DELEGADA MARIA ELISA (PARTE XX): ENCONTRO COM O DELEGADO JOSÉ KLOCK. OS DESAFIOS PARA OS DELEGADOS AMIGOS DO FUTURO GOVERNADOR LEONEL PAVAN. ABSOLUTOS REGADOS PELO ABSOLUTISMO?
Por Felipe Genovez | 19/02/2019 | HistóriaUm encontro com o Delegado José Klock – Presidente da Câmara de Vereadores de Indaial:
Dia 18.06.07, por volta das dezoito horas, cheguei na Delegacia de Polícia de Indaial, onde fui fazer uma visita para o Delegado e Vereador José Klock. Logo que fui informado que Klock encontrava-se junto ao setor de celas de presos, me desloquei ao seu encontro, visualizando-o no fundo do corredor, próximo a uma porta onde julguei haver alguém custodiado. Klock, logo que percebeu a minha aproximação, veio na minha direção com um largo sorriso estampando seu rosto, com espírito desarmado, bem diferente do nosso último encontro. Klock se revelava um legítimo “alemão”, esguio, alto, cavanhaque, cabelos ralos, andar rápido, percepção aguçada, comedido nos atos e nas palavras, habilidoso e meticuloso. Fiquei surpreso com sua acolhida, pois revelava um outro lado que eu não conhecia: parecia humilde e humano, quando me dirigiu a palavra foi se desculpando em razão de sua conduta na última vez que nos encontramos ali naquele mesmo local, pois estava muito tenso, pressionado e fez alguns desabafos. A seguir fez a seguinte observação
- “Outro dia esteve aqui aquela Delegada Corregedora, como é mesmo nome, não estou lembrando no momento...”
Arrisquei um palpite:
- “A Veronice!”
Kock confirmou:
- Ah, sim, é isso, foi a Veronice! Eu disse para ela: ‘Puxa, eu devo desculpas ao doutor Felipe. Ele esteve aqui e eu disse algumas coisas para ele’. Pois é doutor, o senhor me desculpa por aquele dia...”.
Interrompi:
- “Mas Klock, naquela dia de dois mil e quatro em momento algum eu senti que você foi mal educado comigo ou que disse alguma coisa ruim. Eu lembro perfeitamente tudo o que você me disse, lembra? Então, você chegou para mim e foi dizendo:Paul ‘doutor, eu fico até mal vendo uma pessoa como o senhor, com a sua história, biografia, fazendo esse serviço de Corregedoria, visitando Delegacias, o senhor não merecia isso! Eu me sinto muito mal vendo o senhor tendo que passar por uma situação dessas, o senhor era para estar no nosso comando...’. Eu cheguei e disse para você que estava tudo bem e que não tinha problema algum eu desempenhar as funções de Corregedor. Eu me considero bastante humilde, ainda mais agora com trinta anos de serviço na Polícia Civil...”.
Os Delegados, o futuro Governador Leonel Pavan e a pavimentação da estrada para o futuro:
Klock me ouviu atentamente e eu senti que na época do Delegado-Geral Thomé ele deveria se sentir muito pressionado à frente da Delegacia de Indaial, mas agora diferente, não havia mais aquela pressão, ele parecia se sentir seguro, convicto, livre para externar suas opiniões e longe de qualquer maldade ou cobranças de seus superiores. Acabamos conversando sobre o encontro dos Delegados em Lages no último sábado... Também, concordamos que o governo Luiz Henrique da Silveira havia se revelado o pior para os Delegados na história, também para a Polícia Civil, desde o começo da gestão do Dirceu Silveira à frente da Delegacia-Geral, na gestão do Secretário de Segurança João Henrique Blasi, depois vieram os Delegados Thomé, Ilson e Maurício Eskudlark. Aproveitei e pedi licença para acessar seu computador a fim de imprimir a proposta de “Emenda Constitucional” que andava divulgando para os Delegados para fins de criação da “Procuradoria-Geral da Polícia Civil”. Logo que o material foi impresso repassei para Klock que fez a leitura, mas mesmo assim eu fiz questão de comentar cada tópico. Ao final da conversa, depois das explicações, Klock concordou que a proposta era o caminho para que os Delegados conseguissem vislumbrar um futuro melhor, considerando a pretensão isonômica salarial com os membros do Ministério Público, como já ocorreu na época da Lei n. 7.720/89. Expliquei a idéia de se criar uma “onda”, e pressionar as “três vias” de poder na Polícia Civil (cúpula, Delegados Regionais e lideranças classistas). Também, a estratégia de se transformar a “idéia” ou “projeto” em aspiração histórica em bloco para fins de ser apresentada ao Vice-Governador Pavan, pois quando viesse assumir o governo do Estado poderia marcar história. Também, argumentei que se no futuro governo Leonel Pavan conseguíssemos aprovar essa “Emenda Constitucional” já conseguiríamos muito, que no próximo governo poderíamos lutar por melhorias salariais e institucionais, como a Lei Orgânica e outros projetos. Klock agradeceu a minha visita, ressaltando que foi muito importante nós termos conversado. Finalmente, lembrei que se o governo concedeu para os Peritos Criminais a sua independência institucional por meio de “Emenda Constitucional”, se os Oficiais da PM conseguiram a sua “isonomia” com os Delegados, então aquele mesmo governo estaria em dívida com os Delegados e temos de se cobrar essa fatura, um projeto que pavimentasse a estrada para o futuro. Comentei, ao final, que esse era o grande desafio para os Delegados amigos do futuro governador Leonel Pavan: Maurício Eskudlark, Ademir Serafim e Magali Nunes Ignácio, todos com forte ligação política em Balneário Camboriú.
Delegados entre o absoluto e o absolutismo de seus cargos políticos:
Por volta das quinze horas resolvi dar uma passada na Delegacia Regional de Blumenau e visitar o Delegado Rodrigo Marquetti que desbancou “Juraci Darolt” no comando da Polícia Civil. Estava retornando de Timbó, onde fui ouvir policiais e testemunhas numa sindicância. Cheguei no gabinete de Rodrigo e logo o reconheci com certa dificuldade, pois ainda tinha em mente aquele pequeno Investigador Policial que uma vez conheci. No gabinete encontravam-se dois policiais tratando de uma “Blitze” para apreensão de máquinas caça-níqueis. Rodrigo logo que me viu entrar ficou surpreso e sinalizou positivamente com relação ao franqueamento da minha introdução no recinto. Fiquei impressionado com a sua performace, muito embora via nele ainda resquícios de um garoto recém ingresso na carreira. Rodrigo estava com o rosto cheio, sobrando gordura no abdômen e papada no rosto. Achei engraçado porque ele possuía estatura muito baixa e compleição física para ser magro. Aquela gordura que sobrava em seu corpo indicava muitos almoços, jantares, contatos e muito tensão, nervosismo, necessidade de alto-afirmação. Pensei: “Se esse ‘cara’ não se cuidar, daqui alguns anos vai pagar caro por sua ânsia pelo poder, ah, se vai...”. Mas resolvi guardar comigo aqueles pensamentos, enquanto permaneci no local ouvindo os contatos que fazia para conseguir um local para guardar as dezenas de máquinas caça-níqueis que deveriam ser apreendidas durante uma operação que estava sendo planejada. A um certo momento, como estava sentindo que a conversa iria se protrair por mais tempo, resolvi abreviar minha visita e me retirei, porém, antes avisei que no dia seguinte retornaria à DRP/Blumenau para ouvir a Delegada Jane Picolli. Sai do gabinete de Rodrigo pensando no Delegado Juraci Darolt, Quarta Entrância que havia sido desbancado por um Delegado novinho. Lembrei que havia conversado em 2005 com Darolt naquele mesmo gabinete que estava sentado Rodrigo Machetti e advertido sobre a necessidade de se resgatar princípios institucionais, porém, Darolt parecia se julgar muito além do bem e do mal, intocável, absoluto, eterno... Em razão disso, não pude deixar de lamentar aquela situação, mas quantas vezes conversei com Darolt sobre a necessidade de se criar o “Colégio dos Delegados Regionais”, chegando a propor que o primeiro encontro fosse marcado para Blumenau. Darolt sempre ouvia tudo, concordava, mas não se comprometia com absolutamente nada e, lamentavelmente, tudo continuava igual. Quanto mal se praticou e se praticava não só à instituição,. Mas a todos os Delegados, policiais em razão de mesquinhez, estupidez, hipocrisia, atrasos institucionais, ambições pessoais, interesses políticos e outros. Darolt não poderia ser culpado de tudo isso sozinho, mas era um belo exemplo porque sofreu na carne os efeitos da sua própria omissão... Aliás, Marilisa em Joinville foi outro exemplo, porque no ano de 1999 assumiu a Delegacia Regional na condição de Delegada de Polícia com poucos anos na carreira, ainda tendo que percorrer anos para chegar ao último patamar, mesmo assim, por ingerências políticas, foi nomeada Delegada Regional da maior cidade do Estado, desbancando Delegados bem mais graduados e antigos na própria região. E todos nós acabamos pagando um preço por isso. Acabei lembrando do Corregedor Nilton Andrade, Delegado de Quarta Entrância, cheio de “controles” sobre coisas “banais”, enquanto virava as costas para as questões relevantes, como se nada tivesse com o assunto, sem apresentar projeto algum, cobrar mudanças... Era um quadro muito triste e que vinha de anos. Todos repetiam os mesmos erros passados, faltava vergonha na cara, visão, planejamento estratégico, caráter... e o que parecia valer era a “lei da esperteza”. Sim, mas na verdade são todos uns “burros”.
Dia 19.06.07, pela parte da manhã, estava na cidade de Timbó e resolvi mandar um e-mail para a Delegada Marilisa com a seguinte mensagem:
- “Ta melhorzinha? Eu aqui em Timbó. A noite contigo... Ah, adoro pizza, mas podemos só ficar... Te pego as...? Onde...? Obrigado p/ existir”!!!”
À tarde estava em Blumenau e por volta das quatorze horas recebi um telefonema de Marilisa dizendo que estava muito mal, tinha piorado, marcou médico à tarde, não foi trabalhar e que na quinta estaria de plantão na CPP de Joinville, finalmente, disse que não poderia ir ao nosso encontro. Procurei entender suas justificativas querendo saber se ela havia melhorado. Marilisa comentou ainda que estava muito mal o que me deixou preocupado, na verdade sem saber o que dizer, o que fazer... Segundo seu relato ela estava com alguma infecção estomacal e quando me disse que na quinta estaria de plantão eu imaginei que estava querendo abortar qualquer convite para aquele nosso encontro. Fiquei confuso e me perguntei por que ela estaria parecendo fugidia? Lembrei que disse para ela que não faltaria tempo e ela comentou que nós ainda iríamos bastante e que daria para conversarmos. Argumentei que não tinha muita certeza dessas nossas viagens, mas ela insistiu que havia várias viagens marcadas. Não quis aprofundar a questão porque entendi que não era o momento, mas na verdade o que queria dizer era que o futuro parecia incerto pois não sabia se iria continuar por muito tempo na Corregedoria ou se teríamos alguma outra oportunidade, se o portal continuaria aberto para um entendimento entre nós, em especial, no plano espiritual. Sim, talvez para frente só incertezas, e o chão já parecia me escapar, as coisas me pareciam se perdendo, o tempo passava muito rápido e eu tinha pressa de fazer meus registros, juntar retalhos, montar quebra-cabeças... e ela era figura central dos acontecimentos. Um somatório de coisas passaram a se encaixar e estava se emoldurando uma figura com movimentos, imagens, visões, prenúncios..., especialmente, a sua silhueta como personagem especial diante da miríades de acontecimentos nos planos pessoal e institucional.