DIFERENTES VISÕES DO MULTICULTURALISMO
Por Lucival Fraga dos Santos | 29/01/2011 | SociedadeDiferentes visões sobre o multiculturalismo
Entre os vários conceitos que focam a cultura e seus elementos na modernidade, destaca-se o Multiculturalismo, o qual tem sido centro de discussão em Conferências Nacionais de diferentes nações. Contudo, tornou-se um tema polêmico, que despertou admiradores, mas também é sinônimo de críticas.
Segundo o filosófo americano Agnes Heller, o multiculturalismo é uma palavra de moda e também um termo altamente politizado. Como tal, é uma posição liberal, de esquerda, ou "progressista", assim qualquer atitude negativa em relação a ele é vista como suspeição e rotulada como conservadora, de direita ou abertamente racista e fascista. Desse modo, como já foi citado a cima, dependendo da interpretação que se faça sobre o multiculturalismo os intelectuais pende para o lado ou contra argumentam.
Para Agnes, recentemente o multiculturalismo, tem sido atacado, especialmente entre anticolonialistas, como uma espécie de biopolítica e ideologia de apoio das chamadas "etnocracias" pós modernas.
Exemplificando a discussão anterior, o pastor Cláudio Moreira relata que o multiculturalismo é uma mistificação violenta de que todas as culturas ao redor do mundo são equivalentes, é uma empolgação sociológica, uma pseudociência, um embuste. Pois, não podemos dizer que a cultura judaica é igual às culturas tribais que extirpam o clitóris de suas mulheres, assim como a cultura ocidental seja moralmente igual às tribos indígenas que matam seus bebês quando nascem com uma deformidade. Creio que, acima da pluralidade cultural, está a vida. É por isso, que sou a favor dos missionários da Jocum que retiram da selva uma criança que seria morta em ritual numa tribo, por ter nascido com uma patologia física.
Entretanto, diz o pastor a sociologia e a antropologia "politicamente corretas", dominadas até o âmago por ideologias regressistas de esquerda, querem que todo o conjunto da sociedade conceda status de igualdade cultural, através de excrescências como alei de cotas, legislação específica para minorias, como o Estatuto da Igualdade Racial, por exemplo. Porém, esses senhores esqueceram-se que a Constituição já assegura em seu artigo quinto, que todos são iguais perante a lei, embora na prática haja uma contradição.
No entanto, o que se reivindica com o Estatuto são privilégios para a etnia negra, a que é a instituição formal da desigualdade. Para justificar o injustificável, especialistas da área costumam dizer que o multiculturalismo opõe-se ao que ele julga ser uma forma de etnocentrismo, mas esta é apenas uma esperteza marxista, pois o que se pretende mesmo com estes protecionismos a minorias, é a depreciação da cultura ocidental, afirma Cláudio.
Voltando as idéias iniciais de Agnes Heller, o multiculturalismo, no seu sentido mais amplo, é a utopia das oportunidades iguais de vida para todas as comunidades, num sentido direto, e ao fim e ao cabo também para todos os indivíduos, num sentido indireto. Neste caso, é uma utopia incompleta, a não ser que a liberdade como valor supremo também seja incorporado a essa mesma utopia.
É importante salientar, que ao contrário do pastor Cláudio que só vê o multiculturalismo como algo negativo, o filosófo Agnes aponta-o como protetor e ofensivo, respectivamente. O primeiro defende cada cultura contra a discriminação, seja pelo Estado, pela sociedade. Ele também protege o direito de todos os grupos à auto-articulação e o direito de reunião em público. Além disso, defende de muitas maneiras as culturas contra pressões assimilatórias, como, por exemplo, ao enfatizar que a multiplicidade de culturas torna um país mais colorido, adiciona algo à sua beleza e torna-o um lugar mais interessante para se viver.
No segundo caso, o multiculturalismo ofensivo é autocontraditório, pois exige a secessão ou um tipo de federalismo que garanta pureza étnica, porque nesse caso o objetivo consciente não é multiculturalista, mas monoculturalista.
Na opinião dos multiculturalista protetores a identificação de alguém a sua cultura nativa é uma opção aberta e respeitável tanto quanto a opção de não-identificação. O pluralismo e o "integracionismo" podem, assim, andar de mãos dadas. O ofensivo não concede essa liberdade, ele é antiliberal. Assim todas as culturas são iguais por definição.
De modo geral, Agnes afirma que multiculturalismo defensivo almeja conquistar e estabilizar como uma atitude geral entre os membros de culturas diferentes e que eles possam simultaneamente manter e cultivar suas raízes, práticas religiosas, padrões de vida familiar e de amizade, culinária, gestos e modos de vê e viver em seu mundo, e que isso não deva ser visto como algo estranho em sua diferença, mas como interessante, atraente e rico.
Por outro lado, o multiculturalismo ofensivo abre todos os caminhos para a perpetuação de guerra étnica e para o desaparecimento da multiplicidade cultural, que supostamente deveria proteger.
Com base nos pontos de vistas aqui discutidos e apresentados pelo pastor Cláudio e o filosófo Agnes, que de ante mão são relevantes cheguei a conclusão que o multiculturalismo assim como qualquer outra corrente de pensamento apresenta pontos positivos e negativos a depender do contexto em que está inserido e da pessoa que o interpreta.
Acredito que o multiculturalismo, pode sim ser uma solução para o respeito a diversidade étnica e cultural, desde que seja respeitada a individualidade de cada povo, cultura e religião, pois os conceitos de "certo e errado", "verdade e mentira" varia de acordo a visão de mundo, aos hábitos e práticas de cada grupo cultural.
Portanto o que se defende no multiculturalismo é a possibilidade de integração e enriquecimento entre as diversas culturas e povos, não a desconstrução e implantação ou imposição de uma única cultura, pois isso seria contraditório, uma forma mascarada de manter o preconceito, como disse Cláudio seria uma "ideologia regressista etnocratica".