Dourado quintal do tempo

Por Edson Terto da Silva | 23/08/2011 | Crescimento

Edson Silva

Tomado de gostosa nostalgia e inspirado, talvez, pelo período de ventos a mexer e a fazer zunir folhas de árvores e com os pingos das chuvas batucando diferentes melodias no telhado e janelas, lembrei-me, quase sem querer, dos quintais de minha infância. Se não foram tantos, foram especiais e neles eu podia sentir o cheiro da terra úmida logo após os primeiros pingos da chuva.

A situação nem sempre agradava, principalmente minha mãe, ela sabia que logo a terra viraria lama e, certamente, eu e meus irmãos não ficaríamos confinados na casa modesta e sempre pouco espaçosa para qualquer criança, que , assim como pardais que buscam o céu, buscará, no lado de fora da porta, um mundo inteiro a ser conquistado.

Não sei se ocorre com os pardais, mas nós, então crianças, sempre voltávamos para a alegria da mãe, pelo menos até a mais doce criatura de Deus notar nossas roupas e pés cheios de lama. Mesmo assim, ela jamais negava o abraço e a gente percebia que seus olhos sorriam lembranças de quantas e quantas vezes ela também fez aquilo, enfrentando lama de quintal e enxurrada das calçadas.

E assim como nós, teve roupas e cabelos encharcados e iluminados por algum raio, que muito longe cortou o céu, mas nos assustou com o ronco do trovão, que pareceu tão próximo e obviamente perigoso para mães ou filhos. E na viagem nostálgica pelos antigos quintais, a árvore do pomar particular de cada um parece ser a mais resistente.

Não tive pé de laranja lima confidente, mas minha goiabeira, embora não gerasse frutos tão graúdos e belos como de feiras, era a mais forte e bonita. Seus galhos rajados, suas folhas, seus frutos ainda verdes resistiam sim até aos mais violentos temporais, deixando cair apenas folhas secas. Era a garantia que os frutos não colhidos malandramente por algum espertinho da vizinhança seriam meu troféu e de meus irmãos.

Tinham ainda nosso abacateiro e mangueira, esta com frutos rosados e de alma tão amarelinha e doce. Alguns troncos serviam de suporte para nosso balanço e dele podíamos comandar a brisa que alisava nossos cabelos, sentir o cheiro da tarde, o gosto de fruta madura refrescando nosso rosto iluminado pelos últimos raios de sol, que pelo jeito mais uma vez se cansou primeiro que nós naquele mais um dia de nossa infância.

Edson Silva, 49 anos, jornalista, Campinas

edsonsilvajornalista@yahoo.com.br