Desnutrição em crianças menores de cinco anos de idade
Por Claudiana Eugênia | 18/11/2009 | SaúdeCOSTA, Claudiana Eugênia. Acadêmica do quarto semestre de enfermagem da Faculdade de Quatro Marcos – FQM
Resumo
A desnutrição protéico-energética (PEM) refere-se a uma variedade de síndromes clínicas caracterizadas por consumo dietético de proteínas e de calorias inadequadas para satisfazer as necessidades diárias do corpo. De um ponto de vista funcional consideram-se dois compartimentos de proteínas: proteínas somáticas, representado pelos músculos esqueléticos; e o visceral representado pelas reservas de proteínas nos órgãos viscerais, principalmente no fígado. Estes dois compartimentos são regulados de modo diferentes. O departamento somático fica afetado, mais gravemente no marasmo (deficiências de calorias) enquanto o visceral é deprimido mais severamente no kwasshiorkor ( deficiência de proteínas).
Palavras-chave: Desnutrição. Crianças. Proteínas.
Introdução
No Brasil, 32% das crianças menores de cinco anos de idade apresentam desnutrição Energético-Protéica, sendo que 5% delas apresentam grau moderado ou grave, segundo os dados disponíveis na Pesquisa Nacional de Saúde e nutrição (PNSN/INAN-IBGE) realizada em 1989. Verifica-se que existe uma alta prevalência já nos seis primeiros meses de vida (21%), que aumenta com a idade até os 24 meses, atingindo 32%. Em todo o país predominam as formas leves de DEP.
Existe uma nítida diferença regional, com maior prevalência na região nordeste, onde também se concentra o maior número de formas moderadas e graves. Todavia nem sempre a falta de alimentos constitui a principal causa de desnutrição. Em muitos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, a diarréia representa um importante fator na desnutrição. Outros fatores incluem: alimentação com mamadeira ( em condições sanitárias precárias); conhecimento inadequado dos cuidados apropriados à criança; a ignorância dos pais; fatores econômicos e políticos; e simplesmente, falta de alimento. São as formas mais extremas de desnutrição protéico-calórica: kwashiorkor e marasmo.
Manifestações clínicas
Segundo WONG, kwashiorkor é uma grave deficiência de energia com suprimento adequado de calorias. O termo deriva da língua Glan, que significa "a doença adquirida pela criança maior quando afastada do seio materno por outra criança".
Esta designação descreve adequadamente a síndrome que se desenvolve no primeiro filho, geralmente entre um e quatro anos, quando afastado do seio materno na ocasião em que nasce o segundo filho. A criança passa a ser alimentada com uma dieta que contém principalmente grãos de amido ou tubérculos, fornecendo quantidades adequadas de calorias na forma de carboidratos, porém, quantidades deficientes de proteínas de alta qualidade.
A criança com kwashiorkor possui extremidades finas e enfraquecidas, e geralmente proeminente decorrente de edema. Com freqüência o edema mascara a grave atrofia muscular, fazendo com que a criança pareça menos debilitada do que ela realmente se encontra. A pele apresenta-se escamosa e seca, e possui áreas de despigmentação. Várias dermatoses podem ser evidentes, resultantes, em parte, das deficiências de vitamina A. As deficiências de sais minerais são comuns, especialmente de ferro, cálcio e zinco. Os cabelos são finos, secos, ásperos e opacos. A despigmentação é comum, e pode ocorrer áreas de alopecia.
Com freqüência ocorre diarréia, em conseqüência de baixas resistências á infecções com desenvolvimento subseqüente de gastrenterite, anorexia, e má absorção. Os distúrbios gastrointestinais incluem infiltração gordurosa reversível do fígado e atrofia das células do pâncreas. As manifestações comportamentais manifestam-se a medida que a criança progressivamente se mostra irritável, letárgica, retraída e apática. A deterioração letal pode ser causada por diarréia recorrente, infecção ou insuficiência circulatória.
De acordo com FALBO, ALVES e FILHO, marasmo atinge com mais freqüência crianças no primeiro ano de vida, em locais em que há hipoalimentação global por falta de leite materno ou insuficiência de seus substitutos. E a forma mais freqüente na zona urbana e também conhecida como atrofia, caquexia, atrepsia, decomposição e subnutrição grave.
A criança apresenta um adelgaçamento intenso, não existe edema, a pele é fina e enrugada, com perda da elasticidade, porém, não há lesões cutâneas. A evolução é lenta. A criança é inquieta apresentando olhar vivo e choro constante.
Diagnostico laboratorial
Conforme QUEIROZ, SARNI e TORRES, o diagnóstico da desnutrição é predominantemente clínico, entretanto alguns exames laboratoriais podem ser úteis:
• proteínas totais e albumina sérica: muito reduzidas na forma adematosa e normal e relativamente baixa no marasmo;
• hemoglobina e hematócrito baixos;
• ácidos graxos livres séricos: elevados no kwashiorkor;
• relação plasmática entre aminoácido não essenciais: elevada no kwashiorkor e baixa no marasmo;
• eletrólitos: aumento do sódio e redução do potássio e fósforo (intracelular); e
• nitrogênio uréico e excreção de 3 metil histidina: reduzidos principalmente na forma edematosa.
Tratamento
Segundo MARCONDES,o tratamento da desnutrição Energético-Protéica deve ser pelo menos três linhas de abordagem:
1.Tratamento dietético;
2.Diagnostico precoce e tratamento adequado e infecções associadas; e
3.Ações educativos-preventivas.
Para que estes objetivos sejam alcançados é preciso considerar alguns pressupostos importantes.
a)O desnutrido e sua família devem ser atendidos por meio de programas individualizados no Centro de Saúde, preferencialmente por equipe multiprofissional. É organizado o atendimento à criança desnutrida ou de risco, com uma tarde por semana. A equipe conta com pediatras, enfermeiros, nutricionistas e assistente social. Na composição melhor ainda seria contar também com a participação de um psicólogo.
b)As consultas devem ser periódicas, recomendando-se intervalos de um mês para crianças menores de dois anos abaixo do P₁₀ da curva de P/I ou crianças de qualquer idade com desnutrição moderada ou grave, ou com complicações clínicas. Nas crianças maiores de dois anos, podem-se usar intervalos de 2 meses entre as consultas. O Ministério da Saúde recomenda que se priorize, em qualquer situação, as crianças menores de dois anos e aquelas proveniente de família considerada vulnerável. Todas as crianças que faltam à consulta são convocadas por carta e, se após duas destas cartas convocações não comparecerem, recebem uma visita domiciliar para averiguar as causas da ausência.
c)Promove e incentivar as ações básicas de saúde da criança: incentivo ao aleitamento materno, controle da doença diarréica e uso de soro de reidratação oral, imunização básica, acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, e controle das doenças respiratórias.
d)Acompanhar a famíliacomo um todo: incentivar planejamento familiar, orientar pré- natal em caso de gravidez da mãe, incentivar aleitamento materno de irmãos recém-nascidos, acompanhar e encaminhar, se possível, situações de desemprego, etilismo, uso de drogas ilícitas etc.
e)Fundamental envolver a mãe, explicando o que é a desnutrição, suas conseqüências, a sutileza de suas manifestações, mostrar-lhe o gráfico do crescimento de sua criança e explicar-lhe com palavras mais simples o objetivo do tratamento.
Quanto ao tratamento dietético o mais importante é aumentar a oferta calórica oferecida pela dieta. Não há necessidade de grande aumento na oferta protéica.
Nem sempre se pode contar com programas de suplementação alimentar. Portanto é importante valorizar os costumes locais e as condições socioeconômicas das famílias, bem como orientar alternativas para se obter alimentos.
Considerações finais
É válido dizer que para identificar a desnutrição é necessário conhecer a historia alimentar da criança, avaliar desvios na estatura, no peso e no perímetro cefálico por meio de exame físico. Por meio de exames laboratoriais identificam-se déficits bioquímicos de nutrientes. Crianças cometidas pela desnutrição podem ter prejuízos irrecuperáveis no crescimento e desenvolvimento. A desnutrição é estabelecida por meio de critérios em graus distintos. Aquelas leves ou moderadas podem ser tratadas em domicílio, e os casos graves necessitam de hospitalização, em decorrência dos problemas de saúde associados, tais como infecções , dermatoses, parasitoses, entre outros.
Referências Bibliográficas
FALBO, Ana Rodrigues; ALVES, João Guilherme Bezerra; FILHO, Malaquias Batista. Desnutrição energético-protéca. 3ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.
FAUSTO, Kumar Abbas. Bases patológicas das doenças. 7º edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
ISSLER, Hugo; LEONE, Cláudio; MARCONDES, Eduardo. Pediatria na atenção primária. São Paulo: Sarvier, 2002.
QUEIROZ, Suzana de Souza; SARNI, Roseli Saccardo; TORRES, Marcos Antônio de Almeida. Carências nutricionais. São Paulo: Atheneu, 2003.
WONG, Donna L.; whaley e wong. Enfermagem pediatrica elementos essenciais à intervenção efetiva. 5ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997.