Duas concepções para a educação
Por ATILIO BORGES NETO | 06/11/2013 | FilosofiaDUAS CONCEPÇÕES PARA A EDUCAÇÃO
Atilio Borges Neto
RESUMO
O objetivo deste artigo é, em primeiro lugar, apresentar algumas ideias do primeiro capítulo da obra História da Educação Brasileira do autor Paulo Ghiraldelli Jr. Nesse capítulo, intitulado Infância, Escola e Filosofias da Educação, o autor faz uma abordagem descritiva sobre mais de uma concepção da infância a partir do século XV e relaciona tais concepções às filosofias Cartesiana e Rousseauniana que se consolidaram em pedagogias para a educação. Em segundo lugar, tencionamos discutir brevemente sobre o perfil da Professora Republicana (obra de arte que retrata situações de ensino) e sobre a proposta de Rousseau para a educação.
PALAVRAS-CHAVE: História da Educação, pedagogias, século XV.
ABSTRACT
The objective of this work is, first, to present some ideas of the first chapter of the book History of Education Brazilian of Paulo Jr. Ghiraldelli, this chapter, entitled Childhood, School and Philosophies of Education, the author makes a descriptive approach on more than one conception of childhood from the XV century and make a relation these concepts to Cartesian philosophies of Rousseau and that consolidated into pedagogies for education. Secondly, we intend to discuss briefly about the profile of Professor Republican (artwork that portrays teaching situations) and the proposal for the education of Rousseau.
KEYWORDS: History of Education, pedagogies, XV century.
Para Ghiraldelli (2006), no mundo pré-moderno (próximo ao século XV) a infância não existia, pois as crianças não eram tratadas como crianças. Não havia vestuário, literatura nem escolas próprias para elas e ainda eram vistas como adultosem miniaturas. Contudo, nos "novos tempos" os intelectuais começam a falar das diferenças das crianças em relação aos adultos e assim surge um novo sentimento dos adultos, o que gera o cuidado e o cultivo da vida da criança. Esses intelectuais (padres, juristas, moralistas, etc) começam a mobilizar esforços que resultam na criação de uma nova psicologia em que a infância acaba sendo vista como uma fase natural e necessária da vida do ser humano.
Tais intelectuais falam também da necessidade de um lugar especial para que a infância aconteça e esse lugar é a escola, assim criou-se um elo entre o adulto e a criança. De modo mais específico, esse adulto tomou a posição de preceptor, ou melhor, de professor. Segundo uma percepção marxista, a escola moderna surgiu com o objetivo de instruir as pessoas para satisfazer as novas exigências dadas por precisões econômicas determinadas pelo "desenvolvimento das forças produtivas" e pelo começo da produção capitalista. Mas de outro modo, na modernidade, a escola não nasce propriamente para ensinar, mas para ser um local onde a infância ocorre nas mãos de especialistas, onde os professores devem ser os guardiões das crianças.
A partir dessa visão, a noção de infância se deu entre duas configurações básicas: uma (séc XVII) que via a infância como sendo uma fase negativa, como uma época de rebeldia que deveria passar com brevidade. Nela, o professor era um disciplinador e a escola era um ambiente de formação e conformação. A outra visão (séc XVIII) era de que a infância era uma fase positiva que não devia só passar, mas se prolongar. Era uma fase tida como sendo da criatividade e da pureza. Nesse sentido, o professor era como um companheiro de viagem e a finalidade da educação era fazer com que essa fase se prolongasse até a vida adulta.
São essas duas configurações que ligadas às posições filosóficas do início dos tempos modernos vão formar o nosso senso comum sobre a infância. Dessa relação filosófica, originam-se duas grandes filosofias da educação: a iluminista de René Descartes (1596-1650) e a de Jean Jacques Rousseau (1712-1778) que remete para o romantismo. Apesar de ambos concordarem que a tarefa da filosofia é a busca da verdade por meio da razão, Descartes tinha uma posição filosófica diferente de Rousseau. Para Descartes, atitudes no homem como dar crédito ao sonho, às sensações não sabendo usar da razão eram atitudes da infância e quanto mais cedo o homem saisse da infância menos ele carregaria vestígios de atitudes que atrapalhariam seu juízo. Já para Rousseau, a natureza da criança era boa. A criança era o ser ainda sem a mancha da cultura, por isso estava mais próxima da natureza e mais apta a chegar à verdade. Nessa acepção, quanto mais tempo a infância durasse, mais haveria ingenuidade e bondade na vida adulta, não havendo macula para a moral nem para a razão do homem. Essas filosofias iluminista e rômanica, segundo Ghiradelli (2006), acabaram se consolidando em pedagogias e, em termos de filosofia da educação sistemática e escolar, a filosofia da educação moderna preparou procedimentos em um padrão normativo que em geral chamamos de pedagogia, as quais estão firmadas nas filosofias da educação provindas das filosofias de Descartes e Rousseau. Essas filosofias trazem tradições pedagógicas em que uma apoia a punição física contra o erro e a outra apoia a mediação para se alcançar os acertos e se chegar à verdade.
Observamos, com certa clareza, essas ideias filosóficas formando oposição em duas gravuras expostas no texto de Ghiraldelli (2006). A primeira gravura é chamada de Sinete e nela se encontra a seguinte mensagem: " Quem poupa a vara odeia a criança". A segunda gravura é chamada de "Professora Republicana". A oposição de ideias nas gravuras consiste no fato de que no Sinete há a imagem de um professor prestes a bater em uma criança, isso condiz mais com a filosofia da época de Descartes enquanto na gravura da Professora Republicana há a imagem de uma mulher fazendo leitura ao lado de uma criança, o que condiz mais com a filosofia Rousseauniana.
Atentando para o Sinete, vemos que o professor impõe uma disciplina punitiva aos seus alunos como meio de controlar as vontades infantis, tornando-as, segundo essa visão, em comportamento racional. Visualizando a Professora Repúblicana, percebemos que o educador representado pela professora está ligado ao educando, envolvidos num momento de participação mútua de um texto. Nessa acepção, Vemos que a Professora Republicana representa o professor como um mediador do conhecimento que entra em uma relação de respeito e afeto com seu aluno. Com isso, tanto o professor como o aluno passam momentos agradáveis. A educação que ocorre nessa relação é uma educação que leva em conta as experiências de cada um envolvido nela, gerando confiança e honestidade.
A espécie de educação simbolizada pela gravura da Professora Republicana é, para nós, a educação que está ligada à proposta de educação de Jean Jacques Rousseau, porque em sua concepção filosófica a busca pela verdade depende de instâncias morais, em que um investimento no desenvolvimento da criança conservando sua natureza ingênua trará frutos essenciais para ela na vida adulta. A respeito dessa procedência , Ghiraldelli (2006) diz que se trata da educação inspirada na tradição Rousseaunista que "mais tarde se autodenominou de pedagogia nova". (GHIRALDELLI, 2006, p.23)
REFERÊNCIA
GHIRALDELLI, Paulo Jr. História da Educação Brasileira. São Paulo: Cortez, 2006, p. 17-23.