DLXX – “ENCONTROS COM O DRP DE XANXERÊ (RICARDO CASAROLLI) E COM O NOVO DGPC (ARTUR NITZ): SERIA O EFEITO 'PROJCOR OU ULTRAJE A RIGOR?’”

Por Felipe Genovez | 25/09/2018 | História

PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 26.01.2014, horário: 10:00 horas:

No meio da manhã a estagiária Rebeca da Corregedoria da Polícia Civil veio até meu gabinete me notificar de uma requisição da nova Corregedora da Polícia Civil (Delegada Sandra Mafra) a respeito de um pedido de explicações do Corregedor-Geral da Segurança Pública (Delegado Jeferson Guilhão de Paula) em razão de um artigo que havia publicado anteriormente (ProjCor ou Ultraje a Rigor?). Na requisição o Delegado Jeferson, de maneira incisiva, exigia que provasse e explicasse algumas locuções no referido artigo, considerando que havia se sentido bastante ofendivo, achando que aquelas críticas eram direcionadas a sua pessoa. Imediatamente redigi uma ‘CI’ e respondi na mesma hora todos os seus questionamentos, inclusive com os documentos do MP, dentre outros.

Data: 29.01.2005, horário: 14:00 horas:

Cheguei na DRP de Xanxerê para uma visita ao Delegado Ricardo Marcelo Casarolli (novo Delegado Regional). Estava na antesala da secretária quando avistei Casarolli vindo ao meu encontro já que havia sido informado da minha presença. Logo que meu viu convidou para ir até seu gabinete e começou a acionar sua metralhadora verbal. Procurei permanecer em silêncio enquanto  Casarolli reclamava da falta de efetivo, fazendo um desabafo resevado e já havia se arrependido de ter aceito o cargo porque estava sofrendo represálias do Ministério Público (Promotor Fernando Menezes), isso porque estaria mantendo Delegacias de Polícia de portas fechadas, alem disso havia uma "ameaça" judicial de ter que, juntamente com o Estado, pagar multa diária de quinze mil reais... Casarolli argumentou que não tinha como manter Delegacias da sua região funcionando em razão de não haver policiais disponíveis, especialmente porque muitos estavam se aposentando. Acabamos falando da época em que meu interlocutor atuou na cidade de São Bento do Sul quando também sofreu represálias por parte de uma Promotora de Justiça... Fiquei pensando: "Vamos ver quanto tempo Casarolli vai resistir, até quando fará frente não só ao MP, mas à própria direção da SSP...?"

Depois disso conversamos sobre as eleições da Adepol e confidenciei que o Delegado Ulisses Gabriel havia feito contato propondo que eu integrasse sua chapa (só não contei que havia sido convidado para ser vice, tendo o Delegado Evaldo Moretto como segundo vice, até porque não aceitei...). Casarolli afirmou que também estava na chapa. Quando finalmente tive uma abertura para falar mais tranquilamente aproveitei para comentar que a lei dos "subsídios" acabou causando problemas haja vista ter causado uma substancial diminuição do efetivo da Polícia Civil, inclusive que havia advertido o Delegado-Geral na época, fazendo oposição ao projeto por esse e outros motivos. Acabei aproveitando para relembrar que Casarolli  havia defendido os "subsídios" e nesse instante meu interlocutor  interrompeu meio querendo argumentar que na época era favorável, mas que agora estava vendo o preço institucional... Apesar disso Casarolli registrou que foi  beneficiado com os subsídios pois teve aumento real de seus salários, enquanto fiz a contrapartida afirmando que a incorporação das horas extras e adcionais noturnos seria melhor. Vencida essa etapa passei a falar do sistema de entrâncias e Casarolli lembrou que fez o projeto para aumentar o número de vagas a partir da criação de um quadro lotacional.

Data: 05.02.2015, horário: 10:00 horas:

Encontrei o novo Delegado-Geral Artur Nitz numa lotérica próximo da Corregedoria da Polícia Civil, centro de Florianópolis (Rua Felipe Schmidt). Anteriormente já tínhamos combinado um encontro para um café. Fomos para seu gabinete e no décimo primeiro andar encontrei alguns Delegados, dentre os quais o Delegado Celinho (Setor de Armas), Marlus Malinverne  (Assessor/DGPC) e Juarez Medeiros (Diretor de Polícia da Grande Florianópolis). Depois disso, entrei no gabinete de Nitz e passamos a conversar até próximo de meio dia, sem sermos interrompidos. Achei o máximo o tratamento, e aproveitei para externar que era importante elencarmos prioridades, a começar pela Lei Orgânica. Nitz insistiu muito na necessidade de ampliar o sistema de registro de ocorrências policiais (todos os crimes de menor potencial ofensivo), isso por meio do Ciasc. Conversamos também sobre a necessidade de se fazer um projeto para "inversão da pirâmide" de cargos dentro das carreiras de Agente, Escrivão e Psicólogo Policial, de maneira a garantir que os mais antigos pudessem permanecer mais algum tempo na instituição (aguardando as promoções até o final dessas carreiras...), tambem, assegurar algum oxigênio em termos de evitar que o pessoal se aposentasse.

No meio da conversa comentei que tinha conversado dias antes com a Delegada Sandra Mara Pereira e a mesma comentou que ele queria conversar comigo. Na verdade ja havia estranhado um pouco a forma como a Delegada Sandra Mara se apresentava em relação a minha pessoa nos últimos dias na Corregedoria, isso porque evitava me olhar, parecia não querer mais me encarar como fazia anteriomente, me ignorava.., bem diferente de quando chegou. Logo imaginei que havia o "dedo" do Delegado Jeferson em razão do artigo que havia postado dias antes (ProjCor ou Ultraje a Rigor?), ademais porque ele havia requisitado informações e solicitado abertura de procedimento disciplinar contra a minha pessoa.

Na conversa com Nitz procurei relatar que em momento algum quis ofender o Delegado Jerferson e sim critiquei o "órgão" (a Corregedoria da Polícia Civil) que precisava se modernizar, era imperativo se rever as infrações disciplinares prevista na legislação estatutária, se resgatar a Corregedoria-Geral, retomar a autonomia correicional... Nitz concordou e me pediu ajuda para trabalhar no projeto da Lei Orgânica da Polícia Civil. Cheguei a relatar que depois que perdemos a isonomia com o Ministério Público trabalhei no sistema de entrâncias (LC 55/92), depois na Lei de Promoções (98/93), na divisão territorial de Polícia Judiciária (Decreto 4.196/94) e, finalmente, também no anteprojeto de lei orgânica, entretanto, não tive tempo de apresentá-lo porque se encerrou o governo (entreguei cópia para o Delegado Ricardo Thomé (Delegado da 6ª DP/Capital que esteve me visitando na Assistência Jurídica final de 1994 e que seria mais tarde um dos homens fortes de Lúcia Stefanovich no Governo Paulo Afonso, como Diretor de Planejamento).

Nitz acabou desabafando que houve uma disputa acirrada de bastidores pelo cargo de Delegado-Geral. Citou que o Delegado Aldo D'Ávila não queria deixar o cargo (isso me surpreendeu, porque o mesmo foi nomeado Secretário Adjunto da SSP), depois foi a vez de citar o Delegado Márcio Fortakamp que não aceitou o cargo e preferiu continuar ao lado do Secretário Grubba. Também mencionou o nome do Delegado Thomé, mas que havia sido rifado porque se incompatibilizou com o Secretário Grubba. Nitz desabafou que ficou pasmo com a conduta da Delegada Lúcia Stefanovich porque a mesma trabalhou contra seu nome para o cargo de DGPC, pretendendo ser nomeada para a função de comando da PC, no entanto, depois que não conseguiu emplacar foi a sua posse e sentou na primeira fila...

Na sequência Nitz disse que ao ver Lúcia Stafanofich sentada bem na frente não teve coragem de encará-la. Depois relatou que Lúcia queria uma audiência para lhe fazer uma visita, porém, como se tratava de algo não oficial mandou avisar que não teria problema e que ele mesmo na  manhã seguinte foi até a 5ªDP/Capital para dar uma flagra e mostrar que os Delegados de Polícia não se fazem presente para trabalhar, além de usar outros adjetivos de crítica... Procurei silenciar e não tomar partido nessa questão porque novamente na minha avaliação a instituição permitia que Lúcia  continuasse  trabalhando, quando já deveria ter saído na "expulsória" ou, então,  que se tivesse criado outro mecanismo de controle desse pessoal antigo e "cansado".

Nitz também citou o nome do Delegado Paulo Koerich e de um outro do interior que também quis "pegar" o cargo, mas não emplacou. Na nossa conversa externei vários pontos de vistas com relação a chapa da Adepol, tendo como cabeça o Delegado  Ulisses Gabriel que me convidou para ser seu vice. Fui relacionando meus tópicos relatando que na recepção tinha conversado com o Delegado Juares que para minha surpresa já tinha os nomes da chapa no seu "smarthphone", isto ê,  na lista de discussão e foi me parabenizando feliz por me ver na vice-presidência. Comentei que a minha preocupação foi no momento que Juarez citou o nome do Delegado Akira, Diretor da Deic, além do seu nome (Diretor de Polícia do Litoral) e de vários Delegados Regionais, dentre os quais Casarolli. Argumentei que isso seria "fogo" para a chapa adversária, pois certamente que seríamos rotulados de "chapa branca" já  que eram comissionados. Fiz outros comentários, a começar pela necessidade de não se subestimar a chapa do Delegado Mauro Dutra e toda logística existente por parte da direção da Adepol. Mencionei que a prioridade deveria ser a Lei Orgânica, inclusive, comentando que se caso ela viesse ser aprovada na sua gestão ele entraria para a História da Polícia Civil e que ele deveria pensar bem sobre o assunto.

Por último, ponderei que teríamos que pensar bem se na cabeça de chapa deveríamos figurar Ulisses Gabriel e  eu, justamente os dois últimos candidatos derrotados pelo Delegado Renatão, o que poderia contribuir para um efeito contrário, turbinando a campanha dos adversários em derrotar mais uma vez os mesmos candidatos agora juntos numa mesma chapa, o que supervalorizaria o certame. Nitz confidenciou que acabou entrando em atrito com o Delegado Ulisses (reiterou essa informação por três vezes, quase que lamentando...) que havia convidado para ocupar o cargo de Diretor de Planejamento da Polícia Civil (cargo a ser criado), no entanto entraram em rota de colisão. Nitz desabafou dizendo que Ulisses, apesar de muito inteligente, era muito afoito e auto suficiente, com "ares" de importante. Lastimei essa consideração e Nitz ainda comentou que admirava Ulisses, mas como ele era muito novo ainda precisava de supervisão de gente mais experiente e pediu a minha ajuda, especialmente, para integrar grupo de trabalho com vistas à formatar o projeto de lei orgânica. 

Durante o curso da conversa Nitz fez rasgados elogios ao Delegado Marcos Ghizoni, reiterando que se tratava de uma pessoa inteligentíssima, falava sobre qualquer assunto. Estranhei quando Nitz citou o pai do Delegado Ghizoni, conceituado neurologisa de Tubarão, chegando a mostrar um vídeo no celular  veiculado na TV (RBS) a respeito de uma cirurgia bem sucedida que foi realizada pelo genitor do mesmo. Concordei que o Delegado Ghizoni era um profissional bastante promissor, o mesmo a respeito do Delegado Ulisses Gabriel.

Horário: 12:17 horas:  

Cheguei na Academia da Polícia Civil (Bairro Canasvieiras) para me encontrar com o Delegado Ulisses Gabriel e tratar da chapa da Adepol, em cuja ocasião fomos direto para a sala do novo diretor daquele estabelecimento (Delegado Vitor Bianco) que só conhecia dos e-mails. Logo em seguida chegou o Delegado Marcos Ghizoni. Numa avaliação do quadro estava assim: Ulisses, com traje social, sem o paletó, com seu jeito magro, andando de um lado para outro (elétrico) quase que constantemente com o celular falando com alguém ou apertando alguma tecla... O diretor em traje esportivo demonstrava ser uma pessoa com personalidade forte, crítico (mais parecia um "jacobino"), centrado, estático e de opinião forte. Ghizoni de camisa preta e sua calça jeans com alguns rasgos estampando andar na moda (lembrei da sua caminhonete “Freelander” verde, com placas de Tubarão que estava no estacionamento da Acadepol minutos antes), andava de um lado para outro gesticulando, prestando atenção, falando...  Quando sentamos na sala do diretor Ulisses foi dizendo que a turma da Adepol propôs um acordo: chapa única, com ele na segunda vice-presidência, enquanto que o Delegado Paulo Koerich como presidente e Mauro Dutra de vice. Ulisses se mostrou acessível a ideia argumentando que era melhor aceitar do que perder, para depois tentar chegar a presidência dentro da Adepol.

Do outro lado o Delegado Vitor Bianco (olhando como se fosse de cima) teceu alguns comentários, especialmente, de que era imperativo derrubar o Delegado Sell da Tesouraria da Adepol... Ghizoni procurou ser mais prudente enquanto Ulisses pediu a minha opinião. Inicialmente, argumentei que estava ainda na condição de ouvinte e processando o que falavam. Depois externei minha opinião sugerindo para Ulisses que apresentasse como proposta à presidência e eles a vice e segunda vice, caso houvesse resistência que então negociasse finalmente a vice presidência. Ulisses argumentou que o Delegado Mauro Dutra estava novamente doente, com o problema na garganta (tumor) e que não teria condições de ser cabeça de chapa. Ghizoni comentou que tinha dois pés atrás com o Delegado Paulo Koerich em razão das últimas eleições, quando na última hora mudou para a chapa adversária. Acabei lembrando do Delegado Juraci Darolt e do que ele pensava a respeito de Paulo Koerich (pensei: deixa prá lá...), entretanto, também tinha que concordar com Ghizoni.

Ao final da conversa arranjamos um tempo para almoçarmos juntos no restaurante da Acadepol onde encontramos vários outros Delegados, dentre os quais Patrícia (esposa do Delegado Aldo), Isaias, Gusso, Krieguer, David Queiroz... Ulisses me confidenciou que cinquenta e quatro candidatos foram reprovados na prova oral para o concurso de Delegado e logo imaginei que estava ali a banca examinhadora. Argumentei:

- "Bom, espero que a mulher do Bermudez tenha passado, não?"

Ulisses deixou escapar um sorriso largo, afirmando que sim e que os reprovados se apresentaram muito inseguros. Perguntei:

- "Imagine, a tensão num concursos desses, e a gente acaba perdendo grandes valores...".

Ulisses deu a entender que concordou com meu raciocínio.