E assim nasceu...o menino que veio do mar...
Por Antonieta Maria Rizzo | 28/02/2015 | CrônicasE assim nasceu...o menino que veio do mar...
E então ele construiu um Castelo. Nele havia pássaros e plantas de muitas cores. Debaixo daquele céu azul, sempre que olhava o infinito, imaginava que ali estava faltando o mar. Era tudo tão belo: pássaros, flores, insetos de tantas variedades, mas faltava-lhe os habitantes do mar. Faltava-lhe a cor do céu refletida naquele imenso paraíso de águas, festivamente habitado por tantas formas de vida. Decidiu então: partiria firme, em direção determinada, deixaria um pouco o seu paraíso e caminharia em busca das condições que o levariam até lá, até aquele novo universo, que parecia chamar por ele avisando-lhe que algo, que não sabia bem o que, mas que por intuição julgava ser belo, estaria lá a sua espera..Vestiu com pressa todo seu aparato de mergulho e foi ao encontro daquele universo de água. De tanta água e de tantas outras maravilhas vivas que o observavam, desconfiadas, algumas fugindo, outras se escondendo e algumas preparadas para enfrentar o perigo e defender seu lar, sua moradia, seu recanto de paz. Sim, tudo o que via, o deixava cada vez mais encantado, quase que anestesiado, sem forças para retornar ao seu mundo. Vagava por todos os espaços, entre pedras que mais pareciam enormes cidades, cheias de uma vegetação tão densa e colorida, por onde se escondia uma infinita quantidade de animais, de formas esplendorosas e de todos os tamanhos possíveis e imagináveis. A seu lado passavam olhos que o espiavam como se querendo perguntar o que estava fazendo ali, o que buscava, se estava perdido ou se procurava algum tesouro, pois, aquela forma de vida não era habitante dos seus espaços. Mas ele, indiferente, continuava a sua viagem, às vezes até esquecido que deveria voltar ao seu lugar de origem. Muitas vezes lá retornou e sempre que ali estava, uma sensação de paz e de felicidade o invadia, tornando cada vez mais difícil sair dali, voltar à tona, retornar ao mundo sem água, sem as lindas cores e brilhos daquelas vidas que povoam o fundo do mar. Mas então, quase sempre se perguntava nestes momentos de felicidade plena, por que não havia nascido ali, por que havia sempre que deixar aqueles que mais se pareciam com ele que os próprios seres humanos seus irmãos? E assim era, porque se sentia muito bem, em paz, em plena sintonia com aqueles que deslizavam à sua volta, que o faziam sentir-se em paz e ao mesmo tempo em busca, na busca sabe ele lá do que, só que em busca. E nesta busca sem limites, deparou-se com o inesperado: um enorme reboliço, peixes que fugiam algas que balançavam fixadas por seus pedúnculos, como se uma enorme ventania por ali passasse. Que estaria acontecendo? Quem tinha coragem de remexer a paz daquele lugar? Sua indignação o levou a descer mais e mais para proteger seu paraíso e livrar seus habitantes do medo que se podia observar em seus movimentos.
PARTE II
Ela estava inquieta. Parecia que o mundo desabava a seu redor. Tudo parecia feio, já vivido, sem graça. Precisava respirar, sentia-se sem ar, faltava-lhe o oxigênio para manter suas células vivas. Todos a faziam sentir-se sufocada, parecia que todas aquelas pessoas competiam com ela na busca pelo tão precioso gás de que tanto precisava. Onde será que poderia ir? Fazer o que para buscar alívio para aquela sensação de sufoco que então vivia? Já havia voado entre nuvens, desde cedo quando mal completara 15 anos. Entrar mata adentro, por longas trilhas, buscando espaços de beleza inenarrável, já fazia parte da sua história há algum tempo. Ir a festas com amigas, freqüentar locais sofisticados, como sempre gostou, não estava em questão naquele momento. Queria ver o mundo por outro ângulo, poderia ser de uma nave espacial, por exemplo, ou talvez do pico da mais alta montanha. Poderia também, e seria bem mais emocionante, já que era um novo desafio, ver a vida em sua outra dimensão: do fundo do mar! Era isso! Queria agora ir buscar oxigênio lá, respirar por entre peixes, algas e corais, mesmo que usando equipamento... Precisava então se apressar, correr, até porque, não lhe restava mais tanto tempo assim, pois teria muito que aprender, posto que nada soubesse, de como entrar no mar sem fim, ou do que fazer para poder estar ali por um tempo longo, poder observar aquele mundo desconhecido, trazer registros de sua passagem por lá... Precisava de modo urgente se preparar, ver se realmente Netuno estaria por lá...ver se poderia falar com ele e com todas as formas de vida que por certo encontraria. Estava realmente apressada, queria vencer os obstáculos e chegar depressa ao seu objetivo: as profundezas das águas... Teria que ser pela manhã, sair bem cedo, para haver tempo de sobra para a aprendizagem que por certo seria densa.
PARTE III
Desejavam os dois reunir toda aquela beleza como num passe de mágica, colocá-la disponível por toda sua vida. Mas de que modo? Como realizar tal feito? O que poderia ajudá-los? Uma máquina fotográfica? Não, não seria o bastante. Queriam, na verdade, uma nova proposta, algo que reunisse em si toda aquela beleza concentrada e que lhes possibilitasse, ao olhar, um retorno às profundezas e seus encantamentos. Lá no fundo do oceano, sempre que mergulhavam, queriam alongar o tempo. E, como se pudessem, num milagre, tornarem-se criaturas aquáticas. Voltaram muitas vezes, encontraram criaturas de todos os tipos. Água, terra, vegetais, tudo ali bem à frente dos seus olhos e de suas mentes que, como máquinas fotográficas, registravam até os detalhes de cor e profundidade. Resolveram então que somente quando encontrassem a passagem para trazer do fundo do mar aquele esplendor eles ficariam em paz. Seria uma fotografia, ou muitas, aquilo que eles queriam? Não, não seria o bastante. O que lhes daria então a passagem secreta para encontrar a resposta? O que no mundo da terra haveria de tão bonito que eles pudessem levar para o fundo do mar e em troca trazer então aquele esplendor para suas vidas? Em todas as suas viagens de volta ao fundo observaram vidas de todos os tipos e cores. Vegetais, corais, seres quase que intermediários entre a matéria bruta e a vida. Porém, algo interessante lhes chamou atenção: não haviam visto frutos como os da terra: grandes, suculentos, coloridos. Seria este o objeto de troca? A palavra secreta? Um fruto que fosse belo, colorido, suculento, cheio de vida como aquele lugar. Poderiam então levar um pedaço da terra para o mar e trazer a beleza do mar para suas vidas. Planejaram então a viagem, aquela que seria a maior de todas em suas vidas: deveriam ir ao fundo do mar, numa noite especial, cheia de emoções, levando consigo o fruto, aquele que lhes daria a passagem para concretizar seu sonho a dois. Um fruto de belo nome, que os deixariam passar para o espaço secreto onde seus destinos ficariam colados, tendo por moldura um projeto de arte, beleza, sensibilidade, amor, sonho e realidade. Retornaram então ao seu espaço na terra, para aquele lugar que havia sido o início de toda a caminhada, onde os animais e vegetais terrestres se encontravam cada dia. Lá deveriam achar o que procuravam. No meio daquele verde, ao som dos animais noturnos, embalados pela brisa do mar distante, deveria estar amadurecendo com a seiva do vegetal que o nutria, o fruto desejado. E ele então, o artífice daquele lugar, o escolheu e o levou para entregar como passagem para seu novo projeto de vida, envolvido por todo mistério que encobre o fundo do mar. Mas, o que haveria de tão especial naquele fruto? Um fruto belo, sem dúvida, mas com um estranho poder de permissão para a passagem entre mundos tão claramente distintos: a terra, palco de evolução da vida e o mar seu berço de origem. Mas a resposta estava no seu próprio nome e foi assim que eles descobriram e o escolheram. Romã. Por que este fruto? Que características o distingue dos demais para colocá-lo como chave para uma passagem secreta que iria permitir a construção de um projeto de vida que pudesse conter em si toda a exuberância das profundezas do mar? E as respostas a tantas perguntas estava no próprio fruto cujo nome lido de trás para frente lhes deu o caminho.