "importantes" na sociedade globalizada hipermoderna que foram suplantadas pelos ditadores socialistas. Temos que concordar que o socialismo pela ditadura foi um fracasso.


Isso significa que o socialismo, ou mesmo um modelo de governo que promova o nivelamento social , é impensável nos dias de hoje? Para responder essa questão é preciso estabelecer concepções sobre o que é socialismo e o que é comunismo.


O comunismo é a relação social mais antiga. Dos tempos das comunidades tribais da pré-história. E que, como já disse, ainda persiste nos confins do planeta. Em um comunismo tribal todos compartilham dos mesmos bens materiais, dos mesmos locais de convivências e tem os mesmos direitos e deveres. O que organiza e diferencia é a hierarquia. O chefe, o filho do chefe e qualquer outro membro da comunidade dispõem dos mesmos recursos materiais. Todo bem é coletivo. Desde a caça do melhor caçador até a terra em que se planta. Isso é comunismo. A organização hierárquica tribal se sustenta pela ancestralidade, pela religião e pela comunhão. Por um consenso entre os habitantes mais experientes.


Atualmente assistimos às conseqüências mais graves do capitalismo "profetizadas" por Marx e marxistas, como as desigualdades sociais extremas e os impactos ambientais catastróficos. Porém os debates, movimentos e organizações de esquerda continuam lutando contra o sistema.


Já foi provado que a justiça social pela ditadura não funciona. Mas então o que funciona? Assim como o sistema criou um ethos próprio, é necessário construir um ethos que vá contra o ethos vigente. O socialismo fracassou. O comunismo tribal foi enterrado no passado. Cabe a humanidade repensar sobre si. Se transformar. Criar um novo ethos. Mais humano. O próprio capitalismo precisa incentivar um novo ethos. O sistema está cavando seu próprio buraco. As estruturas criadas anularam uma possibilidade de revolução. Não existe mobilização. A maioria dos socialistas por ideologia não abrem mão de seu conforto em carrões, mansões, tecnologia e geladeira abarrotadas de fast foods.

No verdadeiro comunismo, antigo, raríssimo entre as populações humanas atuais, exige um ethos próprio. Um ethos coletivista. Um ethos em que o grupo, o coletivo é sempre mais importante do que o "eu". Isso é quase impensável, pelo menos entre a civilização ocidental.


O socialismo é possível no Ocidente? Não.


Mas a transformação da essência do ser precisa acontecer. Não é uma questão de opção. O mundo pede socorro. A humanidade desfavorecida morre de sede, de fome, de doenças. São as primeiras a sofrer as conseqüências dos desastres ambientais. E essas conseqüências estão subindo os degraus.