Democracia partidária competitiva e a falência do Welfere State de Keynes.

Por Henrique Francisco dos Santos | 28/08/2017 | História

Resumo 

O seguinte trabalho busca estudar a questão da democracia partidária competitiva, principalmente após a segunda metade do século XX, a luz de autores como Offe, Schumpeter e da teoria keynesiana. Com isso, unindo a teoria da competição política de Claus Offe, seu estudo sobre a falência do Estado de Bem Estar Social de Keynes após a crise de 1970 e da perspectiva minimalista e de um democracia pautada por um grande aparato institucional e de grandes arranjos políticos de Schumpeter, podemos concretizar ideias sobre a transformação dos sistemas políticos modernos e o papel de grandes alianças políticas e da formação de grandes partidos empresa ao redor do mundo atualmente.

 

Palavras Chave

Keynes. Welfere. Offe. Democracia.

 

1.       Democracia partidária competitiva de Claus Offe

 

Clauss Offe, em sua obra Democracia partidária competitiva e o Welfere State, buscar compreender as modificações no sistema político moderno, como a crise econômica de um Estado de Bem Estar social após a década de 1970, o nascimento de partidos políticos com grande organização e burocratização e a ascensão política das massas com apoio de um sufrágio universal e de um sistema mais igualitário.

Ao estudar tais modificações no paradigma político, social e econômico após o colapso econômico dos anos 1970, Offe traz um cenário que emergem uma hegemonia econômica de sistemas liberais, a relativização de ideias progressistas e de um Estado provedor de demandas populares e de uma modificação na atuação dos partidos políticos ao redor do Mundo.

Além disso, o autor enaltece que tal crise econômica não foi um simples fato que poderia ser resolvido pelas ideias de Keynes, ou pela teoria dos chamados ciclos econômicos. A crise modificou também o método produtivo das grandes potencias.

Tal modificação é bastante clara. Como aponta o autor, os sistemas econômicos que antes eram pautados por um grande sistema industrial, passou a dar lugar a uma intensa produção tecnológica.

Além dessa vertente econômica de produção, Clauss Offe utiliza Marx e Mill para explicar as modificações políticas que pautaram a sociedade de massa que passou a existir e essa mesma pautada por um sistema de economia de mercado.

Tanto Marx como Mill sempre acreditaram na distinção completa dos conceitos de democracia plena e capitalismo.

Tal ideia, também, pautou as reformas políticas pôs 1970. A política, pautada pelo vencimento de uma teoria capitalista sobre o socialismo cientifico na URSS e do Estado de Bem-Estar Social, passou a utilizar de métodos demagógicos e com certo oportunismo, para manter seus cargos e alcançar uma reeleição. Aliás, a reeleição, em tempos atuais, e com o aparecimento de grandes partidos empresa ao redor do Mundo, sempre é o primeiro desejo de qualquer homem de Estado. E, a necessidade de barganha e arranjos políticos, para manutenção de cargos e de tempo de poder, legitimam ideias já muito fortes da manutenção do capitalismo e de um sistema de mercado já existentes.

Além disso, o aparecimento de grandes partidos empresa ao redor do Mundo na política atual, atraem mais problemas a uma democracia plena: questões como a não radicalização do partido, a heterogeneidade de seus militantes e de uma necessidade de grandes arranjos políticos também ficaram evidentes.

Finalmente, podemos explicar os motivos de uma total falência da participação efetiva das grandes massas na vida política. Fatores como uma intensa repressão com a falta de participação, tendendo a aspectos de um autoritarismo, merecem ser destacadas. E o mais evidente:   a intensa crítica do parlamento, a descrença na vida política e na sua pratica, principalmente no caso brasileiro atual, auxiliaram num total rompimento de uma participação política efetiva das grandes massas, na decisão de elaboração e preenchimento de suas demandas.

 

2. Explicação da crise e da falência do Welfere State de Keynes por Offe

A partir do pensamento de Claus Offe, na obra “Democracia partidaria competitiva” e com auxilio da teoria econômica Keynesiana da obra “Keynes e o Keynesianismo”, de Pierre Delfaud, podemos entender os motivos que levaram ao colapso deste sistema produtivo e econômico ao redor do Mundo.

Sistematizando e trazendo referências históricas do tema, Keynes, lorde inglês e economista, elaborou uma teoria econômica, que procurava conciliar capital e trabalho, trazendo desenvolvimento econômico e estrutural as grandes potências Mundiais. O Estado, teria um papel importante neste processo.

A teoria econômica keynesiana passa pelos seguintes conceitos: a participação efetiva e dirigista na economia; Estado altamente intervencionista; uma necessidade de desenvolvimento e investimento em setores estruturais do país; a necessidade e pleno emprego e alta carga tributária, que seria transmitida em direitos sociais a população.

Os países pertencentes e aderentes a esta teoria econômica, teria em seu Estado, via regras burocráticas, transferências monetárias, repasse de direitos e incentivos fiscais um papel fundamental no processo de desenvolvimento industrial, social e econômico.

Foi com estas teorias que, a partir do New Deal de Rousevelt nos EUA, após a crise de 1929, que as teorias keynesianas ganharam fundamental importância no desenvolvimento industrial e na diminuição das desigualdades.

O que marcou toda uma era, após a Segunda Grande Guerra, de 1945 a 1970, com as ideias de Keynes, que seria conhecida como “A era de Ouro do Capitalismo”.

Porém, como afirma Offe, na década de 1970, motivada por crises do petróleo em 1974 e 1979 que afetaram a economia do Mundo inteiro, inclusive no Brasil, o Estado de Bem-Estar Social entrou em colapso e chegou a sua falência. O motivo, segundo Offe foi o crescimento de demandas populares, motivadas até pela questão demográfica, que o Estado não conseguia mais prover e garantir todos os direitos sociais, já com uma carga tributaria elevada. Este fato gerou uma crise fiscal sem precedentes a muitas potencias mundiais.

3. Relação entre Claus Offe e Schumpeter na questão da democracia partidaria competitiva

Tanto no pensamento de Offe, como de Schumpeter, em “Capitalismo, socialismo e democracia”, podemos relacionar alguns conceitos a respeito de uma democracia partidaria atual e seus problemas.

Primeiramente, Offe diz respeito a uma teoria de imensa heterogeneidade cultural entre os militantes de partidos políticos após a década de 1980. Neste sentido, Schumpeter, em uma teoria mais minimalista, cita que “o comportamento humano é diferente quando influenciado em aglomeração”. Tal referencia pode trazer sentido, por exemplo, na necessidade de partidos políticos atuais se tornarem enormes maquinas burocráticas e empresariais e com uma ampla necessidade de arranjos políticos por cargos e votos.

Um fato mencionado por Schumpeter e Offe faz referência com um chamado elitismo na tomada de cargos e de eleição de mandatários.

E, o fato de um sistema econômico capitalista de mercado também está presente nos dois autores. Enquanto Offe cita a falencia do Welfere State e uma hegemonia do capitalismo e de arranjos políticos que beneficiam a classe burguesa, Schumpeter menciona o capitalismo e o livre mercado no  aspecto politico como uma relação de concorrência imperfeita. A explicação passa pelos grandes oligopólios que se formaram, também no espaço político e de grandes “partidos empresas”, perpetuando o capitalismo com arranjos e concorrências desleais e até fraudulentas.

Finalmente, Schumpeter concorda com Offe no sentido que, devido a não radicalização de militantes dos partidos políticos no período moderno, sua liderança e seus espectros políticos sempre tendem ao centro. Isso se dá pela necessidade cada vez maior de arranjos e alianças politicas entre eles, seja passa facilitar repasse de recursos ou mesmo a ocupação de cargos. Neste sentido, somado a já hegemonia do sistema de mercado, tais arranjos políticos e essa não radicalização na postura dos partidos, acaba por perpetuar um sistema capitalista em todo o Mundo. 

 

4. Conclusão

A partir das obras de Keynes, Offe e Schumpeter, podemos concluir que, após a década de 1980, a crise fiscal, o excesso nas demandas do Estado de Bem-Estar Social e a ascensão de governos neoliberais, houve uma chamada hegemonia do livre mercado e do capitalismo. Além disso, como menciona Offe, a participação política efetiva das massas se tornou muito difícil, pela maior burocratização dos partidos e da criação de chamados “partidos empresa”, que reúnem uma grande quantidade de militantes, diferentes social, cultural e ideologicamente. Fato que facilitou arranjos políticos em favor dos interesses capitalistas e interesses individuais. Além disso, de acordo com Schumpeter e Offe, podemos concluir nesta série de arranjos entre todos estes partidos, um desejo claro de reeleição, do aumento de cargos e de favores, visando uma supremacia de elites políticas e dificultando em muito a ampla participação do povo e a realização de um regime democrático pleno. 

 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

DELFAUDPierre. Keynes e o keynesianismo. Europa América. 1988.

OFFE, C. A. A democracia partidaria competitiva e o “Welfere State” Keynesiano. Revista de Ciências Sociais. 1983.

SCHUMPETER, Joseph. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961.