Dicas para entrevistados e entrevistadores

Por Edson Terto da Silva | 26/11/2010 | Crescimento

*Edson Silva

Há um ditado antigo (que considero ultrapassado e conformista) que diz que viver se resumiria em plantar uma árvore, ter ao menos um filho e escrever um livro. No início da adolescência plantei algumas árvores, incentivado por professores do então Ginasial, que ia da 5ª até a 8ª série. Da adolescência para a idade adulta, ajudei criar meus dois filhos, hoje adultos. Mas quanto a escrever um livro propriamente dito, editá-lo ainda não o fiz, embora em meus mais de 25 anos de jornalismo já ter escrito milhares e milhares de textos, entre reportagens, artigos, entrevistas, alguns contos e ensaios, quase tudo publicado em jornais, revistas ou sites. Não que eu tenha decidido agora ter pretensão de escrever um livro, virar guru ou ser exemplo para ninguém.

Aliás, acho sim que a maior lição da vida é aprender sempre o que se quer aprender e, caso ache certo, se recusar a aprender aquilo que não queremos ou que achamos não ter vocação. Tantos me criticam por não saber muitas coisas, eu mesmo me critico às vezes, mas me concentro em outras coisas que faço e quase esqueço que não falo ou escrevo em Inglês, Espanhol, Japonês ou Tupi-Guarani, nossa língua mãe; não dirijo, não ando de bicicleta, não sei nadar, não sei voar (ah, isso sozinho, só pássaros, alguns insetos e outros raros animais), não sei tocar nenhum instrumento musical, não sei cantar, embora goste muito de música, quase nada guardei dos textos que escrevi ou das fotos de pessoas famosas que entrevistei para tantas rádios e jornais. Enfim, tanto sei que quase nada sei que por pouco não desisto da pretensão de ensinar algo que penso possa ser útil.

Nas linhas que seguem gostaria de dar alguma contribuição para jornalistas novos ou antigos, radialistas, blogueiros, apresentadores de TV, entrevistadores, entrevistados ou futuros entrevistados em geral, sobre como fazer, ou pelo menos tentar fazer, uma entrevista interessante como um bate-papo para ser ouvido, visto ou lido, dependendo do meio em que será veiculado: TV, rádio, site, revista ou jornal. Utilizarei método parecido com passo a passo, mas só para facilitar as coisas e não por me supor melhor do que ninguém a ponto de ter alguma verdade a declarar, já que a intenção, e das boas, é no mínimo ajudar. Não sei se concordam, mas uma boa entrevista tanto pode depender da qualidade das respostas do entrevistado quanto da qualidade das perguntas do entrevistador e para isso é preciso observar alguns critérios, pois todas as pessoas, famosas ou não trazem histórias que, se bem exploradas, podem ser render belas entrevistas.

Dicas para quem será entrevistado pela primeira vez

Elabore, de maneira sucinta e envie para o entrevistador, um breve histórico, no qual não faltem seu nome, apelido se tiver, idade (se não quiser esconder), profissão, assunto principal que será abordado, temas de interesse, peculiaridades de sua vida e que as pretende ter exploradas na entrevista, citação de pessoas conhecidas com as quais teve alguma história que pode ser explorada na entrevista. Se você for alguém já famoso, obviamente evitar (se for o caso) citar fatos desagradáveis e que não possam ser checados quanto à veracidade, enfim fazer uma sinopse capaz de proporcionar ao entrevistador a exploração necessária para uma boa entrevista.

Em muitas situações, principalmente com famosos, quase sempre a boa entrevista depende mais das respostas do entrevistado do que das perguntas do entrevistador. Neste sentido, todo mundo, desde a mais famosa personalidade do mundo até aquela pessoa mais anônima, a que se achava um nada na vida, que estava a margem da margem da margem da sociedade pode render boas histórias e consequentemente boas entrevistas.

Dicas para quem já é acostumado a dar entrevista

Um erro que pode ocorrer é acreditar que o entrevistado ou a equipe dele sabe tudo a respeito de nossa "ilustre" vida, que é um livro aberto, sucesso local, nacional e internacional. Sempre convém enviar um resumo da carreira, destacando pontos que mais agrade, não para impor, mas para que fiquem como "ganchos" a serem explorados pelo entrevistador. Se você é um cantor famosíssimo e que todos lembram daquela música, mas que remete aos anos 50, e sua intenção é falar do novo trabalho, é preciso que deixe isso claro logo de início na sinopse. Se achar conveniente, destaque algumas curiosidades ou particularidades que poderão ser ou não exploradas pelo entrevistador.

Óbvio que, embora nosso país não tendo de uma população leitora assídua, você sendo famoso facilitará o trabalho de pesquisa do entrevistador ou da equipe que hoje tem a facilidade da internet, por isso esteja preparado para assuntos inusitados, que possam estar na internet e estão relacionados a você ou pelo menos são atribuídos a você, mexendo com sua vida de maneira positiva ou negativa.

Uma entrevista pode ser boa chance para esclarecer algum ponto, jogar mais lenha numa fogueira ou para tentar dar um basta numa polêmica. Já imaginou numa confraternização com as presenças de Lula e Dilma, a presidente eleita tentar fazer umas embaixadinhas para mostrar que é craque em futebol e literalmente pisa na bola? A situação pode passar para constrangedora se numa entrevista, mesmo de brincadeira, o Lula dissesse: "Dilma pisou na bola" O fato pode sim ser explorado de forma hilária por muitos, mas certamente renderá algumas manchetes dúbias e até provar que focinho de porco não é tomada, ainda mais com estes modelos novos de três buracos, já viu, né...

Então, entrevistado famoso ou não, ao dar uma declaração seja sempre conciso e preciso, sabendo exatamente a dimensão que a fala pode chegar, este é o melhor jeito para depois não ter que se explicar milhares de vezes, com um "não é isso que eu quis dizer" ou com o famoso "nada a declarar".


Dicas para quem vai fazer a entrevista

Se você recebeu a sinopse enviada pelo entrevistado é um primeiro passo, então você ou sua equipe poderá efetuar pesquisa, buscar pontos curiosos sobre ele, enfim tudo que possa conduzir a um bom bate papo. Também é legal evitar algumas coisas óbvias, como perguntar a um jogador de futebol qual foi o melhor jogador do mundo, pois 9 em cada 10, isto se este um for argentino, dirá que com certeza foi Pelé. Se a pergunta couber pode ser feita sim, mas pode render mais numa entrevista com um jogador você perguntar sobre seus ídolos na música, se o cara canta ou toca alguma, se tem alguma mania ou jeito que provoca espanto, admiração ou mesmo desagrada os colegas de profissão; se for um goleiro, se dar tempo de pensar no que quando faz uma defesa milagrosa ou se leva um frango.

Para um fotógrafo do tipo JR Duran, que diz que se especializou em gente, mas é mais conhecido por fotografar mulheres maravilhosas nuas, não seria curioso perguntar se teve alguma modelo que criou, digamos, uma expectativa diferente antes da sessão? Ela não era tudo aquilo que se imagina ou alguma que não aparentava ser tão bela e surpreendeu? Teve algum momento que o trabalho, digamos, brochou? Explico, a mulher refugou e não quis mais fotografar? Como a situação foi contornada? É mais fácil, do ponto de vista profissional, fotografar celebridade, anônimas ou estrelas em ascensão? E homem nu? Ele fotografou ou fotografaria para uma revista especializada? Já foi cantado por alguma das fotografadas? Foi alguém que surpreendeu, que ele não esperava? Enfim, daria para fazer tantas perguntas quanto nas provas do Enem e com direito a refazer e isso se aplica a qualquer entrevistado.

Imaginem uma entrevista com o cantor Roberto Carlos, que de tantas entrevistas deve achar que ninguém tem mais nada novo a perguntar para ele? Nada impede ao entrevistador perguntar se tem algum assunto que jamais foi tratado em entrevista, se tem porquê? E então ele estará sendo tratando a partir daquele momento. Tem alguém de infância que ele lembra e nunca mais viu, alguém que fez alguma coisa marcante positiva ou negativamente, enfim algo que faça aproximar o grande ídolo da música ao cidadão comum, que trabalha, dorme, vai ao banheiro, escova o dente, escolhe as ruas que veste como qualquer mortal.

Aqui vai uma dica a repórteres, principalmente os que têm independência em relação ao órgão para qual trabalham. É preciso atenção sempre e perguntar pode até ofender em alguns casos, mas é preciso. Dias desses, um promotor de Justiça falava sobre o júri do assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel e disse que havia esquema de recolha de verba para um partido. Ninguém perguntou, e ele estava cercado por jornalistas, quais provas ele tinha sobre o fato? Se o promotor tivesse prova seria matéria, se não tivesse prova também seria motivo de reportagem.

E um dia em entrevistas de TV, com um jornalista experiente falando com generais da linha dura da Ditadura Militar? Não caberia uma pergunta tal como, "o que senhor está achando do governo Lula?" Certa vez, um secretário de segurança de SP deixou escapar,nas entrelinhas, que havia polícia "cortês" para áreas nobres e de "guerra" para periferias e o entrevistador, um dos mais famosos do país, nem questionou isso. Ah, para os entrevistadores de TV também daria a dica para colocar, mesmo que alternadamente, gerador de caracteres com nome e o que faz o entrevistado, mesmo que seja o mais famoso do mundo, pois não há, pelo menos ser humano, em todo o mundo que conheça todas as pessoas.

Finalizando esta dica, um entrevistador pode obter histórias deliciosas ao entrevistar (quem sabe?) um jogador ou músico não tão famoso e o mesmo citar, por exemplo, que jogou com ou contra Pelé, foi parceiro de início de carreira de algum cantor agora famoso. Dá para obter informações sobre situações não exploradas, um elogio recebido, uma jogada de efeito sobre o craque, uma atitude esportiva durante uma falta no jogo. E se tiver oportunidade de entrevistar o famoso citado é possível perguntar sobre tais fatos. Numa entrevista com o Pelé, por exemplo, será que ele teve amigo de infância que não jogavam nada, eram pernas-pau mesmo? Havia algum que ele considerava até melhor que ele? Algum desistiu de jogar futebol por saberem de seus limites e que jamais jogariam com aquela magia?


Dicas para quem vai ilustrar a entrevista

O entrevistador deve estar atento ao que diz o entrevistado não apenas por educação e respeito, mas também porque pode render boa ilustração para o trabalho, uma foto ou imagens. Se o cara citar que jogou com Pelé ou cantou com o Roberto e tiver registrado em foto antiga não podemos esquecer de perguntar, mesmo se for depois em "off", se ele tem algum registro. Recentemente, numa longa entrevista do Dr. Drauzio Varella, por exemplo, disse ter o hábito de correr na cidade em que estiver e quando está em São Paulo vai aos domingos ao viaduto Minhocão, que é fechado ao trânsito, para correr. Acredito que esta era uma das fotos que deveria ilustrar o texto, embora a matéria estivesse ricamente ilustrada com o médico trabalhando na Amazônia, no Carandiru, etc.


Dicas para quem vai ouvir, ver ou ler a entrevista

Ouça, veja ou leia com o máximo de atenção possível, pois isto é importante na hora que você vai comentar aquele assunto com outras pessoas, pois sempre há risco de se deturpar o assunto, a pessoa verificar em outras fontes e causar algum constrangimento. Crie o hábito também de pensar o que perguntaria para aquele entrevistado e não foi perguntado e a partir de então, se tiver condição, entre em contato, por email é mais fácil, e fale de suas dúvidas. Nem sempre será possível você ter as respostas, mas pelo menos você está exercendo seu papel de cidadão participativo e certamente estará contribuindo para que outras entrevistas com aquele convidado ou com outros sejam melhoradas. Não custa nada tentar e assim comece também a participar de colunas destinadas aos leitores de jornais e revistas, procure ler mais e mais sobre variados assuntos, enfim informe-se, forme-se e ajude a formar.


Dicas sobre o autor deste texto sem pretensão

Edson Terto da Silva, nasceu em Campinas (SP), em 1962, formou-se jornalista em 1986 pela Puc de Campinas, iniciou a carreira em rádio, em 1984, reduzindo o nome para Edson Silva. Sempre como repórter ou locutor noticiarista, trabalhou nas rádios Central AM, Andorinhas FM(Antena 1 FM), Princesa do Oeste AM, Nova FM e Cultura AM, todas de Campinas. Foi repórter por dez anos no jornal Correio Popular de Campinas, periódico onde foi o primeiro jornalista a receber, em 1988, notícia sobre a morte do seringueiro Chico Mendes. Foi editor dos jornais Tribuna Liberal de Sumaré e O Editorial de Campinas. Foi assessor de imprensa na Prefeitura de Artur Nogueira e atualmente é assessor de imprensa na Prefeitura de Sumaré, Região Metropolitana de Campinas.

Entre as personalidades já entrevistadas para rádios ou jornais durante a carreira do jornalista estão: o então sindicalista Lula; o então senador FHC; o então deputado Ulisses Guimarães; o então presidente José Sarney; o então piloto Ayrton Senna; os cantores Milton Nascimento, Ivan Lins, Nara Leão, Ney Matogrosso, Diana Pequeno, Belchior e Alceu Valença; os atores Lima Duarte, Armando Bogus, Fernanda Montenegro, Edson Celulari, Raul Cortez, Eva Wilma, Ítalo Rossi e Eriberto Leão; os humoristas José Vasconcellos, Carlos Leite e Ari Toledo; o médico Euriclides Zerbini, entre outros.

Edson Silva, 48 anos, jornalista, nasceu em Campinas e trabalha como assessor de imprensa em Sumaré.

edsonsilvajornalista@yahoo.com.br