Desmatamento: quem é o culpado?

Por Claudia Cataldi Padrón Áureo | 26/08/2011 | Ambiental

Os maiores acusados do desmatamento são os agricultores. Esse é o discurso reinante no mundo urbano. Na verdade nossos antepassados desmataram tanto pra agricultura quanto para a construção das cidades.

Ou você acha que nossa belíssima Copacabana ou a internacionalmente famosa Ipanema não eram uma grande floresta quando as caravelas primeiro chegaram aqui?

Essa consciencia é muito recente: não poder construir em declividade acima de 45 graus, nem no minimo de 30 metros das margens dos rios, nem na cota de 1800 metros acima do nivel do mar etc.

Ou seja, com a proposição do novo código florestal, teríamos que acabar com as vinícolas todas do Rio Grande do Sul, com a cafeicultura do sul de Minas, também as do Espirito Santo, sem falar na recem eleita sétima maravilha do mundo, no alto do Corcovado que terá que ser demolida, porque não podemos ocupar o topo dos morros...

Por isso na nova lei há a parte em que se chama o "fato consumado", que tipifica casos como o do Sumaré, que já foi usado, o do próprio Cristo que já ocupa o alto de um morro que foi desmatado para que a estátua fosse implantada, as vinículas que já existem lá há mais de 200 anos, os cafezais há mais de 300..., então, tem que se fazer um grande acordo nacional, não acham? É o que está sendo proposto.

Se já há uma área desmatada, com qualquer dessas ocupações que mencionei, há que se preservar outras, como medida compensatória, mas não declarar o Cristo como um fora da lei!!!

Esta Lei trata de um mundo real, e esse mundo tem problemas. Normalmente quando chega um jornalista e olha uma catástrofe e aparece uma autoridade, ele atribui a ele a culpa. É a tese do atropelado. Ele responsabiliza o cara ao lado pelo ocorrido. Corre-se o risco de amedrontar os bem intencionados socorristas!

Não adianta você chegar agora que está vendo essa ou aquela autoridade na cena do crime e culpá-la. Tem que cobrar futuras soluções.
Este é o momento para que nós, que temos capacidade de formulação, contribuamos com idéias. À imprensa, cabe fazer alertas e fiscalizar. Não culpar os bem intencionados, os que dão as caras no socorro das vítimas para não correr o risco de numa próxima vez, não haver socorro.

Há dez anos não havia essa consciência, hoje a temos e é um ponto de partida importante. Quando Lacerda removeu as favelas no passado, foi chamado de reacionário, nazista. Na verdade ele foi peitudo e corajoso.
O que nós precisamos daqui pra frente é parar de fazer demagogia com pobre, e agirmos, porque se um filho de 5 anos, não quer ir a escola, o que faz o pai omisso?

Deixa-o brincando?

Ora, os governantes, neste momento precisam comportar-se como pais responsáveis que fazem o que tem que ser feito.
Em Piraí no sul fluminense, já estão ocupando o mesmo lugar onde morreram centenas de pessoas em 1967. O ser humano é o único animal capaz de insistir num comportamento mesmo sabendo que tem altos riscos.

Não vemos por exemplo leões fumando, se drogando ou ingerindo bebidas alcóolicas, ou ainda uma zebra praticando sexo sem camisinha, ou um tamanduá dirigir embriagado, todos comportamentos em áreas de risco.
Sigamos então os animais no que eles têm a nos ensinar, mas sem culpar quem não tem culpa, para não corrermos o risco de sermos classificados como da forma como os classificamos: de irracionais!

Claudia Cataldi

Jornalista e presidente do Instituto Responsa Habilidade

claudiacataldi@responsahabilidade.org.br / twitter:@claudiacataldi