É madrugada em Sampa

Por Majoh Rodrigues | 09/11/2016 | Crônicas

É madrugada em Sampa, são três e meia e o ar fresco da varanda convida a mais uma reflexão, uma a mais em meio a tantas, uma daquelas que ficam dando piruetas na cabeça, bailando de um lado pro outro, flutuando, ribombando, incomodando, afastando o sono já difícil de chegar a cada noite...

Quem me consola?

Eu mesma num abraço imaginário, como se fosse duas eus, apesar de há muito custo ser apenas uma e por isso agradeço sem cessar.

No céu se vê poucas estrelas, porque as luzes da minha enorme cidade impessoal são tantas, que me impedem de ver as estrelas todas, as menorzinhas, mortas ou recém-nascidas nem vejo, mas sei que estão lá.

Então imagino que vejo o céu da praia quase deserta de quarenta anos atrás, quando me deslumbrei ao ver um céu coalhado de estrelas, porque nunca imaginei o que seriam trilhões de estrelas, jamais...

Meu coração está agitado, tento fazê-lo serenar e me detenho no presente, jamais negligencio o passado, tempo de viagens realizadas, vividas, vívidas, que ainda latejam pelo meu corpo inteiro, cada uma a sua maneira, e apreciada em seu tempo, em seu passo, seu compasso, seu destino.

Nenhuma lição em vão, algumas assimiladas e gravadas para sempre na alma, imploradas para que nunca se apaguem, outras revividas num erro ainda maior e muitas, muitas por viver...

Nada me mantém mais viva que a atração pelo futuro e quantos anos me restam?

Ninguém sabe e é melhor assim: enigmático, pragmático, errático destino desconhecido, melhor assim mesmo!

Quero reter todos sorrisos e entender cada um dos sonhos, pensar e ver as coisas como outra pessoa, mas eu não consigo...

Então penso em braços fortes, poderosos no abraço, no laço, no aperto amigo, quero me aninhar nesses braços másculos e me fazer muito menor do que sou, pousar minha cabeça no teu peito caloroso e sentar no seu colo para me deixar embalar por você, que está me dando forças para continuar a marcha, manter o ritmo e não desacelerar e muito menos baixar a cabeça.

Ainda que os teus braços estejam permanentemente abertos e prontos para receber todas as mulheres do mundo, ah, que sorte a minha: também sou mulher!

Mas há qualquer coisa no calor das tuas mensagens que me traz certa paz, a escolha perfeita de textos e imagens que toca diretamente minha alma sedenta de aconchego, de amizade, de risos, sorrisos e empatia.

Logo estarei sobre outro solo e sob outro céu, mais estrelado que o meu, serão momentos benditos de saciedade da saudade, uma saudade doce que eu não vou repelir nunca, me acomodar, deixar de me defender e inevitavelmente sucumbir!

Assim como é e deve ser uma vida corajosa, saio da varanda, tomo água, como quem tomasse o vinho da vida e volto à minha cama, procurando o sono que perdi há anos...

E só Deus Bendito em Sua Misericórdia me faz adormecer, não me lembro se sonhei e não importa, porque dormi, mas acordo lentamente, estalo os olhos e lá estou eu novamente em minha companhia.

E que seja leve o meu dia!