DIVERSIDADE: Aceitação ou Imposição?
Por Rosana Brettas da Silva | 28/01/2010 | EducaçãoRosana Brettas da Silva
Desde que me conheço por gente, aprendi que temos dois ouvidos e uma boca para escutar mais e falar menos. Aprendi também que nem tudo que pensamos ou sentimos, devemos dizer. Na verdade, se eu analisar a ferro e fogo, toda a minha criação é baseada em doutrinas rígidas e conservadoras, com preceitos para que tenhamos uma conduta excepcional em comportamentos, escolhas e pensamentos.
Aprendi ainda menina que quando uma mulher sai à rua de salto alto, não importa a dor que ela sinta aos pés, nunca deve tirar os sapatos e ficar descalça. Esta gafe seria imperdoável. E por aí vai, são tantas que eu escreveria um livro só para numerá-las. Mas depois de tantas condutas e conceitos, chega galopantemente uma era totalmente revolucionária, a era do conhecimento, a era da tecnologia e a era da diversidade.
Todas aquelas coisas que aprendi e jurava que eu teria que carregar para o resto de minha vida, foram jogadas no ar, foram atiradas ao vento como plumas de algodão. E de repente por um lapso de pensamento me vi perto do desconhecido, me vi perto de uma realidade na qual eu não sei se acredito integramente.
Na verdade eu acredito em muita coisa sim. Acredito na opção de escolha que a diversidade proporciona, acho que todos são livres para escolher sua opção cultural, social, sexual e religiosa, mas me questiono e me enfureço quando vejo pessoas se prevalecendo desta diversidade. Sinto-me totalmente agredida, me sinto corrompida.
Então pergunto: Eu aceito a diversidade num modo geral, ou finjo que aceito só para agradar as pessoas que me cercam? Eu aceito porque concordo com as diferenças, ou finjo que aceito porque a sociedade impõe que eu aceite?
A diversidade chegou a todos nós de uma forma muito violenta. Mas e eu? Aceitei ou fui obrigada a aceitar?
Talvez eu não estaria me colocando fora da moda se eu disser que tenho minhas restrições?
Mas a dúvida permanece e ressurge a cada dia que passa quando me deparo com situações que me agridem.
Provavelmente esse seja um legítimo enquadramento de crise de identidade, como Stuart Hall relata em sua obra "A identidade cultural na pós-modernidade". Stuart Hall diz que um tipo diferente de mudança estrutural está transformando as sociedades modernas... Estas transformações estão também mudando nossas identidades pessoais, abalando a ideia que temos de nós próprios como sujeitos integrados.
E essa mudança estrutural é a diversidade, que me fascina por muitas vezes, mas também me repugna em outros momentos.
Fascina-me quando leio os belos pensamentos como os que Neusa Gusmão aponta em Olhares cruzados: O de Cunha (1998, p.80) que afirma que são as diferenças o que movem as sociedades deste planeta. Tarsila do Amaral que expressa em seu quadro "Operários", a diversidade apontando para as diferentes formas de ser. E Brandão (1986) quando diz que o diferente e a diferença são partes da descoberta de um sentimento que, armado pelos símbolos da cultura, nos diz que nem tudo é o que eu sou e nem todos são como eu sou. Mais que as diferenças, o que está em jogo é a imensa diversidade que nos informa é o que nos constitui como sujeitos de uma relação de alteridade.
Repulsa-me, quando vejo pessoas se prevalecendo de direitos que agridem os meus ou o da maioria, só por serem diferentes e terem essa brecha da diversidade.
Lógico que não estou me referindo ao acesso dos cadeirantes, por exemplo, mas de pessoas como eu, com dois braços, duas pernas e dotados de muita inteligência.
Então novamente me questiono: - Não estaria eu sendo egoísta? Por que é que o outro às vezes me fere? Não estaria eu sendo preconceituosa para com a diversidade? Ou estaria me tornando parte do "ressurgimento dos novos racismos", conforme Verena Stolcke, por não defender a igualdade em todas as diferenças.
Juarez Dayrell diz que ela se torna fato cada vez mais presente em nossas vidas cotidianas, devido à maior proximidade entre os modos de ver e de existir distintos... De difícil equação.
Realmente penso ser uma equação dificílima, pois o outro também reclama de ter o seu direito, adquirido pela diversidade, questionado. Ele sofre ao pensar que pode perder o já adquirido.
Acaba sendo uma aglutinação de conceitos filosóficos, antropológicos, psicológicos, sociológicos, religiosos, culturais, lógicos, biológicos e até sexuais, que realmente geram certa intolerância por alguma das partes envolvidas. Mas se não gerasse esse certo desconforto, ainda seria considerada como diversidade?
De uma coisa tenho certeza, que não há nada mais complicado que o ser humano. Ele acha coisas onde elas não existem e pode ser que eu ache coisas onde elas não existam.
Na verdade penso que a diversidade tem que me aceitar para que eu a aceite como ela realmente seja. O outro tem que ter paciência para comigo, para com o que eu sinto e para com as dúvidas que tenho. Certamente se isso ocorrer também aceitarei aquilo que me é estranho, fazendo com que a diversidade não seja uma imposição, mas sim aceitação.
BIBLIOGRAFIA
DAYRELL, Juarez. Múltiplos Olhares sobre Educação e Cultura. Belo horizonte: Editora UFMG, 1996.
GUSMÃO, Neusa Maria M. de (org.). Diversidade, cultura e educação – Olhares Cruzados. São Paulo: Ed. Biruta, 2003.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 10. Ed. DP&a, Rio de Janeiro, 2005.
STOLCKE, Verena. O Direito à Diferença. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 22, jun. 1993.