Diminuição da Testosterona no Envelhecimento Masculino - Diagnóstico e Tratamento
Por Bernardo Passos Sobreiro | 07/01/2015 | SaúdeDAEM - Deficiência Androgênica do Envelhecimento Masculino
Em 1946, foi publicado no Journal of the American Medical Association um artigo histórico intitulado “O climatério masculino”, síndrome que era caracterizada por nervosismo, redução da potência sexual e libido, irritabilidade, cansaço, depressão, alterações da memória e distúrbios do sono. Em contraste com a menopausa que é um processo bem caracterizado, universal e que está associada com absoluta falência ovariana, no homem a redução dos níveis de testosterona é de início e progressão lenta. Muitos nomes foram atribuídos a essa “menopausa masculina”, tais como síndrome do envelhecimento masculino, androclise, hipogonadismo de início tardio e mais modernamente DAEM – deficiência androgênica do envelhecimento masculino. Para compreendermos a produção de testosterona necessitamos primeiramente conhecer o hipotálamo. O hipotálamo é uma porção do cérebro que faz a ligação entre o sistema nervoso e o sistema endócrino, sendo responsável pela manutenção do equilíbrio (homeostasia) do corpo humano. Através de hormônios inibidores ou ativadores da produção de outros hormônios o hipotálamo controla grande parte das funções corporais tais como: batimento cardíaco e pressão arterial; temperatura; apetite e peso; secreção glandular do estômago e intestino; ciclo do sono e a síntese de testosterona no homem e do estrogênio na mulher. No caso específico da testosterona, o hipotálamo estimula a hipófise anterior (por meio do GnRh – hormônio liberador das gonadotrofinas) a produzir os hormônios luteinizante (LH) e folículo estimulante (FSH). No testículo, o FSH estimula a produção de espermatozóides e o LH estimula a produção de testosterona. A testosterona circula no sangue em duas formas: ligada a SHBG (globulina transportadora de hormônios sexuais) ou a albumina e na forma livre. A ligação com a SHBG é de alta afinidade de modo que essa testosterona não consegue ter ação nos órgãos-alvo. Assim, a testosterona biodisponível está livre ou ligada à albumina. Os níveis de testosterona diminuem com a idade na razão de 1% ao ano e este declínio é mais pronunciado na testosterona livre em virtude do aumento dos níveis da SHBG com o passar do tempo.
A diminuição da testosterona já pode ser observada ao redor dos 35-40 anos e exerce forte influência nas alterações corporais associadas à idade (como por exemplo, obesidade, redução da força e massa óssea, declínio cognitivo e disfunção erétil). Estudo conduzido por Mulligan com 2162 voluntários com idade acima de 45 anos demonstrou que níveis de testosterona abaixo de 300ng/dl podem ser observados em cerca de 35-40% dos casos. Deficiência de testosterona está associada a aumento no risco de morte em homens com idade mais avançada independente de outros fatores. O diagnóstico da DAEM requer a presença de sinais e sintomas sugestivos de redução dos níveis de testosterona e a demonstração laboratorial dessa diminuição. Pacientes sintomáticos e com níveis de testosterona abaixo de 300ng/dl são candidatos à terapia de reposição hormonal.
Diversas condições clínicas estão associadas a baixos níveis de testosterona, como obesidade, diabetes, hipertensão, osteoporose e dislipidemia.
Estudos avaliando saúde geral e níveis de testosterona apontam que: 1) níveis normais de testosterona estão associados com maior qualidade de saúde e aumentam a longevidade do homem; 2) os níveis de testosterona total (ou testosterona livre) podem ser considerados um indicador da saúde geral masculina, superando as taxas de colesterol, glicose e até mesmo o antígeno prostático específico (PSA) e 3) a terapia de reposição hormonal traz benefícios para a maior parte dos homens com deficiência androgênica, frequentemente com melhora na qualidade de vida. Recentemente, a reposição de testosterona foi alvo de grande debate na literatura médica, principalmente com relação ao câncer de próstata. A idéia inicial é de que a administração de testosterona poderia induzir ao aparecimento do câncer de próstata ou que poderia levar a um crescimento rápido de um tumor prostático ainda não diagnosticado. Contudo, estudos posteriores não mostraram haver essa relação. Hoje em dia a questão central é: quais pacientes são candidatos à reposição com testosterona e por quanto tempo essa reposição deve ser feita? De acordo com os estudos mais recentes devem receber tratamento os pacientes que: 1) apresentem sinais ou sintomas de deficiência androgênica e tenham baixos níveis de testosterona total (<350ng/dl) ou livre (<15pg/ml). Um dado relevante é que se a testosterona livre for baixa o valor da testosterona total passa a ser irrelevante. Os pacientes devem receber testosterona por um período inicial de 3-6 meses, sendo que o objetivo do tratamento é a melhora dos sintomas. Existem basicamente 3 formas de reposição de testosterona no mercado brasileiro: 1) gel de aplicação axilar; 2) cipionato de testosterona para uso injetável a cada 3-4 semanas e 3) undecanoato de testosterona para uso injetável a cada 3 meses. Todo paciente candidato a reposição hormonal deve ser cuidadosamente avaliado pelo seu médico assistente que irá orientar qual a melhor forma de realizar essa reposição. Como a terapia de reposição é de longo prazo também é necessário acompanhamento médico adequado.