Dr. Salut

Por ana monteiro | 12/04/2010 | Família

Sei que todos têm histórias e q estas merecem ser contadas, assim como gosto de ouvir histórias de outros, pois aprendo que a chuva, o mal tempo não cai só sobre em mim, gostaria também de compartilhar a minha, e de merecer a atenção de alguém que esteja lá no fundo da sala, absorto em pensamentos soltos, dê o beneficio da atenção para com uma estranha, ela tem sentimentos, e chora por dentro todos os dias, esperando  um dia, voltar pra casa...

Desde os treze anos eu já fazia peripécias e deixava meus irmãos loucos com as minhas pequenas confusões, nada demais, algo até saudável para uma menina que fora criada com dois meninos, irmãos adoráveis e cuidadosos. Sou a caçula de uma família de três irmãos, e como menina sempre me viu envolta de cuidados e atenção, o que não impediu meus irmãos de encobrirem meus namoricos de adolescente, mas o relacionamento que quero falar mesmo é aquele que aconteceu por volta de 1994, com um rapaz, amigo dos meus irmãos, ele era um rapaz muito inteligente, mas também muito briguento comigo, discordávamos de tudo, do jeito que tinha de ser...
Tínhamos um grupo de amigos bastante seleto, e ele e mais um outro, cujo nome hoje em dia, procuro esquecer, por hora o chamarei de F.,faziam parte daqueles que gozavam de total amizade de meus pais, para todos os lugares, sempre estávamos juntos, meus irmãos, os dois, mais uma amiga e eu.
O chamávamos de Giba, e não demorou para eu fazer amizade com as duas irmãs  e da mãe dele, só nunca consegui conquistar a amizade do irmão mais novo, ele fazia questão de demonstrar que não me suportava, eu nem ligava muito, era além de aérea, muito orgulhosa para me incomodar com quem não gostava de mim. A amizade entre nós foi complicada, pois discutíamos sobre tudo, política, filmes, musicas, gostos... mas um dia, ele percebeu que eu era alucinada por leituras, e ele, por não ser popular, ou tímido demais, não sei dizer, mergulhava nas salas vazias da biblioteca publica por horas, e finalmente encontramos algo em comum.
Um dia após terem cessado as brigas, ele me emprestou um livro, de título, A moreninha, foi a leitura mais incrível até aquele momento, eu nunca tinha entendido como ele me via, e então percebi que ele me achava parecida com a heroína da história, e em uma noite após um jogo do Brasil da copa de 94, fomos para a casa de uma tia, e lá,  após repensar sobre tudo aquilo que senti, resolvi me declarar e o pedi em namoro, eu tinha na época 15 anos e ele 21, começamos um namoro um tanto torto, sem jeito, e eu fiz do outro amigo, o F., confidente, juntamente com minha amiga, ele se apropriou de informações que em horas de raiva eu dizia, não há como saber quem são os verdadeiros amigos, a gente tenta e torce por acertar, mas as vezes não dá.
Após uns três meses de namoro, iniciaram as brigas, ciúmes, insegurança da parte dele, orgulho e estupidez da minha parte, não era uma combinação muito boa, e o inevitável aconteceu, terminamos, uma , duas , varias vezes, até que um dia a decisiva se manteve sustentada em cima do meu orgulho ferido, por eu ter contado a ele uma verdade e ele não acreditou em mim, eu me ajoelhei em uma avenida em plena hora do rush, para que ele acreditasse em mim, mas isso custaria mais tarde caro tanto pra mim, quanto pra ele.
Eu o machuquei muito, ele me implorou varias vezes para eu voltar, mas tão cega por meu orgulho que estava, que decidi não dar mais uma chance a ele, mesmo o amando, eu sofri muito e ele também, mas em meio a tanto sofrimento, algumas pessoas que sabiam o que estava acontecendo com ele, nunca me participaram, ele foi preso varias vezes, se embriagou , drogou-se, se jogou no mundo por conta de tamanho desespero que sentia, e eu... saia para beber com os colegas de trabalho, fingia que estava tudo bem comigo, eu me condenei...
uma noite ele apareceu na minha casa, totalmente dopado chamando por mim, meus irmãos o colocaram para dormir e minha mãe não deixou eu ir falar com ele, esperei ele dormir, e fui lá, e em silencio, com dores horrorosas no peito, eu disse que o amava, mas não podia mais ser, o que havia se quebrado, eu não conseguia consertar.
Fui viver minha vida.
Passado uns três anos, eu me convidei a ir na casa dele, qdo soube q ele estava namorando, conversei um pouco com a mãe dele e com as irmãs, mas não falei do que estava sentindo, orgulho, sempre o orgulho, admitir que estava sentindo a falta dele por tanto tempo, não fazia parte de mim, mas eu esperei para vê-lo, nem que fosse só por um instante, mesmo que ele não falasse comigo, mas isso nunca aconteceu, ele não chegou, eu fui embora...
mais um ano se passou, e alguém me disse q ele estava casando, foi um choque, não saber de noticias, faz com que o tempo pare, saber de noticias, faz com  que a gente voe, eu o procurei uma vez mais, e estava disposta a pedir para voltar, pois umas semanas antes do nosso encontro, ele havia ligado pra casa e havia me convidado para viajar com ele, mas como eu podia? Covardia associado a orgulho, eu estava namorando um rapaz na época, e era muito infeliz, mas não queria dar o braço a torcer, eu o esperei por tanto tempo, não aquele rapaz q estava se destruindo, mas aquele que eu havia conhecido, só que eu nunca falei, sempre me tranquei em um silencio sem fim, e agora eu tinha a oportunidade de encontrá-lo e falar para ele tudo o que havia passado comigo, era hora de abrir mão de tanto orgulho, eu precisava me libertar daquela saudade, mas ele foi ao nosso encontro acompanhado do irmão q não gostava de mim e me deixou conversando com ele e não disse nenhuma palavra, voltei pra casa chorando, estava tudo perdido, eu precisava me conformar com a vida que eu tinha, com a vida que eu tinha escolhido, por conta de arrogância, orgulho ferido, fraqueza e covardia, eu merecia, eu escolhera aquilo.
O vi mais uma vez no ônibus alguns meses depois, sabia que estava casado e me aproximei para pedir perdão, falamos pouco e depois perdemos contato. Fui ao inferno, cai em depressão, fiquei catatônica, emagreci ao ponto de minha família acreditar que estava com alguma doença grave, me embebedei muitas outras vezes e quando soube que ele nunca mais seria meu, perdi tudo, entreguei os pontos, eu merecia punição, e ela veio.
Tentei viver outros relacionamentos, inclusive com o F. apesar de falar sempre pra ele que eu o via apenas como um amigo, quase irmão, aceitei o pedido de namoro após semanas de insistência, ele sempre dizia pra mim que não sabia do paradeiro daquele que eu amava, eu sempre perguntava, sempre que eu o via perguntava, ele sempre dizia que não sabia, que tinha perdido contato, mas acredito que ele sabia, como eu disse, ele era meu confidente.
Não deu, doze dias após eu iniciar o namoro com o F., terminamos, só que eu não sabia que ele via  Giba quase todos os dias e ainda falava sobre nós dois, só para magoá-lo, ele sabia o tempo todo e nunca me falou nada, sabia que ele havia sido preso, que estava se drogando, sabia de tudo, e eu só vim descobrir isso quinze anos depois.
Eu estava precisando de um aplicativo de corel e o procurei na internet, e acabei encontrando um email que era assinado com o nome dele, achei que não era coincidência, então guardei o email por dois anos e em agosto de 2009 resolvi escrever para mais uma vez pedir perdão, eu precisava de paz, eu precisava do perdão dele, e ele respondeu, era ele mesmo, hoje em dia ele é casado e pai de um garotinho, me disse que não era feliz, abrimos o jogo, eu falei a verdade pra ele, de como havia sido infantil e ingênua em acreditar em quem não deveria, ele me falou da traições que sofreu por conta dos amigos também, que foi ao inferno por minha causa, mas  que ainda me amava, mas o que se quebra, por mais que se conserte, nunca mais é o mesmo..
Parece estranho, mas é uma verdade, decisões que tomamos quando jovens as vezes podem parecer bobas, só servem para satisfazer nosso ego, mas nos atormentam para toda a vida, ele nunca perdoou o fato de tê-lo deixado e condená-lo a um casamento de aparências, a esposa dele me odeia, pois sabe do que ele ainda sente por  mim, e eu? Bom, eu desisti de casar com um rapaz que conheci, um rapaz muito bom, mas que merece alguém que o ame de verdade, e por enquanto, continuo só, esperando pela paz que tanto peço, que todos querem, ma só alguns tem a benção de recebê-la, e que pra mim,  se mostra cada vez mais longe...