Despedidas de primavera

Por Marcos Silveira | 30/10/2012 | Contos

Recentemente, estive em uma escola para um ciclo breve de palestras e eventos acadêmicos. A manhã de primavera estava calma, as gotículas de chuva pareciam até personagens de uma bela sintonia, onde surgira os primeiros raios de sol. Muito ansioso, peguei minha mochila de pano e fui caminhar pela Avenida da Mata, onde o pessoal estava arrumando os preparativos para a feira de um livro.

Caminhava devagar pelos canteiros centrais, entre as árvores e os quiosques quando derrepente me deparo  com uma figura masculina em meu caminho descendo as estreitas e misteriosas alamedas da avenida... Todo esse suspense traduzia ali a presença de um jovem rapaz, provavelmente oriundo de algum lugar próximo. Com um sotaque acentuado e típico da região, sussurrava suavemente aos ouvidos de uma jovem moça linda e atraente que estava imediatamente indo embora, partindo para sempre, sem demora e sem volta. Andavam no mesmo sentido, mesma direção, e, por alguns segundo, o silêncio protagonizou aquela cena romântica.

Ele então continuava afirmando o seu afastamento inadiável, sem a menor chance de um retorno, talvez insinuando as despedidas de um último romance. Falava muito, alto. Mas não se afastava da jovem, apenas prometia afastar-se imediatamente. Não hesitaram em dar continuidade àquela caminhada, não apressava o passo (...) parecia até que o tempo estaria a seu favor.


Calmamente, a moça anunciou que sentaria em um daqueles banquinhos que havia no quiosque. Sentou. Prontamente, ele sentou ao lado dela. Trocaram um olhar aparentemente muito indescritível, as mãos se tocaram, ele afirmou que já estaria partindo. Então se beijaram e ficaram de mãos dadas olhando um automóvel estacionado, talvez.

Segui caminhando em passos curtos e, não me lembro o motivo, porém não hesitei em girar e dar uma olhada, disfarçadamente, em direção àquele casal apaixonado. Afinal, este romance me concedera uma certa intimidade para com eles, uma amizade ocasional, algo do tipo. Arrumei minha mochila sobre o ombro, e olhei girando a alguns graus o meu corpo cansado. Também pudera. Passei quase uma tarde inteira tentando entender o porquê da minha interferência um pouco tanto indiscreta e indelicada nessa história.

A calçada central levava até às árvores, o quiosque, o banco onde eles estavam sentados. Ambos pareciam estar em paz e bem. Não sei por que, mas este romance fez com que a emoção tomasse conta do meu peito, e por alguns instantes me senti lisonjeado por estar ali, na Avenida da Mata, em uma tarde transfigurada, dando adeus a mais um término de primavera.

Não consigo explicar, mas esta avenida revelara em mim um lugar de amor.

SILVEIRA, Marcos de Jesus. Contos Jovens: Despedidas de primavera.