Dibs Embusca de Si Mesmo
Por Lindací Alves de Souza Scagnolato | 17/04/2009 | PsicologiaA autora Virginia Axline, é autoridade e internacionalmente conhecida na técnica de Ludoterapia em tratamento de crianças com distúrbios emocionais.
Ela estudou na Universidade Estadual de Ohio e na Columbia University. Ensinou durante 6 anos na Faculdade de Educação e de Medicina da Universidade de Nova York. Trabalhou em pesquisas no Departamento de Psicologia da Universidade de Chicago.
Atualmente a Drª Axline está engajada na sua clínica particular em Ohio, onde continua a comunicar sua sabedoria e habilidade profissional através de conferências, consultas e obras escritas.
Além disso, ensina na Universidade Estadual de Ohio.
Nesta obra a autora relata com certeza uma situação vivida na qual pôde fazer e relatar suas experiências; no assunto tratado sobre a importância da "Ludoterapia".
A experiência começa dentro de uma escola onde lá estuda há quase dois anos um garoto sob o nome de "Dibs", que aparentemente era tachado por todos como um retardado mental, ou até mesmo autista. Suas atitudes eram inconstantes, não falava de modo algum, a princípio. Algumas vezes sentava-se, mudo e imóvel, durante toda manhã, seu período na escola; apenas engatinhava ao redor da sala, absorto em si mesmo e desligado das outras crianças e da professora.
Outras vezes tinha violentos acessos de raiva. Os professores, o psicólogo e o pediatra da escola estavam dolorosamente confusos com ele. Ninguém o compreendia, pois já haviam tentado de toda maneira penetrar em seu mundo e descobrir o porquê de suas atitudes muitas vezes absurdas. Mas ninguém sabia o que se passava pela cabecinha daquela pobre criança. Dibs tinha uma família que todos podem chamar de "perfeita", seus pais possuíam dinheiro para qualquer coisa que ele viesse precisar e mesmo assim agia de modo diferente. Foi então que nossa estimada autora foi convidada a participar de uma conferência dedicada aos problemas de Dibs. Pois no exaustivo trabalho em ajudar o garoto estavam todos esgotados e já pensavam em manda-lo embora da escola; escola esta paga por sua mãe e ajudada por sua tia.
Então decidiu Drª Virginia que veria Dibs para uma série de sessões de Ludoterapia, se seus pais concordassem e assim ela se manteria disponível para atender Dibs; aonde iria até a escola para observá-lo no grupo e tentaria vê-lo sozinho por algum tempo. E assim com consentimento dos pais de Dibs a Drª Virginia começou o trabalho chamado de Ludoterapia. E foi através da sala e dos brinquedos lá existentes que Dibs foi se revelando; não gostava de portas trancadas e muitas menos de janela trancadas, ele quando se colocava a brincar com as tintas ou com brinquedos de montar se mostrava uma criança organizada, ponderada, mas ao mesmo deixava fluir rancor e raiva diante de suas atitudes para a Drª Virginia.
Tudo o que a Drª Virginia realizou com Dibs foi participado em primeira mão para a sua mãe, que concordou com tudo o que fosse possível para mudar a vida de seu filho, pois ela também reconhecia e vivia as dificuldades da convivência com Dibs, seu próprio filho, uma criança bonita de apenas 6 anos de idade e que estava sofrendo daquela maneira.
O relato da mãe de Dibs a Drª a fez compreender metade dos problemas dele; seu pai um cientista renomado, sua mãe uma profissional também conceituada; relatou a Drª Virginia que quando se casou não pretendia ter filhos cedo e se dependesse de seu marido não o teria nunca e de repente eis que surge a notícia de uma possível gravidez, que na realidade seria a vinda de Dibs, isso provocou uma grande revolução no casal que acabou por detonar a pequenina vida de seu filho. Depois de um tempo Dibs até ganhou uma irmãzinha para ver se seu problema amenizava e que por fim só piorou, e assim todas as atenções se voltaram para pequena e mimada Doroty.
Dibs não conseguia ter autonomia nem para tirar o próprio casaco, sapatos, mas com o passar do tempo foi se desvencilhando das velhas amarras que o prendiam dentro de si mesmo.
E foi assim através de várias sessões de ludoterapia, com muita astúcia e perspicácia que a Drª Virginia foi conseguindo através dos brinquedos que Dibs pôde extravasar tudo o que sentia e realmente se auto-conhecer, foi se soltando aos poucos, se revelando. Também por fim sua mãe conseguiu colocar todo seu medo suas angústias e expectativas frustradas diante do nascimento de seu filhinho Dibs relatadas a Drª e que com isso ajudou e bastante Dibs em busca de si mesmo . Foram sessões fortes emocionalmente, pois lá Dibs podia falar e agir com a maneira própria dele e não imposta pelos outros, podia pensar, argumentar sem ninguém o prender em algum quarto o taxando de idiota, pois todas as suas atitudes eram recriminadas pelo pai.
É emocionante quando Dibs pode falar livremente, pensar e mostrar realmente todas as suas potencialidades e livrar-se de seus medos e angústias. Pois ao contrário de retardado mental, Dibs era um menino altamente inteligente. Dibs só queria viver, ter seu espaço, ser feliz, ser normal, descobrir quem era ele mesmo. Dibs então mudou, aprendeu a acreditar em si mesmo , a libertar-se. Estava tranqüilo e feliz. Era então capaz de ser criança.
E tudo isso aconteceu no final das sessões de ludoterapia com ajuda da Drª Virginia, a qual Dibs chamava carinhosamente de D.A.; com ela Dibs conseguiu conquistar a sua identidade humana digna de uma missão e lugar neste mundo e sua história tornou-se a história de cada pessoa a procura do seu autêntico caminho. Através de sua experiência na sala de ludoterapia, em seu lar, na escola, sua personalidade desenvolveu-se e enriqueceu, de diferentes maneiras, a vida dos outros que tiveram o privilégio de conhecê-lo. Ah! Hoje Dibs é um rapaz brilhante, cheio de idéias, responsável por si e preocupado com todos os seres humanos. Um verdadeiro líder. Age de acordo com suas convicções enfim ele realmente pode viver!
Nessa obra é tratado um tema muito forte, os clichês, tabus de crianças com problemas emocionais e que são muitas vezes taxadas de retardadas e também da nova técnica chamada de ludoterapia a qual vem dando muito certo nesses casos. Esse tema foi abordado pela autora de maneira simples e muito objetiva, que conclui no final da obra da seguinte maneira: "uma criança, quando possibilitada a oportunidade, pode vivenciar a alegria de uma comunicação honesta e sem hipocrisias. Uma mãe, quando respeitada e aceita com dignidade, sabendo que não será criticada ou censurada, pode expressar-se com autenticidade sincera."
Para chegar no resultado final a autora pôde se utilizar da técnica " Ludoterapia" – terapia através dos mais variados brinquedos e que é muito usada em variadas situações vivenciadas por psicólogos.
Com tudo isso a autora nos faz refletir em sua grande contribuição que ela dá com sua obra; principalmente aos pais em suas atitudes diante de seus filhos, aos educadores, aos psicólogos em seus julgamentos que muitas vezes forçam situações querendo que ocorra "milagres" da noite para o dia.
A obra é maravilhosa, muito original, emocionante lermos e analisarmos uma história verdadeira e que nos traz tantos benefícios para podermos entender e analisar e respeitar de maneira correta, sincera e com muita atenção e carinho os problemas emocionais trazidos por uma pessoa, principalmente se essa for uma criança indefesa que está apenas construindo seu mundo, suas idéias e sua felicidade.
Essa obra é destinada principalmente a profissionais no ramo da psicologia, estudantes e também professores que possuam alunos "Dibs" e que não encontrem respostas para seus problemas; pais que querem entender-se para poder realmente entender e compreender seus filhos; para todos serve lembrar que nunca podemos taxar ninguém sem realmente conhecermos a verdadeira história que cada um traz dentro de si.
Afirmar que a criança foi rejeitada ou não aceita, nada significa em termos de entendimento interior. Muito freqüentemente, esses termos funcionam apenas como rótulos presos com a operacionalidade de álibis para desculpar nossa ignorância. Devemos cortar clichês, interpretações rápidas e explicações. Analisando ao pé da letra; se quisermos aproximar-nos da verdade, cabe-nos olhar profundamente cada ser humano para compreender as razões do seu comportamento humano. Temos a obrigação que toda vez que nos depararmos com situações semelhantes, procurarmos a ajuda certa e no momento certo. Nunca abandonar a causa, esmorecer jamais diante de uma situação perturbadora e sim compreendê-la da melhor maneira possível.
Devemos levar em conta tudo o que a criança faz, traz, e espera sem rótulos, pressas, analisando a situação em sua íntegra. Jamais ter "pena" e sim amor, dedicação e competência no que se faz para que realmente se possa efetivar a ajuda.
Com a leitura dessa obra é possível analisar que a psicologia do crescimento humano, o sucesso na escola, ou a aquisição de complexas habilidades podem ser conquistadas pela mera repetição generalizada ou pelo reforço de simples modelos de resposta e que um tratamento verdadeiramente profundo e efetivo da criança com distúrbios tende a ajudar, de maneira real, a higiene mental dos pais da criança.Esta é o reverso da informação tão difundida de que o tratamento clínico bem sucedido dos pais representa, freqüentemente, a melhor forma de terapia da criança com problemas emocionais.
Seria interessante que todos nós, incluindo pais, educadores, pudessem estar analisando e entendendo a importância da leitura dessa obra, pois muitas vezes, nós também, nos fechamos em "nossos mundinhos" sem sequer parar para entender e ajudar o outro. Que possamos fazer como "Dibs", sair desse "mundinho" fechado para que realmente possamos descobrir a felicidade dentro de nós mesmos e a nossa importância como seres humanos ativos e capazes de sentir, amar, fazer algo e principalmente "ser feliz" no mundo em que vivemos.
Se não pudermos mudar essa situação, já que estamos presos também em nosso "mundinho", teremos ao nosso redor pessoas tristes, frustradas e incapazes até de viver!