DENGUE, EPIDEMIAS SE INTERCALAM...

Por Beatriz Lopes | 13/04/2011 | Saúde

Beatriz Antonieta Lopes

Notícias sobre a morte de bebês, crianças, jovens e adultos causadas pela DENGUE me deixam não apenas entristecida, me causam revolta! Uma das vítimas mais recentes foi a jovem universitária Fernanda Cristina, com apenas 19 anos, no RJ.
Os sintomas apontavam para a Dengue. Ela passou por vários médicos e o atendimento recebido foi, no mínimo, superficial! Fernanda morreu 12 horas após ter tido alta. Dezoito pessoas foram a óbito pela doença no Rio este ano, pelo menos ela e mais três pessoas foram vítimas de diagnóstico tardio.
Alguns médicos parecem não saber que, o primeiro dia sem febre é o mais crítico: a evolução pode ser para uma lenta recuperação ou para o grave quadro hemorrágico e suas complicações, na maioria das vezes fatais, muitos pela falta de atenção médica.
E o resultado: Mais uma família chora a perda de uma pessoa para o descaso que está a Saúde! A falta de um trabalho correto para eliminar o vetor!
O alerta é do infectologista da UFRJ, Edimilson Migowski: "Importante é prestar atenção ao estado geral do doente. É mais importante do que medir a temperatura, é preciso prestar atenção no estado geral do paciente. Segundo o profissional, no caso da dengue, febre não é parâmetro de agravamento. "A cultura é valorizar a febre. Na dengue, é preciso valorizar outros sinais: vômito, pressão baixa, sangramento, recusa de tomar líquido e dor abdominal", ensina.

Minha revolta tem uma razão de ser, e carrega estes questionamentos:

Profissionais de saúde (médicos), sabendo que o Brasil está dominado pelo mosquito, DEVERIAM estar atentos, observar os sintomas, especialmente temperatura elevada (febre acima de 38°), cefaléia, outros sintomas podem ou não se fazer presentes tais como dores no corpo, vômitos e diarréia.
A rehidratação deve ser imediata! O controle da febre é importante, aliás, bem sabemos que a elevação da temperatura é um aviso do organismo sobre algum processo infeccioso ocorrendo neste paciente.
O momento em que o agente infeccioso (antígeno) penetra no organismo o sistema imune entra em ação, produzindo defesas (anticorpos), para combater o vírus invasor (anticorpos). A febre é uma resposta de nosso organismo e surge pela ação do sistema imune combatendo uma infecção (anticorpos destruindo antígenos).
O profissional da saúde sabe disto (ou deveria saber), deveria saber também que, em alguns casos de Dengue as reações são mais fortes por alguns motivos específicos: Paciente em uso de medicamentos cardíacos, (anticoagulantes, antiagregantes plaquetários), uso de medicamentos antitérmico (AAS), e a principal e mais grave: Paciente sofrendo a SEGUNDA DENGUE!

Independe se a busca por atendimento particular ou pela rede pública, o despreparo médico é muito grande!
Veja o exemplo do trabalho jovem médico do PSF, durante a epidemia de 2008, http://www.artigonal.com/medicina-artigos/serie-doencas-negligenciadas-2852423.html. Quando há amor e dedicação ao exercer a medicina, que ganha é a população! O interesse ao quadro clínico apresentado, as ações básicas adequadas podem evitar o óbito do paciente!
A outra questão:
O que está acontecendo com a pesquisa brasileira? Volto a questionar: o que está acontecendo nas instituições de pesquisa?
Alguns pesquisadores há muitos anos dentro de instituições, parecem estar numa ?cômoda zona de conforto?, seguindo velhas e ultrapassadas teorias, mantendo hipóteses equivocadas sobre fatores essenciais para eliminar o vetor, primeiro passo para acabar com a DENGUE.
Torna-se urgente uma releitura, um novo estudo sobre o vírus da Dengue. Como já citei em artigos já publicados, http://www.artigos.com/artigos/saude/saude-e-bem-estar/analisando-matematicamente....-722/artigo/, a pesquisa precisa avançar e rápido! Depois da comprovação da teoria do pesquisador Finlay (1881) que não eram "miasmas" e sim mosquitos que transmitiam a Dengue ou Febre Amarela e não foi fácil ?derrubar? ultrapassadas hipóteses, Carlos J. Finlay, em Cuba, foi quem aventou a hipótese de ser a doença transmitida pelo mosquito, o que na época não era admitido, sendo então ridicularizado por isso, pois isso só ocorreu passados 20 anos!
Graças à comissão do exército Norte Americano chefiada pelo major Walter Reed, que se encontrava novamente em Havana, em Cuba, que sofria nova epidemia da doença, demonstrou de maneira irrefutável o acerto da teoria Finlay.
Hoje, passados mais de 130 anos torna-se importante desmistificar ?outros miasmas?:
Existe um importante equivoco na análise de um exame de sorologia/isolamento viral de um paciente com Dengue:
As diferenças encontradas entre a sorologia de um individuo sofrendo uma PRIMEIRA DENGUE com outro paciente passando por uma SEGUNDA DENGUE, TERCEIRA ou QUARTA DENGUE vai, evidentemente mostrar diferenças! Mas isto não indica a existência de 04 tipos de vírus!
Se Finlay conseguiu desmistificar os ?miasmas? posso ter esperanças que a comprovação de um vírus único e seqüenciais infecções que envolve a DENGUE!
A cada 04 anos ocorre nova epidemia em diferentes regiões, mas alguns estados (Rio de Janeiro, por exemplo), uma epidemia vem se intercalando em outra!
Aqui dados para análise:
As principais epidemias de dengue ocorridas no município do Rio de Janeiro, sendo elas:
1986/1987 (introdução do sorotipo 1 do vírus);
1990/1991 (introdução e predominância do sorotipo 2);
2001/2002 (introdução e predominância do sorotipo 3).
(A epidemia de Dengue/Dengue Hemorrágico 2001/2002 no município do Rio de Janeiro).REVISTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA TROPICAL
O Rio sofreu em 2005/2006 outra epidemia e, novamente 2009/2010 se estendendo pelo ano de 2011.
A Dengue continua dominando, com fatos estranhos, absurdos, que envolve desde inseticidas inadequados, medicamentos agressivos e desnecessários, verbas aplicadas aleatoriamente, atendimento médico/hospitalar despreparado.
Como bem disse o doutor Marcos Vilela, a Dengue é apenas a ponta do iceberg...


BEATRIZ ANTONIETA LOPES
Bióloga- Curso em Entomologia Médica
http://blogs.abril.com.br/vetorespatogenicos