Discussão sobre educação profissional tecnológica

Por Eliete Silva Cardoso | 25/04/2017 | Educação

                                                                             CARDOSO, Eliete Silva

 

Muito tem se discutido sobre a formação educacional no Brasil, principalmente a formação profissional tecnológica de forma integrada ao ensino médio que seja comprometida com a classe trabalhadora brasileira.

De acordo com Moura (CEFET-RN) a educação brasileira é, historicamente funcional ao modelo de desenvolvimento deste país. Fundado no Brasil colônia no intuito de explorar e expropriar matéria-prima para a coroa portuguesa, este trabalho era realizado por índios e escravos, não havendo ali ainda preocupação com a classe trabalhadora.

Segundo Saviani (2007) foi a partir do escravismo antigo que passou a ter duas modalidades distintas e separadas de educação: uma para a classe proprietária (intelectual), e outra para a classe não-proprietária (produção). Essa primeira diz Saviani que se originou a escola e identificou-se como educação propriamente dita, em contraposição àquela do processo produtivo.

Para este pesquisador, essa divisão dos homens em classes foi que resultou nessa educação dividida.

Porém, desde a antiguidade a escola vem se alargando até atingir na contemporaneidade a condição de forma principal e dominante de educação, convertendo-se em parâmetros, embora essa constatação não implique que a escola permaneceu com qualidade.

No Brasil segundo Moura, o primeiro indício de origem de educação profissional para os filhos dos trabalhadores surge no século XIX em 1809, com um Decreto do Príncipe Regente, criando o Colégio das Fábricas e outras sociedades civis com o objetivo de amparar as crianças órfãs e abandonadas instruindo-as na teoria e prática para o ramo da indústria, fortalecida pela 2ª Guerra Mundial, originando assim essa modalidade no Brasil, na sociedade civil e com fins assistencialistas.

Na transição entre os séculos XIX e XX, comenta este autor, que houve uma necessidade de organizar esse estudo fazendo uma mescla ao assistencialismo e a preparação de operários para o processo industrial e de modernização do país.

Sabe-se que várias medidas foram tomadas nesse período que se observa o caráter elitista quando foi criada em 1909 por Nilo Peçanha as Escolas de Artífices destinadas aos pobres e humildes e, paralelamente outras para capacitar chefes de cultura, administradores e outros. Com isso, amplia-se o horizonte na área profissionalizante para atender a interesses emergentes no setor agrícola e industrial.

Em 1930, cria-se o Ministério da Educação e, em seguida o Conselho Nacional de Educação. Com isso pretendia-se uma educação democrática dando oportunidade para todos, e assim se dividiu em duas grandes categorias: atividades de humanas e de caráter técnico. Mais uma vez na educação separa-se os que pensam e os que executam (MOURA p.2).

Com a reforma há várias mudanças no setor educacional com criações de Leis educacionais que transformaram em ensino fundamental e ensino médio como é conhecido hoje.

Como podemos perceber há uma dificuldade muito grande em tornar a educação brasileira democrática para que todos possam ter oportunidades iguais, pois o projeto da fase de industrialização, conhecida por Milagre Brasileiro que era utilizar o antigo 2º grau profissionalizante, o que garantiria o mercado de trabalho não prosseguiu. Segundo pesquisas, ao tornar compulsória a profissionalização em escolas públicas e privadas que eliminaria a dualidade entre educação geral e educação profissional nos sistemas estaduais, esta não se completou. E mais, a concepção curricular oriunda da Lei enfraquecia àquela em favor de uma profissionalização integral do cidadão.

Acontece que, ao invés de ampliar a duração dessa modalidade para incluir os conteúdos integrando à educação geral, assumiu um caráter instrumental pela ausência de base científica e também profissionais qualificados. Esse fracasso causou proliferação de cursos técnicos que logo provocaram saturação de profissionais no mercado de trabalho, e devido ao elevado custo da reforma, as redes privadas descartaram em sua maioria, e os filhos da classe média migraram para estas em busca de garantia de acesso  ao ensino superior que  mantinha em seus vestibulares  conteúdos de domínio de formação geral.

Para Ramos, 1980 foi um período de redemocratização do país, pois foi quando exigiram uma educação comprometida com a classe trabalhadora, pauta para a construção da LDB, apesar do não êxito de várias discussões que até hoje se tematiza que naquela época já possibilitaria uma educação progressista, como é o caso do ensino médio integrado e de educação unitária.

Esta para Ramos, pressupõe acesso aos conhecimentos – à cultura e o necessário para trabalhar e produzir a existência e riqueza social. Mas para isso, precisa ser politécnica, esta entendida aqui como aquela que busca, a partir do desenvolvimento do capitalismo e de sua crítica, superar a proposta burguesa de educação que potencialize a transformação estrutural da realidade. Para isso, é preciso que as escolas possam elaborar suas ações baseadas à sua realidade.

Segundo Ciavatta 2005, a política curricular é um processo de seleção e de produção de cultura e a maneira de instituir e organizar o que é selecionado, tornando-o ensinável. Para esta pesquisadora, muitas dessas propostas através dos PCNs são realizados por especialistas muitas das vezes distantes da realidade brasileira.

Referências

SAVIANI, Dermeval. Trabalho e Educação: fundamentos ontológicos e históricos. Revista Brasileira de Educação v. 12 n. 34, 2007. P. 156.

 RAMOS, Marise. Concepção do Ensino  Médio Integrado.

CIAVATTA, Maria. A formação Integrada: a escola e o trabalho como lugares de memória e de identidade. 200 e Educação Profissional: d5

MOURA, Dante Henrique.EDUCAÇÃO BÁSICA E EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: DUALIDADE HISTÓRICA E PERSPECTIVAS DE INTEGRAÇÃO. GT: Trabalho e Educação/n.09-CEFET-RN