Discípulo Do Relógio
Por Adriano Saraiva | 17/06/2008 | PoesiasO despertador grita estridentemente
Trazendo presságios de uma pouco
Provável mudança na rotina
Meus olhos parecem estar
Cheios de areia e o corpo todo dói
Mas quem sou eu para questionar
As ordens do relógio?
São cinco e trinta...
Imperativamente sou obrigado a sair da cama
Tomo banho e faço a barba
Quando chego à cozinha para o desjejum
Sinto uma presença maligna acomodada na parede
Um ser movido à pilha cujas características físicas
Ressaltam dois ponteiros, um grande, outro pequeno
O ponteiro grande amotinado com o menor
Esgota meu tempo e saio sem o café da manhã
São sete horas...
Berra o sinal
Bato o cartão ponto
A manhã segue sua normalidade enfadonha
É meio dia...
Horário universal do almoço
Meu relógio de pulso
Funciona como um inquisidor
E fiscaliza autoritariamente
Minha refeição e digestão
Procuro comer e não olhá-lo
Mas o relógio do restaurante
É seu cúmplice
São duas horas...
Retorno à fábrica
Um amontoado de pessoas histéricas
Fazendo tarefas mecânicas e repetitivas
São cinco e trinta...
Vou para casa
Sou comprimido como uma sardinha
Fico sacolejando de uma lado para outro
Dentro do ônibus lotado
São seis e trinta...
O controle do relógio
Continua inabalável
Novelas e programas de auditório
Hora do jantar
Estou livre!!!!!
Mas o dia praticamente acabou
A liberdade fica escravizada pela exaustão
Caio na inconsciência do sono
Sabendo que às cinco e trinta
Serei acordado pelo ser mais
Mesquinho que conheço
Meu relógio.