DOS MOVIMENTOS SOCIAIS ÀS FUNÇÕES GOVERNATIVAS: A Inserção de uma Geração no Cenário Político Sergipano Pós - 80

Por Joana Costa | 29/08/2009 | Filosofia

DOS MOVIMENTOS SOCIAISÀS FUNÇÕES GOVERNATIVAS: A inserção de uma geração no cenário político sergipano pós - 80

Esta pesquisa focaliza a inserção e a consolidação de uma nova geração política sergipana. Tem como objetivo principal analisar a emergência e consolidação de novos atores políticos no Estado de Sergipe a partir dos anos 80 (1980-2006). Pretendo utilizar de fontes diversas, tais como: documentos oficiais, textos jornalísticos e relatórios de pesquisas. O método utilizado terá caráter qualitativo, observando o valor das análises no campo investigativo. Descrevo as características da política local e como ocorreu o processo de transição democrática em Sergipe e seus novos atores sociais e políticos pós anos 80. Trato de razões que levaram os atores a se transferirem dos movimentos de base para o campo político partidário, concorrendo a cargos eletivos e a forma gradativa da consolidação dos cargos de governança. Retrato ainda os processos de reafirmação e a configuração da emergência concreta do novo cenário político de Sergipe com a vitória de Marcelo Dèda nas urnas eleitorais, na Câmara legislativa e na Prefeitura de Aracaju, até a chagada ao governo do Estado. Abordo as proposições operadas no âmbito da política sergipana e as mudanças, bem como as práticas observadas pela população. Finalmente nas considerações finais do trabalho procuro destacar os limites e as possibilidades de mudanças no cenário político sergipano que a consolidação dessa nova geração proporcionou. Também aponto as exigências de novos estudos que ampliem a compreensão do significado da ascensão política destes atores no cenário político de Sergipe.
PALAVRAS-CHAVE: Geração, transição; política

ABSTRATC

This research focuses the insert and the consolidation of a new generation political sergipana. He/she has as main objective to analyze the emergency and new political actors' consolidation in the State of Sergipe starting from the eighties (1980-2006). I Intend to use of several sources, such as: official documents, journalistic texts and reports of researches. The used method will have qualitative character, observing the value of the analyses in the field investigativo. I describe the characteristics of the local politics and as it happened the process of democratic transition in Sergipe and their new social actors and political powders eighties. Treatment of reasons that took the actors the if they transfer of the base movements for the supporting political field, competing to elective positions and the gradual form of the consolidation of the governança positions. I still portray the reafirmação processes and the configuration of the concrete emergency of the new political scenery of Sergipe with Marcelo Dèda victory in the ballot boxes, in the legislative Camera and in the City hall of Aracaju, until the chagada to the government of the State. I approach the propositions operated in the extent of the politics sergipana and the changes, as well as the practices observed by the population. Finally in the final considerations of the work I try to detach the limits and the possibilities of changes in the scenery political sergipano that the consolidation of that new generation provided. The demands of new studies that enlarge the understanding of the meaning of these actors' political ascension in the political scenery of Sergipe also appear.
WORD-KEY: Generation, transition; political.

Este trabalho tem como objetivo principal analisar a emergência e consolidação de uma nova geração de políticos em Sergipe pós 80 do século passado e suas configurações no cenário político, bem como as novas práticas e proposições políticas no Estado.

Durante o processo de transição democrática no Brasil, Sergipe desempenhou papel fundamental no campo dos movimentos sindicais, estudantis, que trouxeram repercussões ao ambiente social, político e cultural. Era da gestação de um espírito de tempo, tempo esse de transição para um novo período que se mostrava progressivamente aberto a eclodir suas representações a ponto de submergir o passado e emergir nova concepção de presente. Segundo GRAÇA, "A contrapartida cultural, ensejada pelas transformações do mundo industrial e urbano, é o que se entende por modernidade e essa se traduz em comportamentos, sensações e expressões que manifestam o sentir e agir dos indivíduos".Logo, as representações se faziam constantes nos comportamentos, nos desejos, nos sonhos e utopia daquela época. Foi com este espírito que a juventude aracajuana iniciava mais uma década, haja vista, no meio universitário se proliferava os festivais de artes e cultura, o incentivo as expressões artísticas, com forte dose de legitimidade para a nova ordem política.

Com as eleições para governo em 1982, o que despertou muita esperança para a sociedade sergipana que apesar de Sergipe não eleger um candidato da oposição, mas no Brasil foram eleitos dez candidatos de oposição, fato este, que segundo Dantas (2004) teve grande importância política e econômica, porque fortaleceu os grupos mudancistas eenfraqueceu o domínio militar.

Um fator que impulsionou a instauração da nova República foi a emenda à Constituição Federal do Deputado Dante de Oliveira que propunha as eleições diretas para Presidente da República o que contou com o apoio da sociedade civil e o respaldo dos governadores oposicionistas.Gerando grandes movimentos e aglomerações de brasileiros em torno das eleições Diretas à Presidência da Republica, (DANTAS,

2004)

A emenda foi derrotada, houve um processo de crise nos partidos majoritários que possibilitou a volta da luta pelas diretas. Dantas (2004) afirma:

Enormes multidões voltaram a encher as praças de várias cidades, superando em alguns casos asmanifestações das Diretas. Em Aracaju, um publico estimado entre 50 a 60mil pessoas participou do acontecimento apoteótico, quando as expectativas de mudança se exacerbavam.( DANTAS, 2004, pg. 228)

A população sergipana desejava mudanças como reconhecimento de partidos legalmente registrado, reconhecimento das centrais sindicais, de liberdade e autonomia sindicais, eleições diretas para todos os níveis, etc. dentre outras, as quais o novo governo adotou como medidascomplementares ao ciclo da transição política.

Em Sergipe é eleito o ex-prefeito de Aracaju João Alves Filho assumindo em 1983 o governo do Estado que embora tenha derrotado o grupo Franco demonstrava assim autonomia de ação. Entretanto se mantinha fechado à participação de novos agentes sociais e à sociedade política do Estado, consequentemente pela sua origem de grupo conservador.

Vale ressaltar que a abertura em Aracaju teve seu processo inicial do avanço da transição democrática com as lutas travadas pelos movimentos dos professores, bancários e estudantis e também como afirma Nunes(2000)

Ainda que na condição de Prefeito "biônico", a ascensão de José Carlos Teixeira ao executivo municipal sinalizava uma nova configuração política e para isso o prefeito investiuem ações capazes de conquistar uma base eleitoral. ( NUNES, 2000. Pg 35)

Pode-se dizer que a transição no Estado de Sergipe tem sido provocada pela coalizão entre os velhos grupos que disputavam a hegemonia da política no Estado e pelas forças que se contraponham ao regime dos governos militares. Com a nova ordem instaurada emergem com mais forças as manifestações de reivindicações em todos os aspectos da sociedade, só para ilustrar cita-se Figueiredo( 1996) :

A hora é de agitação, inconformismo, greve em toda parte. Emalguns lugares há intolerância , tática que não beneficia os grevistas, mas os fascistas.Só os fascistas são intolerantes. Há greve em Sergipe. E o Brasil? O Brasil de José Sarney é corrupção. E impunidade.(FIGUEIREDO, 1996. pg. 469)

Toda essa efervescência propicia a formação de lideranças políticas em Aracaju especificamente em alguns municípios do Estado, que se formam na derrocada do período de redemocratização, uma nova geração de agentes políticos e sociais formados nos movimentos sociais, que foram gerados nos Sindicatos, na Universidade, nas Escolas Secundárias, nas entidades intelectuais e nas associações de bairros. Para melhor compreensão e análise do contexto da redemocratização do país, necessário se faz elucidar alguns conceitos como: movimentos sociais, geração e agentes sociais.

A Nova geração emergente

Travando a discussão sobre movimentos sociais recorre-se ao conceito de geração, que tomo como ponto de partida o princípio fundado na experiência vivenciada e do aprendizado na prática da militância cotidiana, pois na sociedade pós moderna categorias como classe social, gênero, etnia , religião e especificamente geração ganham no campo da pesquisa grande dimensão e significado.Então vejamos o conceito para Boghossian (1999)

O termo geração, com tão diversas e amplas referências, se desdobra em estudos no campo da Sociologia, Psicologia, Antropologia e História, que lançam mão da categoria na compreensão das continuidades e descontinuidades no tempo cultural e histórico e no tempo dos indivíduos, grupos, famílias e povos que o constróem, dando a ele sentido. (BOGHOSSIAN, 1999. Pg 39 )

Do ponto de vista político e social pretendo descrever a nova geração política formada no seio de Aracaju em meio as transformações da nova República, como posso chamar. É interessante a análise que Sarmento (2005) faz de que o conceito de geração não desagrega outras categorias, mas ao contrário, incorpora essas categorias num processo de equilíbrio dos efeitos sociais. Diz Sarmento (2005)

A tradição mais forte da análise do conceito de "geração" radica na obra de Karl Mannheim (1993[1928]). Para o sociólogo húngaro, o conceito de "geração" entronca na sociologia do conhecimento que se propôs a levar a cabo e corresponde a um fenômeno cuja natureza é essencialmente cultural: a geração consiste num grupo de pessoas nascidas na mesma época, que viveu os mesmos acontecimentos sociais durante a sua formação e crescimento e que partilha a mesma experiência histórica, sendo esta significativa para todo o grupo, originando uma consciência comum, que permanece ao longo do respectivo curso de vida ( SERNENTO,2005. Pg. 364)

Desfiando o objeto desse trabalho, passo a traçar algumas de suas características marcadas pela vivencia em comum de acontecimentos e engajamento dessa geração nas entidades civis organizadas, que passaram a participar com efetividade nas manifestações culturais, mobilização pela Constituinte, eleição diretas, movimento grevista, movimento de reivindicações pela educação pública de qualidade, liberdade de imprensa, direito à saúde e moradia, etc.. Ressaltando, entretanto, que uma de suas principais características se constituía na construção da transição da sociedade brasileira para uma sociedademais justa, igualitária, democráticaque apontasse rumo ao socialismo.

REFERÊNCIAS

COSTA, J. D`Arc , A multiplicidade de culturas: Complicado Itinerário:para chegar ao espírito do novo jovem, Aracaju. Sergipe; 2003.

DANTAS, Ibarê. História de Sergipe:República(1889-2000). Edições Tempo Brasileiro.Rio de Janeiro,2004

FIGUEIREDO, Ariosvaldo. História Política de Sergipe -VII (1982-1990) Sergipe- 1996.

GRAÇA, Tereza Cristina Cerqueira da Pés de anjo e letreiros de neon: ginasianos na Aracaju dos anos dourados . São Cristóvão – SE; ed: UFS, 2002.

NUNES, Carla Alessandra da Silva. Gestão democráticana Escola Pública: o caso da EMEF Marechal Henrique Teixeira Lott, 1ª edic. Gráfica Wg, Aracaju-SE. 2000.

BOGHOSSIAN, Cynthia Ozon. Vivências de violência em Vigário Geral: experiência de gerações. [Mestrado] Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública; 1999. vii,139 p.(Disponível em site; http://www.cedes.unicamp.br09/10/2008)

SARMENTO, Manuel Jacinto- Gerações e Alteridade:Interrogações A Partir Da Sociologia da Infância - Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 361-378, Maio/Ago. 2005 ( Disponível em http://www.cedes.unicamp.br09/10/2008 )

2 - Anderson dos Santos Campos (Revisor ortográfico)