Diálogo com Rubem Alves

Por Maria de Fátima Silva Santos | 03/01/2012 | Educação

ESTADO DE MATO GROSSO

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO

ESCOLA ESTADUAL NOSSA SENHORA DE LOURDES

ENCONTRO PEDAGÓGICO DE SALA DO EDUCADOR

FORMAÇÃO CONTINUADA

ANÁLISE DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

 

 

  Maria de Fátima da Silva Santos

                         ( Coordenadora Pedagógica)

 

 

Diálogo com o livro Alegria de Ensinar  de Rubem Alves.

               

Introdução

            A globalização impõe o desenvolvimento de habilidades que possibilitem uma melhor adaptação às novas  culturas  e aos novos padrões de cultura social e, direta ou indiretamente  isto afeta a educação, a forma  de como se ensina ou se aprende.

            O tempo é o senhor da vida  e por isso não pode ser perdido.

            Quando esse conceito é aplicado à pedagogia, por exemplo, já não há mais aquele tempo para os pequeninos aproveitarem os brinquedo pedagógicos: bola de gude, pipa, carrinho, boneca de pano. Estes não têm função nenhuma  de ensino. É o que dizem !

            Desde cedo já são levados a “aprenderem” novas línguas, novos conceitos  para não ficarem retrógrados aos acontecimentos  e com isso perdem a alegria pelo  aprendizado, pois este só tem uma função: Formatar e não formar.

            Se fizermos uma pesquisa entre  as crianças  e os adolescentes  sobre as suas experiências  de alegria na escola, eles terão muito o que falar  sobre a amizade e o companheirismo entre eles, mas pouquíssimas serão as referências á alegria de estudar, compreender e aprender.

            O que se deve considerar é que o ato de ensinar e aprender é uma constante troca,”onde se torna imprescindível que o professor seja, acima de tudo, um educador que enfrente desafios  e possa encarar os problemas presentes na sua formação e, assim compreender que o conhecimento se processa através de valores que embasam  e justificam a aprendizagem”, relações interpessoais dos sujeitos  envolvidos  no processo e o que vivenciam em sala de aula .

 Ter alegria  ao ensinar!   

 

 

 

 

 

Desenvolvimento

 

            O livro que nos propomos a analisar, apresenta uma história de amor entre o professor e profissão.São vários os relatos que como parábolas vão se colocando diante de nós uma metáfora humorística  da missão do professor.

           Ao analisar o conto O Sapo,o autor nos apresenta o poder da palavra diante da  simples  parábola do príncipe que virou sapo.”Todo aprendizado produz esquecimento”, isto se observarmos nosso próprio comportamento em reuniões e encontros,quando os assuntos abordados não despertam nosso interesse,a história do príncipe que virou sapo é a nossa própria história.

           Desde que nascemos,continuamente, palavras nos vão sendo ditas.Elas entram em nosso corpo e ele vai se transformando,metamorfoseando-se,virando uma coisa diferenfe do que era ou do que um dia foi.

           Educação é isso: o processo pelo qual nossos corpos vão ficando iguais as palavras que nos ensinam ”Eu não sou eu, sou as palavras que os outros plantaram em mim”.

Como o disse Fernando Pessoa: “Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram em mim.”

            Cada parte ou capítulo deixou-nos um ensinamento, uma moral, que retratam através de fábulas os anseios, as buscas, as insatisfações e as frustrações do professor  na árdua missão de ensinar.

            Vale ressaltar que segundo o autor a velha máxima de que “ é dando que se recebe” faz sentido , pois ensinar é uma via de mão dupla, se tenho desejo de ensinar é preciso que antes esteja disposto a aprender.

            Segundo Paulo Freire : “ Importante  na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade”, nesse caso antes de pensar  no conteúdo, no prédio,  no currículo, é preciso pensar no grupo, no colega, no aluno e acima de tudo no aprender /ensinando e no ensinar/aprendendo.  

            Observa-se na escola, que alguns profissionais ao iniciarem a semana de trabalho, chegam desmotivados respirando fundo por que vão entrar na sala dos “monstrinhos”, no purgatório ou algo de gênero  tortura, com isso é fácil imaginar  o tipo de aluno que ele está formando, pois  só serei  recebido com cortesia, afetividade e respeito quando levo estas coisas na bagagem.

           Nossos feiticeiros foram muitos pais, professores,padres , pastores, livros,tv e toda a “indústra cultural “que nos cerca.Por essa razão o autor afirma ,”que nosso corpo é resultado de um enorme feitiço ,ou seja, é um corpo enfeitiçado: porque ele aprendeu as palavras que lhe foram ditas, e se esqueceu de outras que, agora parecem mal...ditas.

          Nesse caso, eu professor, sou um feiticeiro, que com as palavras posso moldar caráter , talhar comportamento,despertar desejo,realizar sonhos,”fazê-los  esquecer do que aprendeu para que ele possa lembrar-se do que esqueceu”.

            Segundo Rubem Alves: “tenho necessidades de mãos estendidas que recebam” ...pois ser mestre é isso ,ensinar a felicidade”.  Ser professor é um ato de amor,  é descortinar o mundo  para a apreciação, conduzir o aprendiz pelas ruas iluminadas da imaginação onde não há barreiras para o seu pensamento que voa e povoa mundo diferentes. No entanto esse “ato de amor” é traduzido com freqüência como  sofrimento pelos baixos salários, pela indisciplina  dos alunos, pela falta de vontade de aprender ... “mas, é difícil amar as disciplinas apresentadas  por rostos  e vozes  que não querem ser amados.”

            Na escola não deve se ensinar apenas a disciplina que se apresenta na grade curricular, é importante ensinar o amor, o respeito, a solidariedade, o companheirismo e acima de tudo “pensar”.

Faz-se necessário lembrar, que a metodologia  do professor até agora, de acordo com as nossas observações, têm sido aquela que o autor  define  na brincadeira  de “Boca do Forno”.  Aluno exemplar é aquele que têm  respostas padronizadas, que na maioria dos exercícios segue o modelo apresentado no livro didático.  Parece que já está implícito no seu íntimo – não pense - repita como lhe foi ensinado. Em seguida uma avaliação mais acurada o “mestre” diz  que os alunos não tem senso crítico, ou seja, exatamente como o sapo de Rubem Alves, esquece que é príncipe e coaxa, gosta de lama, tudo isso por força da palavra do professor.

           

Atualmente  o que o aluno sabe ou deve saber  não está sendo medido pela nota de 0 á 10, porém  de uma maneira mais sórdida, onde o professor  atribuí  uma “progressão simples” á todos aqueles que “seguem o modelo” sem apreciar  seu desempenho , sua participação efetiva, sua criatividade, ou sua produção individual.

O aluno que pinta um desenho tirado do computador, que marca a localização de sua cidade no mapa pronto, está sendo criativo ou bitolado?

As disciplinas são apresentadas como um sacrifício, uma luta onde vence o melhor, uma punição  e nunca como uma alternativa  de crescimento pessoal, social  e psíquico, para cada aprendiz.

A aprendizagem está sempre travestida de concorrência, de competição.  Não estamos formando pessoas melhores, mais amáveis, inteligentes, comprometidas com seu sucesso, para se tornar um SER humano mais sociável, ao contrário , criamos máquinas a serviço do sistema capitalista, que as empresas solicitam sempre mais por que  se esqueceram que são pessoas, e no processo escolar  de coisificação, se tornaram ferramentas  e como tal são operadas por chefes inescrupuloso.  Estes também não vivem, pois na ganância do TER também esqueceram a sua essência, pois estudaram na mesma escola.

Nas universidades não têm sido diferente, a maioria  do que está sendo ensinado não condiz com aplicabilidade. Cada acadêmico deve buscar sua própria fórmula, traçar um novo caminho, refazer a construção que está desmoronando, na tentativa “de caminhar na direção contrária”: “que os mestres se transformem em aprendizes, que os adultos se disponham a aprender  das crianças; a filosofia da educação ás avessas.”

Na escola observada tivemos uma prova contundente do que se espera dos alunos, estes são entregues a própria sorte, o processo de ensino/aprendizagem é caótico, os profissionais estudam inutilidades no Projeto Sala do Educador , as tecnologias e as técnicas os transformam em máquinas-formigas,  que não pensam só executam os comandos e como tal os repassam aos alunos, utilizando as mesmas palavras, os mesmos gestos, numa eterna repetição.

Não é de se esperar que nesse ambiente se criem borboletas  ou cigarras, poucos sairão andando  com suas próprias pernas, visto que já lhes cortaram  as asas, os sonhos  e com eles a vontade voar, de criar, de crescer, de ser útil.

È preciso inovar, na era  da tecnologia, os alunos estão há anos-luz dos professores, mas são podados  por falta de bom senso, de propiciar ambiente de pesquisa criativa, que apresente resultado palpável para esta sociedade em colapso.

Um esforço conjunto poderia salvar a educação  do caos em que está mergulhada, “mas quem faz o quadro não é a tinta: são as idéias  que moram na cabeça  do pintor”.

 

 

Conclusão

 

Rubem  Alves  faz uma distinção  entre  o professor  e o educador:

O prrimeiro é aquele que se vê como mero  transmissor  de conhecimento  e o segundo é aquele  que busca, por meio da transmissão  de conhecimentos, de maneira crítica  e reflexiva, contribuir  para que o aluno possa desenvolver-se, superar-se, realizar-se, como indivíduo e como cidadão.

Perfis diferentes e, infelizmente, pouco observadores em suas essências.

Uma necessidade maior se faz neste processo  que podemos chamar  de realacionamento ou relação  entre professor/educador e o aluno.

O momento atual impõe ao profissional de educação desenvolver habilidades que possibilitem  uma melhor adaptação ás novas culturas  e aos novos padrões  de conduta social. Além do acelerado processo  de globalização em que se encontra o país insere o homem em um ambiente de alta competitividade e seletividade. Nesse contexto, a relação professor-aluno representa um esforço a mais na busca da praticidade, afetividade e eficiência no preparo do educando para a vida,  numa redefinição do processo ensino aprendizagem.

 

 

Referencial Bibliográfico

 

ALVES. Rubem. A alegria de ensinar.3.ed. São Paulo: Artes Poéticas, 1994

SILVA,TomásTadeu da,Documentos de Identidade:Autêntica,BeloHorizonte.

2000

KFOURI,Samira Sá/Yev,Politicas Educacionais :estruturas sistemas: história    – SP. PEARSON  Education do Brasil, 2009.

SILVA, Rafael Bianchi. Psicologia da Educação: história/ Rafael Bianchi Silva . – SP:  PEARSON Education do Brasil, 2009.