Dérby: 100 anos com alma de garoto
Por Edson Terto da Silva | 19/03/2012 | CrônicasQuem nasceu ou mora em Campinas e tem o mínimo discernimento para as primeiras letras do “beabá” do futebol já ouviu falar no dérby, que é mais que uma partida de futebol disputada entre Guarani e Ponte Preta. Quem não ouviu falar, não estranhe se alguém perguntar “de qual planeta você é?” E, neste dia 24 de março, excepcionalmente um sábado, acontecerá o centenário dos dérbys, a partida número 188 desde a primeira, ocorrida em 24 de março de 1912, dando início a uma das mais tradicionais rivalidades do futebol paulista e brasileiro.
O jogo será pela 15ª rodada do Campeonato Paulista da Primeira Divisão, no estádio da Ponte, e a situação em nada lembra os dois dérbys do Campeonato Brasileiro da Série B do ano passado, ambos vencidos pela Ponte, que conseguiu o acesso. O Guarani estava com o elenco sem receber salários por mais de quatro meses e manteve-se, com muito custo, na Série B do Brasileirão. Este ano, o Bugre está quase classificado para as quartas de finais do Paulista, o mesmo acontecendo com a Ponte.
Impossível falar de dérbys campineiros sem entrar em folclore, números e nomes. Como foi dito, será a partida 188, o Bugre tem 65 vitórias, são 61 empates e 60 vitórias da Ponte. Ah, está faltando um? Não é erro de matemática e aqui entra o folclore. O resultado do primeiro dérby ficou como “desconhecido”, com pontepretanos garantindo que venceram por 1x0 e bugrinos dizendo que foi 1x1. O jogo foi num antigo campinho do então tradicional bairro de operários, a Vila Industrial.
Já havia o jornal Diário do Povo, fundado em 20 de janeiro de 1912, mas na época aquele jogo, num domingo, não deve ter atraído a atenção dos jornalistas, que mal sabiam que nasceria uma das maiores rivalidades da história do futebol. Um fato interessante para mais este dérby, além do jogo do centenário, é que o Guarani fez 253 em seus jogos e a Ponte 247, portanto, são 500 gols em 100 anos de dérbys.
Entre outras curiosidades estão que em 13/3/38 houve um WO, pois a Ponte não entrou em campo; em 5/6/60 foi a maior goleada dos dérbys, 6x0 para o Guarani, no Brinco de Ouro, em 19/4/70, houve um empate de 1x1, no Brinco, a partida fez parte da primeira edição da Loteria Esportiva. Entre 76 e 80, época de ouro do futebol de Campinas, houve 18 jogos e a Ponte teve ampla vantagem com 8 vitórias, contra duas do Bugre e 8 empates, fez 19 gols e levou 8, apesar de, em 1978, o Guarani ser o primeiro time do interior de um estado a ser campeão brasileiro da Série A.
Os dois times daquela época dariam uma seleção e com os reservas: Carlos(P), Jair Picerni (P), Amaral(G), Oscar(P) e Miranda(G); Zé Carlos(G), Zenon(G) e Dicá(P), Lúcio(P/G), Careca(G) e Renato (G/P). Só para citar alguns que jogavam num ou jogaram nos dois times na época. Sobrariam os goleiros Moacir (P) e Neneca (G), os zagueiros Odirlei(P), Mauro(G), Nenê (P) e Polozzi(P); os meio campistas Flamarion(G), Jorge Mendonça (G/P) Marco Aurélio(P) e Wanderley(P); os atacantes Ziza(G), Edmar(G), Oswaldo(P) e Dario(P), este o Dadá Maravilha, aquele que foi o reserva do Pelé na Copa de 70.
Se levar em conta todos os tempos, mas sendo impossível lembrar todos que defenderam Guarani ou Ponte, teríamos ainda Waldir Peres (P/G), Djalminha(G), Amoroso(G), Luizão(G), Evair(G), Rai(P), Pita(G), Boiadeiro(G), Renatinho(G), Elano(G), Ailton Lira(G), Edilson(G), Brecha(G), Luis Fabiano(P), Chicão(P), Roger(P/G), Zetti(G), Mineiro(G/P), Fabio Luciano(P), João Paulo(G/P), Marcelo Souza (P/G), entre tantos outros.
Outro destaque nos dérbys é o público, não brigas. Os públicos variaram, nos anos 70 e 80, entre 13.752 e 38.948, sendo este o recorde em 3/6/79, no único dérby disputado fora de Campinas, na capital, com vitória de 2x0 para o Guarani. Vale ressaltar a quantidade de menores que era anotada na época prestigiando dérbys, um deles, no campo do Guarani , em 30/1/80, teve 3.670 menores. Uma festa centenária do futebol brasileiro e que chega neste ano de 2012 com as duas equipes mostrando regularidade capaz de aplacar, num sábado, qualquer tédio, como o que havia nos anos 50 e 60, com A maldição dos eternos domingos sem derby, do livro de meu professor e colega de trabalho no Correio Popular, Luiz Roberto Saviani Rey. O livro relata a época em que a Ponte lutava para voltar para a Primeira Divisão do Paulista.