Depressão

Por Viviane de Sousa Furtado | 17/01/2011 | Contos

Ontem à noite eu chorei.
E chorei de verdade, daqueles choros sentidos que expressam a dor mais profunda da minha alma.
E tudo que eu queria era alguém para me abraçar e me consolar. Alguém que me dissesse que tudo ficaria bem e que ia dar tudo certo.
O problema para começar é que eu já passei por tudo isso antes e vou passar mais uma vez e outra vez e outra e mais outra. Não tem fim.
Eu já perdi as contas de quantas lágrimas derramei.
Quando eu morava com meus pais tudo era por causa deles. Eu me entristecia com tudo. Eu queria morrer por tudo.
Claro que as pessoas ao meu redor me disseram que era culpa da adolescência e que tudo passaria com o tempo. Mas eu tenho quase 22 agora e ainda me sinto um lixo. O tempo passou, faz nove nãos que eu não sei o que é ser alegre, ou ser normal. Nove anos. Quanto mais o tempo passa mais eu me sinto incapaz de sair do buraco onde me enterrei.
Claro também que agora as pessoas dizem que quando eu tiver mais de 25 anos toda essa dor vai passar. Mas você deve imaginar como deve estar minha fé agora.
O pior é que eu sinto do jeito que sinto e não sou capaz de controlar meus sentimentos. Eu estou triste. Eu sinto que nada nunca vai melhorar para mim. Eu estou frustrada com minha vida. O que eu posso fazer? Eu queria conversar com alguém sobre isso, queria que alguém me ouvisse. Acontece que agora a única pessoa que me ouvia perdeu a paciência comigo.
Ela está cansada. Eu já nem sei mais quanto mal causei a ela. Ela perdeu todos os amigos que tinha por minha causa. Ela perdeu todas as forças por que eu tirei todas as forças que ela tinha. E agora ela não pode mais cuidar de mim. Tudo que ela pode fazer é construir uma fortaleza em torno de si para se proteger de toda essa confusão sentimental que eu constantemente atiro sobre os ombros dela. E eu não posso culpá-la.
Eu queria que ela pudesse me dar suporte, mas a verdade é que não pode. E eu a admiro muito por todo esse tempo em que ela vem me agüentando. Ela deve me amar muito mesmo, apesar de toda a dor que eu causo nela.
Só que eu não quero mais machucar ninguém! Eu to cansada disso. Ficar triste o tempo inteiro e viver como se fosse um fantasma. Eu não quero machucar mais a minha pequena e acredito que o melhor que eu posso fazer para pretege-la de mim seja me afastar dela.
Eu realmente sinto muito se já falei isso antes e se estou me repetindo e também sinto por não ter ido embora da primeira vez em que percebi que era oi certo a se fazer, mas a verdade é que eu sinto isso tudo hoje como se nunca tivesse me sentido tão mal antes, como se nunca tivesse decido isso antes. O que eu posso fazer?
Pensando bem eu me lembro muito vagamente de outras crises em que ela mergulhou no meu sofrimento, crises onde eu briguei contra ela e ela acabou chorando e me pedindo para ficar com ela. Agora ela não pede mais. Ela disse que cansou de se humilhar para mim. E ela está certa.
Só que isso me faz acreditar que hoje é diferente das outras crises e que na crise de hoje ela não deseja tanto assim que eu fique. Acho que agora ela só não acredita mesmo que eu vá.
Eu também me lembro de quando ela se sentia mal quando eu ficava triste e tentava me consolar... Mas isso também não tem mais importância hoje, afinal não importa o quanto ela me conforte amanhã eu vou me sentir ruim do mesmo jeito.
Eu tento, juro que tento, não demonstrar para ela que eu estou triste. Tento pensar que é tudo besteira da minha cabeça confusa e que eu não estou me sentindo mal de verdade, que é só a doença, mas não dá. Nunca dá. Eu sempre acabo chorando e me desesperando sozinha.
Sozinha.
É assim que eu me sinto o tempo inteiro, mesmo do lado dela. Quando eu olho para ela eu vejo um abismo entre nós. E mesmo se eu conseguisse construir uma ponte e atravessar esse abismo ao chegar do outro lado só encontraria uma parede imensa e intransponível.
Mas o que eu queria também, que ela me pegasse no colo todas as vezes e me dissesse que me ama? Que ela acordasse a cada grito de desespero no meio da noite e me acalmasse? Que ela me pegasse pelos pulsos cortados e me arrastasse até o pronto socorro? Ou que largasse o emprego e fosse correr atrás de marcar médico para mim?
Eu sou adulta, tenho que me virar sozinha. Se eu sei que tenho depressão e que mais sedo ou mais tarde vou acabar repetindo todo esse inferno porque quando estou boa não vou eu mesma marcar médico?
Isso sim em parece razoável.
Eu perdi tudo por causa da depressão.
Eu sai da casa dos meus pais. Eu enlouqueci a mulher que eu amo. Eu perdi o meu emprego. Perdi minha noite de sono. Perdi todos os meus amigos. Fiz com que minha noiva perdesse todos os amigos dela.
Eu sou uma fracassada infeliz que está passando (de novo) por uma crise de depressão daquelas.