Docência: uma ação complexa?

Por Adriétt de Luna Silvino Marinho | 30/12/2010 | Educação

Docência: uma ação complexa?

Compreendemos que o processo didático desenvolve-se mediante a ação recíproca de componentes fundamentais do ensino, como os objetivos, os métodos, os conteúdos, as formas e os meios de organização do ensino e a avaliação, sendo assim, esse é um cenário complexo de ser montado.
Nesse sentido, consideramos que uma prática de ensino eficaz deve priorizar o planejamento didático. Este deve ser estudado pelo professor e construído juntamente com os alunos, a fim de que haja equidade no processo final.
Tal possibilidade desperta o interesse dos aprendizes, tornando-os co-agentes do planejamento de ensino, esse fator é de grande relevância, pois sabemos que, muitas vezes, a opinião do aluno não é levada em consideração, isto porque "A escola ainda continua se pautando por um ideal de cidadania e ética social calcada em modelos europeus ou norte-americanos, cuja ênfase é a racionalidade instrumental e o trabalho..." (ZAIDAN FILHO, 2006, p.23)
Outro ponto que merece destaque é a relação professor-aluno desenvolvida na sala de aula. Nem o educando, nem o educador são seres dados prontos. Estamos a caminho, em construção. Todos os dias, o educador está se constituindo, como educador, assim como o educando está se constituindo como educando. Dessa forma, o processo educativo consiste numa caminhada que deve ser trilhada com cuidado e com dedicação por todos os que compõem essa trajetória, a fim de que haja a construção efetiva e coletiva do conhecimento.
Refletindo sobre o seu papel enquanto educador, Freire (1996, p.77) afirma:
Meu papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito de ocorrências. Não sou apenas objeto da História, mas seu sujeito, igualmente. No mundo da História, da Cultura, da política, constato não para me adaptar, mas para mudar.
Compreende-se, dessa forma, a urgência de buscarmos a construção de um currículo que não vise apenas ao educar como um processo de desenvolvimento, mas a uma formação que contribua para o seu dever, com os outros e com o mundo.
Através de uma relação amistosa, podemos evidenciar o envolvimento dos sujeitos nas atividades propostas. Ainda que algumas vezes haja, por parte da turma, insegurança diante de algumas propostas do professor, certamente, após o diálogo e a reflexão, todos se sentirão mais preparados e confiantes.
Dessa forma, as aulas despertam um interesse pessoal a respeito das temáticas abordadas, favorecendo uma efetiva participação das atividades bem como a leitura da bibliografia básica da disciplina.
Importante ressaltar que o clima estabelecido com o professor precisa ser confortável, uma vez que deve haver espaço para sugestões, elogios e até mesmo críticas, se estas forem necessárias. Esse contexto proporciona o que Meirieu (2001) chama de "uma sala de aula livre de ameaças".
Logo, a realização das tarefas propostas se tornará mais fácil se todos se colocarem numa postura de aprendizagem, inclusive, o professor.
Também vale ressaltar a compreensão de que currículo não é apenas uma diretriz do que será ensinado, mais que isso, currículo refere-se, sobretudo ao contexto no qual se desenvolve a educação, os conteúdos, as práticas, as ideologias, o ambiente, etc. Portanto, devemos ter atenção especial diante de tudo que se passa na escola (ou em outros espaços educacionais).
Ou seja, é de fundamental importância que estejamos atentos à intenção do que realizamos. Questionemos o porquê de certos conteúdos serem considerados "mais importantes" em detrimento de outros. Qual a lógica que rege nosso currículo? Quem disse que tinha que ser assim? Em que tal prática ou conteúdo serão relevantes ao desenvolvimento de pessoas autônomas e comprometidas com o outro?
Diante do exposto, a principal atitude a ser desenvolvida após a conclusão deste artigo refere-se a uma postura crítica diante da realidade, lutando por uma educação mais democrática, liberta das ideologias dominantes, considerando que "a escola não atua pela inculcação da cultura dominante às crianças e jovens das classes dominadas, mas, ao contrário, por um mecanismo que acaba por funcionar como um mecanismo de exclusão" (SILVA, 2007, p.35), nossa postura, enquanto educadores, deve ser de um comprometimento real com a construção de um currículo eficaz, democrático e intercultural.

Referências
 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
 MEIRIEU, Philippe. O cotidiano da escola e da sala de aula: o fazer e o compreender. Porto Alegre: Artmed, 2001.
 SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2.ed.Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
 ZAIDAN FILHO, Michel. Educação, multiculturalismo & globalização. Recife: Ed. Do autor, 2006.