DO LADO DE LÁ...
Por XALONI IORI | 08/02/2021 | CrônicasDO LADO DE LÁ...
9 Então, ele me disse: Profetiza ao Espírito, profetiza, ó filho do homem, e dize-lhe: Assim diz o Senhor Deus: Vem dos quatro ventos, ó Espírito, e assopra sobre estes mortos, para que vivam.
Livro do Profeta Ezequiel, cap. 37:9.
Ei, olhe ali:
Quis se matar
Pensando que há morte
Em algum lugar!
“E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!”
Augusto dos Anjos (1884-1914).
Ele olvidou
Que JESUS CRISTO ressuscitou
De entre os mortos
Sem deixar destroços.
“E Deus lhe disse: "És duas vezes santo,
Pois se da Religião fizeste culto,
Foste do amor o mártir sacrossanto.”
Augusto dos Anjos (1884-1914).
O túmulo fica vazio
Porque cada célula
Do exército celular
Vai para o seu habitat
Para novos corpos formar.
Como alguém pode conceber
Que a Essência Espiritual
Tenha um final?
“Rasgo dos mundos o velário espesso;
E em tudo, igual a Goethe, reconheço
O império da substância universal!”
Augusto dos Anjos (1884-1914).
Agora, chegou aqui
E ficou vivo ali
Vendo o corpo se desfazer.
Aí não tem um relógio
Onde o tempo corre
E o desertor alguém socorre.
Nesse vale de expiação
Só o fim da decomposição
É a única lei.
Isso não está no mapa
Que uma visão retrata
Como uma cidade ou casa,
Mas é o nada
Que tanta gente propaga
E nem sabe o que é.
CARIDADE DIVINA
47 O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o segundo homem é do céu.
Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios, cap. 15:47.
O corpo de carne
Que o Espírito veste
Para se tornar visível
E contra ele investe,
É uma Caridade Divina
Que a todos anima
No rumo do evolução.
“Oh! tu que no perdão eu simbolizo,
Se fosse Deus, no Dia do Juízo,
Talvez perdoasses os que te mataram!”
Augusto dos Anjos (1884-1914).
Ele é uma máquina perfeita
Que ensina a direita
Boa maneira de evoluir.
Quem o descarta
Antes do momento determinado
Fica num estado
De putrefação,
Qual a fruta que cai no chão
Antes de estar madura.
Aos poucos ela apoderece
E totalmente desaparece,
Mas a sua Essência Vital
Permanece afinal
Além do dito fim.
“E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da Morte a me bradar; descansa!”
Augusto dos Anjos (1884-1914).
Aí nessa situação
Não pode usar a visão,
Nem ouvido, nem pé, nem mão,
Nem nariz, nem a boca
Para pedir socorro.
A única coisa usada
É o Pensamento
Que o seu Espírito possui
Em todo momento.
“A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença,
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.”
Augusto dos Anjos (1884-1914).
Poeta brasileiro.
Portanto, o Ato de Pensar,
Faz o Espírito atravessar
Qualquer fronteira.
Pra ele não há obstáculo,
Pois todo o Espaço
Está livre.
“A Noite vai crescendo apavorante
E dentro do meu peito, no combate,
A Eternidade esmagadora bate
Numa dilatação exorbitante!”
Augusto dos Anjos (1884-1914).
Pra ele não há porta fechada,
Pois tem para entrada
A sua chave maga.
Por isso, o CRIADOR INCRIADO,
Concedeu ao Ser criado
A dádiva da Vida Eterna,
E nela o Pensamento
É a todo momento
Exercido.
7 Para onde me ausentarei do Teu Espírito? Para onde fugirei da Tua Face?
Livro dos Salmos, cap. 139:7.
Então, ó cara Felicidade,
Eu te encontrei de verdade
No meu Espírito Imortal
Que atravessa o Portal
Da Mansão Celeste.
“Transponho ousadamente o átomo rude
E, transmudado em rutilância fria,
Encho o Espaço com a minha plenitude!”
Augusto dos Anjos (1884-1914).
Poeta brasileiro.