Do 'Boquinheiro'
Por Ary Carlos Moura Cardoso | 01/07/2008 | PolíticaEis uma das pragas mais sórdidas no meio político: o "boquinheiro". Na verdade, está em todos os lugares, em todos os segmentos sociais.
Dotado de caráter leviano, ele não hesita em penetrar pelos buracos das inúmeras teias de corrupção. O importante é "faturar".
Variam os tipos de "boquinheiro'. No entanto, nenhum é tão descarado como aquele que não parece ser. Dissimulado, o bicho sabe ganhar terreno, conquistar confiança, seduzir incautos. Se pego, não se sente abalado, não se entrega jamais. Todos os deslizes podem ser justificados, se possível, acompanharão atos teatrais que comprovem a lisura de sua trajetória.
Nenhum "boquinheiro" genuíno fede de cara. Diuturnamente, se banha com perfumes refinados, sua pasta dentária auxilia muito bem no combate ao seu mau hálito e existe no "mercado" uma série de produtos voltados especificamente para suas empulhações.
Na esfera pública, encontra-se o mundo encantado dessa cambada. Boca maior não pode haver do que ocupar um cargo público sem concurso, receber um salário acima da média, principalmente encapotado por um tipo qualquer de assessoria, um famigerado "cargo de confiança" e coisas do gênero.
"Boquinheiro" diplomado, com ou sem doutorado, exige ser chamado de Doutor, faz o diabo para publicar livrinhos recheados de bobagens, alguns rotulados de acadêmicos, não perde um só acontecimento social e se houver uma "academia do limão amarelo" lá estará destilando sua cultura, sua vocação literária.
As únicas preocupações do "boquinheiro" são com ele mesmo, com aquele que sustenta sua "boca" bem como com tudo aquilo que possa lhe projetar. Daí ser contra ou a favor de algo depende apenas de suas idiossincrasias, de seus interesses, de seu umbigo,contando, é óbvio, com as sapientíssimas posturas de quem é bajulado.
De "boquinha" em "boquinha", amigo, a nação é aviltada por um estado inepto, um tipo carcomido por corrupções toleráveis nas quais o "boquinheiro", filhote do mais reles jeitinho, vai se alastrando, se arrumando, debochando do Estado de Direito e, levianamente, nos provoca: "que mal faço eu"?