Doença e saúde

Por Alina Campos Tomaz Teixeira | 20/01/2012 | Psicologia

Doença e saúde

 

4.4  Modelo identificado de doença/saúde e aspectos culturais

 

 

                                   Para o modelo biomédico dominante nas sociedades ocidentais, doença é a alteração dos parâmetros biológicos e somáticos. A doença resulta de perturbações fisiológicas causadas por imperfeições genéticas, desequilíbrios bioquímicos ou ainda por danos provocados por agentes biológicos, como por exemplo, o vírus, bactéria.

                                   No modelo biomédico são ignoradas as determinantes sociais e culturais. Nos últimos anos, está sendo contestado este modelo, permitindo manifestar-se um modelo holístico que é biopsicossocial em que os sintomas são importantes em si mesmos, onde a doença é vista como pertencente a uma pessoa que é parte integrante de um sistema de unidades organizadas hierarquicamente, em níveis sociais, biológicos e culturais.

 

           Segundo  Inglebuz (1982), a expressão “construção social de doenças”, visa descrever uma interação particular entre fatores sociais, culturais (atitudes e crenças), relações sociais, idéias e as descobertas científicas que permitem a definição e/ou transformação dos significados atribuídos às doenças.

            No dizer do autor, afirmar que a doença mental é socialmente construída, não quer dizer que não exista, mas colocar a doença num plano discursivo, onde o médico e outros técnicos de saúde podem influenciar a evolução dos sintomas. Para compreender a construção social da doença mental, é preciso muito mais que uma simples explicação de suas causas. Se é socialmente construída, a escola é um agente de construção da doença, visto que ela faz parte do social do indivíduo (GRIFO NOSSO).

            Segundo  Lock (1988), existe evidentemente uma realidade biológica, mas no momento em que são feitos esforços para explicar, ordenar e manifestar esta realidade então tem lugar um processo de contextualização, em que a relação dinâmica entre biologia, valores culturais e ordem social tem de ser considerada.

            Eisenberg (1988)- definiu quatro teses principais no seu argumento sobre a construção social das doenças mentais:

1 Todos os conceitos científicos são invenções da imaginação; o seu sucesso, que resulta de uma introdução da ordem no caos das aparências, permite que os confundamos facilmente com a realidade que pretendem retratar.

2 As ciências humanas são reguladas por um paradoxo, na medida em que aquilo que acreditam ser verdade, em relação ao comportamento humano, influencia os comportamentos que pretendem explicar.

      3 Atrajetória das doenças é influenciada pelas crenças dos doentes e dos médicos, face à sua evolução e prognóstico.

       4 Os profissionais de saúde, tal como os doentes, são influenciados por papéis que são também socialmente construídos.

 

                       Segundo Quartilho (2001), as concepções de saúde e de doença constituem variáveis socialmente determinadas, que são uma parte da cultura dos povos. O homem aprende e incorpora conhecimentos, habilidades e experiências sobre a saúde, doença, forma de auto-cuidar/tratar, através das mensagens emitidas pelas mais diversas fontes: tradições, experiências pessoais ou de outrem, dos profissionais da saúde, dos meios de comunicação; mensagens que incorporam não só a nível individual, mas também coletivamente, na família, grupo social, comunidade onde vive e se relaciona.

                       Segundo Pereira (1987), que para a compreensão, reconhecimento e tratamento dos doentes, bem como para a promoção da saúde: “é importante abarcar todas as determinantes envolvidas na saúde e na doença; determinantes essas que são entre outras, as crenças, preconceitos e saberes que cada cultura aceita e transmite ”.

                       Em resumo, a concepção de doença e saúde construídas historicamente em variáveis sociais, é um meio de acesso ao sentido que os indivíduos dão aos seus comportamentos adquiridos individuais e às relações que estabelecem com os membros da sociedade onde vivem; bem como ao sistema de conhecimento, entendimento, crenças e valores que lhe são subjacentes.

                       Portanto, educar segundo o ponto de vista da saúde é intervir na cultura dos indivíduos, sobre seus conhecimentos, valores, crenças, sentimentos e comportamentos, visando à melhor qualidade de vida em sociedade. Osportadores de transtornos mentais estão sujeitos à intervenção da cultura como educação em seus valores, comportamentos, crenças e sentimentos?

 

Educação pré- natal e os transtornos mentais

 

                   

Segundo estudos realizados pela Faculdade de Saúde Publica da Universidade de São Paulo por Volcan (2007), mostraram que a educação Intra Uterina e a Saúde Mental apresentam uma associação positiva, onde a educação combate a doença.

            Estudos mostram que os genes são modificados, se devidamente estimulados para desenvolvimento da inteligência, em contra partida, a ocorrência de stress precoce deixa o indivíduo vulnerável a um número de doenças como o câncer, demência, esquizofrenia, doenças cardiovasculares, transtorno obsessivo-compulsivo e outros.

 

 Nos países europeus, estudos mostram que uma gestação bem desenvolvida, traz para toda a vida, pessoas mais ajustadas e equilibradas.

Segundo Volcan (2007) muitos distúrbios de personalidade são na verdade, iniciados no período da vida intra-uterina; pais que não se preparam para a chegada de seus filhos, e mesmo a aceitação das transformações resultantes da gravidez, no corpo da mulher, na vida afetiva e social do casal.

            A falta de comprometimento de um dos pais, ou até mesmo a falta de conscientização dos papéis a serem exercidos pelo casal, com o advento da maternidade, traz para o bebê o sentimento de rejeição, que posteriormente se transforma em inveja e que se desenvolverá numa personalidade perversa, visto que o processo educativo deste foi deixado à margem da atenção ideal e, os pais transformaram desde a concepção, o que era para ser um período de aprendizado em família, onde os pais e o bebê deveriam se educar para viver em sociedade; mas por que não conseguem se entender trabalha entre si para a própria deformação de seus sentimentos, bem como do ser que se desenvolve no útero materno.

            O período evolutivo, ao invés de trazer oportunidade de crescimento e desenvolvimento equilibrado para a família que se forma, traz um momento de dor, desatino, que se perpetuará após o nascimento da criança.

            A prevenção dos distúrbios de personalidade deve inicialmente ser trabalhada através do conhecimento dos papéis a serem desenvolvidos pelo pai, mãe e filho. Através da conscientização destes papéis é que os pais proporcionarão ao filho o conhecimento do sentido da vida, desde o ventre materno, e que prosseguirá no contato com o mundo externo.

            A organização do psiquismo infantil é alicerçada na vida pré-natal; com a identificação do eu mediante a existência do outro que se manifesta de maneira adequada para proteção, direção e sustentação do processo educativo.

            A saúde e a doença de um bebê são construções sociais, resultantes muitas vezes de um processo que se inicia na vida pré-natal, os quais integram fatores biológicos, sócio-econômicos, culturais, psicossociais e religiosos, que se baseiam na história de vida dos pais. Por isso exercem influência na formação da criança.

            Essa formação, é na verdade um processo educativo e evolutivo que, começa muito antes do período escolar da criança, começa em casa e nos sentimentos dos pais.

 

 

 

 

 

4.6 A cultura e a doença

 

                       A Antropologia é entendida por muitos estudiosos, como a ciência que estuda a cultura, o homem como ser cultural e fazedor de cultura.

                        A noção de que a doença é uma entidade natural, cujas causas devem ser identificadas e combatidas por diferentes saberes e pontos de vista, tem sido discutida pela Antropologia médica ou Antropologia da Saúde.

                        Autores estudam a forma como os aspectos sócio-culturais influenciam a saúde, a doença e o processo de cura, relacionando-se com as crenças, atitudes e práticas espalhadas em todas as sociedades humanas. Os problemas de saúde apresentam-se como características de uma cultura individual e coletiva.

                        A cultura é então o resultado da interação individual com o coletivo de cada sociedade. Segundo Marsella e Kameoka (1989, p.233) culturas são condutas aprendidas e compartidas, transmitidas de geração em geração com o fim de conseguir a adaptação, crescimento e o ajustamento do indivíduo. Possui tantos referentes externos como internos. Os externos incluem os objetos, papéis e instituições. Os internos incluem atitudes, valores, crenças, expectativas, epistemologias e consciência.                        Para Kleimman (1988) a categoria enfermidade incorpora a experiência e a percepção individual relativamente aos problemas decorrentes da patologia, bem como a reação social à enfermidade. Essa percepção individual diz respeito aos processos de significação da doença que, para além dos significados culturais, há também os significados pessoais, que incluem não só os simbólicos particulares formadores da própria doença, mas também os criados pelo doente para lidar com a doença e controlá-la.

                        O mesmo autor considerou que uma das razões pelas quais diferentes processos de cura persistem numa mesma sociedade, é o fato de eles agirem nas diferentes dimensões da doença, bem como existirem padrões de crença e fatores culturais individuais (GRIFO NOSSO ) . Parte do pressuposto que a cultura afeta a experiência e a expressão dos sintomas de uma doença, em cada indivíduo ou no grupo a que pertence, através inclusive da comunicação.

                        É necessário um alerta para o fato de a comunicação se tornar numa das principais causas dos desencontros entre o olhar médico, do olhar do doente diante da doença.

                        A correlação do doente mental com o sobrenatural é tratada por vários técnicos como médicos, psicólogos, sociólogos, e antropólogos, visto que é merecedora de questionamento por parte dos técnicos a resolução de algumas doenças por meio sobrenaturais, de acordo com a necessidade e a crença dos seus portadores.

                        É importante notar os recursos disponíveis em cada região, dos meios de cura para as doenças, principalmente as mentais; onde os padrões culturais das comunidades conhecem como única alternativa de combate contra a doença estas práticas utilizadas durante milênios pelos ancestrais das gerações atuais.

                        Em algumas culturas, divide-se o grupo de doenças como as de médico, segundo o modelo científico, e as que não são de médico, segundo o modelo da medicina popular, como sobrenatural religioso.

 

(ANEXO I – EDUCAÇÃO: FORMAÇÃO DE PESSOAS OU PREOCUPAÇÃO COM O CONTEÚDO?

 

 

4.7 Bem-estar espiritual e a saúde mental

 

 

                        Segundo publicação da Revista de Saúde Pública (2003) um estudo transversal com 464 universitários das áreas de medicina, direito de Pelotas, do estado de Rio Grande do Sul, sobre práticas religioso-espirituais e sobre a ocorrência de eventos de vida produtores de estresse.

                        Este estudo mostrou que, 80% dos estudantes possuem uma crença espiritual. O escore médio de bem-estar espiritual foi de 90,4%. A pesquisa mostrou a associação com a frequência a serviços religiosos ou práticas espirituais, e não demonstrou ser influenciadas por variáveis sociodemográficas e culturais.

                        Indivíduos com bem estar espiritual baixo, apresentaram o dobro de chances de possuir transtornos psiquiátricos menores.

                        Em1988, aOrganização Mundial de Saúde (OMS), fez a inclusão de um aspecto espiritual no conceito multidimensional de saúde:- “Entende-se por espiritualidade o conjunto de todas as emoções e convicções de natureza não material, com a suposição de que há mais no viver do que podem ser percebido ou plenamente compreendido, remetendo a questões como o significado e sentido da vida; não se limitando a qualquer tipo específico de crença ou prática religiosa.” ( Tabela no.3)

 

 

 Tabela no.3

 

                       

 

                        Há na Literatura crescentes evidências, de que a espiritualidade implica em fator de proteção, tanto no ponto de vista médico, como em relação à área psicológica, bem como em situações relativas ao campo da educação.

                        A questão da espiritualidade é muito ampla, complexa, sendo que a percepção subjetiva de bem estar do sujeito relaciona à sua crença, que pode ser aspecto passível de avaliação.

                        O desenvolvimento instrumental de mensuração do bem estar espiritual foi baseado no conceito de espiritualidade com um componente vertical, que é o relacionamento com Deus, e um componente horizontal, existencial, que é o sentido de propósito e satisfação de vida; sendo ainda que este não refira a qualquer conteúdo especificamente religioso.

                        Em pacientes idosos com câncer, o bem estar espiritual, representou um fator de proteção relacionado a atitudes positivas de combate à enfermidade, diminuição da ansiedade e das demandas impostas pela doença.

                        Em estudantes universitários, relacionou-se à diminuição do risco de depressão e de suicídio.

                       

 (ANEXO II- Acreditar Ajuda a formar hábitos)

                       

            Embora não seja possível determinar com exatidão os mecanismos de interação da espiritualidade na saúde, e especialmente na saúde mental, vários estudos sugerem que o exercício de atividades espirituais (a oração e outros rituais) pode influenciar psicodinamicamente, através das emoções positivas (como a esperança, perdão, auto-estima e amor). Ademais, estas emoções podem ser importantes para a saúde mental, em termos de possíveis mecanismos psiconeuroimunológicos e psicofisiológicos.

                        A vivência de sentido de satisfação na vida possibilita ao indivíduo um recurso interno para o manejo e entendimento de situação existencial crítica, como a dor, sofrimento e a morte.

                        Entende-se, portanto, que a espiritualidade é considerada um recurso psicossocial individual, bem como comunitário, de promoção de saúde mental e uma vez experimentada traz benefícios não só à saúde, bem como aos cofres públicos, visto não ser oneroso o trabalho voluntário de atividades praticadas no meio religioso, assim como melhoram o estado emocional dos portadores de transtornos psiquiátricos menores e por isso a administração de medicamentos tende a diminuir.

 

Transtornos Mentais Comuns Em Mulheres (TMC)

 

 

                        Segundo publicação da Revista de Enfermagem (2006) um estudo realizado em mulheres da zona urbana da Feria de Santana, do estado da Bahia, em 2002, entre 1235 mulheres de meia idade., trabalhadoras e donas de casa.

                        A prevalência do TMC foi elevada: 43,4% entre as donas de casa e trabalhadoras. Baixa escolaridade, ausência de atividade de lazer, menopausa, ter realizado aborto e agressão, foram potenciais fatores de risco para a TMC em ambos os casos. Os resultados revelam morbidade psíquica entre as mulheres, especialmente entre as donas de casa; e apontam a necessidade de programas e ações voltadas para a prevenção e promoção da saúde mental nesses grupos. (Tabela no. 4, 5 e 6)

 

 

 

Tabela no.4

TABELA 04 - Distribuição das   mulheres segundo realização de atividades de lazer e

número de filhos, Feira de   Santana, 2002.

 

Atividades   de lazer-

 

Número   de filhos -   Sim-    n%-     Não-     n%-        Total

 

Sem filhos               - 482-     72,9 -    179-     27,1-        661

1-2 filhos -               - 328-     51,5 -    309-     48,5-        637

3-4 filhos -               - 182-     46,3 -    211-     53,7-        393

³ 5 filhos -               - 137-     37,5 -    228-     62,5-        365

-------------------------------------------

Total       -               1129-     54,9 -    927-     45,1-      2056

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tabela no.5

TABELA 5 - Distribuição da   Sobrecarga Doméstica segundo características

sociodemográficas e familiar   das mulheres, Feira de Santana, 2002.

 

Sobrecarga   Doméstica

Características   Baixa Média Alta

 

Idade          - sobrecarga-    n% -    sobrecarga-    n%-  sobrecarga-     n%

Até 20 anos -    160         -      37,1-      160         -      37,1-    111          -      25,8

21-30 anos  -      130         -    27,8-        135         -    28,8-      203          -    43,4

31-40 anos  -        89         -      22,9-      139         -      35,7-    161          -      41,4

41-50 anos  -        78         -    28,6-        89         -      32,6-    106          -      38,8

³ 51 anos    -       225        -    46,4-        140         -    28,9-      120          -      24,7

Escolaridade

Nunca foi à escola     -           101-  38,1 –   73 -    27,5 -    91   - 34,3

Ensino Fundamental -         232-   25,9 -    294 - 32,8 -  369   - 41,2

Ensino Médio            -         296-   37,2 -    268 - 33,7 -  231   - 29,1

Superior                    -           49-   66,2 -     19  - 25,7  -     06   -   8,1

Situação   conjugal

Solteira                      -        276-     37,7 -  245 - 33,5  -    211  -  28,8

Casada/União livre    -          244-   25,6 -  312 - 32,8    - 396   -  41,6

Viúva/Separada         -        160-     45,2 -  104 - 29,4  -     90   -  25,4       

Cor   da pele/raça

Branca                       -        203-     47,0 -  125 - 28,9  -    104   - 24,1

Parda                         -        339-     29,8 -  384 - 33,8  -    414   - 36,4

Preta                          -          96-   27,5 -    115 - 33,0  -  138     - 39,5

Amarela/indígena      -          08-   33,3 -      10 - 41,7  -    06      - 25,0

Filhos

Sim                            -        378-     27,2 -  457 - 32,9  -    553    - 39,8

Não                            -        303-     46,4 -  204 - 31,2 -   146      - 22,4

Número   de filhos

Sem filhos                  -       305-     46,5 -  205  -    31,3 -  146    - 22,3

1-2 filhos                    -       163-     25,7 -  250   - 39,4 -    222    - 35,0

3-4 filhos                    -         94-     24,0 -  118   - 30,2 -    179    - 45,8

³ 5 filhos                    -       120-     33,0 -    90   - 24,7 -    154    - 42,3

 

 

Tabela no.6

 

Tabela no.6

Prevalência de   mulheres segundo variáveis sociodemográficas

 

Variáveis

 

Menopausa                 n      -           n%        

Sim             -             247    -           48,8

Não              -              311    -           39,9

Aborto

 Sim           -              205    -           49,8

 Não          -               230    -           40,4

Agressão

Sim           -                650     -            69,2

Não          -                518     -             40,2 

 

                        Desde os tempos mais remotos, coube à mulher o dever de cuidar do lar, do marido e dos filhos, bem como exercer outras atividades como: costurar, lavar, passar, cozinhar, educar os filhos, etc.

                        As pesquisas de saúde mental das mulheres devem considerar os múltiplos papéis exercidos por elas, e avaliação dos diferentes espaços da vida nos quais as mulheres atuam, seja no trabalho profissional ou no lar. A final, enquanto os homens chegam em casa e descansam, a maioria das mulheres começa uma nova jornada em atividades domésticas.

                        As mulheres são foco prioritário de atenção das políticas de saúde, por serem vistas na medicina, essencialmente como mães. Esse fato orientou quase toda a produção científica com a entrada progressiva da mulher no mercado de trabalho; surgiram estudos sobre a influência do trabalho na saúde das mulheres, principalmente explorando diferenças quanto à prevalência de situações entre trabalhadoras e donas de casa.

                        A monotonia da rotina doméstica, associada a pouca possibilidade de mudança, traz frustração para aquelas que almejam realização profissional seja por ter filho ou por causa de seus maridos. Isso pode ser um determinante para a ocorrência de distúrbios mentais, pois, a realização profissional é uma das necessidades mais evoluídas. Quando se realizam as necessidades primárias, e se buscam novos desejos, a auto- realização é a maneira que ela tem de desenvolver seu potencial.

                        O trabalho profissional pode proporcionar para as mulheres, novas experiências, mais oportunidades e uma forma de escape do confinamento do espaço doméstico. Alguns estudos, porém apontam como gerador de impactos negativos, na saúde física e mental. Os aspectos relacionados ao trabalho profissional que pode causar o adoecimento mental estão ligados à organização do trabalho com ênfase na classificação hierárquica, divisão e conteúdo de tarefas, estrutura temporal e as relações humanas no trabalho; a superposição de responsabilidades em família, casa e trabalho, que é um grande gerador de estresse, podendo provocar doenças mentais e sentimentos de baixa estima.

                        Os transtornos mentais e comportamentais afetam mais de 25% da população; são universais, atingindo todas as idades. Cerca de 20% de todos os pacientes atendidos por profissionais de atenção primária e mostram mais transtornos mentais e comportamentais que causam grande impacto sobre os indivíduos nas comunidades. Os indivíduos, além de apresentar sintomas de seu distúrbio, sofrem por estar incapacitados de atividades de trabalho e lazer.

                        Os TMC são caracterizados por sintomas como ansiedade, humor depressivo, sintomas somáticos, debilidade vital e pensamentos depressivos. Esses sintomas provocam sofrimento mental e destacam-se atuações prevalentes de problemas de saúde.

                        Entre os aspectos referentes ao trabalho doméstico, associados aos sintomas depressivos de ansiedade e psicossomáticos, destacam-se a rotinização de tarefas e interrupções constantes das atividades de lazer, com associação positiva entre sobrecarga doméstica e prevalência de hipertensão arterial, constatando que a associação aumentava quando o tempo para o lazer tornava-se insuficiente.

                        O baixo nível de escolaridade também observado entre as pesquisadas, onde apenas 32,6% possuíam o ensino fundamental, 13,7% nunca foram à escola, 5,7% sabiam ler e 24,3% tinham ensino médio ou nível superior.

                        Este fato sugere a falta de perspectiva para melhorar sua auto-realização, sendo isto um agravante para os sintomas da TMC. A falta de fatores protetores, impede o equilíbrio de tensões e é ineficaz na produção de suporte disponível para garantir uma melhor visão para experimentar e superar episódios de sofrimento. Vivem, portanto, expostas em situações de maior risco à saúde mental, por falta de escape físico e emocional, agravados pela falta ou baixa escolaridade..

                        Na pesquisa detectou-se 11% de pessoas que se sentem inúteis, 21,1% que perderam o interesse pelas coisas, 6,7% incapaz de desempenhar um papel útil em sua vida com sintomas somáticos, 49,3% apresentaram dores de cabeça freqüente e 24,7% tremores nas mãos, 74% sentem-se nervosas, tensas ou preocupadas, confirmando a insegurança e estado de tristeza profunda das pessoas sem perspectivas para o futuro.

           

- (ANEXO III- ESTILO DE VIDA)

 

 

 4.9 Transtornos mentais ligados ao uso de drogas

 

 

                        Fatores protetores contra o uso de drogas apontam como 78,1% que a família apresenta o maior índice, seguido de 75,0% da religião, 50,4% de informação, 50,0% de perspectiva de estilo de vida, 18% a mídia e 13,4% a escola; sendo assim  existe na família o maior influenciador para a prevenção e proteção contra o uso de drogas.

                        Segundo pesquisa Cebrid (2007), são apontados como conflitos da adolescência, por se apresentar como período de transição simbolizado pela vulnerabilidade, de exploração e aprendizagem para a maturidade física, psicológica e social, rebeldia, comportamento fora do padrão; é considerado o período de risco para o início de consumo mais vulnerável que a infância e a vida adulta.

                        Segundo o NIDA, os programas de proteção devem melhorar os fatores de proteção e reverter ou reduzir os fatores de risco de uso. Os fatores de proteção são: envolvimento familiar positivo, pais presentes e participativos, monitoramento das atividades dos filhos, harmonia doméstica, regras claras de conduta reforçadas pela atitude da família.

                        No âmbito social, o comprometimento com a escola, amigos não usuários e não envolvidos em atividades ilícitas, disponibilidade da droga, forte vínculo com instituições como escola, igreja, etc. São os fatores apontados como protetores contra o uso de drogas.

                        No âmbito pessoal, apontam a elevada auto-estima, religiosidade, crenças nos valores sociais vigentes (e morais – GRIFO NOSSO); são os fatores protetores contra o uso.

                        A falta de fatores protetores induz principalmente, os adolescentes a buscar a droga como força ou referencial para sua vida; onde se procuram a afirmação nos grupos de risco.

                        Os efeitos de uso crônico da droga são entre outros: nervosismo, excitabilidade, agitação, mudança de humor, psicose tóxica, hipersensibilidade a estímulos sensoriais, insônia, fissura (Craving), distúrbios alimentares, disfunções sexuais (impotência), problemas cardiovasculares, CEBRID (2007).

                        Os efeitos do uso do crack, são que ao mesmo tempo em que cria uma sensação de alegria no usuário, também deixa efeitos significativos e potencialmente perigosos no corpo. As pessoas que o utilizam mesmo que poucas vezes correm o risco de sofre infarto, derrame, problemas respiratórios e mentais sérios.

                        Quando uma pessoa viciada pára de utilizar o crack, há uma crise. Ela enfrenta os sintomas da abstinência, que incluem: depressão, ansiedade, necessidade intensa da droga, irritabilidade, agitação, exaustão, raiva, CEBRID (2007).

                        A exposição ao crack também pode contribuir para o atraso no desenvolvimento cognitivo.

                        Os efeitos psicológicos causados pelo uso da Cocaína são na 1ª. Fase: intensa euforia, ilusão de onipotência, suprema autoconfiança; e na 2ª. Fase é depressão, paranóia, delírio, agitação, fissura, agressividade, estratégias perigosas para conseguir a droga, principalmente o crack.

                        As complicações psiquiátricas causadas pelo uso da Cocaína são delirium, transtorno psicótico, transtorno do humor, de ansiedade, disfunções sexuais, transtornos do sono. Além de muitas outras, mas as piores e mais sérias podem ser o suicídio, acidente, crime, prostituição, as quais reforçam a agravam os sintomas dos outros portadores de transtornos mentais com o quadro de comorbidade.

                        Os consumidores do crack são homens, geralmente jovens, de baixa escolaridade, desempregados e de classe social baixa; a adesão das mulheres é feita pela prostituição para conseguir a droga, trocando o sexo pelo crack.

                        As complicações físicas e psíquicas do uso do crack são que não se importam com o aspecto físico, condições de higiene; afastam-se das atividades escolares e do trabalho; desenvolvimento de atividades criminosas para continuar o consumo da droga, CEBRID (2007).

                        Estudos histórico-antropológicos, conclui que “a crença de que as doenças mentais estão associadas à violência, é culturalmente, historicamente constante e universal”. Essa preocupação pública tende a consequências na prática social (estigma) contra indivíduos portadores de doenças mentais. A estigmatização do doente mental é o maior obstáculo para sua inserção social. Portanto, antes de aceitá-la, devemos refletir criticamente, primeiro, se a associação existe de fato e em seguida, qual é a magnitude de seu efeito nos crimes de violência em geral.

                        O grupo de pesquisa liderado por Steadman (1998), New York, não encontrou diferença na prevalência de violência em doentes mentais sem abuso de álcool ou drogas, comparados com a população geral. O risco de violência em indivíduos da população geral com abuso de álcool ou drogas foi duas vezes maior do que em pacientes esquizofrênicos sem abuso.

                        Esse risco é potencializado quando o álcool ou drogas coexistem em indivíduo portador de transtorno mental, segundo Swanson e seus colaboradores. O maior risco para expressão de violência ocorreu na combinação de abuso de álcool/drogas com transtorno de personalidade anti-social.

                        Esses achados sugerem que a doença mental em senso estrito contribui muito pouco para a ocorrência de quadro de violência. De acordo com o estudo, 360 mil pessoas pesquisadas, com idade de 43 anos, apresentando histórico de internação psiquiátrica foram  associadas entre o diagnóstico e o crime de violência.

                        Foram apresentados sem internação psiquiátrica, mas que cometeram crime de violência, os indivíduos com percentual de 1,5% do total dos entrevistados; com doença mental (psicoses e esquizofrenia) 6,7%; com retardo mental 11,4%; com personalidade anti-social 10,8%;abuso de álcool 10,0%; abuso de drogas 13,0% autoras de agressividade, ficando claro que o abuso de drogas agrava os sintomas e altera o comportamento dos portadores de doenças mentais, tornando-os agressivos e violentos.

                        A associação entre a doença mental e violência, não tem base real; mas o indivíduo psicótico pode se tornar agressivo se estiver alcoolizado ou drogado, assim como o não psicótico também, WAGNER (1999).