E La Rave Và... Ou Vergonha De Ser Brasileiro
Por Félix Maier | 10/01/2007 | SociedadeTenho vergonha de ser brasileiro quando tomei conhecimento de que, mais uma vez, pessoas inocentes foram queimadas vivas dentro de um ônibus da Itapemirim, no Rio de Janeiro.
Tenho vergonha de ser brasileiro, não que nossos bandidos sejam piores do que os de outros países. No fundo, todos eles são semelhantes, parece até que foram paridos de uma mesma mãe infernal.
Portanto, não tenho vergonha de ser brasileiro por causa dos crimes cometidos no Brasil. Tenho vergonha, sim, de ser brasileiro, porque não existe uma autoridade sequer que venha em público para dizer que não aceita mais esse tipo de crime hediondo, e como irá agir para que outros crimes semelhantes não mais venham a ocorrer.
Lula classificou aquele crime no Rio como terrorismo. E, de fato, foi um ato terrorista. Mas, o que de concreto o presidente fará para que outros crimes nefastos como aquele não se repitam? Ou que, pelo menos, os culpados sejam presos e exemplarmente punidos?
Tenho vergonha de ser brasileiro porque aqui impera a IMPUNIDADE, a mãe de todos os crimes cometidos no País, desde o simples ladrão de galinha, passando pelo crime de colarinho branco, até chegar aos crimes hediondos cometidos pelas facções criminosas que tomaram conta das grandes cidades brasileiras.
Tenho vergonha de ser brasileiro porque o Congresso Nacional está podre, muitos brasileiros já estão torcendo para que as torres gêmeas da Esplanada venham abaixo, como ocorreu com aquelas de Nova York. De preferência, com todos os parlamentares dentro dos prédios.
Tenho vergonha de ser brasileiro porque as leis são lenientes, são moldadas para beneficiar os bandidos, os quais, desta forma, são incentivados a continuar na criminalidade, porque no Brasil, infelizmente, o crime compensa, já que todos eles têm a plena certeza de que passarão um breve período na cadeia.
Tenho vergonha de ser brasileiro porque o Supremo Tribunal Federal jogou no mesmo balaio criminosos comuns e criminosos hediondos, que têm o mesmo benefício da diminuição de pena (1/6), além de regalias, como o "saidão" de Natal, Dia das Mães etc., quando aproveitam para renovar o estoque de crimes cometidos.
Tenho vergonha de ser brasileiro porque nenhum deputado mensaleiro e/ou sanguessuga foi punido, pelo contrário, muitos deles foram agraciados com uma votação expressiva nas últimas eleições e, assim, voltaram fagueiramente ao Parlamento como se nada tivesse ocorrido.
Tenho vergonha de ser brasileiro quando vejo a Polícia Federal fazer seus costumeiros foguetórios Brasil afora, prendendo dezenas, centenas de pessoas, suspeitas de terem cometido crimes, e que logo em seguida são soltas e nunca mais voltam à cadeia, de onde não deveriam sair tão cedo.
Tenho vergonha de ser brasileiro quando vejo um governo acusado de ter cometido dezenas de atos de corrupção ser reeleito e ter mais de 70% de aprovação da população. Teria a maioria dos brasileiros se convertido à Igreja da Máfia?
Tenho vergonha de ser brasileiro quando vejo muitos "aspones" ganhando milhares de reais por mês, sem fazer nada, ao passo que milhões de compatriotas trabalham de sol a sol para ganhar um salário mínimo, que é, na verdade, uma prova de que ainda existe trabalho escravo no Brasil.
Tenho vergonha de ser brasileiro quando vejo muitos bispos católicos apoiando invasões de terras, feitas pelo messetê, pisoteando a Constituição e sonegando um direito fundamental de todo ser humano, que é o direito à propriedade.
Enfim, tenho vergonha de ser brasileiro, ao ver que o Brasil não passa de uma permanente festa rave, em que maconheiros, contrabandistas, cafetões e cafetinas, assassinos, terroristas, corruptos de todos os tipos estão dando as cartas nesse Cassino Raveiro em que se transformou nosso País. Tenho ainda mais vergonha de ser brasileiro, ao observar que o Governo joga as cartas com os criminosos, como se estivesse de férias em Las Vegas ou no Guarujá - local em que foi lançado o mais novo plano econômico para "destravar" o Brasil, o PAC: Praia, Água de coco (alguns dizem que é "água que passarinho não bebe"...) e Cama...
E la rave và...
P.S.: O título acima é um trocadilho e uma reverência ao último filme de Fellini, "E la nave và". O trabalho de Fellini era apenas uma obra de ficção, toda rodada em cenários artificiais (interior). Já a rave brasileira... essa, infelizmente, é real e pode ser vista em todos os cenários, exterior e interior, à luz do sol e à luz dos holofotes (F.M.).