DISCUTINDO A ORIENTAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA: Uma conscientização necessária e urgente

Por Micheli da Silva Campos | 29/08/2017 | Educação

RESUMO

Entendemos que a concepção em torno da sexualidade humana não pode se restringir a uma manifestação instintiva e biológica, ela é bem mais ampla e parte do entendimento do homem enquanto indivíduo a aceitar o outro e a aprender mais sobre seu próprio organismo daí um dos motivos incentivadores a essa pesquisa. Traçamos um enfoque histórico e cultural, e elucida como os professores percebem essa temática no contexto escolar. Entende-se assim que a metodologia de trabalho do professor deve pautar na dimensão humana natural, pois a sexualidade é uma concepção inerente aos homens. Vivemos numa sociedade erotizada com diversas influências, inclusive a midiática que vende a sensualidade como qualidade de vida. Assim é primordial a orientação sexual desde o seio familiar até à escola, pois as informações são muitas e cabe ao educador e ao responsável orientar as crianças no contexto escolar, social, afetivo e psicológico. A preparação do educador, o diálogo entre os responsáveis pelos alunos com uma metodologia plausível podem ser essenciais na formação crítica do aluno. A escola pode sim propiciar a todos independente de sua condição sexual, subsídios para que os envolvidos se sintam livres, autônomos e assumam o papel devido como sujeitos ímpares no processo histórico social. O espaço dessa pesquisa foi uma escola da rede municipal de Juara-MT, e nos permitiu analisar como a temática vem sendo discutida em sala de aula.

Palavras-chave: Orientação; Educação; Sexualidade; Escola.

1. Entendendo brevemente o conceito de sexualidade.

Apresenta-se aqui, uma síntese da sexualidade ao longo da história, para que possamos assim ter uma visão objetiva desta na atualidade. Na nossa sociedade a existência de costumes e regras como a negligência da discussão da sexualidade, são fatores criados pelo próprio homem no passado. “As implicações de todas essas discussões para a educação tem sido objeto de pesquisas pelas mais diferentes ciências [...] na sociedade contemporânea” (SILVA, 2008, p.114).

A sexualidade como nos propomos por ora a estudar não é a mesma coisa que sexo, e “pesquisas na área de Sexologia e Antropologia social encontraram que a sexualidade nada mais é do que uma dimensão da experiência humana” (MATO GROSSO, 2012, p.12). Nesta discussão por sua vez o educador tem que primar pela imparcialidade, respeito às diversidades e principalmente a condição sexual do aluno. Assim, neste capítulo buscaremos trazer algumas definições de sexo e sexualidade que são conceitos chaves desse trabalho.  Vimos ao longo da história da humanidade, que o termo sexo sempre esteve ligado a procriação, coisa impura e atividade social e mantenedora da ordem pública como no caso das civilizações antigas gregas e romanas. Na atualidade há um apelo sexual intenso na mídia e na sociedade no sentido de promover produtos, pessoas e ideais.

A escola junto à universidade como formadoras de opiniões vem se destacando na busca de políticas que suavizem os números espetaculares em torno da falta de informação sobre sexualidade, uma vez que há tabus como o não diálogo entre as famílias, sendo as famílias de renda econômica baixa as maiores envolvidas neste cenário da falta de informação. Abramovay (2004, p.16) relata que:

[...] desde 1996, um vazio de informações de cobertura nacional, permitindo inferência estatística sobre sexualidade, conhecimento e uso de métodos contraceptivos, por sexo, idade e um conjunto de variáveis sociodemográficas (Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde). A Pesquisa sobre Comportamento Sexual e Percepções de DST/Aids, também de base populacional, data de 1998, estando em via de ser atualizada ainda em 2004, pela Coordenação Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde.

A mídia (TV, músicas, produtos, desenhos, revistas, redes sociais etc.) influencia grandemente as pessoas com a erotização para fins mercadológicos e assim incentivam e desencadeiam todo tipo de informação. Por sua vez o influenciado que ainda não tem uma estrutura emocional formada é tomado por essa ação, sendo induzido a apressar no mundo adulto provocando um desequilíbrio biológico, psíquico, familiar e social.  De acordo com os PCNs (2001, p.112),

A criança também sofre influências de muitas outras fontes: de livros, da escola, de pessoas que não pertencem à sua família e, principalmente, nos dias de hoje, da mídia. Essas fontes atuam de maneira decisiva na formação sexual de crianças, jovens e adultos. A TV veicula propaganda, filmes e novelas intensamente erotizados. Isso gera excitação e um incremento na ansiedade relacionada às curiosidades e fantasias sexuais da criança.

Acredita-se que a temática vem sendo amplamente discutida na atualidade; ao contrário dos tempos de repressão sexual, política e cultural. As primeiras iniciativas partiram de estudiosos europeus que percorreram um longo caminho até nosso país, com a fundação do Instituto de Sexologia de Berlim, capital da Alemanha em 1919 através do médico alemão Magnus Hirschfeld (1868 – 1935) que foi um visionário na sua época, pois saiu em defesa dos direitos homossexuais, pelos trabalhos do psiquiatra alemão Richard Krafft-Ebing (1840-1902) que inseriu os conceitos de sadismo, fetichismo e masoquismo para entendimento do comportamento sexual humano na sua obra principal “Psychopathia Sexualis”, pelo médico e psicólogo britânico Henry Havelock Ellis (1859-1939), este é o criador de conceitos de  narcisismo e auto-erotismo, que é largamente empregada pelos psicanalistas e é  claro o grande expoente Sigmund Freud ( 1856 -1939), este último foi medico e neurologista nascido na  Tchecoslováquia( República Tcheca), em 1856, tem  o titulo de “Pai da Psicanálise.

         Esses estudos contribuíram grandemente no sentido de entender a mente e o comportamento humano, sendo muito tempo censurado pela ideologia nazista combinada a problemas sociais e econômicos. Percebemos assim que as nações que tinham as maiores manifestações de conservadorismo religioso como os Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido foram ao mesmo tempo os que mais colaboraram no estudo da sexualidade humana. Há também a enorme contribuição de William Howell Masters  (médico norte-americano: 1915-2001) com sua esposa Virgínia Eshelman Johnson (psicóloga norte americana: 1925-), dentro de suas respectivas áreas: psicóloga e fisiologia do prazer sexual. As pesquisas desenvolvidas de Masters e Jonhson foram e são essenciais no mundo inteiro no tratamento de problemas e entendimento de manifestações sexuais que até então se pensavam não haver cura ou eram ignorados ou discriminados como ejaculação precoce, vaginismo, ausência de orgasmo feminino, disfunções hormonais e sexuais e hermafroditismo.

A necessidade de reinvenção dos currículos escolares parte do pressuposto que muito se avançou cientificamente nos últimos anos dentro da pesquisa de relação homem-sexualidade, nessa perspectiva podemos abranger vários campos científicos como a Biologia, Medicina, Antropologia, Política, Psicanálise, Pedagogia e Psicologia.

O filosofo francês  Michel Foucault (1926-1984) que nos seus estudos sempre usou uma perspectiva filosófica-histórica da sexualidade humana para explicar a realidade social e a dimensão política. A atuação de Foucault foi conhecida como uma ruptura política do pensamento dominante em volta da sexualidade, seus estudos se interessavam na maneira como o homem é moldado pela sociedade.  Michel Foucault pregava o conceito do Supersaber que é um fenômeno cultural que é mais importante do que as experiências individuais e pessoais do sujeito, para este era fundamental o homem conhecer as causas da sua libido sexual. A nossa sociedade esta repleta de simbologias sexuais que são mais importantes de que o homem em si, e essa verdade é permeada de padrões morais que reproduz os preconceitos  tornando o homem alienado.

De acordo com Altmann (2001) a discussão na escola em torno da sexualidade permite controle e uma intervenção nas ações dos alunos, pois com isso flexibiliza a expressão do ser humano diante do combate aos preconceitos, falta de informação e estereótipos.

É comum, por exemplo, que tomemos como pressuposto a idéia de que quem tem pênis é “homem” e, portanto, deve se sentir “masculino” e se comportar como tal, e quem tem vagina é “mulher” e deve sentir-se feminina” e se comportar como tal. O homem tem que desejar a mulher e a mulher, o homem e somente o homem e a mulher podem se unir em casamento e formar uma família. Isto corresponde ao que é considerado “certo” e “normal” pelo senso comum (CLAM/IMS/UERJ, 2009, p.99).

 

Nesse contexto, se percebe coerção das expressões de sensibilidade, intuição e meiguice no sexo masculino e de casos de objetividade e agressividade no sexo feminino por causa da cultura instalada em nossa sociedade. São acontecimentos tão enraizados na sociedade que acabam transformando as desigualdades em processos discriminatórios e em instrumentos de opressão.

          O que vivenciamos atualmente em matéria de sexualidade é fruto da necessidade de rever vários conceitos como não tratar o sexo como algo impuro, mas sim que pode muito contribuir no entendimento social e nas manifestações culturais do homem. Muito se mudou acerca de relações interpessoais e sexuais tornando-se regra de comportamento dentro dos grupos que a integravam. 

 

2. O DESENROLAR DA PESQUISA: O QUE PENSAM OS PROFESSORES?

Para dar  mais consistência a esse trabalho optou-se pela metodologia de pesquisa qualitativa, na qual se aplicou um roteiro de entrevista com 05 perguntas subjetivas, pois se mostrou um instrumento mais adequado para a coleta de dados, tendo em vista que esse instrumento “permite alcançar rápida e simultaneamente um grande número de pessoas” (LAVILLE; DIONNE; 1999, p. 184), além da observação in loco.

Os envolvidos nessa pesquisa foram 03 professores em exercício, numa instituição de ensino voltada a Educação Infantil Ensino Fundamental em Juara – MT.

Essa concepção de caráter descritivo e exploratório procura a familiarização com o tema e assim descobrir novas idéias em relação ao objeto de estudo (MATOS; ROSSETO JUNIOR, 2005). As pesquisas exploratórias, segundo Gil (1999, p. 43) “tendem adequar a uma visão geral de um determinado fato, do tipo aproximativo”.

O método descritivo como o nome sugere descreve as características e relações ocorridas no fenômeno investigado e favorece uma formulação clara de uma hipótese na busca da solução e o método exploratório busca maiores informações e assim se obtém uma familiarização desse fenômeno com uma metodologia flexível.

Nossa pesquisa é de cunho qualitativo que pretende registrar informações em um determinado espaço e posteriormente acolher estas informações com análise de dados. Godoy explicita algumas características principais de uma pesquisa qualitativa, as quais embasam também este trabalho, (1995, p.58), afirma que:

Considera o ambiente como fonte direta dos dados e o pesquisador como instrumento chave; possui caráter descritivo; o processo é o foco principal de abordagem e não o resultado ou o produto; a análise dos dados foi realizada de forma intuitiva e indutivamente pelo pesquisador; não requereu o uso de técnicas e métodos estatísticos; e, por fim, teve como preocupação maior a interpretação de fenômenos e a atribuição de resultados.

Para realização da pesquisa, construímos questionários para que os professores pudessem expressar o que pensavam sobre a temática abordada.   A escolha da referida escola Municipal se deu a partir do momento que mantive o contato nos estágios de intervenção, e observava que os alunos adolescentes estavam passando por um período de conhecimento do corpo e se manifestavam através de perguntas nos momentos de intervenção, foi a partir deste momento que surgiu a curiosidade de realização a pesquisa neste ambiente escolar.

A Escola Municipal Presidente Costa e Silva foi criada em 11 de abril de 1.990,  é mantida pela Rede Oficial de Ensino da Prefeitura Municipal de Juara, através da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, reconhecida pelo dispositivo da Portaria nº 3.277/92-SEE de 15.12.92, com sede na área Urbana do Município de Juara, Estado de Mato Grosso, funciona em regime de externato nos turnos: Matutino e vespertino, atendendo o ensino de Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental de 09 anos valorizando a inclusão social. Com  público-alvo alunos da zona urbana e rural.

  Analisando a educação em termos gerais percebemos que a mesma não está desvinculada do contexto real, permitindo assim a nós educadores uma contemplação parcial do homem enquanto agente do processo histórico.

Os professores foram denominados com P1, P2 e P3, atuam  em  turmas de 4º e 5º anos com alunos de 09 a 10 anos. Quanto a caracterização dos sujeitos da nossa pesquisa, temos: o “P1” é do sexo masculino, com faixa etária de mais de 45 anos, pedagogo, especialista em Psicologia do Ensino-Aprendizagem e Psicomotricidade, e está no magistério desde o ano de 1994. O “P2” é do sexo feminino, com faixa etária compreendida entre 45 anos, Letrada e Especialista. Atua na educação desde 2009, e o ultimo “P3” é do sexo masculino com idade entre 31 a 45 anos, pedagogo, especialista em Produção de textos para os anos iniciais e leciona há 21 anos.

Compreendemos que a sexualidade é uma parte indissociável da história do homem e não deve ser tratada de forma diferente no cotidiano escolar, haja visto que, a todo momento nos deparamos com alunos curiosos ou com atitudes em torno do tema. Nesse sentido, a escola precisa estar preparada para discutir o assunto sem agredir conceitos trazidos de casa ou passar a imagem de um currículo moderno e fora dos padrões tradicionais. PCN (1999, p.39)

[...] Todas essas questões são trazidas pelos alunos para dentro da escola. Cabe a ela desenvolver ação crítica, reflexiva e educativa.[...]  A oferta, por parte da escola, de um espaço em que as crianças possam            esclarecer as dúvidas e continuar formulando novas questões contribui para o alívio das ansiedades que muitas vezes interferem no aprendizado dos conteúdos escolares.” (v.10)


            Constata-se que o público que freqüenta a escola se depara freqüentemente com um linguajar dos alunos que vem  permeado de expressões com duplo sentido, que assim vai se reproduzindo sem se conhecer o real significado das expressões.           Dessa forma, verifica-se a relevância de se cogitar um trabalho direcionado a entender as diferenças sexistas na escola.  Louro (1997) reitera que a escola é um dos ambientes onde se delimita espaços, com símbolos e códigos, asseverando o que cada um pode, ou não fazer. Assim, ao mesmo tempo enquanto a mesma agrega, também separa e insere normas, valores e crenças.

O meio escolar pode contribuir além da constituição de gêneros também com as diferenças, pois pode influenciar condutas e posturas que julga serem apropriadas a cada um/uma. Por meio de um longo estágio cada indivíduo vai sendo posto em seu lugar: menino/menina; aluno/aluna; professor/professora, entre outras tantos estilos do sujeito escolar. Segundo o PCN (1997, p. 29).

A escola não muda a sociedade, mas pode, partilhando esse projeto com segmentos sociais que assumem os princípios democráticos, articulando-se a eles, constituir-se não apenas como espaço de reprodução, mas também como espaço de transformação. (v.8).

 

Entretanto, é preciso ponderar que a escola não pode suprir todas as lacunas de informação em torno da sexualidade. Assim, traremos logo em seguida, a opinião dos educadores a respeito do tema. Para um melhor entendimento do leitor, os nossos três professores entrevistados serão denominados de  P1, P2 e P3.

     Na instituição escolar vimos que o convívio entre os alunos permite diferentes aprendizagens, no qual se favorece a socialização e aquisição de outras crenças, novos padrões de comportamentos, novos relacionamentos, como também o contato com outras culturas, o despertar da sexualidade. É uma idade crucial a formação de grupos e de personalidade. O historiador, ativista gay e sociólogo Jefrey Weeks descreve a sexualidade como uma definição de crenças, comportamentos, relações e identidades socialmente construídas historicamente adaptadas conforme o que Michel Foucault designou como “o corpo e seus prazeres” Weeks (2010, p.43)

As manifestações da sexualidade infantil ocorrem em diferentes espaços sociais e nas mais variadas situações. A criança vive sensações prazerosas na troca da fralda, nos toques durante o banho, como também vive a curiosidade do beijo, do abraço, as descobertas do seu corpo e do outro. A criança, aos poucos, percebe as diferenças entre ela e o outro, descobre-se corpo e do outro. A criança, aos poucos, percebe as diferenças entre ela e o outro, descobre-se menino e menina.

 

A sexualidade é um processo de descobertas. Assim, para tentarmos identificar os problemas que a escola tem enfrentado para discutir a orientação/condição sexual, fizemos um primeiro questionamento:

A primeira pergunta foi se há casos de gravidez precoce nas turmas em que você leciona? Quantos? Todos responderam que não tem presenciado casos de gravidez com crianças entre 09 e 10 anos.

            Fizemos o nosso segundo questionamento: Quais são as perguntas mais comuns relacionadas a sexualidade?

 

     P1: “Os alunos não direcionam perguntas objetivas sobre sexualidade, eles fazem hipóteses, brincadeiras umas com as outras por enquanto, são tímidos”.

     P2: “Apenas um aluno que vem de uma estrutura familiar que ousava se expressar com gestos e palavras ousadas”.

     P3: “Para mim ainda não fizeram perguntas por que ainda não chegamos na parte do livro que aborda esse assunto, mas relatam situações”.

 

     A terceira pergunta realizada aos professores foi:  

     Todas as temáticas relacionadas a sexualidade podem ser discutidas na escola? Você já vivenciou algum tipo de problema com os alunos e/ou algum familiar?

 

     P1: “Sim. Em partes. como os alunos são menores a temática do trabalho deve ser mais simples e as explicações moderadas”.

     P2: “sim. Gestos obscenos, aluna com dificuldade de oralidade e pouco se entende o que fala. A aluna é portadora da Síndrome de Wolle”.

     P3: “Até as crianças de 10 anos já sabem, já viram vídeo pornô e falam isso abertamente para os colegas menores. Não tem problema porque já trazem esse conhecimento de casa ou de outros colegas. Ninguém mais acredita em cegonha. Tem criança que chega a falar que a mãe dela falou  se ela arranjar filho solteira vai por para fora de casa. Outras falam e comentam que está nascendo mamilos ou que gosta de alguém da sala, que gostam de alguém da sala e que quer namorar com esta pessoa”.

 

Vamos agora ao próximo questionamento em torno da sexualidade, onde foi perguntado aos educadores, quais são os problemas mais recorrentes?

 

P1: “No ensino das séries iniciais de 09 até os 10 anos não apresentam problemas de sexualidade. O grande problema é comportamental e de falta de interesse”.

P2: “Gestos obscenos”;

P3: “Nessa fase do 5º ano os alunos não separam os momentos, tempo certo para falarem sobre sexualidade.

Na questão cinco questionamos a eles:- Você observa/identifica problemas relacionados a DSTs?

           

            P1: “Não”

            P2: “Até o momento não houveram problemas relacionados às DSTs”

            P3:” não tenho conhecimento”.

 

     Analisando as três respostas, percebemos que os professores atribuem a sexualidade apenas à idéia de sexo. Como se o problema maior fosse engravidar ou não antes do casamento. A sexualidade não aparece como dimensão humana e também parece não haver uma preocupação maior com a condição sexual de cada um, com as doenças sexualmente transmissíveis. A concepção ainda esta muito ligada a valores religiosos e morais.   Na visão de Louro (2010), a escola exercita a pedagogia dos corpos, treinando as formas “corretas” de sentar, de falar, de vestir-se. Afinal, os padrões sociais adequados segundo a sociedade para homens e mulheres são impostos também às crianças, indiretamente por meio de discursos, ritos, preconceitos e consequentemente nas práticas escolares. Segundo Voltolini apud Garbarino (2011.p.58), diz que:

Ainda que as crianças recebam esclarecimentos sobre a sexualidade, elas preferem ficar apegadas às suas próprias teorias, elaboradas a partir da sua observação, resistindo a o que logo após, serão forçadas a elaborar, embora nunca de maneira completa. Para o autor, a dúvida comporta uma angústia que se alivia provisoriamente com soluções que logo após portarão novos enigmas. É por isso que nunca se abandona à fase dos porquês.

Mas esta pedagogia acima citada não sobrevém sem resistências, pois há casos que muitas crianças infringem as normas da escola.

            A escola precisa estar preocupada com a Orientação Sexual, sem apregoar valores religiosos e dogmas. Em muitos trabalhos pautados sobre à sexualidade dos alunos  há um consenso que os educadores  precisam encarar com naturalidade a sexualidade.  Mas é comum virmos casos onde a família não encara com naturalidade o assunto, pois faltam informações sobre a sexualidade em geral ou educação sexual, sendo também uma constante entre os docentes. Santos, alega que (2009, p.06):

Diante disso, é importante que os/as profissionais da educação colaborem para uma escolarização fundamentada na valorização da diversidade em busca de uma prática social que inclua os sujeitos históricos com igualdade de oportunidades e não que privilegie como acontecem, referenciais etnocêntricos, heterossexistas, machistas, homofóbicos, racistas, elitistas. É necessário, como diz Tomaz Tadeu da Silva (1996), que descolonizemos o currículo.

Na minha experiência pessoal nos momentos onde vivenciei os estágios curriculares do curso de Pedagogia, percebi que há conteúdos insuficientes que debatem a sexualidade humana com didáticas de como lidar e ensinar isto em sala sem constrangimentos aos alunos e aos familiares.

Conhecer a sexualidade não significa aprender a estrutura dos genitais. “Educação sexual centrada na genitalidade advém de uma educação que disciplina, organiza e concentra o prazer nos genitais; assim procedendo, anestesia o resto do corpo’ (CAMARGO & RIBEIRO, 1999, p.50)”.       A escola não precisa esperar o problema chegar, pode sim trabalhar no combate as DSTs e pelo que percebemos não há um planejamento nesse sentido. Fonseca (2002, p.80) defende que:

A escola seria o espaço para deixar que a sexualidade fluísse para depois tomá-la em consideração. Admitindo que a sexualidade necessariamente aflora, a escola cumpriria seu papel, se, nas práticas escolares, pela aprendizagem posta por disciplinas regulares, surgissem ocasiões para que ocorra a ‘vontade de conhecer’.

 

Atualmente se há programas voltados a saúde básica por meio de plataformas federais como o PDE interativo com a ferramenta PSE (Programa Saúde na escola) que abordam assuntos relativos à saúde com temas de gravidez e DSTs.

      Há um entendimento entre os teóricos que tratam que educação em saúde é abordar, desvincular a sexualidade desprovida de tabus e preconceitos e trazer também a importância de discutir a prevenção às drogas, fortalecendo a associação de prazer e à vida.            

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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CAMARGO, Ana Maria Faccioli de; RIBEIRO, Cláudia. Sexualidade (s) e Infância (s): A sexualidade como um tema transversal. São Paulo: Editora da Universidade de Campinas, 1999.

 

CLAM/IMS/UERJ. Gênero e diversidade na escola: formação de professoras/ES em gênero, sexualidade, orientação sexual e relações étnico-raciais. Caderno de atividades. Rio de Janeiro: CEPESC, 2009.

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GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.

LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: ARTMED; Belo Horizonte: editora da UFMG, 1999

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação. Guacira Lopes Louro – Petrópolis, RJ. Uma perspectiva pós-estruturalista /: Vozes, 1997.

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