Desindustrialização do Brasil
Por Rafael Winalda Francisco Borges | 09/11/2017 | Economia1 INTRODUÇÃO
Historicamente, o setor industrial representou o motor do desenvolvimento econômico nas principais economias mundiais e, frequemente, é apontado como o fator que diferencia os países mais desenvolvidos dos países menos desenvolvidos. A inegável importância da indústria no crescimento sustentado de uma economia torna necessária a realização de políticas de promoção desse setor, o que usualmente é enfatizado pelos formuladores de política econômica, ocupando papel central nas pautas de desenvolvimento.
A despeito dessa realidade, a economia brasileira apresenta, a partir da década de 1980, um processo de desindustrialização evolutivo – iniciado com a crise do Estado e a incapacidade de investimento do setor público – e que não apresenta sinais de recuperação. Dessa maneira, o objetivo do presente trabalho é analisar a trajetória industrial brasileira a partir do processo recente de desindustrialização, apresentando um panorama geral da atual situação e perspectivas para o futuro.
2 O PANORAMA GERAL DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
Conforme aponta Fernandez (2015), a importância da indústria no crescimento econômico é reconhecida na literatura, embora com graus de significância distintos de acordo com as diferentes vertentes teóricas. Na realidade, a condição histórica do setor industrial como propulsor do desenvolvimento nas principais economias capitalistas torna irrefutável sua posição como determinante nos processos de inovação tecnológica, aumento da produtividade, crescimento da riqueza, dentre vários outros. De maneira geral, a importância da indústria pode ser expressa em três características principais, as quais o autor explora: 1) a numerosidade de setores correlatos à produção industrial; 2) o grande potencial inovativo das atividades industriais; 3) a possibilidade que o setor oferece de maior acesso às divisas internacionais, o que reduz a dependência externa de um país.
Em primeiro lugar, a produção industrial envolve uma grande quantidade de setores econômicos, participantes (direta ou indiretamente) da cadeia produtiva, o que aumenta o efeito multiplicador desse setor na economia como um todo. De maneira geral, a produção de bens industriais utiliza uma grande variedade de insumos, advindo do principalmente do setor primário (o efeito backward), e demanda uma grande variedade de serviços pós-fabricação, advindos do setor terciário (o efeito forward). Portanto, a indústria representa o intermédio natural entre os setores primário e terciário, apresentando relação de proximidade com ambos. Assim, o setor industrial torna-se, naturalmente, um setor estratégico no desenvolvimento econômico, na medida em que um crescimento de sua produção impacta, em grande medida, várias atividades econômicas envolvidas no processo de fabricação.
Em segundo lugar, a indústria é um ambiente fértil para inovação e difusão tecnológica, fatores fundamentais para o crescimento sustentado da produção e renda no longo prazo. Isso porque, no âmbito industrial, atua com intensidade o elemento learning by doing, que implica que a produtividade da mão-de-obra cresce com a própria experiência de trabalho. Interessante observar nesse ponto que o efeito learning by doing já havia sido observado por Adam Smith em seu estudo sobre o processo de divisão do trabalho, em que o autor afirmava que a repetição das tarefas aumentava a destreza do trabalhador e aumenta as chances de inovação dos processos produtivos. Com isso, impulsionados por esse efeito, as atividades industriais são vistas um gerador de novas tecnologias, que podem ser difundidas para o restante da sociedade.
Por fim, a indústria representa uma alternativa à restrição de divisas internacionais, problema frequente em economias agrário-exportadoras. Conforme aponta Fernandez (2015), economias baseadas no setor primário apresentam dificuldade de acumular divisas no longo prazo, na medida em que a elasticidade-renda de sua base exportadora é baixa – isto é, quando a renda mundial cresce, as exportações crescem em menor proporção. Por outro lado, o setor terciário – de serviços – envolve, majoritariamente, a produção de bens não transacionáveis, embora haja tendência de internacionalização de algumas atividades do terceiro setor. Com isso, o setor industrial, por se tratar de bens comercializáveis de maior elasticidade- renda, torna-se um importante elemento na redução das restrições às divisas internacionais.