E foi assim...
Por Heloisa Pereira de Paula dos Reis | 15/07/2014 | CrônicasCoisas da vida! Ele tinha a vida nas palmas de suas mãos. Tudo planejado. Estabeleceu metas e objetivos. Não fazia nada que não tivesse pensado antes. Pensado e analisado para saber o que era melhor para ele. Sempre agiu criando condições para que tudo desse certo. Analisava vidas alheias e sabia qual modelo não seguir. Cuidava do seu futuro. Não queria chegar à velhice dependendo de tudo e de todos, como aconteceu com sua vizinha de tantos anos. Sempre muito bem vestida, frequentando os melhores restaurantes, comprando nas melhores lojas, indo a cinemas, teatros, festas, viajando muito. Uma vida invejável, se não fosse só vivida no presente. Presente efêmero. A pouco tempo, disse-me ele, eu a vi, descendo do carro novo que comprou. Zerinho, como todos os outros. Ela não pensava que a vida pudesse ser longa e tantas coisas acontecerem. Tantas... Queria aposentar-se, para ter um dinheiro garantido até o final de seus dias. Sempre foi econômico, nunca gastou tudo que ganhava. Sempre reservou um tanto para gastar no futuro. Num futuro que estava bem perto de se tornar presente. Mas nem tudo aconteceu conforme seus planos. A vida encarregou-se de levar embora os sonhos que sonhou durante a maior parte de sua vida e que lhe faziam tão bem, que o faziam querer que um novo dia chegasse e que fosse um a menos rumo à sua meta final. Sequer percebia que o vir a ser tomava conta de seus dias. Ele não contava que não podia controlar a vida a seu bel prazer. Foi difícil aceitar que tudo seria tão diferente do que havia planejado. A notícia chegou de repente, num exame de rotina. Sentiu seu mundo desmoronar. De início não aceitou como verdade o que a ele foi dito. Duvidou... Com o passar dos dias rebelou-se. Sentiu raiva, inveja dos que não teriam que enfrentar essa situação da qual ele se sentia prisioneiro. Gostaria de trocar de lugar com alguém e não podia. Depois barganhou. Daria tudo que tinha para ter de volta sua saúde. Dedicaria sua vida aos menos favorecidos. De nada adiantou. Com o passar do tempo a depressão tornou-se sua companheira. Mas aos poucos, sem que se desse conta, ela foi embora, e em seu lugar apareceu a aceitação, que lhe trouxe paz e segurança. Sentia-se calmo. Rezava. Na última vez que nos vimos, fez uma retrospectiva de sua vida e disse ter sido feliz e sentia-se agradecido a Deus por ter permitido que sonhasse, que traçasse metas. A vida sem sonhos não vale a pena ser vivida, disse-me ele. E foi assim ...