Democratização dos meios de comunicação
Por MARCO ANTONIO MONTEIRO COUTINHO | 07/03/2017 | PolíticaDemocratização dos meios de comunicação: um debate necessário!
Você já viu o Jornal Nacional fazer crítica negativa à empresa do Conglomerado "GLOBO"? Lógico que não! E nunca vai ver. A resposta é óbvia: O Jornal Nacional é um produto, é uma mercadoria da Rede Globo. Tem valor de uso e valor de troca.
Para a população tem valor de uso; mesmo que a ideologia dominante do Jornal seja contra seus interesses enquanto classe trabalhadora explorada. Explorada aqui, no sentido de disponibilizar mão de obra para o empresário obter lucro. Às vezes é explorada no sentido mesmo de “Exploração”, ou seja, trabalhar em condições precárias, trabalhar 12 ou 14 horas por dia! Exploração de mão de obra escrava e infantil, em condições degradantes para o ser humano! É o que Marx chamava de “vampirização” do trabalho! Explicar por que isso acontece em poucas linhas é mais complicado. Mas se você estiver pensando em alienação ou fetiche da mercadoria, que também é uma forma de alienação, é isso mesmo.
Para o empresário capitalista tem valor de troca, ou seja, a Rede Globo faz propaganda dos produtos das empresas nos intervalos de sua programação e em troca recebe quantias milionárias pelo tempo de veiculação desses anúncios comerciais. Mas o retorno no fluxo de caixa das empresas vale muito a pena. O investimento é garantido pelas altas audiências.
É ali, na televisão, jornal, rádio, cinema, Internet e revistas que a classe dos capitalistas empresários começa a ganhar e impor sua ideologia dominante, sua visão de mundo capitalista, onde impera o capital. Reprodução e acumulação de capital é seu objetivo final. Criar valor e lucro para o acionista é tudo que interessa. Mesmo que para isso tenha que explorar crianças! Essa é a sua face mais perversa! Ética e respeito à valores humanos passam bem longe!
Você já percebeu ou se perguntou o porquê de não termos o prazer e o direito, que nos é negado há mais de 50 anos, de assistir, mesmo que seja raramente, programas, vídeos, entrevistas e debates sobre personagens tão importantes da história mundial ou do nosso país, e inegavelmente reconhecidos pela maioria da população mundial.
Por que será que a Globo não tem em sua grade de programação, filmes, documentários, debates e vídeos sobre Oscar Niemeyer, Jorge Amado, Paulo Freire, Florestan Fernandes, Caio Prado Júnior, Carlos Nelson Coutinho, Leandro Konder, José Paulo Netto, Reinaldo Carcanholo, Graciliano Ramos e muitos outros brasileiros. A mesma “censura” é feita a grandes pensadores da história mundial como Charlie Chaplin, Albert Einsten, Marx, Engels, Gramsci, Sartre, Simone de Beauvoir, Marcuse, Adorno, Eric Hobsbawn, Rosa Luxemburgo, José Saramago, Fidel Castro, Che Guevara, Lenin, Trotski, Noam Chomsky, Neruda, Lukács, Mészáros, Bertolt Brecht e muitos outros grandes pensadores e pensadoras que você gosta e que involuntariamente omiti.
A resposta do motivo pelo qual a Rede Globo e os principais canais de televisão ignoram esses grandes pensadores não é tão óbvia quanto a primeira pergunta.
A resposta passa pela discussão do fenômeno da “LUTA DE CLASSES”, que uma parcela considerável da população não consegue perceber porque não tem acesso à informação correta sobre o funcionamento da sociedade capitalista; ou se nega a fazer porque a grande mídia criou um mito sobre o assunto, ideias que foram inculcadas há anos na consciência popular, e até mesmo no inconsciente coletivo de grande parte da sociedade, e que contribuem para manter a desconfiança em relação a assuntos como a luta de classes, o socialismo, o marxismo e muitos outros temas que não são convenientes, pois irão desmascarar os detentores do capital. Dessa forma, ignoram esses conteúdos, faz de conta que essa realidade não existe; e dessa forma grande parte das pessoas ainda não percebeu que esse assunto afeta diretamente sua vida e o futuro de sua família; e que por isso mesmo é preciso ser discutido e debatido. Curiosamente, a questão só pode ser explicada pela dialética, que é, entre outras considerações importantes, a permanente luta dos contrários, a permanente luta pela superação de qualquer tipo de alienação. Pois ao negar a “Luta de Classes”, fazer de conta que ela não existe, a grande mídia conservadora está na realidade caracterizando exatamente a sociedade defendida pelo socialismo, que é a sociedade apenas da classe trabalhadora. A classe dos exploradores, os empresários capitalistas, será definitivamente abolida!
Sabe que dia as principais emissoras de TV e a grande mídia vão fazer esse debate? Nunca! Não irão fazer porque não interessa para eles! Por que a “Luta de Classes” é uma luta ideológica, mas é acima de tudo uma luta política, uma luta por interesses antagônicos, totalmente contrária a seus interesses! Quem tem que propor e fazer essa discussão é a sociedade organizada, através das associações, dos sindicatos, dos partidos de esquerda, da mídia alternativa, da juventude organizada e com todas as minorias igualmente organizadas. Não podemos mais permitir que a Rede Globo em conluio com grandes grupos econômicos defina a pauta de discussão do país. Quem tem que definir a pauta somos nós, a sociedade civil organizada representada pela classe dos trabalhadores!
O motivo para a Rede Globo, de forma seletiva, autoritária e cruel, negar esse direito para nós, brasileiros, é somente o fato de todos esses grandes pensadores, alguns considerados gênios, serem SOCIALISTAS. O único motivo é somente porque decidiram lutar, de acordo com suas utopias e visão de mundo, por uma sociedade diferente daquela que a Rede Globo e suas coirmãs defendem para resguardar seus próprios interesses e de grandes empresas que, não por acaso, são seus maiores anunciantes.
Censuram e impedem de forma inquisitória e imoral, filmes e debates com diversos pensadores e pensadoras que defendem e lutam por um sistema econômico e político mais justo. Que reivindicam uma sociedade sem miséria, com educação e saúde de qualidade para todos, sem violência contra pobres, negros, mulheres, LGBTs e todas as minorias legitimamente representadas. Impedem porque isso não interessa para a classe dominante, pois representa uma ameaça para seus projetos de poder. Não abrem espaço na grande mídia para discutir a reforma agrária, capaz de gerar milhares de empregos no campo. Não fazem esse debate porque isso não interessa aos grandes latifundiários, que são também os principais sócios do agronegócio. Não surpreende que nos últimos 22 anos, todos os presidentes do Senado Federal são grandes ruralistas e latifundiários. Também não fazem o debate com a sociedade sobre a necessária e urgente auditoria da dívida interna, que consome cinquenta por cento do orçamento da União somente com pagamento de juros, encargos e amortização da “Dívida interna e eterna”. Fazem de tudo para impedir essa discussão porque não interessa aos banqueiros e grandes investidores, dois grandes aliados do maior partido organizado da classe dominante, o Partido da Mídia Global, que são os únicos beneficiados com a sangria aos cofres do Tesouro Nacional. Todas essas disputas representam uma luta de interesses. Isso é LUTA DE CLASSES!
O motivo é o mesmo de cinquenta anos atrás que motivou a Rede Globo apoiar e se beneficiar com o Golpe de 64; é o mesmo motivo que a levou a manipular descaradamente o Golpe midiático no debate decisivo de 1989 para manter seus privilégios; e é também o mesmo motivo que a levou a se transformar em peça fundamental na sofisticada engrenagem Midiático-Jurídico-Parlamentar que culminou no Golpe de 2016, apoiada por parcela significativa do Judiciário e do Congresso. Esse último, dominado por Bancadas conservadoras e fisiológicas, como a dos empresários, que devido seu poder financeiro e apoio dos principais veículos de comunicação se transformou na última eleição na maior Bancada da Câmara Federal com 169 deputados. Alguns candidatos chegam a gastar valores superiores aos que irão receber durante os quatro anos de mandato. É óbvio que o principal objetivo desse deputado será repor esse “grande investimento” através de acordos e conchavos. Este enorme “Cartel corporativista” travestido de Deputados Federais atuarão em conjunto e em conluio para aprovar somente projetos de lei de seus interesses pessoais e de interesse de seus financiadores de campanha.
O motivo é sempre o mesmo: defender, conservar e acumular cada vez mais poder e dinheiro, concentrado nas mãos de uma dúzia de famílias, verdadeiras máfias, que (des)governam, que se apropriam, e que ousam explorar e manipular os verdadeiros donos do Brasil: o trabalhador brasileiro.
Por isso é necessário e urgente que a população brasileira exija uma revisão geral das concessões de rádio e TV, pois a Globo e suas coirmãs impõem aos brasileiros um modelo de televisão compatível com a concepção de mundo do período medieval. É preciso uma campanha de caráter nacional para deixar claro que esse modelo de concessão não é benéfico para o país, pois gera grandes prejuízos para o desenvolvimento pleno e soberano do Brasil enquanto nação independente.
O monopólio da “Família Marinho” faz mal para o Brasil. A Rede Globo não pode ter o poder de decidir o que é melhor para o país. O papel da TV é informar e contribuir para disseminar conhecimento, e não “doutrinar” ou influenciar pessoas, dizer o que ela deve comer, beber, ler, vestir, e o que deve ou não fazer. Isso não é compatível com os valores de liberdade!
Nenhum país democrático permite, por meio de concessões, que um determinado grupo econômico atue em diversas mídias ao mesmo tempo. Isso permite gerar graves conflitos de interesses, e em diversos casos se caracteriza mesmo como crime de lesa-pátria. Esse modelo permite que um determinado grupo econômico estampe na manchete de seu jornal que ficará afixado nas milhares de bancas de jornais pelo país afora uma notícia que dois dias depois será desmentida em uma nota perdida nas páginas centrais. O pior é que essa “notícia mentirosa” também foi dada no Jornal da Noite para uma audiência que pode chegar a mais de oitenta por cento das casas que dispõem de aparelho de televisão, podendo alcançar com isso mais de cem milhões de pessoas. O mais trágico é que a situação é pior ainda, pois durante o dia milhares de rádios e afiliadas dos canais de TV, espalhadas pelo Brasil, repetem a mesma “notícia mentirosa” a cada duas horas.
Não existe pior cenário para a democratização dos meios de comunicação de um país que o quadro atual existente no Brasil. Diz o ditado: “Uma mentira repetida várias vezes acaba se tornando verdade”. É preciso dar um basta nessa situação. Nenhum Governo de esquerda tem capacidade para cumprir essa missão. Esse desafio, vital para a entrada do Brasil no pequeno grupo de países desenvolvidos e de fato democráticos, só pode ser obra da sociedade civil organizada. O Brasil não pode depender da figura de um “Mito do salvador supremo” para resolver esse problema. Essa não é uma obra para um “Salvador da Pátria”.
A última coisa que a grande mídia e seus sócios empresários querem é que a população tenha capacidade de pensar livremente. Pois quando se torna livre para pensar, também se torna livre para questionar, para discordar e para exigir mudanças. Esse é o caminho mais curto para se conquistar a verdadeira emancipação do ser humano. Isso não interessa a quem quer dominar, a quem quer ter o poder de se perpetuar no poder. Para os empresários o ambiente ideal é você acordar, trabalhar, levar quatro horas no trânsito em um ônibus desconfortável; chegar em casa cansado, jantar o que o salário, sempre apertado, permite comprar, assistir ao Jornal Nacional reproduzir somente o que interessa aos donos do poder, ir para a cama dormir e acordar no dia seguinte para recomeçar toda a rotina outra vez.
Não há interesse da classe que controla o sistema econômico e o poder político, que a população tenha tempo de pensar, de questionar e de se organizar. Afinal, tudo isso é necessário para garantir a perpetuação no poder da elite política e o lucro do empresário. É contra esse “Poder” e essa apropriação, feita pelos empresários, do mais-valor, criado por nós trabalhadores, que precisamos lutar; é por isso que precisamos nos unir nas diversas organizações da sociedade civil. Só assim teremos capacidade para derrotar esse câncer que nos mata e saqueia a nação lentamente há mais de cinquenta anos!
O motivo da exploração, da miséria, da injustiça e do autoritarismo em que vivemos, nós já sabemos. É preciso agir. Não é minha intenção fazer discurso nacionalista, mas não podemos mais adiar essa discussão. É preciso nos livrar dessa situação, desse espectro que ainda ronda sobre as nossas cabeças. Concessão é um bem público que pertence à população brasileira. Não é propriedade privada de um determinado grupo econômico que pode usá-la para garantir seus interesses comerciais e políticos. É preciso romper esse cordão umbilical que insiste em nos remeter às décadas da ditadura. É preciso sepultar essa herança maldita que impede a independência plena da população e do Brasil.
A pergunta que cada um de nós tem que responder é até quando vamos tolerar que uma minoria elitizada, plutocrática, multimilionária, e que não tem nenhum compromisso com o país, vai continuar achando que pode mandar no BRASIL. Até quando a grande mídia, associada a políticos oportunistas, corruptos e corporativistas, vai continuar mandando em NÓS, duzentos e dez milhões de brasileiros e brasileiras?