E AGORA, JOSÉ (OU DUNGA)?
Por maria angela mirault | 20/07/2009 | SociedadeNão é que não se possa servir a dois senhores. Não se deve. Não se deve servir a dois senhores porque não é possível. Não é ético, não é moral e não é legal, porque confunde, porque deprava. A servidão, assim, aliena e infunde desesperança. E a desesperança leva ao desânimo e o desânimo à imobilidade, à desistência. E viver, persistir e lutar é preciso.
Não há como negar: estamos mobilizados e pautados pelos últimos (?) acontecimentos no Senado. Por hoje, não são apenas os fatos levantados e denunciados que vieram a lume que nos mantém perplexos. O que nos assombra é o senso-comum dos políticos que quer nos fazer crer que o importante, agora, “é não desestabilizar o governo, não contrariar os partidos da base, as candidaturas, as alianças, as eleições de
Mas, será que suas excelências ainda não perceberam que os tempos mu-da-ram?! Será que ainda não se deram conta de que tudo que era possível de não se ver (a omissão nesse país é cultural), hoje não se pode mais, porque todo mundo vê, mesmo que não queira, pois, vivemos o ápice da era do Grande Irmão (George Orwel)? Nada mais pode (nem vai) permanecer oculto, não mais com o bendito ou maldito (?) advento das novas mídias. Mesmo que não se queira, sabe-se de tudo. Não há caixa-preta que não seja decodificada e a caixa de pandora já foi aberta para nunca mais ser fechada.
Todas as suas “excelências” estão em maus lençóis. O primeiro secretário da Mesa afirmou via tevê Senado que os oitenta e um senadores são, pelo menos, cúmplices por omissão e conivência das arbitrariedades (arbitrariedades?) cometidas nas ante-salas dos gabinetes e nas repartições administrativas. Não, senador, o senhor está redondamente enganado: não se trata apenas disso; ali tem muito mais do que simples arbitrariedades e omissões. Também não se trata somente de “demonizar” ninguém (frase brilhante!). Tem roubo do nosso rico dinheirinho, tem prevaricação, tem abuso de poder, tem muita cara-de-pau, no reino de mamon. E quem é mamon, nos dias e fatos atuais? É ainda o evangelista Mateus quem nos apresenta mamon como um outro senhor; o senhor da riqueza, do dinheiro, das luxúrias, do gozo e dos prazeres do mundo. Esse deus é aquele que inspira o homem a ambição e avareza e direciona seus desejos, corpos e mentes para as coisas materiais, triviais que qualquer airbus faz sucumbir no ar.
E agora, José? Ou se apóia (descaradamente), submetidos ás coisas de mamon, advogando-se a causa do “ruim com ele, pior sem ele”, em nome da governabilidade (mas quê?), ou se deixa os ventos da era de aquário prevalecerem e varrerem, de vez, os falsos valores, os falsos profetas, as falsas verdades e se começa tudo de novo.
Quando uma instituição como o Senado vira chacota rotineira dos programas humorísticos, a descredibilidade institucional está sacramentada e tornou-se irreversível: identidade e imagem não mais se pactuam. E se a gente perder a crença nas instituições, perder a confiança de vez nos políticos, só nos restará - com IPI reduzido ou não, com baixa dos juros, ou não, com PAC, PEC, ou não – desistir de vez e de fato. E, com cara de paisagem, começar, já agora, alienadamente, a arrumar nossas árvores de natal, a confeccionar nossas fantasias para o carnaval, como prévia do que virá por aí, e, desde já, preparar nossa torcida para copa e, de hoje em diante, a torcer somente pelo Dunga, porque não nos restará mais nada a fazer.
Mas, quer saber? Bem no fundo de um coração rubro-negro e patriota, persevera uma convicção: é impossível servir a dois senhores! Somos mais fortes do que isso. Merecemos mais do que aparentemente querem nos oferecer. E mais: as coisas de mamon não têm consistência e espraiam-se no ar, como bolhas de sabão. Na verdade, se prestarmos mesmo bastante atenção, nesse arrepiante 2009 que ainda nos resta, quem sabe, seremos bem capazes de alvejar o dragão e, aí, sim, fazermos ressurgir dessa crise um novo povo, um novo e decente Senado (e alguns senadores), muito mais fortes, muito mais dignos e mais brasileiros do que nunca.
PS: O artigo foi publicado em 15 de julho de 2009, nojornal Correio do Estado, em Campo Grande, MS.