DOMINGOS DA COSTA E SILVA “DOMINGÃO”: E SUAS RELAÇÕES COM A ARATANHA CEARENSE (PACATUBA/GUAIUBA.)

Por CLAUDIO SILVA PEIXOTO | 18/07/2022 | História

Autor: Claudio Silva Peixoto – 2022

 A história de Guaiuba está diretamente ligada à história de Pacatuba, pois a mesma era distrito e só passou a ser independente de fato no ano de 1987, por meio da Lei nº 11.301 de 13/03/87 publicada no diário oficial - DOE em 17/03/87. O fato é que não existe propriamente uma narrativa sequenciada ou construída de modo a ser compreendida linearmente e sim fragmentos históricos em que aos poucos na medida em que pesquisadores levantam questionamentos ou elucidações por meio das pesquisas encontra-se mais detalhes acerca de algum elemento social, político, cultural, religioso ou qualquer outro aspecto vivenciado no passado. Seria como um grande tecido costurado em retalhos em que aos poucos as informações ganham vida e sentido. 

Para explicar melhor a história de Pacatuba, o escritor Guaiubano Eduardo Campos (1923-2007) recorre as crônicas de Juvenal Galeno (1838-1931) em que o mesmo fala sobre uma Pacatuba provincial.  De acordo com Juvenal Galeno, até 1790 Pacatuba tinha riquezas abundantes de grande qualidade (Camarão do tipo aratanha) encontrados facilmente nos rios da cidade /serra.  Todas as terras de Pacatuba e Guaiuba pertenciam à coroa portuguesa. ( Vale ressaltar que o Brasil antes de 1822 era uma colônia da Coroa Portuguesa) e no ano de 1790  estava sob a regência da Rainha Maria I , a piedosa, cujo reinado foi de 17 de dezembro de 1777 até 20 de março de 1816.

 

O capitão - Mor: Antônio de Castro Viana assumiu alto posto colonial em que logo solicitou a coroa portuguesa terras em troca dos serviços prestados à coroa. Foi concedida uma Sesmaria. Em 1791,  Antônio Castro Viana, recebia as terras conhecidas como limão” situada em Pacatuba.

 

“Nesse contar aprende-se : o dito capitão –mor não se desentranhara das vantagens do poder, e por isso , ao morrer ,acabou deixando enorme dívida de herança para quem desejava receber muito. A fazenda real, a grande credora, logo sequestrou todos os bens do falecido servidor  , pondo sob sua guarda a casa na serra , plantios e até escravos, uns e outros alcançados pelas medidas fiscais e de cobranças”. (CAMPOS, Revista do Instituto do Ceará, 1999). De acordo com (GALENO, 1969): O governador da província pediu para o tenente de ordenanças Sr. Albano da Costa dos Anjos, para que o mesmo se encarregasse de arrematar (tomar posse) da Aratanha. Em 1823 a fazenda prosperou de tal forma que tiveram que abrir caminho (estrada) para o escoamento de vários produtos que seriam comercializados na capital (Fortaleza). Anos mais tarde essa estada passou a ser chamada de estrada velha. O café, algodão e outros produtos foram de grande procura na região e os mesmos eram plantados e colhidos em Pacatuba.

 

Conforme (PHILIPE, 2019): “A Pacatuba e a Guaiúba da primeira metade do século XIX não passavam de simples povoados, a primeira se sobressaindo ao tornar-se, em 1848, sede de distrito da Vila de Maranguape, ambas constituídas por sítios, terras que em sua maioria pertenciam aos Costa e Silva, mais especificamente aos irmãos José Antônio da Costa e Silva (1805-1867) e Domingos da Costa e Silva (1804-1862), herdeiros do Sargento-mor Albano da Costa dos Anjos (1768-1822) e pioneiros no cultivo do café nessa região. Um relativo crescimento do povoado da Pacatuba permite a sua elevação a categoria de Vila pela Lei Provincial nº 1284 de 8 de outubro de 1869, um mês depois a resolução nº 1305 de 5 novembro cria a freguesia, elevando como matriz a capela de Nossa Senhora da Conceição. A inauguração da freguesia ocorre a 6 de fevereiro de 1870, com a posse do vigário Pe. Bernardino de Oliveira Memória (1832-1899)”.

 

Em um resumo mais elaborado para uma melhor compreensão, um dos primeiros a chegar à região da Aratanha (Pacatuba) em 1791 foi o Capitão-Mor: Antônio de Castro Viana. Com a sua morte no ano de 1801 com dívidas aos cofres públicos seus bens tanto em Fortaleza (palácio da Luz, construído por mão de obra indígena –Século XVIII, bem como da fazenda na Aratanha, em Pacatuba) foram leiloados e vendidos. Por volta da década de 1810  veio para fixar-se na região o  tenente de ordenanças Sr. Albano da Costa dos Anjos. Conforme, MACEDO, 2002: o grande escritor cearense Juvenal Galeno, era neto pelo lado paterno de Josefa Rodrigues da Silva e de Albano da Costa dos Anjos.

 

 (DOMINGÃO). Domingos da Costa e Silva (1804-1862). Surge em meio a essas figuras tão importantes para o desenvolvimento de Pacatuba e Guaiuba. Filho do segundo proprietário de uma fazendo na Aratanha cresceu andando pelos caminhos entre as duas regiões que na época pertenciam à mesma denominação geográfica.

 

Domingão como ficou conhecido na região, nasceu em 1804 e prósperou muito no comércio, bem como nas questões sociais.  Domingão pertencia e uma elite de aristocratas rurais, governamentais, e intelectuais do Ceará. Era tio do grande escritor e poeta do Ceará (Juvenal Galeno).  Conforme HOLANDA (2000):  Domingão, era um dos maires proprietários de terras da região (Guaiuba e Pacatuba), era altivo e tinha um porte físico muito forte , justificando-se o apelido  de DOMINGÃO.  

 

“ Criado em plena serra da Aratanha, Domingão, nessa época , construiu uma ermida de taipa coberta de palha onde era praticada a religião católica  apostólica romana..., dando início aquela época a igreja matriz de Guaiuba.(HOLANDA, 2000).

 

Na página da paróquia missionária, descreve sobre um domingão que contrubuiu para as questões religiosas da cidade de Guaiuba. Menciona sobre um Domingão dono do engenho formoso. ( paroquiamissionaria.blogspot.com/p/memorias-de-guaiuba.html).

 

“De acordo com a revista IHGB (1964), os pesquisadores partiram às 10 horas da manhã de Pacatuba com destino à Guaiúba, levando consigo bagagens e comidas”. (PEIXOTO, 2017,p.9).

“Chegamos a Guaiúba, pelas 11 horas pouco mais ou menos; desviamo-nos da estrada para ver a povoação, que é insignificante- uma pobre igreja em aparência de templo, numa meia laranja, com praça em frente, guarnecida pelos dois lados, e mais baixo a igreja, por casas térreas e pobres [...] Daí seguimos e passamos o rio Guaiúba, que corre junto à povoação”. (BIBLIOTECA NACIONAL, 1964.p 262).

 

Conforme (GALENO, 1969): Domingão foi visitar o sítio Macaípe (serra do Baturité) ver cafeeiros em plena floração. O mesmo ficou muito entusiasmado e quis levar essa forma agrícola de plantio a todo vapor para a aratanha em Pacatuba.

“Fez vir dali oito libras de sementes, com as quais, com tamanha persistência, conseguiu situar os primeiros pés de café no sítio Serrinha, na subida da serra. Tencionando-se ir-se do Ceará para o Pará, o dito Domingos da Costa resolveu deixar para o irmão..., os canteiros de café que fizera e os via crescerem prósperos, dando as mudas apropriadas anos depois, em1826, para o plantio no “Boaçu, bem em cima da serra”, o que foi feito mais “como ensaio do que com a intenção firme de construir um novo ramo de lavoura para si”. Em 1839 o sítio Boa Vista, que se media logo aos primeiros metros da subida da montanha chegando até o boaçu, já produzia café de qualidade, circunstância que pedia a presença dos donos no local da lavoura em casa ainda hoje conhecida como  “sobrado dos Galenos”, residência da família Costa, local onde , anos depois, Gonçalves Dias ia ter a oportunidade de conhecer o jovem e promissor poeta Juvenal Galeno. (CAMPOS, Eduardo, 1999).

 

Como já mencionado nas páginas iniciais deste artigo, a história de Pacatuba e Guaiuba estão plenamente ramificadas e entrelaçadas. Não se tem algo pronto e acabado e sim costuras de retalhos “fragmentos históricos” em que durante a sua construção vão reconstituindo-se narrativas embasadas em pesquisas históricas, seja por meio de documentos  de acervos bibliográficos ou através das várias narrativas documentais e  orais ( memórias dos mais antigos que preservam ainda um pouco dessa historicidade local). Esta pesquisa buscou criar um pequeno recorte com alguns pontos ainda a serem debatidos e pesquisados com maior ênfase. Domingão, é apenas um dos objetos de pesquisa que fazem parte de uma pequena parcela de tantas outras pessoas que fizeram parte da construção de nossa história. Até o momento, não foi compilado ou organizado maiores detalhes acerca deste homem. Sabe-se que foi para o Estado do Pará , para se aventurar em outras empreitadas , decerto em busca de negócios mais rentáveis. Seu legado? Pouco sabemos, mas diante do que já foi pesquisado, ele contribuiu para a agricultura, comércio e para as questões religiosas locais  da Região.

 

Para finalizar, deixo aqui um relato que obtive há alguns anos por meio de uma pesquisa e em conversa informal com um grande contador de causos e histórias de Guaiuba, Sr. Paulo Galdino Calixto Leão (1929 – 2019) : ex- vereador e esteve envolvido diretamente  com grandes  políticos, comerciantes e intelectuais  de Guaiuba.

Disse ele: “O Domingão era um homem forte e alto, tinha a voz grave e forte. Quando gritava lá da igreja matriz, dava-se para ouvi-lo do açude da corte. Disse inda em um tom de gargalhada que o homem era tão audacioso que uma vez tentou criar uma moeda própria para que os seus trabalhadores pudessem usá-las no comércio local”.  

 

Para finalizar a pesquisa apresento aos leitores, uma transcrição da certidão de batismo de Domingos da Costa e Silva (1804-1862) – “DOMINGÃO”. 

Domingos, branco. Filho legítimo de Albano da Costa dos Anjos e Josefa Rodrigues da Silva. Nasceu em 06 de julho de mil oitocentos e quatro:  De licença minha na  serra da Aratanha, desta freguesia **** Ao mês e ao ano foi batizado pelo padre Bento Gonçalves Vieira, que logo lhe administrou os sagrados óleo. Foram padrinhos o capitão Joaquim Lopes de Abreu Lage e sua filha Roza Marcelina Perpétua da Silva Lage, solteira e pelo **** setor remetido fez logo este que possa ser digno. Claudio A*****. 

(Transcrição: Professor Rafael Rosário). A transcrição deste documento de batizado está incompleta devido aos poucos recursos de decodificação em relação à grafia /letra escrita a mão e com tinteiro utilizada na época. Início do século XIX. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GALENO, Juvenal. “Dia de feira”. In “Pacatuba: antologia do centenário”, p.122, Imprensa oficial. Fortaleza, 1969.

CAMPOS, Eduardo. “Pacatuba: Breve Memória”. Revista do Instituto do Ceará. 1999.

HOLANDA, João Xavier . História de Guaiúba. Copyright By. Fortaleza. 2000.

PHILIPE, Alan: ENTRE ACCIOLYS E CABRAIS: HERANÇA E REPRODUÇÃO DO CAPITAL POLÍTICO FAMILIAR NA ARATANHA CEARENSE . Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 5, n. 2, dez. 2019 Dossiê Oligarquias do Nordeste no Brasil ISSN: 2447-5548.

MACEDO, Dimas – “Roteiro de Juvenal Galeno” Diaponível em Acesso em 14 de julho de 2022.

PARÓQUIA MISSIONÁRIA –Guaiuba,Ce. Disponível em>://paroquiamissionaria.blogspot.com/p/memorias-de-guaiuba.html. Acesso em : 14 de julho de 2022.

GARCIA, Fátima. “ O palácio da Luz e o Imposto da Cachaça”. Disponível em>http://www.fortalezaemfotos.com.br/2016/04/o-palacio-da-luz-e-o-imposto-da-cachaca.html> Acesso em : 14 de julho de 2022.

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