DELEGADA MARIA ELISA (PARTE XXXVI): O “VESPERAL” DO DELEGADO JOSÉ ALVES E OS NOSSOS “PÁSSAROS NÃO TÃO FERIDOS”
Por Felipe Genovez | 21/02/2019 | HistóriaO alinhamento:
Dia 06.07.07, está próximo da chegada do tão esperado alinhamento dos “zeros e setes”, quando o próximo “Portal Estelar” poderia se fechar, talvez por definitivo, se bem que em termos quânticos isso era impossível, seria muito radical, porém, no modo convencional poderia significar o fim de uma jornada.
Por volta das sete horas e trinta minutos fui tomar café no Hotel Vieiras (Avenida do Estado - Balneário Camboriú). Logo que sentei apareceu o Delegado Alves como se fosse um anjo amigo. Aquele seu semblante de pessoa mais velha em consideração ao que aparentava, seu andar já era lendo, sua voz um pouco devagar, sua arcada dentária superior em desnível em relação a inferior, seus cabelos brancos haviam rareado, uma calvice se anunciava, corpo magro, com quase um e oitenta de altura (ou um pouco menos). Alves estava no seu terceiro casamento, soube por meio de Marilisa que era uma mulher bem mais jovem por quem ele morria de saudades. Fazia caminhada, corria na praia..., tudo para manter o porte, a testosterona viva, a silhueta definida, uma saúde aceitável. Olhando para ele via uma árvore na natureza que dava sinais de final dos tempos, querendo produzir tresloucadamente flores, frutos... tudo para garantir a sobrevivência da espécie. Muito triste, um destino inexpugnável para todos nós, e quando isso acontecia era para se preocupar..., a vida poderia estar se esvaindo ou em declínio, em que pese a propaganda midiática em contrário. Lembrei que ele havia me pedido no dia anterior, isso no transcorrer da viagem de retorno de Videira, que não o colocasse mais em comissões de processo disciplinar porque estava se sentido desmotivado, cansado, especialmente, porque não queria mais ficar longe da sua esposa, sua alegria de viver, seu porto seguro, seu “vesperal” final para juntos apreciar o por do sol da varanda... Em silêncio lamentei a perda de um amigo sincero e puro, não havia como não entender seu pedido.
Alves veio até minha mesa e sentou ao meu lado. Parecia ávido por uma conversa, uma palavra amiga naquela manhã. Eu, um cadinho recolhido, meditando sobre o novo dia, em meio a segredos incontáveis, ninguém mais além de Marilisa, nossa relação de “cumplicidade” (sim, acho que poderia confiar nela..) e nas estratégias que estava preparando para aquele dia. Alves me trouxe para a realidade, foi relatando que na noite do dia anterior caminhou por duas horas, foi rever o mar, sonhar acordado com sua jovem esposa... E naquela manhã havia levando da cama as seis horas e já tinha vindo tomar seu café, “e que cafezão”, disse ele (comeu pouco à noite...). Começamos a falar sobre “escrita”, pois eu revelei que na note de ontem havia ficado até por volta das duas da madrugada acordado lendo, escrevendo, meditando (também assisti o progrma do “Jô Soares” entrevistando Hortência, a nossa “basqueteira-mor”...). Naquele dia, também, acordei por volta das seis da manhã e dali voltei a escrever, “navegar” na internet... Lembrei de Marilisa com carinho que outro dia me disse que : “Eu pensava demais, como queria que aquilo fosse verdadeiro, tantos mistérios para serem descobertas, achados, isso em minha mente, já Marilisa era uma pessoa simples, complicada...e ao mesmo tempo um ser “complexo”, cheia de “plexos”..., mas que além de compreendida, conhecida..., precisava de atenção. Procurei fazer um paralelo entre ela e a jovem mulher evangélica de Alves, piamente fiel e “temente” a Deus..., que diferenças brutais...”. Alves relatou que numa certa oportunidade passou um trabalho danado para fazer sua monografia de Direito, teve sérias dificuldades... e, depois, confessou que gostava muito era de ler romances... Pensei: “Puxa, será que ele seria capaz de entender minha história com Marilisa, um verdadeiro laboratório em termos de experiências mútuas, crescimento interior...? Sim, mas por hora era melhor esquecer nossos pensamentos mais íntimos, mas que não se percam jamais”. Alves citou Sidney Sheldon e um outro autor que achava incrível. Relatou a trama de um livro... e na sequência mencionou “Pássaros Feridos” (lembrei que esse era o livro preferido da “Dinha” que havia me apresentado essa obra que chegou a ler umas três vezes, além de assistir o filme (The Thorn Byrds – de Colleeen McCullough), cuja trama se passou na Austrália... A seguir, falamos sobre “espiritualidade” e como as coisas nas nossas vidas era programadas. Alves citou um caso da “Coca-Cola”, pois ao ser apresentada num filme..., ao final muita gente acabou sendo induzida a ir beber esse refrigerante. Argumentei que o “Poder Econômico” ditava nossas vidas e a mídia era responsável por conduzir a vida das pessoas vistas como negócio, mercado consumidor... Relatei que na noite anterior estava com Marilisa e Patrícia Angélica e falamos no seu nome. Nessa ocasião Marilisa teria dito que ele só queria saber de namorar, não pensava em nada mais, enquanto que Patrícia Angélica completou dizendo que nosso amigo entrou para a igreja quadrangular só por causa da esposa. Aproveitei o gancho e teria lembrado que esse estado mental era responsável pelos melhores dias da sua vida. Encurtei a conversa com Alves avisando que teria que ir para o quarto tomar banho e aconselhei que ele aguardasse pela chegada de Marilisa e Patrícia Angélica que ainda não tinham descido para o café, assim poderia continuar a conversa na companhia delas. Fui para meu quarto e parecia que sentia os prenúncios da chegada do portal “07.07.07”, tão próximo enquanto que Marilisa parecia desconectada e distante... Será que ela lembraria do dia de amanhã, faria planos? Teria imaginado o imaginável, tomar banho à noite em trajes sumários no mar, assistir o luar da meia noite, contar estrelas... e jogar conversa fora, darmos boas risadas despreocupadamente, com se fôssemos dois adolescentes primaveris...
O encontro na Delegacia Regional de Balneário Camboriú:
Por volta das nove horas, ainda estava digitando no Hotel Vieiras e Marilisa me ligou no telefone interno. Atendi e ela foi dizendo carregada de “modo formal”:
- “Doutor, nós estamos aqui embaixo aguardando. Não quer que a gente vá indo na frente adiantando os trabalhos, depois você vai?”
Concordei:
- “Ah, sim. Avisa para o Samir levar vocês e em seguida ele vem me apanhar”.
O diálogo foi rápido e sem brilho, muito provavelmente, estava falando na presença da antenada Patrícia Angélica, por isso parecia sem emoção, sem o seu tradicional bom dia cheio de graça, sem nada temer, apenas uma conversa fria e “metálica” o que me fez pensar: “Sim, em nome de uma coisa ‘linda’ criei uma energia reversa e agora tenho que juntar cacos meus espalhados pelo chão vazio... Mas a grande questão não era Marilisa, isto sim, a dimensão dos meus sentimentos difusos e sem aparente controle. Provavelmente para ela eu seria mais um número que só tinha valia profissional, uma estatística em termos de passagem pela vida das pessoas, um acidente de percurso que poderia trazer preocupações, um sinal de trânsito, um peça de retalhos de cetim... Enquanto ela foi transformada em estrela, na lua cheia, no sol, no arco-íris..., galvanizando minha mente para o “gargarejo”, tipo “Guilhermo Aranteano”. Reservei a ela minhas melhores “memórias”, potencializei meus processos sinápticos regados a neurotransmissores cheios de intensidade, catalizei o augusto da minha emoção, sintetizei o mais profundo dos meus pensamentos... Sim, ao tentar mostrar esse universo que criei para um ser “utópico”, dei azo a um efeito contrário que me trouxe certos medos, distanciamentos da realidade, tensão, expectativa e ansiedade em terminar logo o que havia começado. Lembrei do “amanhã”, quando esse sentimento poderia ter uma “finitude” cósmica, já que tinha criado meus antígenos capazes de reverter todo esse processo que envolvia sentimentos fortes e enraizados, não que não continuaria mantendo nossos contatos, mas a idéia era que isso passasse a ocorrer de outra forma, com menor intensidade quanto a meu envolvimento emocional. Sim, nesse quesito Marilisa já tinha feito muito por se construir uma verdadeira história que não foi o suficiente, não chegou ao fim, não transcendeu... e, tampouco, superou o infinito de nós dois.
Por volta das dez horas da manhã cheguei na Delegacia Regional de Balneário Camboriú e fui direto para a sala de audiências. Passei por Marilisa, Alves e Samir que conversavam próximo a viatura (Renault Cénic), na entrada do prédio. Era incrível perceber como Marilisa se sentia à vontade, conversava animadamente, sorria, brincava, interagia com todos, era pura alegria. Minha querida amiga deixava transparecer estar muito à vontade, livre de pressões fora do seu dia a dia em Joinville, sempre com sua energia e interior lindos, livre, leve e solta e já tinha observado todo esse seu jeito noutras ocasiões. Mas quando eu estava presente ela criava uma condição reverencial, tipo de proteção, formalismo..., o que me levava para distante, muito embora eu era o protagonista, o responsável, o protetor-geral, o centro de autoridade e poder” pensei. Iniciei a audiência e durante o curso da tomada de depoimento, quando se apresentou a oportunidade para discutirmos a data, argumentei:
- “Sim, vocês não sabem que dia vai ser amanhã? Puxa, pensem. Amanhã é um dia especial. Prestem atenção na energia do dia de amanhã. É ‘sete do sete de dois mil e sete’. Olhem os ‘setes’, por favor, olhem bem!. Ah, doutora Marilisa, um mais seis é ‘sete’, viu?”
Marilisa, sentada do outro lado argumentou meio que sem jeito, sem perder sua elegância repercutiu:
- “É mesmo, nem tinha pensado nisso...”. (risos)
Completei:
- “É, um dia como amanhã nunca mais em nossas vidas”.
Continuei a audiência. Marilisa certamente não entendeu absolutamente nada, talvez não conseguisse ou não quisesse dar a profundidade naquelas minhas palavra, estava presa e cativa ao mundo “formal”, bem mais fácil, programado, fazendo de conta que estava tudo bem, tudo normal, seguro e definido. Pensei comigo que na verdade havia mergulhado naqueles sentimentos e assumi o risco de vivê-los na sua amplitude, correndo riscos de me expor de forma imprevisível e visceralmente, abri meu coração, a minha emoção, meus sentimentos mais finos... em busca de estabelecer uma relação de amizade muito superior que poderia nos trazer crescimento, evolução, fortalecimento... De outra parte, a emoção de viver todos aqueles matizes era algo indescritível, impagável, irrecusável... Sim, tinha o controle minhas emoções e nada se perderia no passado, presente e futuro, certamente que conseguiria sobreviver respirando a beleza da vida, sorvendo a poesia, a musica...