DISCIPLINA: ASPECTOS HISTÓRICO E CONTEMPORÂNEO
Por Tatiana Cristina Serpa dos Santos | 16/10/2017 | PsicologiaUNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA CLÍNICA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA
DISCIPLINA: ASPECTOS HISTÓRICO E CONTEMPORÂNEO
Tatiana C. Serpa dos Santos
Maria das Graças Vasconcelos Paiva
Rio de Janeiro
2013
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA CLÍNICA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA
DISCIPLINA: ASPECTOS HISTÓRICO E CONTEMPORÂNEO
Monografia apresentada no curso de Pós-Graduação em psicopedagogia como requisito parcial das exigências do curso para obtenção do titulo de especialista em psicopedagogia.
Tatiana C. Serpa dos Santos
Maria das Graças Vasconcelos Paiva
Rio de Janeiro
2013
“É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática.”
Paulo Freire
AGRADECIMENTOS
Na elaboração deste trabalho devo meus agradecimentos a:
- A Profª. Drª. Maria das Graças Vasconcelos Paiva pela orientação.
- A Izelia Garces Serpa pelo apoio e incentivo
- A todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realização deste trabalho.
RESUMO
O trabalho aborda o tema da disciplina e os problemas que envolvem a falta dela; essa é a queixa mais frequente feita pelos professores contemporâneos. O tema disciplina levanta questões sobre o porquê devemos ser pessoas disciplinadas e a importância dela para a realização do fazer pedagógico e para a autonomia. Com o intuito de entender esse assunto buscaram-se nos aspectos históricos e contemporâneos os conceitos sobre disciplina. O trabalho apresentou propostas para orientar as escolas e as famílias formar com disciplina as crianças e sem que para isso tenha de fazer uso de castigos físicos. Antes usar de bons exemplos. E também abordou os casos em que a falta de disciplina pode ser causa de alguns transtornos da infância e adolescência, no qual esses precisam de uma avaliação profissional e de uma intervenção psicopedagogica.
Palavras chaves: Disciplina, Escola, Família, Autonomia
ABSTRACT
The work addresses the topic of discipline and the issues surrounding the lack of it, that is the most frequent complaint made by contemporary teachers. The discipline issue raises questions about why people should be disciplined and her importance to the achievement of pedagogical and for autonomy. In order to understand this matter is sought us historical and contemporary aspects of the concepts of discipline. The work presented proposals to guide schools and families with form and discipline children without this having to make use of physical punishment. Before use of good examples. And also addressed cases where lack of discipline can be the cause of certain disorders of childhood and adolescence, in which these need a professional evaluation and a pedagogical intervention.
Keywords: Discipline, School, Family, Self
ÍNDICE
INTRODUÇÃO________________________________________________ 07
1. CONCEITO DE DISCIPLINA E ASPECTOS HISTORICOS____________ 08
1.1. Conceito de disciplina________________________________________ 08
1.2. Disciplina Aspectos Históricos_________________________________ 09
1.3. A Disciplina para as Famílias do Brasil colônia_____________________13
2. DISCIPLINA ESCOLA: ASPECTOS CONTEMPORANEOS:___________15
2.1. A prática do professor________________________________________15
2.2. É possível ensinar disciplina?__________________________________17
2.3. Como ensinar a disciplina na pré-escola e no ensino fundamental _____18
3. DISCIPLINA FAMÍLIA: ASPECTOS CONTEMPORANEOS ___________ 21
4. INTERVENÇÃO PSICOPEDAGOGICA____________________________27
4.1. A visão do aluno, dos pais e professores sobre a aprendizagem______ 27
4.2. Os transtornos da infância e adolescência________________________ 29
CONCLUSÃO _________________________________________________35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _______________________________ 37
ÚLTIMA FOLHA_______________________________________________ 39
INTRODUÇÃO
Disciplina é um termo que quando empregado nos remete aos castigos físicos, mas será possível que esse termo tenha realmente ligação com submeter ao outro a um tipo de agressão com o objetivo de se fazer valer apenas a vontade geralmente de um adulto.
Nas escolas os professores reclamam da falta de disciplina dos alunos como se tivessem as causas relacionadas apenas no aluno e responsabilizam as suas famílias. Eles relacionam essa falta de disciplina com a sua prática por exemplo.
O que é ser uma pessoa disciplinada será possível aprender e ensinar a ter disciplina sem que para isso tenhamos de usar castigos físicos e até mesmo de castigos psicológicos para que as crianças e os adolescentes se comportem como desejamos. Será que existe apenas um tipo de disciplina?
Nos capítulos que se seguem discutiremos os aspectos históricos e contemporâneos em torno desse tema. No capítulo 1: Conceito de disciplina e aspectos históricos, onde tratada as definições sobre o termo disciplina e os aspectos históricos envolvidos sobre o assunto introduzido no Brasil durante o seu processo de colonização no qual os jesuítas seguiam um modelo educacional trazido da Europa e modelo esse também seguido pelas famílias daquela época. No capítulo 2: Disciplina aspectos contemporâneos: escola tratara dos problemas de disciplina devido a praticas de ensino equivocadas. No capítulo 3: Discuti-se sobre disciplina aspectos contemporâneos. Nesse capítulo, considerou-se em especial a família e aspectos da disciplina aprendida através dos valores familiares. No capítulo 4: Tratou-se da intervenção psicopedagógica no manejo dos casos em que a falta de disciplina é mais do que falta de limites e configura em um problema de origem orgânica por parte do indivíduo.
Nessa monografia, a metodologia usada foi a pesquisa bibliográfica. O conteúdo que pesquisado em revistas científicas, material publicado na internet e em livros relacionados com educação onde o assunto foi apresentado e discutido. Meu interesse nesse assunto continua atual, buscando as causas que motivaram a indisciplina na escola hoje e como a psicopedagogia pode ajudar os professores no manejo desta questão.
1. Conceito de Disciplina e Aspectos Históricos.
1.1. Conceitos de Disciplina
As mudanças que ocorrem na sociedade têm reflexo no comportamento dos indivíduos que nela vivem. Os valores culturais, as relações afetivas, econômicass e sociais de hoje afetam a criança no seu desenvolvimento e interferem no processo de aprendizagem. Essas mudanças têm impacto na família e na escola. Ambas são as instituições de maior convivência dos indivíduos no período em que compreende a sua formação. Nesse período, a criança passa a maior parte de seu tempo nesses ambientes recebendo dos adultos a maior influência.
Nas instituições escolares hoje, a falta de disciplina dos alunos é o assunto abordado com frequência pelos professores. Fala-se muito sobre a indisciplina dos alunos e o quanto isso atrapalha os professores que precisam ministrar suas aulas e assim cumprir com as exigências do currículo escolar. No entanto, a indisciplina é um fenômeno complexo, e vem se configurando como um dos maiores problemas vivenciados pela instituição escolar na atualidade. Suas causas e consequências são diversificadas e têm relação direta com os problemas de aprendizagem.
Os professores de escola fundamental pública ou privada se encontram hoje diante deste problema, embora em cada tipo de escola ele possa apresentar feições diferentes.
É muito comum os professores culparem as famílias por não dar limites aos filhos; então surge ai um impasse. Quem deve colocar os limites nas crianças, a escola, a família ou ambas?
O que é disciplina / indisciplina?
O Minidicionário Larousse de Língua Portuguesa definiu a palavra disciplina como:
1. O conjunto dos regulamentos destinados a manter a boa ordem em qualquer organização.
2. Submissão ou respeito a um regulamento.
3. Regime de ordem a que se obedece por imposição ou voluntariamente.
4. Cada uma das matérias ensinadas nas escolas.
E a palavra disciplinar de duas formas; primeiro como: adjetivo concernente à disciplina. E segundo como: Submeter à disciplina. Ensinar metodicamente. Fazer obedecer ou ceder; sujeitar. Organizar-se.
A definição dada pelo dicionário fala em algo que pode ser ensinado com o objetivo de se atingir a ordem e a organização.
Disciplina, no sentido mais puro e simples do vocábulo, é ordem, organização. Ordem que convém ao bom desempenho, desenvolvimento, funcionamento regular e fundamental de qualquer coisa, seja de uma profissão, de um exercício físico, de um afazer qualquer, incluindo os estudos, as reuniões de trabalho, até mesmo as manifestações. Sem disciplina, não chegamos a lugar algum. Até chegamos, mas não ao que se espera ao que seja próspero. (APOLINÁRIO, 2012, p.151)
O mesmo dicionário define indisciplina como sendo: falta de disciplina, desobediência.
São os aspectos que envolvem essa falta de disciplina que o trabalho irá abordar.
A indisciplina, por sua vez, tem sido sempre o carro-chefe dos problemas que encontramos em sala de aula, considerada por muitos professores como um dos maiores entraves da educação e um problema quase crônico, advindo inclusive das relações familiares. (APOLINÁRIO, 2012, p.152).
Nos capítulos a seguir veremos porque a definição de disciplina pode ter o seu sentido às vezes interpretado de forma equivocada. No item seguinte veremos os aspectos históricos sobre a disciplina trazida pelos jesuítas no processo de colonização do Brasil Colonial.
1.2. Disciplina: Aspectos Históricos
A disciplina não é uma preocupação apenas dos educadores contemporâneos. Ela sempre fez parte do processo de educação de todas as épocas. Ao longo da história da educação no Brasil, podemos ver que o modelo de educação dos jesuítas tinha um regime disciplinar previamente estabelecido importado da Europa e que foi trazido para o Brasil, quando vieram para cá com o intuito de catequizar os índios (povo nativo) ao cristianismo.
No ano de 1549, chegaram os primeiros jesuítas. Estes religiosos da Companhia de Jesus deram inicio, então, à história da educação no Brasil. Segundo Ribeiro (2007, p. 18), “a conversão dos indígenas fazia parte do regimento da colônia na qual o rei D. João III estabeleceria uma nova política, e para o cumprimento desta política chegam com Tomé de Souza quatro padres e dois irmãos jesuítas, chefiados por Manoel da Nóbrega”.
“Entre as diretrizes básicas constantes no regimento, isto é, na nova política ditada por D. João III (17-12-1548) é encontrada uma, referente à conversão dos indígenas à fé católica pela catequese e pela instrução (Ribeiro, 2007, p.18)”.
Os jesuítas eram peças fundamentais no processo de aculturação imposto por Portugal na colonização do Brasil. E, no ensejo de propagar a fé católica, aproveitaram para ensinar aos nativos a ler e a contar. E junto trouxeram também o seus métodos disciplinares e de educar.
Segundo Nunes (2010, p. 22), “castigar para disciplinar: assim as escolas europeias do século XVI educavam seus alunos.” Naquela época quando os estudantes erravam, eram aplicadas punições com o uso de objetos como a palmatória; ficavam excluídos num canto da sala ou eram obrigados a escrever várias vezes uma frase sobre o erro cometido.
Os missionários jesuítas quando chegaram ao Brasil para catequizar os índios tentaram usar do mesmo método, mas logo perceberam que essas práticas não funcionariam. Isso porque, a forma de educar dos nativos era diferente, pois, desconheciam esses tipos de castigos.
Essas informações estão nos depoimentos dos europeus que entraram em contato com os índios. Foram deixados registros, escritos por missionários catequizadores, por colonos que tiveram contato amigável ou por quem tivesse sido levado como prisioneiro para as aldeias. Há relatos como o do protestante francês de Jean de Léry (1534-1611) e do alemão Hans Staden (1525-1579). Os jesuítas Manuel da Nóbrega (1517-1570), José de Anchieta (1534-1597) e Antônio Vieira (1608-1697) também escreveram obras que se tornaram referências nesse assunto (Nunes, 2010, p. 22).
De acordo com Nunes (2010, p. 22), nesses relatos pode se compreender que o aprendizado das crianças nativas se dava por meio dos cuidados dos mais velhos e de brincadeiras com companheiros normalmente do mesmo sexo e era comum às crianças imitarem os mais velhos. Em nenhum momento de todo esse processo havia punição: o resultado de um erro cometido por si só já era considerado suficiente para indicar que aquilo não deveria ser feito novamente. O método de educar dos indígenas era solidário e cooperativo, diferente da educação europeia, que era mais disciplinada, competitiva e punitiva.
Os jesuítas precisaram modificar as suas práticas educativas ao trabalharem com os indígenas, eles tiveram que parar de utilizar castigos físicos e passaram a investir na motivação dos alunos por meio da música, do teatro, das representações de passagens bíblicas e das vidas de santos. Dessa forma, mostravam os comportamentos que consideravam mais adequados, produtivos e piedosos, que os indígenas deveriam imitar.
Nas aldeias, os jesuítas ergueram as chamadas casas de meninos, espaço onde crianças e jovens índios aprendiam a língua portuguesa (como parte da alfabetização) e a contar. Esses ambientes podem ser considerados as primeiras escolas do país. Nada parecido com o conceito contemporâneo de escola.
A educação dos índios com o tempo tornou-se dispendiosa para os jesuítas, foi necessário buscar recursos em outro lugar. Sem dinheiro, os jesuítas tiveram de assumir a Educação dos filhos dos colonos também.
A proposta partiu da Coroa Portuguesa, que responsabilizou os jesuítas pela criação dos colégios. Por outro lado ao analisar-se o primeiro plano educacional, elaborado pelo padre Manoel da Nóbrega, percebe-se a intenção de catequizar e instruir os indígenas, como determinava os “Regimentos”, percebe-se, também, a necessidade de incluir os filhos dos colonos, uma vez que naquele, instante, eram os jesuítas os únicos educadores de profissão que contavam com significativo apoio real na Colônia. (Ribeiro, 2007, p.21).
Os jesuítas tinham um plano de educacional elaborado para o trabalho com os indígenas e ao assumir a educação dos filhos dos colonos precisaram de um novo plano educacional.
O plano de estudos propriamente dito foi elaborado de forma diversificada, com o objetivo de atender à diversidade de interesses e de capacidades. Começando pelo aprendizado do português, incluía o ensino da doutrina cristã, a escola de ler e escrever. Daí em diante, continua, em caráter opcional, o ensino de canto orfeônico e de musica instrumental, e uma bifurcação tendo em um dos lados o aprendizado profissional e agrícola e, de outro, aula de gramática e viagem de estudos para a Europa (Ribeiro, 2007, p. 21-22).
A cultura jesuítica era sistematizada por um regimento que deveria ser seguido em qualquer lugar do mundo.
No século XVII, a cultura jesuítica sistematizada e ordenada pelo Ratio Studiorum atque Institutio Societatis Jesu, publicado em 1599, associava à “política católica” portuguesa como um conjunto de normas, que definiam saberes a serem ensinados e condutas a serem inculcadas, e um conjunto de práticas, que permitiam a transmissão desses saberes e a incorporação de comportamentos, normas e práticas (Hansen, 2001, p.13).
O Ratio Studiorum atque Institutio Societatis Jesu (Estudos do sistema e a formação da Companhia de Jesus) era usa pelos jesuítas como o modelo pedagógico da companhia a ser seguido tinha sua programação toda baseada nos elementos da cultura europeia.
O primeiro colégio foi criado no Brasil pelos jesuítas foi na Bahia, em 1564 e depois, no ano de 1585, em Olinda e Rio de Janeiro. Esses colégios eram mais estruturados que as chamadas escolas de meninos e eram internos, e recebiam órfãos portugueses e filhos da elite colonial, mas nesses colégios não era preciso pagar para estudar.
Nos colégios, diferente das casas de meninos, a idade não importava o que contava mesmo na divisão das salas era o conhecimento. Nos colégios, a pedagogia jesuítica, o método usado, era o da repetição, memorização e provas periódicas. Ao aluno cabia anotar a lição, enquanto o professor fazia suas observações. Nas escolas de hoje podemos observar ainda esse método.
Os colégios da Companhia de Jesus recebiam apoio da coroa portuguesa, isso fez com que fossem muito procurados, porque reconheciam eles como sendo o único modo de receber preparo intelectual:
Haja visto que, em determinadas épocas, a procura era tão maior que a capacidade, limitada, é certo dos colégios que chegou a causar problemas, como a “Questão dos Moços Pardos”, resolvida em 1689, os graus acadêmicos obtidos nessas escolas eram, juntamente com a propriedade de terra e escravos, critério importante de classificação social (Ribeiro, 2007, p.24).
A Questão dos Moços Pardos segundo Ribeiro (2007, p.24) “surge da proibição, por parte dos jesuítas, da matricula e frequência de mestiços por serem ‘muitos e provocarem arruaças. Como eram escolas públicas, pelos subsídios que recebiam foram obrigados a readmiti-los”.
A disciplina nos colégios jesuítas era rigorosa e seguia uma ordem na qual os professores deveriam reportar ao prefeito o grau de aproveitamento dos alunos (duvidoso, médio, bom ou ótimo) e as medidas disciplinares cabiam ao corretor. Segundo Hansen (2001) “acreditava-se que a esperança de honras e prêmios e o temor da desonra eram mais eficazes que a vara”.
O corretor era responsável por aplicar os castigos quando necessário aos alunos indisciplinados.
“Os castigos graves e excepcionais, principalmente os de faltas cometidas fora da aula, os alunos que se recusavam a sofrer vergastadas do corretor eram remetidos ao prefeito. (Hansen, 2001, p.24)”.
O regulamento era seguido para que a disciplina nos colégios jesuítas fosse mantida. A educação jesuítica que, no principio, era apenas para converter os indígenas tornou-se a primeira forma de educação institucional gratuita no Brasil. E segundo Saviane (2008, p.6) “desde o inicio da colonização, as escolas jesuítas eram poucas e, sobretudo, para poucos”.
O ensino público só foi instalado, e mesmo assim de forma precária, durante o governo do Marquês de Pombal, na segunda metade do século XVIII.
1.3. A Disciplina Para as Famílias do Brasil Colonial
No Brasil colônia as crianças tinham um bom relacionamento afetivo com os pais, as crianças recebiam muito carinhos principalmente das mães, mas os castigos físicos também faziam parte do cotidiano dessa época. Castigos esses que foram introduzidos aqui pelos padres jesuítas.
Segundo Del Priore (2010, p.98) “as disciplinas, os bolos e beliscões revezavam-se com risadas e mimos, mas também com divertimentos e festas”.
A formação da criança daquela época tinha uma preocupação também pedagógica na qual a transformaria em um individuo responsável, para isso ela deveria receber uma educação básica (leitura, escrita), mas também uma educação moral centrada em boas maneiras.
Del Priore (2010, p. 100) em seu livro destacou a obra de Gonçalo Fernandes Troncoso de 1575, chamada “Contos de proveito e exemplo” que através de suas estórias ditava o comportamento que era esperado dos jovens da corte portuguesa. Nessas estórias os temas falavam sobre a virtude das moças e as consequências da desobediência e tudo que era relacionado à moral daquela época. A educação naquela época era tanto física quanto moral, pois a sociedade prezava muito os bons modos e o caráter dos indivíduos.
Segundo Del Priore (2010, p.105) “entre os séculos XVI E XVIII a criança passou a ser vista como diferente dos adultos e a educação também precisou ter uma visão psicológica e pedagógica”.
Na sociedade contemporânea essa educação física e moral permanecem, e quando os indivíduos apresentam problemas de falta de disciplina, a escola coloca a culpa na família por não dar limites e proporcionarem uma educação adequada para os seus filhos.
- Disciplina Escola: Aspectos Contemporâneos
A disciplina tem-se constituído em preocupação e apreensão permanentes dos educadores que, no entanto, pouco sabem o que fazer para compreender o assunto. Eles se referem ao problema da falta de disciplina como sendo do aluno e este passa a ser entendido como um problema de indisciplina do próprio aluno. Neste aspecto as reclamações feitas pelos educadores são as mais variadas, dizem que os alunos são insubordinados, praticam atos de vandalismo como danificação de patrimônio e brigas, que não prestam atenção às aulas, não estudam, não fazem as tarefas de casa, etc.
Os professores ao fazerem essas reclamações, estão visando as dificuldades pedagógicas para se obter os resultados necessário e na tentativa de resolver o problema eles passam a aplicar medidas corretivas. Isso não quer dizer que ao aplicar tais medidas corretivas irá fazer com que melhore o problema da falta de disciplina e nem irá ajudar a compreender a problemática. A disciplina precisar ser compreendida como algo necessário para se atingir um fazer pedagógico coerente e eficaz e este deve estar de acordo com a forma que escola a organiza e desenvolve o seu trabalho.
O trabalho escolar não pode se efetivar sem esforço, dedicação e principalmente, disciplina. A disciplina, todavia, não pode ser entendida como se tivesse uma finalidade educativa em si mesma. Não pode ser baseada em um conjunto de regras de conduta e normas disciplinares rígidas.
- A Prática do Professor Frente às Questões Disciplinares
A maioria dos educadores pensa que a disciplina deve vir de casa. Esse pensamento determina uma visão moralizante que confunde uma competência numa questão de valor. Esperam que a criança chegue à escola já socializada e a disciplina depende do aluno e da determinação dos pais. Ao contrario, de acordo com Macedo (2005), “disciplina é uma competência escolar que as crianças aprendem como qualquer conteúdo”. Condição necessária para se realizar um trabalho com êxito.
A escola erra ao pensar que existe apenas um tipo de disciplina e esta deve ser imposta ao aluno. No passado, castigava-se o aluno fisicamente. Com o tempo, a pedagogia foi perdendo o seu caráter de agressão física e tornando-se mais tênues as formas de ensinar a disciplina, mas não desprovido de violência. Ela pode estar incutida na prática do professor.
“Uma forma de castigar um pouco mais sutil que as anteriores, que existiu no passado e ainda existe, é a prática pela qual o professor cria um clima de medo, tensão e ansiedade entre os alunos” (Luckesi, 1998, p.134).
Em sala de aula a disciplina costuma ser imposta através de ameaças, testes surpresas, prova e por perguntas sobre a matéria que causam na classe um clima de tensão. Isso é caracterizado como uma Violência Simbólica onde há o abuso do poder, baseado no consentimento que se estabelece e se impõe mediante o uso de símbolos de autoridade.
Uma das causas da indisciplina na sala de aula pode estar na utilização de práticas pedagógicas ineficazes por parte do professor que, ao invés de estimular os alunos, acaba tornando a aula aborrecida e cansativa. Isso causa desinteresse nos alunos e não tem relação com o tipo de educação dada pela família, nem com a criança em si. Sob esse foco, a criança está num sistema de ensino que tira suas esperanças e expectativas, gera frustração e ela pode acabar se revoltando.
O professor expressa em sala de aula o papel de autoridade e essa autoridade é um atributo do educador e não algo que se exerce com autoritarismo, gritos ou humilhações e práticas pedagógicas equivocadas. A autoridade se exerce através de sua posição ao se relacionar com o outro de forma respeitosa.
Segundo Apolinário (2012, p.41), “quem respeita pessoas respeita regras, leis acordos, compromissos e o aluno obedece por medo de punições, mas respeita porque reconhece que aquela pessoa inspira e merece ser respeitada”.
O ideal seria que a disciplina estivesse adequada com as atividades a serem realizadas. De acordo com Macedo (2005) “ela é uma construção, um trabalho de todos em sala de aula e deve estar de acordo com a necessidade, até mesmo porque cada cultura escolar e atividade a ser realizada têm uma disciplina que adequada ao seu desenvolvimento”.
Para Freire (2006, p. 93) “a autoridade coerentemente democrática está convicta de que a disciplina verdadeira não existe na estagnação, no silêncio dos silenciados, mas no alvoroço dos inquietos, na dúvida que instiga, na esperança que desperta”.
Os professores não podem esperar que os alunos recebam as informações apenas. Eles devem instigá-los na sua aprendizagem e estimulá-los a participar, perguntar e questionar, isso não faz dos alunos pessoas indisciplinadas e sim interessadas e participativas; até porque cada atividade escolar exige um tipo de disciplina, afinal não se pode esperar que em uma aula de educação física, por exemplo, o estudante fique quieto e estático, pois esse tipo de atividade exige que se movimente, participe e faça trabalho em equipe e exerça a liderança.
- É Possível Ensinar Disciplina?
A disciplina é algo que pode ser ensinado através do exemplo, uma vez que a origem da palavra tem a ver com discípulo e este é uma pessoa que por sua vez tem alguém como um modelo de valor a ser seguido.
Costumamos pensar que a falta de disciplina está somente no outro. Os adultos também não têm limites e disciplina uma vez que não temos uma rotina regular, logo temos dificuldades ao organizar a rotina das crianças. Hoje as crianças vão muito cedo para a escola, e enquanto estão na escola elas têm uma rotina e em casa principalmente nos finais de semana a rotina e outra.
De acordo com Macedo (2005, p.2) devemos pensar na disciplina como um fim a chegar. Para tal tem-se que desenvolver atitudes como concentração, responsabilidade e interesse. Essas atitudes e esses valores podem tornar-se ferramentas pessoais e de trabalho. Instrumentos para que as coisas não aconteçam fora do prazo e do padrão.
Ter disciplina é um caminho para a autonomia, um exemplo disso é a criança que faz a sua tarefa de casa sem ter a supervisão de um adulto. A criança apenas solicita ajuda quando acha necessário, faz perguntas para tirar suas dúvidas.
E o que poderia ser uma pessoa disciplinada? De acordo com Macedo (2005, p. 2) “ser disciplinado significa ter um comportamento subordinado a regras, sendo este comportamento algo que se constrói por consentimento e de forma democrática”. Mas isso não significa que quando as regras não são cumpridas, não deva implicar em punições ou perdas, o que nos leva a aderir à disciplina são as consequências por não agirmos de acordo com as regras.
Na escola ou na família, dar autonomia aos indivíduos não significa esquecer-se do papel de líder e de ser responsável pelas coisas. E como é possível ensinar a disciplina para as crianças da pré- escola e do ensino fundamental? Esta questão será respondida no item seguinte.
2.3. Como Ensinar a Disciplina na Pré-Escola e no Ensino Fundamental
Para as crianças que estão na educação infantil, que têm a idade de 2 a 6 anos trabalha-se com brincadeiras e histórias, ou seja, de forma lúdica para que a criança faça a elaboração simbólica. Este é um bom método para a compreensão das questões disciplinares. Pode se usar também uma abordagem direta na qual o adulto dá ordens e pede as crianças que elas sejam cumpridas. Segundo Macedo (2005, p.3) “essa diferenciação entre ela e o adulto não lhes causa estranheza e sim alivio”.
Na idade de 7 a 11 anos, a disciplina poderá ser trabalhada na forma de regras sem a qual as coisas não poderão se desenvolver bem dentro da sala de aula ou da escola. Segundo Macedo (2005, p. 3) “o conhecimento se dá de forma empírica, com exemplos e discussão”. Mas é preciso trabalhar com as crianças e os pré-adolescentes, realizando oficinas, debates e projetos de como viver em comunidade, como viver bem, quais são nossos limites, e o que pode e o que não pode dentro e fora da escola, lançar mão de recursos como filmes, tetro e debates. O professor deve observar para que as regras sejam adequadas às tarefas que se espera que o indivíduo realize.
Ensinar os indivíduos a terem disciplina é possível e a escola como instituição educacional não pode espera que os alunos aprendam a serem disciplinadas somente pelas famílias. Tornar as crianças seres bem socializados e respeitosos das normas sociais é função das duas instituições e ambas devem caminhar juntas para que os alunos possam assim construir a sua própria autonomia.
O modelo de educação de muitas escolas está relacionado com o da educação progressista que se baseia nos ideais da escola construtivista. Esse tipo de educação vem recebendo críticas por parte de alguns autores. Crato (2011, p.9) faz críticas à pedagogia construtivista na qual, segundo ele, tem “Ideias que habitualmente se identificam, nem sempre de forma correta, com a escola moderna, com o ensino progressista ou com o ensino centrado no aluno”.
A pedagogia construtivista dá ênfase à intervenção, à interpretação e ao processo, não valorizando os fatos, os currículos, os conteúdos e os resultados educativos. Segundo Crato (2011, p. 13) a pedagogia construtivista “despreza os conteúdos científicos e processos cognitivos, a par da arrogância construtivista, que imagina que os alunos são capazes de criticar e construir conhecimento a partir do nada”.
Ele defende o modelo tradicional de educação no qual os professores e alunos têm papéis diferenciados; o professor tem o papel de ensinar e o aluno de aprender.
A pedagogia construtivista estaria colocando a responsabilidade da indisciplina, na escola e no professor. Eles teriam o comportamento questionado e não os alunos. Os alunos não cumpririam as regras por não participarem do processo de escolha delas
Crato (2011) nos mostra, em sua crítica ao sistema de ensino vigente em Portugal, que os pedagogos hoje se encontram divididos frente às questões de disciplina. Ele defende não um sistema somente primitivo ou burocratizado frente aos problemas de disciplina, mas que a escola e os professores promovam a responsabilidade da criança e do adolescente perante a classe e a sociedade. O não cumprimento das normas estabelecidas impõe, naturalmente, um exame das motivações e das consequências dos atos cometidos para tentar compreender essas motivações e então, tentar penalizá-las em defesa dos valores humanos. E pode ser conseguido quando os próprios alunos passam a participar na definição das regras pelas quais a escola deve ser regida.
Crato (2011) faz uma consideração sobre os conceitos de indisciplina seriam conceitos distintos; o processo educativo implica um espaço de conflito de transgressão e contestação, e isso é necessário para o crescimento. Segundo Crato (2011, p. 41) esta “indisciplina” é bem conhecida dos professores e é totalmente diferente da situação de violência que existe em muitas escolas. Esta, sim, é uma realidade nova com a qual não sabemos lidar. A escola hoje é multicultural e isto pode gerar problemas de indisciplina e os professores são os alvos mais visados.
A escola é reprodutora da sociedade em que está inserida, o que já sugere o insucesso. Pois, já traz consigo um princípio cultural, não permitindo e não olhando o que pode ser diferente. Não ouve a voz do aluno.
Ultrapassar esta situação supõe abandonar o conceito formal de “igualdade de oportunidade”, reconhecendo que a “indiferença às diferenças”, que esse conceito implicitamente contém, é produtora de insucesso. É necessário reconhecer que a heterogeneidade social presente na escola exige a diversificação das práticas escolares e pedagógicas. (Crato, 2011, p. 31)
A escola como causadora do insucesso, subestima o aluno, por ele vir de classe e pouco é oferecido. Pois, a escola conta com o suposto fracasso do estudante. Não lhe é oferecido mais. É como se ele tivesse um limite de aprendizado.
O sucesso no ensino requer muito mais do que manter os alunos sobcontrole, mas sem um controle razoável sobre o comportamento dos estudantes na sala de aula o professor não pode ter sucesso no ensino.
- Disciplina Família: Aspectos Contemporâneos
A família é o primeiro referencial comportamental da criança e a postura adotada pelos pais para educa-la e passar os seus ideais e valores por eles adotados é que irá moldar o caráter dela. Para que possamos entender os diferentes tipos de pais, Rivero (2006) relacionou da seguinte forma os estilos parentais:
- Estilo Autoritário:
Neste estilo tenta-se controlar e modelar as atitudes, a criança de forma rígida. Estes pais valorizam uma obediência absoluta e para isso recorrem a medidas punitivas (verbais ou físicas) para que esta se comporte de acordo com o seu ideal. Esse estilo de pais costuma demonstrar pouco afeto pela criança.
- Estilo Permissivo:
Os pais funcionam como recursos para os desejos das crianças, e não como modelos. Neste estilo existe a ausência de normas, não encorajando qualquer obediência. Há geralmente afetividade e comunicação positiva, mas, sem exigências de maturidade. Em 1983, Maccoby & Martin (apud. Rivero, 2006) dividiu este estilo em dois: Estilo Indulgente, em que os pais respondem aos pedidos das crianças e são carinhosos, não sendo exigentes quanto a normas ou deveres, nem atuam como modelos de comportamento; Estilo Negligente, em que os pais não se envolvem nas suas funções parentais, mantendo apenas a satisfação de necessidades básicas (físicas, sociais, psicológicas e intelectuais);
- Estilo Participativo:
Neste estilo há o estabelecimento de normas e limites pelos com afetividade. A comunicação é positiva e otimista. Estes pais adéquam a sua atitude à especificidade da criança, no tocante à sua idade e motivações, fazendo exigências de acordo com as capacidades e interesses da criança.
A postura com a qual os pais educam as crianças pode moldar o caráter e a forma como elas irão se comportar e enfrentam conflitos e também poderá desencadear problemas de comportamento.
A falta de supervisão dos pais, e de clareza dos papéis familiares (pais companheiros, cheios de trabalhos, negligentes), a ausência de regras claras sobre o que se tem o direito de fazer ou ainda os meios familiares demasiado autoritários ou estilo parental inconsistentes e a falta de comunicação são igualmente fatores suscetíveis de criar condutas violentas entre as crianças (OSBORNE apud BLAYA, 2006, 82).
A maneira tolerante com que os pais agem atualmente com os filhos é devido ao fato de trabalharem o dia e inteiro fora e ficarem pouco tempo com eles. Diante do comportamento indisciplinado dos filhos alguns pais costumam não repreende-los e quando fazem não é de forma correta da qual os filhos entendam as consequências das transgressões feitas por eles, sendo assim não obedecem as orientações executadas pelos pais.
Eles costumam agir assim porque não querem criar desavenças com filhos ou ferir a sensibilidade deles, dessa forma eles estariam compensando os pela a sua ausência; “os pais estão cada vez mais absorvidos pelas atividades profissionais com o nítido objetivo de gerar recursos materiais que possam financiar o conforto e os estudos de seus filhos (SILVA, 2010, p. 171)”, e com isso eles acabam criando indivíduos que não se preocupam com as regras sociais e nem com as consequências dos seus atos. Os pais hoje estão tão focados em seu trabalho que não tem tempo para estabelecer uma convivência com os seus filhos a onde prevaleça o dialogo entre eles.
Os pais que se preocupam com uma educação que preze pela disciplina, em que as crianças sejam responsabilizadas pelas consequências de seus atos indisciplinados podem ter receios em como fazê-lo.
A grande maioria de pais quando pensam na palavra disciplina a associam os castigos físicos. De acordo com Bettelheim (1988, p.103,) “a maioria dos pais que perguntavam sobre disciplina queria ouvir a opinião dele a respeito do castigo de crianças, de quando e como castigá-las e quase sempre tinham em mente os castigos físicos”.
Se disciplina pode ser ensinada, os pais podem disciplinar seus filhos sem que seja preciso usar castigos físicos. Lembra-nos de que os indizinhos aprendiam com o exemplo dos mais velhos, porque as crianças de hoje não seriam capazes de aprender dessa forma também?
O autor comenta que a ideia de discipulado implica não só a aprendizagem de habilidades e fatos específicos, mas na aquisição através de um mestre de um modelo de quem desejamos nos formar, porque admiramos a obra e a vida desse indivíduo.
As crianças pequenas admiram seus pais e podem aprender muito com eles. A infância é a melhor época para se instaurar os valores que queremos que os filhos aprendam. E é através de nossos atos que os filhos irão aprender a consolidar esses valores. Quando a combinação de ensinamento, exemplo e amor mútuo são fortes o bastante, acabam por nos impedir de agir contrariamente aos valores de outrem. Quando pensamos assim, seria óbvio que o método mais confiável de instaurar em nossos filhos valores desejáveis e autodisciplina que perdurem seria através do bom exemplo e do dialogo.
Uma disciplina merecedora de apreço ser incutida em alguém à força; na verdade, esse esforço é contrario à própria ideia de discipulado. O melhor e provavelmente o único modo de nos tornarmos uma pessoa disciplinada é emular alguém cujo exemplo admiramos – não por uma instrução verbal, que pode, no máximo, ser parte disso, e certamente não por ameaças (Bettelheim, 1988,p. 104).
Quanto menor a criança, mais ela admira seus pais. Na verdade ela precisa acreditar na perfeição dos pais para sentir-se protegida. Para Bettelheim (1988, p. 1988) “o filho que não admira os pais nem deseja imitá-los pode muito bem encontrar uma pessoa para respeitar e à imagem de quem possa forma-se”.
A criança pequena tem necessidade de ser cuidada por alguém forte o bastante e que possa lhe dar segurança, e essa situação persiste até que ela própria atinja a maturidade. O perigo aqui consiste em que a criança que não tenha conseguido adquirir autocontrole, numa idade mais tenra, seguindo o exemplo dos pais, e tenha se transformado num adolescente rebelde, ainda seja impelido por sua necessidade, a encontrar um mestre a quem imitar e possa então buscar e achar um mestre indisciplinado.
Ser um modelo a ser seguido exige dos pais o compromisso de ser uma pessoa disciplinada e capaz de se controlar em determinadas situações.
Mesmo quando um filho admira os pais, gosta deles e, sentindo-se amado por eles, deseja imitá-los, não é fácil obter autodisciplina; muitos pais não são tão disciplinados assim, e não oferecem, portanto, a esse respeito, uma imagem clara que seu filho possa imitar. Além disso, há também pais que tentam ensinar autocontrole por métodos que despertam mais a resistência do filho do que o prazer em aprendê-lo (Bettelheim, 1988, p.106).
Quando os pais perdem o autocontrole isso pode causar estranheza nos filhos que ficam confusos, pois passam a receber informações contraditórias. O problema é que o ensino do autocontrole requer grande dose de paciência por parte do educador; mas essa é uma virtude discreta e não causa uma impressão tão profunda e imediata quanto a sua perda. Para Bettelheim (1988, p. 106) “é preciso o que parece um número infinito de exemplos paternos de autocontrole e paciência para ensinar os valores desse tipo de comportamento e influenciar criança a internalizá-los”.
É bem possível que quando criança tivemos um comportamento considerado impossível e nos ressentíamos quando os nossos pais não eram pacientes e compreensivos conosco. Se na hora em que perdemos o autocontrole nos lembrássemos disso, teríamos então muito mais paciência e compreensão para com a incapacidade das crianças de se autodisciplinar antes de atingir certo grau de maturidade, ou seja, a disciplina será aprendida lentamente por elas.
Os pais são os responsáveis por darem estímulos para que as crianças possam internalizar os valores considerados importantes para sua família.
As crianças aprendem reagindo aos estímulos dos pais: quanto mais nos amam, mais nos imitam, e mais internalizam não só os valores que defendemos conscientemente, como aqueles de que não temos consciência, mas que influenciam nossas ações; e quanto menos nos amam e admiram, mais negativamente reagem a nós na formação de suas personalidades (Bettelheim, 1988, p. 107).
O castigo pode nos levar a obedecer às ordens que recebemos, mas no máximo ensinará uma obediência à autoridade, não um autocontrole que aumenta nosso respeito próprio. Só após termos atingido a idade em que estamos aptos a tomar nossas próprias decisões é que podemos aprender a nos controlar, isso pode ocorrer relativamente cedo, mas não antes que possamos raciocinar por conta própria, já que o autocontrole baseia-se no desejo de agir de acordo com as próprias decisões, às quais chegamos através de nossas próprias deliberações.
”Apesar de todas as dificuldades e obstáculos ao longo do caminho, os pais são transmissores lógicos do tipo certo de disciplina, já que sua aprendizagem deve começar muito cedo e continuar por bastante tempo” (Bettelheim, 1988, p. 107).
Os pais além de atender as necessidades básicas essenciais à vida (fome, sede, sono, segurança e amor), devem ficar atentos e intervir também no plano social. Transmitir as crianças um certo grupo de valores, de ideias, de comportamentos que lhes irão permitir, no futuro, a convivência numa sociedade. Pelo menos com um mínimo de responsabilidade. É preciso ficar atento às ocasiões em que possam por em prática esses valores e mostrá-los para as crianças, por exemplo, quando devem respeitar o direito dos outros. Até uma determinada fase a criança não tem a capacidade para se colocar no lugar do outro, são os adultos que devem trabalhar esses conceitos éticos como o respeito ao próximo, a solidariedade e amizade com elas. De acordo com Zagury, (1994, p. 38) “ao nos furtarmos a agir em tais momentos, passamos aos nossos filhos a ideia de aprovação, até porque está realmente havendo aprovação e concordância”. Esses conceitos não iram surgir sem um trabalho árduo de conscientização que será feito principalmente pelos pais.
Crianças precisam de orientação e que lhe digam o que fazer para que não se sintam sem orientação, mesmo que para isso seja preciso se opor ao que as crianças querem. Acontece que em muitas das vezes os pais precisam se opor ao que os filhos querem, mas desagradar os filhos pode ser muito difícil para os pais, porém se opor às vezes é necessário. Segundo Zagury (1994, p. 48) “brigar muitas vezes é educar, embora nos manuais sobre educação se tenha a impressão de que usando a psicologia todas as crianças tornam-se, como que por encanto, dóceis e cordatas, essa não é a pura verdade”. Um exemplo é quando pedimos à criança para escovar os dentes. Esta é uma tarefa que não agrada a muitas crianças, mas que os pais precisam brigar com elas para que o façam porque não é somente uma questão de higiene, mas também de saúde. Nessas horas é preciso agir com firmeza, mas não seria necessário bater e sim conscientizar a criança.
Segundo Zagury (1994, p.110) “o ato de bater redunda, para os pais num sentimento terrível de desapontamento consigo próprios, gerando muita culpa e, consequentemente, desejo de se redimir”. Isso pode acabar gerando ansiedade nos pais e os levar a relaxar justamente com o que pretendiam corrigir.
Uma boa estratégia para evitar bater nas crianças seria durante os momentos de conflito, manter uma distância tal que impeça o contato físico.
De acordo com Zagury (1994, p.112) “os pais chegam ao momento de bater porque deixaram passar muito a hora de agir com firmeza”. Portanto, além da conveniente distância física, muito mais importante do que ela, é a ação preventiva, equilibrada e segura que deve nortear os pais.
- Intervenção Psicopedagógica
Nas décadas de 70 e 80 a psicopedagogia passou a ter um caráter interdisciplinar, recebendo contribuição de diferentes áreas do conhecimento como: a pedagogia, a psicologia, fonoaudiologia, a neurologia, sociologia e filosofia. Com isso o psicopedagogo teve uma ampliação de seu campo de atuação que deixou de ser apenas clínico incluindo também o institucional.
O psicopedagogo é importante na escola, pois ele pode estimular o desenvolvimento das relações interpessoais, e também na utilização de métodos de ensino que possam contribuir para estabelecer vínculos significativos entre os membros da instituição.
A intervenção psicopedagógica tem a finalidade de promover mudanças significativas sobre os problemas na instituição com o intuito de melhorar as condições apresentadas e realizar uma tarefa preventiva para os problemas apresentados. E deve ser feita sob três perspectivas: a do aluno (criança, adolescente ou adulto), a dos pais que o colocaram na escola e sabem de seus problemas de disciplina e a do professor.
4.1 A visão do aluno, dos pais e professores sobre a aprendizagem
A aprendizagem é vista de forma diferente pelo o aluno, os pais e os professores, mas ela abrange os seguintes aspectos, os externos (escola) e os internos (aluno). E esses aspectos estão relacionados com o social.
- Do ponto de vista do aluno (criança, adolescente ou adulto):
A aprendizagem é um processo de construção da mente e das ações do indivíduo. Esse processo esta ligado a historia de vida dele e o que parece ser importante para o professor que é quem ensina pode não parecer importante para quem esta aprendendo o aluno. Independente de estar em um ambiente escolar a aprendizagem se dá o tempo todo seja com os pais, colegas, ou seja, interagindo com outras pessoas.
- Do ponto de vista dos pais:
A família é a responsável por ensinar as crianças a quilo que se espera delas uma vez que os valores deste núcleo familiar foram incutidos nelas, a criança se sentira pertencendo aquele núcleo familiar. É no cenário familiar que a criança constrói o seu modelo de aprendiz e forma em que ira se relacionar com o conhecimento.
A relação entre família e escola pode não ser tão harmoniosa quando os casos em que o modelo de disciplina da escola não esta de acordo com o modelo da família que tende a considerar o comportamento que para a escola é errado e para a família não é nada demais. Nestes casos a família pode não aceitar as orientações psicopedagogicas da escola e a mesma pode também a recusar a da família.
- Intervenção psicopedagógica junto ao professor:
O trabalho psicopedagógico tem caráter investigativo e nele se abrangem a esfera familiar e social do indivíduo para entender o seu processo de aprendizagem. No trabalho na instituição escolar ele pode se deparar com dificuldades relacionadas com a proposta de ensino da instituição, estas não costumam a aceitar intervenções que modifiquem os seus métodos educacionais. E com os professores que podem ter receio em reverem a sua prática, pois isto envolve transformação de atitudes e pensamentos. A intervenção psicopedagógica pode ser importante também para ajuda-los a atender e ajudar aqueles alunos que têm um algum tipo de transtorno que causa problemas de falta de disciplina.
O mundo escolar é frequentemente palco de desordens, de tumultos, de recusas em cooperar, de insolências, de indelicadezas, de palavras ofensivas e de humilhações de agressões do que de delitos qualificáveis em termos penais.
O sentimento de não respeito é comum nos discursos de docentes e alunos, dando origem a perda de sentido da instituição.
Há casos em que o problema de falta de disciplina pode ter causas complexas do que a falta de limites, como os distúrbios de comportamento e que devido à complexidade se faz necessária uma avaliação psicopedagógica.
Quando o problema de falta de disciplina tem causas mais complexas do que falta de limites e se configura em um problema a nível orgânico do indivíduo. Os aspectos orgânicos poderão impedir ou dificultar o acesso ao conhecimento. Segundo Weiss (2008, p. 24) “a construção das estruturas cognitivas se processa num ritmo diferente entre os indivíduos normais e os portadores de deficiências sensoriais, pois existem diferenças nas experiências físicas e sociais vividas”. Os professores sozinhos mesmo estando bem preparados não conseguiriam solucionar o problema. Estes casos necessitam de uma ajuda psicopedagógica.
A psicopedagogia é um ramo de conhecimento e atuação em saúde e educação que lida com as dificuldades de aprendizagem e adaptação humana, leva em consideração a influencia do meio: família, escola e sociedade no desenvolvimento do individuo. O profissional poderá identificar o problema de aprendizagem e indicar o tratamento psicopedagógico, mas poderá identificar também outros problemas e então indicar outros profissionais como psicólogo, fonoaudiólogos e neurologista dependendo do caso.
- Os Transtornos da Infância e Adolescência
Os transtornos da infância e adolescência como os transtornos de conduta e de oposição, transtorno do déficit de atenção / hiperatividade, etc., podem ser causas de falta de disciplina em alguns indivíduos o que pode contribuir para problemas de aprendizagem e para um clima escolar ruim.
Os transtornos da infância e adolescência são classificados por nomenclaturas nos manuais do DSM (Diagnostical and Statistical Manual of Mental Disorders – Manual de Diagnostico e Estatísticas dos Distúrbios Mentais) da Associação Americana de Psiquiatria; no CID-10 (Classificação Internacional de Doenças) da Organização Mundial de Saúde, esses manuais apresentam algumas diferenças e estão em constante evolução.
Os transtornos da infância e adolescência e conduta não podem ser vistos como comportamentos isolados, mas um conjunto de atitudes que podem se traduzir em um problema ao nível do desenvolvimento do individuo.
- Transtorno de conduta:
O Transtorno de conduta são padrões repetitivos e persistentes, socialmente inadequados e que põem em perigo os direitos ou a integridade de terceiros ou da própria pessoa.
Segundo Blaya (2006, p.31) “o transtorno pode ter causas relacionadas com problemas emocionais, e pode ser consequência de disfunções biológicas, neurobiológicas ou de traumatismo”.
Os transtornos da infância e adolescência são complexos e o diagnóstico deve seguir alguns parâmetros como a avaliação dos sintomas em conjunto com o meio familiar e escolar, esses distúrbios podem esta ligados a problemas com a autoestima.
“Diferentes estudos mostram que muitos adolescentes a quem foi diagnosticado um transtorno de conduta acumulam o com outro distúrbio, sublinhando a concomitância dos distúrbios do comportamento com a hiperatividade e os distúrbios de oposição (Achenbach, 1993, apud. Blaya, 2006, p.31)”.
Podemos verificar que a concomitância de fatores pode agravar o caso de alguns transtornos, mas também indivíduos que sofrem rejeição pelos seus pares têm dificuldades em lidar com frustrações e podem sofrer de variação de humor.
- Transtorno do Déficit de atenção / Hiperatividade (TDA/H)
O Transtorno do Déficit de atenção / Hiperatividade (TDA/H) é um transtorno comum e prejudicial ao desenvolvimento emocional e acadêmico. Os casos suspeitos devem ser encaminhados á profissionais com experiência no seu diagnóstico e tratamento. De acordo com Araujo (2002, P. 107) o diagnóstico poderá ser feito pelo neuropediatra, o psiquiatra ou por equipes interdisciplinares. Pela associação do TDAH com outros problemas emocionais (depressão, ansiedade, transtorno bipolar, transtorno opositivo-desafiador, transtornos de conduta, transtorno obsessivo-compulsivo), a figura do psiquiatra assume grande importância.
O Transtorno do Déficit de atenção / Hiperatividade (TDA/H) é um distúrbio crônico. Na idade escolar, este transtorno se associa à possibilidade de baixo desempenho escolar, e na adolescência, o abuso de drogas ou comportamento anti-social são frequentes. Na idade adulta, embora exista a possibilidade de estabilidade emocional e sucesso profissional, podem ser observados os mesmos sintomas básicos (desatenção e impulsividade), podendo ocasionar dificuldades de relacionamento e dificuldades na vida profissional.
Segundo Araújo (2002, p. S109), “tanto fatores genéticos como ambientais contribuem na patogênese do Transtorno do Déficit de atenção / Hiperatividade (TDA/H), alguns estudos demonstram que possa haver marcadores fenotípicos familiares, bem como marcadores genéticos”.
O transtorno do déficit de atenção/hiperatividade é diagnosticado quando seis ou mais dos seguintes sintomas de desatenção persistir pelo período mínimo de seis meses, em grau mal adaptativo e inconsciente com o nível de desenvolvimento: desatenção, hiperatividade e impulsividade.
Na tabela 1 são listados os sintomas que estão presentes nos casos de Transtorno do Déficit de atenção / Hiperatividade (TDA/H).
Segundo Blaya (2006, p.32) “58 por cento das crianças com déficit de atenção e hiperatividade frequentemente tem dificuldades ou são atrasadas na escola”.
O fato de que vários sintomas usados como referência pelos profissionais para diagnosticar o transtorno do déficit de atenção/hiperatividade (TDA/H) são considerados como um problema para escola. Os sintomas de desatenção, agitação e impulsividade são tidos como causa de um comportamento indisciplinado e precisa ser tratado e medicado.
Esses sintomas podem incomodar porque a escola exige que os alunos passem a maior parte do tempo passivos. Segundo Gualtiere e Lugli (2012, p. 60), a escola tende ao “imobilismo e à extrema disciplina” e os indivíduos independente de terem ou não o transtorno do déficit de atenção/hiperatividade (TDA/H) podem ter dificuldades e reações diferenciadas desde apatia ou irreverência em relação a essa visão da escola sobre a disciplina.
Tabela 1 - Sintomas para o diagnostico de TDAH de acordo com o DSM-IV:
Desatenção |
Hiperatividade/impulsividade |
Prestar pouca atenção a detalhes e cometer erros por falta de atenção; Dificuldade em se concentrar (em deveres ou brincadeiras); Parecer estar prestando atenção em outras coisas numa conversa; Dificuldade em seguir as instruções até o fim ou deixar atividades sem terminá-las Dificuldade de se organizar ou planejar com antecedência; Relutância ou antipatia para fazer deveres de casa ou iniciar tarefas que exijam esforço mental por muito tempo; Perder objetos ou esquecer compromissos; Distrair-se com muita facilidade com coisas a sua volta ou com seus pensamentos; Esquecer coisas do dia a dia.
|
Mover de modo incessantes pés e mãos quando sentado; Dificuldade de permanecer sentado em situações em que isto é esperado (sala de aula, mesa de jantar, etc.); Correr ou montar em objetos frequentemente, em situações nas quais isto é inapropriado; Dificuldades para se manter em atividades de lazer em silêncio; Parecer ser movido por um “motor” sempre “ligado”; Falar demais; Responder as perguntas antes das mesmas serem concluídas; Não conseguir aguardar a vez; Interromper frequentemente os outros em suas atividades ou conversas. |
Extraído de: Araújo 2002
- Transtorno Desafiador de Oposição
O transtorno desafiador de oposição ocorre quando existe um padrão de comportamento, negativista, hostil e desafiador e causa comprometimento com o desenvolvimento escolar e ocupacional.
De acordo com Blaya (2006, p.31), o transtorno desafiador de oposição está presente numa criança em cada vinte nos países industrializados e aparece a partir dos 4 anos de idade, sendo os do sexo masculino mais afetados do que as do sexo feminino até à adolescência, onde a diferença pode atingir uma porcentagem igual ou superior.
- Retardo Mental
O retardo mental é definido por um coeficiente de inteligência abaixo de 70, gerando limitações na capacidade de comunicação, cuidados de higiene e de vida diária, habilidades sociais, acadêmicas ou de trabalho e lazer. A maioria dos casos mais graves pode ser reconhecido nos primeiros anos de vida. O retardo mental deve fazer parte do diagnóstico de criança com atraso no desenvolvimento de linguagem, nas com reações aos estímulos ambientais alteradas (apatia ou hiperatividade), daquelas com dificuldades no relacionamento interpessoal, e as que têm dificuldades para aprender as regras sociais básicas. Crianças com malformação congênita são as com maior risco de desenvolver deficiência mental.
O Manual de Diagnostico e Estatísticas dos Distúrbios Mentais DSM – IV relata os seguintes critérios para o diagnostico do retardo mental. Os sintomas devem ter Início anterior aos 18 anos de idade. O Funcionamento intelectual é significativamente inferior à média: um QI igual ou inferior a 70, em um teste de QI individualmente administrado (para bebês, um julgamento clínico de funcionamento intelectual significativamente inferior à média). Déficits ou comprometimentos concomitantes no funcionamento adaptativo atual (eficiência do indivíduo em atender aos padrões esperados para sua idade por seu grupo cultural) em pelo menos duas das seguintes áreas: comunicação, cuidados pessoais, vida doméstica, habilidades sociais e interpessoais, uso de recursos comunitários, independência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança.
Segundo Araújo (2002, p. S108) “as crianças com deficiência mental costumam ter dificuldade no controle de seus impulsos, dificuldades na concentração, baixo limiar de frustração, instabilidade afetiva, podem apresentar agressividade e estereotipias”. Esses indivíduos apresentam-se em estágios de desenvolvimento aquém do esperado para a idade cronológica. Diante deste quadro de sintomas, as famílias podem ter dificuldades na hora de estabelecer regras para essas crianças o que pode caracterizar em falta de disciplina desses indivíduos. Nestes casos, devemos procurar através da terapia de apoio, da psicoterapia, da fonoaudiologia e da terapia ocupacional, diminuir a ociosidade da criança, aumentar sua capacidade de comunicação e auxiliar os familiares a compreender como lidar com seus filhos. Cabe ao profissional que irá tratar desses indivíduos, fornecer instruções de acordo com suas capacidades e aprimorar seus relacionamentos em sociedade. Estes são os objetivos a serem alcançados.
Os transtornos da infância e adolescência aqui relacionados podem ter relação com falta de disciplina, e os indivíduos acometidos podem desenvolvem agressividade e oposição e sentem falta de empatia, o que contribui para um clima familiar e também escolar negativo o que pode facilitar a eclosão de violência.
Devemos ter cuidado para não generalizar, pois nem todo individuo com distúrbio de comportamento são agressivos ou violentos. E também cuidado ao diagnosticar a fim de evitar que durante o tratamento os indivíduos sejam objetos de prescrições medicas.
Todos esses fatores não devem ser vistos de forma isolada, mas de forma relacionada para chegar à verdadeira avaliação dos distúrbios. Os fatores que interagem em uma avaliação de distúrbios de comportamento podem ser de natureza gestacional, biológico, psicológico e sociocultural.
A intervenção psicopedagógica poderá ser feita através da mediação do psicopedagogo com o objetivo de criar ou estabelecer a comunicação entre o aluno, à família e a escola com o objetivo contribuir com o tratamento no intuito de melhorar o desempenho escolar e os problemas de comportamento.
CONCLUSÃO
Disciplina não é algo fácil de ser compreendido sempre que pensamos nesta palavra vem a nossa mente ela esta relacionada com imposição, logo pensamos em castigo. Durante muito tempo foi sim algo relacionado a castigos físicos, durante o processo de colonização do Brasil os jesuítas responsáveis pelo processo de educação trouxeram com eles o modelo europeu de educar. Este modelo continha regras e normas de conduta que quando não eram obdecidas eram aplicados os castigos físicos ou moral. Os índios (povo nativo) do qual os jesuítas tiveram a incumbência de catequizar e instruir não estavam acostumados com esse modelo europeu de educar, uma vez que as suas crianças aprendiam com os mais velhos copiando os seus ensinamentos.
O problema da falta de disciplina é uma das queixas mais frequentes dos professores, eles jogam a culpa nas famílias dizendo que são elas responsáveis e que devem educar os seus filhos, este na verdade é um pensamento moralista. É papel da família sim, passar seus valores na educação das crianças e os pais deve ser bons exemplos a serem seguidos, mas quando há falta desse modelo na família os indivíduos irão buscar um outro modelo. A escola deve cumprir a função de socializar e disciplinar as crianças para a aprendizagem.
Disciplina é uma matéria que pode e deve ser ensinada também pela escola ate porque o fazer pedagógico exige dos indivíduos certo grau de comprometimento com as atividades a serem realizadas.
As famílias ainda hoje têm em mente que para que os filhos sejam pessoas disciplinas é preciso usar de castigos físicos na hora de educar, mas este conceito de disciplina imposta pelo medo pode dar lugar aquela em que os bons exemplos, o respeito regras devem ser seguidos, mas isso não quer dizer que quando o individuo não respeita as regras ele não deva ser punido.
Os casos em que a falta de disciplina pode ter uma causa orgânicas, como alguns transtornos da infância e adolescência (transtorno de conduta, transtorno do déficit de atenção/hiperatividade, transtorno desafiador de oposição). Alguns desses transtornos podem ser responsáveis por comportamentos considerados indisciplinados. Estes casos precisam da intervenção de profissionais especializados como psicopedagogos, psicólogos, neurologistas e outros para diagnosticar e tratar o problema. Deve se ficar atento para que nesses casos não ocorram abusos no uso de medicação e sim procurar tratamentos terapêuticos com profissionais especializados (psicopedagogos e psicólogos).
Não se pode também generalizar e pensar que todo individuo com transtornos da infância e adolescência tem problemas de falta de disciplina. A falta de disciplina pode ter a causa no questionar as regras algo tão comum nos indivíduos.
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA CLÍNICA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA
A Monografia “DISCIPLINA: ASPECTOS HISTÓRICO E CONTEMPORÂNEO”.
Nome do aluno (a): Tatiana C. Serpa dos Santos
Foi considerado (a):______________________________
Nota Final: __________
Assinatura do orientador: _______________________________________
_____________________________________________Nota:_________
(Orientadora: Drª. Maria das Graças Vasconcelos Paiva).
_____________________________________________Nota:_________
(Professora: Marlene Dias Pereira Pinto).
_____________________________________________Nota:_________
(professora: Sonia Pires Simões)