DISCUSSÃO E ABORDAGENS SOCIAIS DE UMA REFLEXÃO SOBRE RÓTULOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Por Jocelino Pereira Junior | 27/08/2017 | EducaçãoPor que você não olha pra mim?
Me diz o que e que eu tenho de mal.
Por que você não olha pra mim?
Por trás dessa lente tem um cara legal.
Por que você não olha pra mim?
Por que você diz sempre que não?
Por que você não olha pra mim?
Por trás dessa lente também bate um coração.
Óculos
Compositor: Herbert Vianna
Talvez você não tenha percebido quantas pessoas são influenciadas pelo sua fala ou pela sua postura, talvez você não conheça bem as pessoas que estão ao seu redor, e isso muitas vezes pode ser um grande problema.
Muitas das pessoas acordam cedo e vem para escola com objetivo de construir uma nova oportunidade e muitas das vezes impactados por uma história de vida muito sofrida. Imagine que essas pessoas precisam de você o tempo todo e muitas das vezes estão construindo verdadeiros castelos com a possibilidade de serem amigos. Aí você olha para ela com um olhar simples e não reconhecendo seu verdadeiro valor e fala Ei! [Gorda] [Sapatão] [Viago] [quatro olhos] [burra], você tem a ideia que certos rótulos impactam as pessoas para vida inteira?
Às vezes basta tirar um elemento para que toda a estrutura de esperança depositada na escola desmorone, e aí aquela seu apontamento muitas vezes de brincadeira pode “gota” que faltava pra fazer com que alguém desabe, muitas vezes de forma irreversível.
Como dizia Madre Tereza de Calcutá “O mar seria menor se lhe faltasse uma gota”
Engana-se quem acha que não impacta a vida dos outros com brincadeiras e zuações, há quem ache que apenas a agressão física deixa marcas. A agressão moral talvez seja muito mais grave, porque muito mais profunda, porque marca por dentro, na alma, e jamais se apaga. Muitas vezes você já tenha passado por esta situação ou em um momento qualquer tenha sido impactado por estes tipos de “brincadeiras” e o sentimento tenha te reduzido e te inferiorizado e faz com que você se sinta pequenininho…
Isso não só não se esquece, como afeta de forma nefasta a sua autoestima e molda, de muitas formas, a sua vida. Se já não é fácil se aceitar, se amar e se respeitar estando dentro dos chamados “padrões normais”, imagine como é difícil pra quem, por qualquer motivo, não se enquadra nesses padrões.
Mais difícil ainda é passar por ser isso e ser agredido emocionalmente (e muitas vezes fisicamente) dia após dia. E hoje agride-se por tudo: por ser magro ou gordo, por ser bonito ou feio, por ser rico ou pobre, por ser branco ou negro, pela sua sexualidade, pela sua raça, pela sua origem, pela sua religião, pela sua classe social, pelas características físicas… O que não faltam são motivos para apontar o que se considera defeitos mesmo que por clichês que hoje são seriamente discutidos e muitas das vezes não passam de convenções e padrões estéticos definidos pela mídia.
Apontar o dedo, ridicularizar, oprimir e inferiorizar o outro não vai fazer de você alguém melhor, mais bonito ou mais qualquer coisa de bom. Isso não te faz superior em nada.
Hoje queremos dar um basta nestas situações e propor mudanças de agir e pensar “Não me Rotule” será uma campanha na unidade escolar que visar extinguir certas inciativas que impactam negativamente toda a comunidade escolar.
Nós somos todos diferentes, mas essas diferenças não devem ser usadas pra nos categorizar ou nos rotular porque no fim somos todos uma coisa só: humanos, apenas humanos.
Prof. Jocelino Pereira Junior
Especialista em Ensino de Ciências e Biologia - UFRJ
Licenciado e Bacharel em Ciências Biológicas
Professor da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro - SEEDUC
contato: jocelinopj@gmail.com