Depois dos 30
Por Adriano Elias da Silva | 30/07/2016 | CrônicasNuma febre de 38 graus eis que estou a repensar a minha vida. Acredito que estou passando pela fase da crise dos pós 30. Sinto-me, na maior parte do tempo, desanimado e saudosista dos tempos antigos, tempos esses que nem eram tão bons para serem lembrados. Ando perdendo mais a paciência com maior facilidade que antes com meus pais, quanto menos impaciente me torno mais carinhosos e carentes eles me parecem e isso me deixa chateado, viver a maior parte do tempo como se sofresse de TPM. Depois que cheguei aos 30 ouço meu irmão de 18 anos falando sobre suas expectativas do futuro, trabalho, estudos e até casamento e me dá uma canseira . Hoje disse a seguinte frase: ‘’quando você estiver na minha idade verá que essas coisas não são tão importantes como você pensa que agora elas são!’’. Depois tive vontade de sumir, cair num buraco e desaparecer. Quando me contam que alguém morreu logo pergunto a causa da morte e quase nunca digo um ‘’sinto muito’’, acho desnecessário dizer algo que na verdade não estou sentindo. Continuo odiando enterros, funerais e velórios e ainda me recuso a participar de quem quer que seja o defunto. Para piorar a situação disse ao meu melhor amigo no meio de uma conversa descontraída que quando eu morrer é para que ele não deixe que me cremem, sem essa de jogarem minhas cinzas no mar ou mantê-las em um vaso vagabundo na sala, ele não entendeu nada. Recentemente, após os 30, descobri que não me sinto bem fazendo a social com parentes que comentam a meu respeito pelas costas e pensam que ninguém me contou. Uso desculpas para justificar minhas ausências com gripes constantes, um dia uma amiga me disse que tenho a imunidade muito baixa que deveria procurar um especialista. Passei a ter medo de coisas bobas como telefonemas para meu numero na madrugada ou quando ligo para alguém e o telefone está sempre desligado, logo penso o pior; assalto, sequestro relâmpago... Homicídio... Quando alguém me esbarra no ônibus olho furiosamente para a pessoa e quando me pede desculpas, não respondo, além de mal humorado também estou perdendo a educação. Perdendo a esperança de que dias melhores virão, ando gostando de dias de temporal pra ter que ficar em casa interagindo comigo mesmo a um dia de sol e ter que dizer não aos convites para sair. Após os 30 comecei a me odiar às vezes, por dizer mentirinhas, pois a verdade poderia magoar alguém, quando na verdade ninguém me polpa de nenhuma palavra cruel ou ação que vai me deixar muito triste. Ando trocando a TV por livros e os meus amigos somente por mensagens no Whatsapp ou posts no Facebook, não que eles não sejam legais, são meus amigos ora, mas não tenho sido companhia agradável. Ando cansado de mais para viver acompanhado, recentemente descobri que não ter que cozinhar pra ninguém e nem ter que lavar a roupa suja que se acumula no tanque é a melhor coisa do mundo. Depois dos 30 perdi a fé, perdi o faro, o tato, a sensibilidade para entender as pessoas que amo e que nunca vão mudar nem por mim e nem por ninguém. Descobri que todo mundo tem um preço, tem um ponto fraco, que todo mundo tem uma invejinha escondida e um ódiozinho gratuito de alguém que mora ali bem do outro lado da rua. Depois dos 30, cansei de me buscar nos outros. Principalmente, me cansei das mesmas perguntas e de ouvir as mesmas respostas. Cansei-me de monólogos a dois!