DIFERENCIAÇÃO ENTRE FRACASSO ESCOLAR E DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM Maria Terezinha Rosa Apendino Eloana Conceição Cucolo Da Matta Emanuelle Evellinn dos Passos Aniceto

Por Maria Terezinha Rosa Apendino | 29/09/2014 | Educação

DIFERENCIAÇÃO ENTRE FRACASSO ESCOLAR E DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM Maria Terezinha Rosa Apendino Eloana Conceição Cucolo Da Matta Emanuelle Evellinn dos Passos Aniceto RESUMO Este artigo tem como objetivo a reflexão sobre o papel do professor diante do fracasso escolar abordando a diferenciação entre o fracasso escolar e a dificuldade de aprendizado, analisaremos o papel do professor, na dificuldade de ensinamento, buscando explicar como esse processo é desencadeado, e enfocaremos o compromisso do professor diante das diferenças individuais dos alunos, instigando o leitor a pensar sobre alguns fatores na não aprendizagem e na sua pratica pedagógica em sala de aula. 1- INTRODUÇÃO Ao falarmos sobre o fracasso escolar, é importante que o diferenciemos das dificuldades de aprendizagem, portanto, a autora Polity afirma que o fracasso escolar “esta relacionado ao sistema educativo, revelando as inadequações das instituições escolares que são, em ultima instância, representadas pelos professores, coordenadores, diretores, entre outros profissionais” (Polity, 2003, p. 27) As dificuldades de aprendizagem, por sua vez, dizem respeito ao sujeito aprendente e, quando bem conduzidas, não impedem o avanço do sujeito em seus estudos. Mas quando falamos em fracasso escolar, logo pensamos que o problema esta na estrutura intelectual do aluno ou relacionado à pobreza das interações do sujeito com o ambiente, assim como nas suas relações interpessoais. A idéia de que o fracasso escolar, esta associada a estrutura intelectual do aluno encontra sustentação, segundo Polity: “o conhecimento esta pré formado no sujeito e que, portanto durante seu desenvolvimento ele terá apenas de aprimorá-lo. (Polity, 2002, p.28) Mediante essa visão, atribuímos a não aprendizagem dos alunos à imaturidade ou ao fato de não estarem prontos para aprender. Ao colocarmos a ênfase do fracasso escolar nas dificuldades de interação com o ambiente, ou nas suas relações interpersoais, estamos nos apoiando na crença de que o conhecimento é transmitido de alguém que sabe para alguém que não sabe, assim como, estamos supervalorizando o meio em relação ao sujeito que aprende. Mas será que esse fracasso só deve ser atribuído ao sujeito que aprende? E quem ensina? Quais as dificuldades em ensinar? Polity relaciona o processo de ensinamento como de interação, basicamente relacional, valoriza as trocas emocionais que permeiam o ato de ensinar. “A ensinagem pressupõem que o ensino seja um processo dialógico, baseado na emoção e na razão como aspectos complementares e interdependentes. A relação professor aluno, assim como as percepções que o professor tem da sua própria pratica, como ele a pensa e a sente.” ( Polity, 2003, p. 29) Assim acreditamos que o conhecimento nos é viabilizado pelo outro, construído pela relação com os nossos interlocutores ficando na dependência de que possamos dar-lhe significado, por meio da reflexão, agregando valor às novas experiências, ou seja, o processo de ensino não conduz ao acúmulo de novos conhecimentos, mas possibilita a integração, a modificação, favorece as relações e a coordenação entre esquemas de conhecimento já reconhecidos. Constatamos assim, a complexidade do papel do professor que, alem de ter conhecimento intelectual, precisa de condições externas, ou seja, materiais favoráveis para a prática educativa, alem disso deve cuidar de sua formação pessoal, especialmente dos aspectos emocionais, a fim de melhor compreender as rupturas no processo de ensino, podendo reconduzir a sua ação pedagógica. DIFERENCIAÇÃO ENTRE FRACASSO ESCOLAR E DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM A dificuldade de ensinar não acontece somente pela ação de um professor desprovido de conhecimento teórico ou da falta de estímulos do meio, ela também sofre uma forte influencia dos aspectos emocionais que permeiam a relação ensinante e aprendente, aspectos esses que nem sempre são detectados pelos professores, devido a falta de preparo pessoal e não devido a competência técnica, como muitas vezes se acredita. Sabemos que o aluno constrói o seu conhecimento na interação com o meio no qual se encontra inserido, logo, sofre a influencia destes nas diferentes situações vivenciadas. É a partir dessas experiências que o sujeito vai passando os diferentes estágios do desenvolvimento e, gradativamente, vai estabelecendo relações cada vez mais complexas e abstratas com a aprendizagem. As características do desenvolvimento humano faz com que a percepção ou entendimento que os alunos apresentam perante uma e outras áreas do conhecimento varie de acordo com a experiências previas de cada um. Diante disso Hoffmann descreve que: “Poderá a escola entender como possível a formação de turmas homogêneas? Poderemos conceber um grupo de alunos como “iguais” em sua maneira de compreender o mundo? Poderão os professores encontrar critérios precisos e uniformes para avaliar o desempenho de muitas crianças? Corrigir tarefas por gabaritos únicos?”( Hoffmann, 1993, p.52) Ao refletirmos sobre essas questões, devemos levar em consideração o fato de que uma sala de aula é composta por alunos vindos de diferentes classes sociais, logo, com experiências de vida distintas, então, como padronizá-las durante o processo de ensino aprendizagem? Assim, não podemos esperar que todas tenham as mesmas atitudes ou compreensão dos diferentes materiais de leitura. Segundo Piaget e Szeminska: “o desenvolvimento do sujeito se da através de estágios evolutivos do pensamento, a partir de sua maturação e suas vivências, nos quais os novos comportamentos cujo aparecimento define cada fase apresentam-se sempre como um desenvolvimento das fases precedentes.” O desenvolvimento esta relacionado ao meio social, que pode acelerar ou retardar esse desenvolvimento, assim para que os alunos avancem na aprendizagem é fundamental que os objetivos de ensino estejam coerentes com eles, considerando os diferentes estágios evolutivos do pensamento. O aluno esta em permanente processo de aprendizagem, e se isso não acontece, cabe ao educador investigar, avaliar a natureza dos desencontros dos alunos com a aprendizagem, é preciso que tenha sensibilidade para ir alem dos aspectos formais da aprendizagem e leve em consideração os aspectos afetivos ou emocionais do aluno. Dessa forma, o professor será capaz de reconduzir o processo de ensino, assim como de perceber a necessidade de caminhar o aluno com dificuldade de aprendizagem para atendimento especializado, seja na área de psicologia, psicopedagogia ou qualquer outra. A partir do momento em que constata a dificuldade que esta impedindo o aluno de aprender, o professor deve planejar diferentes maneiras de ensinar o assunto que esta sendo trabalhado. Alem de buscar novas estratégias de ensino, cabe ao professor abrir espaço para o dialogo, garantindo aos alunos o direito de perguntar o que não entenderam, quantas vezes quiserem, sem medo de serem rotulados, ameaçados ou castigados. O educador deve transmitir segurança para os alunos, e este devem acreditar que o educador gosta de ensinar e o fazem com amor. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao entendermos a aprendizagem como a sucessão de aquisição constante e dependente de oportunidade que o meio oferece, também devemos ter em mente que cabe ao professor assumir o compromisso perante as diferenças individuais dos alunos. Salientando que a compreensão do aluno sobre um ou outro tema não depende exclusivamente da explicação clara do professor, também esta relacionada as suas vivências, anteriores. Temos que levar em consideração os aspectos subjetivos do professor e dos alunos, especialmente os aspectos emocionais, os quais se manifestam nas interações estabelecidas no interior do processo de ensino. Constatamos que ao respeitar as características individuais dos alunos, o professor esta prevenindo o aparecimento de problemas de aprendizagem. Acrescentamos ainda que independentemente de um aluno apresentar dificuldades na aprendizagem, cada sujeito é único e desenvolve-se dentro de seu próprio ritmo, a partir da bagagem de conhecimentos que construiu e das experiências vivenciadas nas diversas relações com o meio no qual se encontra inserido. O processo de ensino deve dialogar com o de aprendizagem e, nesse dialogo entre professor e aprendiz, cabe ao docente organizar situações de aprendizagem que possibilitem ao conhecimento do aluno avançar, cabe ao professor planejar propostas de atividades dirigidas com a intenção de favorecer a ação do aprendiz sobre um determinado objeto de conhecimento, uma vez que essa ação esta na origem de toda e qualquer aprendizagem. As dificuldades precisam ser detectadas rapidamente e levadas em consideração durante o processo de ensino, para que os alunos sejam apoiados e continuem progredindo, evitando a formação de bloqueios. BIBLIOGRAFIA POLITY, E. Dificuldade de ensinagem: que história é essa? São Paulo: Vetor, 2003 HOFFMANN, J. M. L. Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-escola à universidade. Porto Alegre: Educação & Realidade, 1993. PIAGET, J; SZEMINSKA, A. A gênese do número na criança. Rio de Janeiro:J. Zahar, 1975.