Disposição ao conflito
Por Cheyenne Fernandes Duarte | 23/10/2012 | SociedadeDisposição ao conflito
Não raramente percebo nas ruas certa atitude explosiva e agressiva de algumas pessoas. Seja no trânsito ou nas ruas propriamente dita muitos estão dispostos abertamente ao conflito, a resolver as contendas não por meio do diálogo, mas pela agressão física, verbal ou gestual.
Vejo o homem contemporâneo transitando muitas vezes do estado civilizatório para o estado natural. Homem no estado natural foi uma expressão exposta por Rousseau em seu Contrato Social, onde explicita que o ser humano em determinado tempo se encontrava imerso em uma condição de barbárie e agressividade. Essa condição humana colocaria em risco a própria continuidade da existência.
Do homem no estado natural, a existência humana passaria para uma condição contratual, ou seja, regida por leis e normas que regulamentariam as relações entre as pessoas no cotidiano vivido. No entanto, muitos ainda deixam emergir de si, nas relações sociais que travam o homem no estado natural.
Essa conduta descontrolada e bárbara, a meu ver é fruto da grande dificuldade do homem contemporâneo em dialogar, conversar, ouvir. Embrutecido muitas vezes pela baixa qualidade das experiências vividas, a agressão, a violência para muitos é o único e mais prático caminho para resolver conflitos e indisposições.
Para muitos bárbaros contemporâneos o estabelecimento de um estado contratual, com leis e normas claras não é suficiente. A incapacidade de se submeter a elas, aliada ao descontrole emocional de muitos “cidadãos”, potencializa ainda mais o estado conflituoso que se estabeleceu em nossa sociedade nos últimos tempos.
Está claro que diversos assassinatos ou agressões são frutos de motivos cada vez mais torpes e pequenos – não que grandes motivos justifiquem assassinatos ou agressões – originados pela falta de tolerância, compreensão e a dificuldade de respeitar outro, ou o limite do próximo. Com o intuito de evitar maiores problemas sempre um deve ceder e não prosseguir em discussões mais acaloradas que possam produzir “frutos amargos”.
No entanto, como educador, não vejo tudo como perdido. Percebo a escola como um possível agente de mudanças desse quadro conflituoso. Propor experiências significativas aos alunos no interior da prática pedagógica pode ser um bom início para a construção de níveis de consciências de fato respeitosos e cidadãs. Creio que o homem contratual de Rousseau, aquele verdadeiro cidadão, respeitador de leis, normas e dos outros, pode emergir de uma escola contemporânea comprometida não somente com a formação para o mercado de trabalho, mas para a vida, para ser gente.
A nós cidadãos de bem, enquanto isso, só nos resta postarmos como “covardes” sábios para que os “abutres” do cotidiano não nos agridam e façam de nós escape para seu ódio repentino. A linha de nossa integridade física nos dias de hoje é tênue, ou seja, discutir e ter problemas maiores nos dias de hoje é uma escolha nossa, então: vamos escolher viver?