E OS MANDAMENTOS?
Por João Felinto Neto | 15/02/2015 | CrônicasBlim Blom, blim blom, blim blom bate o sino da catedral da Igreja das Carmelitas no pequeno povoado de Irrisório do Oriente, o sacristão Turibulário sobe e desce dependurado na corda enquanto o padre Anacleto Sampaio de Copaíba está à porta principal distribuindo os santinhos da campanha do candidato da situação Constantino Valério Romão do PCA (Partido Continuamos Aqui). Era domingo, dia de movimento no povoado que tinha somente uma rua preferencial Avenida Ponta a Ponta que ia como o próprio nome diz de uma extremidade a outra do mesmo, todas as outras ruas eram secundárias.
Por coincidência ou implicância defronte a Igreja estava localizada a Assembleia Evangélica do Divino Cristo Galileu de Belém do Universo de Deus, o pastor Emereciano Posse & Dom, estava à porta, distribuindo os salmos da campanha do candidato de oposição Martinho Luteriano Calvinus do PVV(Partido Vamos Ver) enquanto o obreiro Antistenes arrumava o som ensurdecedor do templo.
O padre Anacleto vai ao meio da Avenida e faz gestos para que Turibulário badalasse mais forte, o pobre do sacristão com meio palmo de língua de fora, parecia mais uma marionete amarrada num barbante, pra cima e pra baixo; a intenção do padre era tentar abafar um pouco o som que vinha da Assembleia, de frente a qual, o pastor Emereciano fazia gestos para o obreiro Antistenes que obviamente passaria uma semana completamente surdo, aumentar ainda mais o volume.
Os dois estão tão próximos que começam uma altercação, porém ninguém consegue ouvir por causa do barulho infernal, gritos de louvores de um lado e blim blom do sino do outro, obviamente a curiosidade dos moradores leva a aglomeração dos católicos do PCA atrás do padre e dos evangélicos do PVV atrás do pastor (Só faltava uma corda enorme para brincar de cabo de guerra).
Talvez pelo exagero de tantas puxadas a corda do sino se parte e Turibulário o sacristão, cai com todo o corpo no tablado de tábua no qual se apoiava ao tocar o sino que em pouco tempo para de badalar. Concomitantemente, o obreiro Antistenes se descuida e sofre um titânico choque causando um curto circuito e obviamente nada de som. Nisso, o bate-boca entre padre e pastor fica audível aos ouvidos de todos:
- ...logo eu, que sou um homem de Deus?
- Padre Anacleto, esse seu sino dos infernos, só não é pior que suas missas, onde já se viu um homem de vestido, que não conhece mulher, que vive de adorar imagens e estátuas de gesso e ainda tem o desplante de dizer que é um homem de Deus. Homem de Deus coisa nenhuma, homem de Deus sou eu que tenho mulher e filhos, que uso roupa de homem e nunca adorei imagem alguma.
- Pastor Emereciano pior que isso é se deitar com as próprias irmãs, e não honrar as calças que veste e ainda se diz que tá salvo, tá salvo enquanto sua mulher não lhe flagrar, isso é ser homem de Deus? E pior que o meu sino dos infernos é esse desespero desses seus louvores, num volume que vai além dos céus e dos infernos, tá pensando que Deus é surdo, pastor Emereciano? Surdo vai ficar esse teu obreiro, o Antistenes, isso sim.
- Eu não acredito no que estou ouvindo padre.
- E você ainda consegue ouvir pastor, isso é que é milagre.
- Padre, falso testemunho padre, nono mandamento.
- Não adulterarás pastor, sétimo.
Esse tempo todo, o pastor Emereciano mantinha sua bíblia presa no sovaco esquerdo, pega-a com a mão direita e bate repetidamente com ela na cabeça do padre Anacleto, dizendo:
- Padre, não adorar imagem padre, segundo mandamento, vê se bota isso na cabeça homem teimoso de Deus.
- Pastor, o sexto pastor, não matarás, não matarás! Grita o padre Anacleto pondo as mãos na cabeça tentando se defender.