Do homem

Por Gabriela Araruna | 30/08/2013 | Poesias

A tua barba
Substantivo feminino no teu rosto de homem
Isso é um apelo
É um apelo dos pelos que se desenham da minha nuca até o meu tornozelo
Ansiosos à espera do arrepio

É na tua doce aridez que minhas mãos se encontram
E percorrem os teus caminhos
É nesse teu lugar, homem, onde eu encravo o meu corpo 
E tu me corrói em marcas
Me violenta
Por inteira

Agora, eu sou o teu lugar
Me refaço em um novo calafrio quando a tua barba se deita na curvatura do meu ventre
E minha coluna se encurva
Quando a tua barba e a tua boca protagonizam a mesma cena
Descem ao íntimo como um deus ex machina 
E, sem nenhuma decência
Invadem e destroem o que há em mim

Torno-me carne marcada a ferro em brasa 
Com as letras das tuas unhas
Teu pescoço veste um colar
Elegantemente rústico
Que me conduz ao teu cheiro de mar e de flor

A sede das minhas mãos é incontrolável
Volto pra tua barba
Vou pra tua garganta
Leio acariciosamente as tuas vértebras 
Enquanto falamos de ísquios e de ossos

Timidamente atinjo as partículas subatômicas dos teus poros
E do teu sexo
Me faço mulher nos meus gemidos
E nas tuas respirações

Tu é homem de um sol nas mãos
Ilumina o meu corpo com teu calor impenitente
E, à noite
Saboreia as minhas ruas com cheiro de chuva