DIFICULDADE DE LEITURA E ESCRITA OU DISLEXIA?

Por CLEUSA APARECIDA DE LIMA NESPOLO | 24/09/2017 | Educação

       CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

       NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO

FAVENI

 

CLEUSA APARECIDA DE LIMA NESPOLO

 

BARRETOS

2017

FAVENI

 

 

                                                      CLEUSA APARECIDA DE LIMA NESPOLO

RESUMO

A dificuldade não só de leitura, mas também de escrita e suas possíveis causas tem sido motivo de várias teorias de estudos que se diferenciam entre si.  Muitos dizem que sendo um transtorno específico da linguagem e de suas complicações, a dislexia é demonstrada pela dificuldade de decodificação de palavras simples, com pequenos danos no desenvolvimento da competência de leitura. Esse artigo vem abordar o assunto sobre essa desordem que se instala ao iniciar as primeiras séries e as complicações ao tentar decodificar letras e/ou palavras seguindo vida a fora.  É um tema rotineiro, vivenciado sempre, na área da educação. Para isso, é importante salientar que, para alcançar o objetivo desse trabalho, as informações a seguir pretendem mostrar como se faz necessário um trabalho multidisciplinar a fim de que se possa permitir ao educando um desenvolvimento mais eficaz da competência linguística, de reconhecimento de textos, do mundo da escrita, demanda essa que a vida reserva a todos os estudantes. Logo, essa pesquisa bibliográfica pontua de forma significativa, a relação professor-aluno-escola nos processos da aprendizagem ler e escrever, e como podem ser as instruções no âmbito do assessoramento psicopedagógico e clínico prevenindo e evitando o fracasso escolar, tendo em vista que a partir dessa situação, o profissional clínico investigará e interferirá na correspondência aluno / aprendizagem.

Palavras chave:  Transtorno, dislexia, decodificação, reconhecimento

INTRODUÇÃO

“Por isso na impaciência/Desta sede do saber/Como as aves do deserto/As almas buscam beber...Oh! Bendito o que semeia/Livros...livros à mão-cheia.../E manda o povo pensar!/O livro caindo n’alma/É germe - que faz a palma,/É chuva – que faz o mar”. (Alves, 1870). Com esses versos de Castro Alves, o presente trabalho será iniciado para abordar o quão é essencial à competência leitora e como a escola pode auxiliar o leitor a partir dos entraves que surgem, visto que cada ser humano carrega consigo suas peculiaridades em relação aos aprendizados quanto à leitura e escrita.

    Sobre a influência do livro na vida das pessoas, Carlos Drummond de Andrade pronuncia: “A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede” (Apud COSTA, 2006, p.85). FONSECA (1995 p. 12) pontua bem esta situação quando elucida que:  “…uma coisa é a criança que não quer aprender a ler, outra é a criança que não pode aprender a ler com os métodos pedagógicos tradicionais”. Não podemos assumir atitudes reducionistas que afirmam que a dislexia não existe.  

              Na escola, quando se orienta: É fundamental, é bom ler “tal” livro, vê-se em cada rostinho ora alegria, ora perplexidade. E mais, quando se pensa em auxiliar a fluência com essa atitude, é possível perceber as dificuldades ou até incapacidade que o indivíduo apresenta para realizar essa determinada atividade (tarefa). A partir disso, aponta-se que a função da escola seja propiciar aos alunos caminhos para que aprendam cada vez mais. Aponta-se que é preciso ser um meio para promover/desenvolver as habilidades pessoais, tanto no âmbito individual como coletivo. No entanto, muitas Instituições Escolares, através de sua equipe como coordenadores e professores, percebem situações onde crianças que aparentemente saudáveis, inteligentes, não conseguem ler, escrever com habilidade. Também é observado que, estudantes das séries iniciais ou em curso não apresentam ortografia equivalente para idade. Dessa forma, durante as reuniões entre professores e equipe pedagógica, evidencia-se o cotidiano da escola e, com isso, disseminam-se casos percebidos em que alunos apresentam nível restrito de compreensão mínima quanto à leitura ou ortografia/escrita. Tanto Professores quanto alunos ainda sofrem com as dificuldades durante a aprendizagem decorrentes desse problema.

Nota-se que, mesmo alunos mais velhos, de nível superior, também apresentam essas características. Por vezes, conseguem sequer seguir o nível de alguns segmentos educacionais, precisando esforçar mais, fazer cursinhos mais aprofundados, dificuldades perceptíveis a cada ano. Assim, cresce também a importância da qualificação profissional e a formação continuada no diagnóstico e na intervenção durante o processo educativo do aluno com dificuldades habituais.

Para compreender essas questões será realizada uma pesquisa bibliográfica apontando: conceitos da dislexia, a prevenção, o estímulo e o diagnóstico sobre as dificuldades de aprendizagem, convergindo principalmente à dislexia, baseando-se em PAIN, FARRELL, MICHAELIS on-line, FONSECA, Jean Dubois et al., VARELA dentre outros.

Este estudo poderá se pautar no compromisso de esclarecer sobre a dificuldade de ler e escrever ou a dislexia e a relação entre o ensino/aprendizado.  A dislexia parece um entrave na educação, pois prejudica a compreensão da leitura; de entender as palavras escritas à mão ou impressas; de escrever e de soletrar palavras. Mas, há literaturas já disponíveis com exemplos de causas, sintomas, sugestões de investigação e intervenção para surtir efeitos satisfatórios nesse processo de ensino/aprendizagem dos disléxicos.     

1. NOÇÕES SOBRE O CONCEITO

Dislexia é uma palavra que deriva do grego. “Dis” (dus) significa dificuldade e “lexis”, linguagem. Portanto, dislexia é o nome que se dá à dificuldade que algumas crianças apresentam para aprender a ler, escrever ou para compreender o texto que leem (VARELLA, 2012).

É um dos muitos distúrbios da aprendizagem. Distúrbio específico de origem constitucional caracterizado por uma dificuldade na decodificação de palavras simples que, como regra, mostra uma insuficiência no processamento fonológico. A dislexia se manifesta por várias dificuldades em diferentes formas de linguagem frequentemente incluindo, além das dificuldades com leitura, uma dificuldade de escrita e soletração. (ABD, 1994, p. 01).

Mais tarde, em 2003, um grupo de pesquisadores, no Annals of Dyslexia, vem propor outra definição: a Dislexia, dificuldade de aprendizagem de ordem neurológica, pela dificuldade com a fluência correta na leitura e decodificação e soletração. Isso resulta do déficit no componente fonológico da linguagem que é inesperado em relação a outras habilidades cognitivas consideradas na faixa etária. (BAUER, 1997, p.34).

           Caracterizada por omissões, distorções e substituições de palavras e pela leitura lenta ou vacilante, assim é a leitura do disléxico onde a compreensão fica comprometida. Portanto, a Dislexia é considerada como um Transtorno de Aprendizagem relacionada à linguagem, na capacidade de lidar com letras e palavras como símbolos, tendo como causa biológica ou endógena. O dicionário Michaelis on-line ainda define que “dislexia é a desordem que se manifesta pela dificuldade de aprender a ler com fluência, apesar da instrução convencional e de inteligência normal”.

Em virtude dos sintomas aparentes, destacam-se dois tipos de dislexia: a visual ou superficial (deficiência da visão, problemas específicos de leitura, a pessoa tem dificuldade de apreender palavras inteiras, principalmente as irregulares, enquanto formas visuais) e a fonológica (há dificuldade em decodificar palavras que desconhecem recorrente da aproximação visual).

Percebe-se que a dislexia parece ser muito mais que a dificuldade na leitura. Surge agregada a inúmeros problemas onde a escola encoraja e respeita, além de investigar para amparar tanto a criança quanto o professor. Alguns professores primários elaboraram seu material de diagnóstico pedagógico, o chamado diagnóstico “informal”, condução de atividade cotidiana. Porém, é do maior interesse o uso de instrumentos que permitam detectar precocemente qualquer dificuldade de aprendizagem, pois só assim uma intervenção psicopedagógica pode ser considerada socialmente útil, pois quanto mais tarde for identificada a dificuldade, menos hipóteses haverá para solucionar corretamente.  (FONSECA, 1995).

No entanto, muitos problemas não serão empecilhos para professores e pais. O professor, cuja preparação adequada, agrega em seu currículo formação continuada, com estratégias em sala de aula onde será um elemento fundamental para o desenvolvimento desse aluno hiperativo em sua vida escolar e social, que segundo Ciranda da Inclusão, (2011, p.6): não precisa esperar um comportamento perfeito; deve recompensar progressos e trabalhar com a família escolhendo forma de estudos em casa; evitar instruções longas; dar atividades de maior concentração.

Várias são as definições sobre Dislexia: segundo a ABD, como distúrbio específico de origem constitucional, é caracterizado por uma dificuldade na decodificação de palavras simples que, como regra, mostra uma insuficiência no processamento fonológico. Segundo um grupo de pesquisadores no Annals of Dyslexia, é caracterizada pela dificuldade de fluência correta na leitura e na decodificação e soletração. Isso resulta do déficit no componente fonológico da linguagem, inesperado em relação a outras habilidades cognitivas consideradas na faixa etária e ainda de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-IV designa a Dislexia como comprometimento acentuado no desenvolvimento das habilidades de reconhecimento das palavras e da compreensão da leitura. Porém, segundo Jean Dubois et al. (1993, p.197), dislexia é um defeito de aprendizagem da leitura caracterizado por dificuldades na correspondência entre símbolos gráficos, às vezes mal reconhecidos, e fonemas, muitas vezes, mal identificados.  A dislexia não é uma doença, é apenas um bloqueio apresentado por crianças que se encontram no início do processo de alfabetização. Pessoas disléxicas apresentam dificuldades na associação do som à letra (alfabeto) e também tendem a trocar algumas letras ou mesmo escrevê-las na ordem inversa.

Dráuzio Varela entrevistando o médico neurologista da Universidade Federal de São Paulo, especialista em recuperação neuropsicológica Cláudio Guimarães dos Santos, questionou-o sobre o padrão de dificuldades que se manifesta nas crianças. Esse declara que “durante muito tempo, a palavra dislexia foi usada impropriamente para designar os transtornos da aprendizagem em geral (dificuldades de cálculo e de raciocínio). Porém, a dislexia é a dificuldade de leitura e de compreensão do texto escrito” (VARELA, 2012).

Outras definições são demonstradas como ela sendo uma dificuldade na aprendizagem da leitura, na escrita ou no cálculo, este tende a ser associado a problemas de coordenação motora e à atenção, mas não à inteligência. No entanto, em geral, esse termo é aplicado para fazer referência ao transtorno da leitura para se referir aos problemas da escrita (neste caso, o termo técnico apropriado é disgrafia).

A dislexia é uma divergência entre o potencial de aprendizagem e o nível de rendimento de uma pessoa. Alguns especialistas atentam para os detalhes hereditários que predispõem uma pessoa a sofrer de dislexia. Não se sabe até que ponto outros fatores influenciam (causas genéticas, dificuldades durante a gravidez ou parto, lesões cerebrais, problemas emocionais). Há estudos neurológicos destacando diferenças na estrutura cerebral situada no lóbulo parietal do hemisfério cerebral esquerdo das pessoas com dislexia. Porém, há outros considerando origem no hemisfério cerebral direito, onde processa a informação visual e que funciona a uma velocidade inferior ao hemisfério esquerdo (processos da linguagem).

Para Paín (1985) existem causas internas e externas que influenciam situações de aprendizagem. As internas estão relacionadas ao próprio corpo, integridade cognitiva, estruturação e organização de estímulos. Já as externas estão relacionadas com o campo contextual que proporciona esses estímulos. 

1.1. Ler e escrever: estímulo à leitura

O processo básico quanto à decodificação e compreensão de palavras é importante nas primeiras etapas de aprendizagem da leitura de uma criança, e devem ser automatizados ou bem assimilados no ciclo inicial do ensino fundamental (até a quarta série), por causa de um déficit em algum deles atuando como um gargalo, fato que impedirá o desenvolvimento pleno dos processos de compreensão leitora. (PINTO, 2003). Isso pode continuar até a idade adulta. Quanto à leitura, deparamos com 3 (três) tipos de dificuldades: o atraso geral de leitura (baixa inteligência, dificuldade de leitura de palavras isoladas e de compreensão de textos).  A outra é o atraso específico de leitura (dificuldades na leitura de palavras isoladas e na compreensão do texto). A última (refere à dificuldade para entender o texto, embora ela consiga ler textos ou palavras isoladas).

É significativo proporcionar o manuseio de material de leitura diversificado, assim poderá desenvolver o gosto pela leitura e a escrita. Pode-se incentivar a ler  revistas, livros, panfletos etc. Permita o uso de marcadores para seguir a leitura, eles são atrativos. Facilite a leitura através de áudio, recurso esse em que possa escutar a própria voz ou de alguém. Selecione palavras desconhecidas para procurar no dicionário. Procure criar situações fazendo assim uma relação entre vários itens.

São pré-requisitos básicos também o acompanhamento contínuo e periódico do processo e a interação com a equipe escolar encarregada da reabilitação. Aliás, o papel da escola é muito importante na detecção e tratamento dessas lesões. Não se pode esquecer de que frequentemente é a professora quem levanta a questão da dificuldade e encaminha a criança para diagnóstico específico.  Por outro lado, a escola precisa estar aberta para adequar-se e interagir com a equipe que está tratando da criança, no sentido de alterar rotinas, fazer avaliações orais, etc. Contatar com a família. E, no tratamento das crianças com dislexia, é fundamental harmonizar o trinômio: escola, indivíduo e família. (SANTOS, 2011).

2. O PAPEL DA PREVENÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR

Toda capacidade de leitura pode ser otimizada precocemente para que se perdure ao longo da vida das pessoas. Desde sempre, nota-se que toda criança, especificamente as menores, gostam muito de que leiam para ela. Se abrirmos um livro, apontarmos as figuras e mostrarmos que a história está ali, registrada no livro, estará cada vez mais estimulando o desenvolvimento da capacidade de leitura e escrita. É assim que ela começa a interessar-se por livros. Depois, porque estabelece correlações sensoriais como a visão, o olfato, a audição e o tato, entre o que está sendo falado e o que está sendo mostrado. E também, desperta sua curiosidade para decodificar os símbolos que se transformam na história que ouve tanto no ato da leitura quanto no decorrer da vida.

Logo, toda informação entra no cérebro através dos sentidos. A entrada não se refere à condição física dos órgãos. Porém, à maneira como o cérebro processa esse estímulo. A percepção é o termo que se usa para esse processo central de perceber o mundo. Ao ser registrada, a informação deve ser colocada em ordem correta (sequencial): entendida no contexto em que aparece (abstração) e interligada com outras informações pré-existente (organização). Após ser registrada, integrada, a informação deve ser armazenada, de modo a possibilitar sua recuperação em momento posterior. (SILVER apud OLIVEIRA, 2004, p.90)

Contudo, Coll (1995), pontua que há uma série de requisitos para o desenvolvimento ideal da linguagem: de natureza sensorial, motora e neurológica. Para um desenvolvimento harmonioso da linguagem, precisa-se da integridade anatômica e funcional de todos os órgãos que participam de seu processo de produção-recepção. Destacaremos, por sua especial importância, o aparelho respiratório, os órgãos fonadores, o aparelho auditivo, as vias nervosas e as áreas corticais e subcorticais motoras e sensoriais.

Nesse sentido, os professores, em sala de aula, precisam estar atentos para esta realidade, e para as peculiaridades do grupo onde atua. Suspeitando dos sintomas, deve sugerir um encaminhamento clínico para essa(s) criança(s) e depois de diagnosticado, o quadro, é necessário que haja uma dedicação maior, em sala de aula, e ao longo do tratamento, que envolve em partes iguais a escola, a família e profissionais da saúde (especificamente o psicopedagogo).

A primeira tarefa do professor é resgatar a autoconfiança do aluno. Descobrir suas habilidades para que não só o aluno possa acreditar em si mesmo, mas que uma parceria seja firmada a fim de que o educando se destaque em outras áreas.

Evidencia-se ter ações que leve o estudante a ter maior segurança ao desenvolver a avaliação, como: disponibilize tempo para  esclarecer  eventuais dúvidas,  tempo maior para fazer a prova,  ao  recolher  a  avaliação  verifique se  realmente  transmitiu  na  avaliação  escrita  o  que sabia, valorize ao máximo a sua produção, pois frases aparentemente sem   sentido   e   palavras   incompletas   ou   gramaticalmente   erradas   não representam conceitos ou informações erradas.

 Atualmente, a legislação vigente assegura ao estudante com Dislexia avaliação diferenciada de acordo com suas possibilidades.

2.1. O diagnóstico especializado

O psicopedagogo através de seu trabalho não é o de atuar como professor; ou seja, não é de ensinar, e nem de dar aula de reforço, mas sim o de facilitar informações na instituição escolar. Na abordagem preventiva, o psicopedagogo como facilitador da aprendizagem tem um caráter prudente no sentido de criar competências e habilidades para solucionar problemas. Este realiza pesquisa, cria as condições para que se produza a aprendizagem do conteúdo escolar, identifica os obstáculos e os elementos facilitadores, através de uma atitude de investigação e intervenção (NASCIMENTO, 2013). 

E, em virtude do número considerável de crianças com dificuldades de aprendizagem, a intervenção psicopedagógica ganha, atualmente, grande espaço nas instituições de ensino. A Psicopedagogia carrega uma abrangência ampla para estudar e lidar com o processo de aprendizagem e com as adversidades que dele decorrem. Crê-se que, se houvesse mais profissionais atuando nesse expediente, nas escolas, observando essas dificuldades, o número de crianças com problemas seria bem menor (NASCIMENTO, 2013). É importante como o trabalho do psicopedagogo, na instituição escolar, adquire cada vez mais um caráter preventivo no sentido de criar competências e habilidades cooperadoras, podendo muito bem solucionar diversos problemas. E, nessa abordagem preventiva, esse profissional pesquisa (investigando), averigua as condições para que se produza a aprendizagem do conteúdo escolar, destacando os equívocos e os elementos que possam facilitar o que se pode chamar de atitude de constatação e intervenção (NASCIMENTO, 2013).

“A palavra diagnóstico provém de dia (através de) e gnosis (conhecimento). Se nos atermos à origem etimológica e não ao uso comum (que pode significar rotular, definir, etiquetar), pode-se dizer que diagnóstico é ‘um olhar-conhecer através de’, que relacionaremos com um processo, com um transcorrer, com um ir olhando através de alguém envolvido mesmo como observador, através da técnica utilizada e, nesta circunstância, através da família.” (FERNANDEZ, 1991). E, para fazer um diagnóstico adequado, é preciso que se verifique, inicialmente, o histórico familiar desse aluno se existem casos de dislexia ou de dificuldades de aprendizagem. Além disso, observar também se durante o desenvolvimento ocorreu um atraso na aquisição da linguagem, pois os disléxicos, sendo bastante intuitivos, pensam através de imagens e sentimentos, e não com sons e palavras.  O primeiro passo é excluir as possibilidades de outros distúrbios. Há problemas de origem neurológica, sensoriais, emocionais ou mesmo dificuldades de aprendizagem por falta de ensino adequado ou de um meio sóciocultural satisfatório.

Por essa razão, o acompanhamento do psicopedagogo no contexto escolar é indispensável, motivo pelo qual irá concorrer para o bom andamento escolar com algumas principais ações: orientação aos pais, auxílio aos educadores e consequentemente toda à comunidade estudantil, busca de instituições parceiras, elaboração e avanço de projetos (contribuição), acompanhamento e implantação de nova proposta metodológica de ensino bem como a promoção de encontros socializadores entre o corpo docente, discente, coordenadores, corpo administrativo (BOSSA, 1994).

Nascimento (2013) assinala que o psicopedagogo pode atuar em diversas áreas, de maneira preventiva e terapêutica, para fazer compreender os processos em que o homem se desenvolve e, consequentemente aprende, recorrendo a várias estratégias no sentido de se ocupar dos problemas que possam surgir. Com isso, a psicopedagogia favorece cada vez mais uma aprendizagem significativa buscando uma transformação positiva, não só contribuindo para o bom desenvolvimento da criança que está inserida na escola, mas também todos aqueles que fazem parte desse processo (equipe escolar, aluno e família).

E, conhecendo os filhos melhor do que qualquer um, os pais (a família) devem ficar atentos às ações dos seus: frustrações, tensões, baixo desempenho e desenvolvimento. Eles têm, por responsabilidade, dar suporte à criança, no caso estudado, a disléxica, a fim de que ela tenha bons resultados e, a procura de profissionais para realizar um diagnóstico. Pois, quanto antes forem o diagnóstico e a intervenção do profissional, maiores são as oportunidades de sucesso como foi observado no filme “Somos todos diferentes” ou “Como estrelas na Terra”, dirigido por Aamir Khan, 2007: aos nove anos de idade, Ishaan, personagem incompreendido pelos pais, pelos professores da escola e sofrendo, é conduzido a um colégio interno. Nesta escola, ambiente novo, a falta da família, sistema rígido, perde a única coisa em que era realmente bom: a arte de desenhar. Mimado pela mãe e rejeitado pelo pai, mostra-se rebelde, desobediente. Eis que a chegada de Nikumbh à escola, um professor substituto de artes, descobre que o menino sofre de um transtorno grave de dislexia, pois ele também o era. Ao perceber esse problema, procura uma solução para devolver a alegria e autoconfiança à Ishaan.                    

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Evidencia-se que a leitura continua sendo uma das habilidades mais importantes e fundamentais a serem desenvolvidas pelo ser humano. Também é a partir da leitura de mundo que o aluno compreenderá a realidade em que ele está incluso, chegará a importantes conclusões sobre o seu mundo e os aspectos que o formam.

Essa aptidão continua sendo essencial e dá suporte a outras áreas do conhecimento. Por exemplo, quando estudar matemática, a criança terá que realizar a leitura de sinais, de números, bem como a leitura dos enunciados das questões propostas. Já em história, ela se deparará com um universo de palavras que caracterizam época(s), acontecimento(s), sendo capaz de confrontar a época estudada e/ou a realidade atual.

Mesmo estudando o transtorno que dificulta o aprendizado das letras, palavras, sons, observou-se durante a pesquisa bibliográfica realizada que não se deve chamar de dislexia toda e qualquer dificuldade ligada à leitura e/ou a escrita. Pois, um número significativo de pessoas manifestam ainda contratempos durante sua aprendizagem, visto que, aprender a ler, embora seja uma competência complexa, ela acontece gradativamente na prática para a maioria das pessoas.

Claro que, problemas emocionais, inadaptações ou ainda possíveis falhas no processo de aprendizagem levam o sujeito a sofrer danos quanto à aquisição do conhecimento (leitura ou escrita). Mas, a intervenção precoce de um psicopedagogo será um fato importante para recuperação dos leitores, disléxicos ou não.

Nesse sentido, a importância do papel da comunidade escolar e da família ganha relevância no sentido de serem coautores na condução dos disléxicos. Diagnosticar, prevenir, auxiliar, intervir podem ser ações realizadas com a interação de um profissional psicopedagogo. Temporária ou definitivamente, exigirá atenção específica, mais e melhores recursos educacionais serão necessários daqui para frente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS            

ALVES, Castro. Espumas Flutuantes – O livro e a América. In Poesias Completas. São Paulo: Ediouro, 1870

BAUER, James J. Dislexia: Ultrapassando as barreiras do preconceito. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997

BOSSA, Nadia Aparecida. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Rio de Janeiro, Artmed, 2007 (3ª edição)

COLL, C.; PALACIOS, J; MARCHESI, A. Desenvolvimento psicológico e educação: Psicologia Evolutiva. Porto Alegre: Artmed,2004. 

COSTA, Donizeti. Ler faz bem à alma. São Paulo: Butterfly, 2006, p. 85 - Carlos Drummond de Andrade     Apud COSTA, 2006, p.85).

DUBOIS, Jean et al.  Dicionário de linguística. Direção e coordenação geral da tradução de Izidoro Blinstein, SP: Cultrix, 1993, p. 197.

FARRELL, M. Dislexia e outras dificuldades de aprendizagem específicas. Porto Alegre: Artmed, 2008.

FERNANDEZ, Alicia. A Inteligência Aprisionada – Abordagem Psicopedagógica Clínica e Sua Família. Porto Alegre: Artmed, 1991.

FONSECA, Vitor da. Educação especial: Programa de estimulação precoce - uma introdução às ideias de Feuerstein. 2ª Ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995, p. 12

OLIVEIRA, M.A.C. Intervenção psicopedagógica na escola. Curitiba: IESDE, 2004.

PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 1985, 88 p. 

PINTO, Maria Alice Leite (org). Psicopedagogia, diversas faces, múltiplos olhares. Editora Olho d’Água, São Paulo, 2003.

http://drauziovarella.com.br/crianca-2/dislexia/ _entrevista a Claudio Guimarães dos Santos. Acessado em 24 de agosto de 2016

http://www.paixaoliteraria.com/resenha-de-filme-somos-todos-diferentes.html 

Acessado  em 24 de agosto de 2016.