DELEGADA MARIA ELISA (PARTE XVIII): VIAGENS AO INFINITO DE DOIS SERES EM MEIO A FUGAS EXISTENCIAIS E A DETERMINISMO DA REALIDADE POLICIAL
Por Felipe Genovez | 19/02/2019 | HistóriaMomento de presentear e sentir:
Dia 14.06.07, logo cedo, pela manhã, aproveitando o horário de folga (as audiências estavam agendadas para o horário vespertino, juntamente com Marilisa, Daniela, Ariane e “Zico” fomos às compras no Paraguai (Cidade Del Leste). Era uma caminhada intensa e na dianteira eu e Marilisa formávamos uma dupla. Atrás, os outros três colegas nos seguiam a uma distância, não mais do que cem metros. Atravessamos a ponte e já do lado do Paraguai começamos olhar os eletrônicos (“pen drives”, câmaras fotográficas, monitores, brinquedos...). Marilisa ficou do meu lado o tempo inteiro, e aquilo me tocou profundamente, pois a senti muito próxima, uma verdadeira companheira... Procurei auxiliá-la nas compras, considerando que ela estava com uma lista contendo vários pedidos. Levei um tênis velho calçado na tentativa de poder trocá-lo, só que não obtive êxito, na verdade meu objetivo era apenas caminhar, ver, gastar tempo e comprar alguma bugiganga eletrônica. Como tínhamos até às dez e trinta para gastar, resolvi priorizar, começando por um cabo HDMI (digital) para meu genro. Depois, acabei comprando um Relógio Cássio de presente para “Zico” e duas caixas de chocolate, uma para Ariane e outra para Daniela. Perguntei para Marilisa o que ela desejava ganhar e ela comentou:
- “Quando o ‘Zico’ receber esse presente ele vai passar a gostar ainda mais de ti, vai te lamber...”.
Fiquei surpreso com aquele comentário, porque nunca tinha pensando no fato de dar presentes e esperar que as pessoas gostassem mais ou menos da gente, o fato era que nosso policial parecia bastante remediado, mas num nível quase que despertando o sentimento de compaixão. Não que quisesse criticar Marilisa, apenas que aquela sua observação não fazia parte da minha pretensão, isto é, plantar o efeito “borboletas no meu jardim”. Em seguida nos dirigimos para o “Shopping Americanas” a fim de ultimarmos nossas comprinhas. Antes de entrar nesse centro comercial surpreendi o policial civil “acusado” Valdir Mechailo de costas conversando com um vendedor dentro de uma loja. Olhei para Marilisa e apontei Valdir pelas costas e fomos saindo de fininho para que ele não nos visse naquelas circunstâncias. Marilisa argumentou:
- “Não acredito, meu Deus, como é que pode...? Será que ele nos viu?”
Delegado Peixoto no Paraguai:
Em seguida entramos na galeria e fomos em direção às lojas, onde no interior advinha quem encontrei? Delegado Peixoto da Polinter. Novamente tentamos em vão nos esquivar para não sermos vistos. No caixa acabamos conversando rapidamente, sem entrar em detalhes. Peixoto perguntou:
- “Sim, estais na Corregedoria, né?”
Confirmei, acrescentando que estava presidindo um processo disciplinar, com audiências em Foz do Iguaçu. Procurei ser breve, em especial, porque Marilisa estava no interior da loja e procurei resguardá-la. No interior da loja resolvi investir no presente de Marilisa, escolhendo um vinho chileno e um abridor de garrafas, com design moderno. Não era bem o que eu pensava em dar para minha dileta companheira, mas foi a solução que encontrei para o momento, até porque o tempo já estava esgotado. Acabamos retornando de ônibus até o Hotel Alvorada, do outro lado (brasileiro).
Passeio às Cataratas:
Por volta das onze e trinta horas tomamos a direção das Cataratas. “Zico” resolveu ficar no hotel porque reclamava de uma forte dor de cabeça. Daniela e Ariane sonhavam conhecer as Cataratas e resolvi realizar seus sonhos. Marilisa já tinha estado naquele local numa outra oportunidade com seu ex-esposo (advogado Lima). Deixamos a viatura no Posto Internacional e pegamos um ônibus que fazia a linha até as Cataratas. Novamente eu e Marilisa fomos na frente, tudo se passava rápido demais. Lado a lado, senti sua presença, parecia plenamente integrada e entregue ao momento de descontração e amizade. Ariane também estava mais dócil e chegada. Daniela havia melhorado muito. “Zico” ainda continuava daquele jeito imprevisível, horas bem e noutras ácido, parecia que em guerra com o mundo, ainda mais respirando os nossos ares de liberdade e felicidade.
O retorno para Chapecó e as restrições do Delegado Nilton Andrade:
Na parte da tarde fizemos as audiências na Receita Federal e, por volta das dezessete horas resolvemos iniciar o retorno com pernoite previsto na cidade de Chapecó. Na saída de Foz do Iguaçu resolvemos abastecer a viatura e recebi um telefonema da Investigadora Patrícia Angélica da Gerência de Orientação e Controle relatando que nossas viagens estavam sendo boicotadas pelo Delegado Nilton Andrade. Segundo Patrícia, o Corregedor-Chefe havia determinado que o nosso próximo compromisso em Campos Novos para ouvir uma testemunha deveria ser feita num dia, pois se levava cinco horas para ir e cinco para voltar, isso considerando meia hora para realizar a audiência de ouvida de uma única testemunha. Com isso, segundo Patrícia, a viagem seria feita em no máximo onze horas, podendo ser feita num único dia (bate e volta). Patrícia também repassou a informação que as audiências previstas para Balneário Camboriú também deveriam ser realizadas num único dia, ou seja, o rol de doze testemunhas deveria ser ouvido num único dia, a cada meia hora... Outra do Corregedor-Chefe Nilton Andrade era que viagens somente poderiam ser autorizadas em caso de procedimento disciplinar instaurado, assim, em se tratando de boletins disciplinares não seria mais permitido. Argumentei que viajar de Florianópolis a Campos Novos num só dia era loucura e que a viagem estava marcada dentro de um roteiro, para vários dias, incluindo outros compromissos noutras cidades, o que resultaria em economia de tempo de recursos para o Estado. Quanto as doze testemunhas a serem ouvidas em Balneário Camboriú, argumentei que achava muito questionável aquele procedimento, eis que a atividade correcional não implicava só em ouvir pessoas numa “corrida maluca”, com depoimentos sumários, sem investigações... Tínhamos que considerar que se tratava de uma viagem com custos elevados e teria que se aproveitar para visitar as Delegacias, conversar com Delegados, policiais, inspecionar, diligenciar... Quanto aos boletins de ocorrência a determinação se constituía um absurdo, pois em dois casos se fazia necessário diligências preliminares, como no caso das máquinas caça-níqueis de Garopaba ou no caso do Senhor Luiz Viana de Jaraguá do Sul... Durante a viagem de retorno à Chapeco fiz um desabafo sobre as iniciativas de Nilton Andrade e argumentando que teria que rever a minha posição na Corregedoria... Inteirados dos acontecimentos, os membros da comissão, companheiros de viagem, procuraram colocar panos quentes, recomendando que eu conversasse com o Corregedor Nilton. Argumentei que era difícil engolir aquela posição, pois a impressão que se tinha era que estávamos agindo de maneira a levar algum tipo de vantagem ou gastar tempo em demasia...
A entrega dos presentes e um "relógio" para o Investigador "Zico":
Chegamos em Chapecó por volta da meia-noite e fomos direto para a “Pasteka” comer pastéis. Sentamos numa mesa na parte interna e depois que todos se acomodaram fiz um pedido a Marilisa:
- “Queria conversar contigo em particular. Vamos até ali fora um pouquinho?”
Marilisa me olhou um pouco surpresa e de imediato levantou-se quase que instantaneamente, seguindo-me até a parte externa. Antes, porém, pedi para que “Zico” me entregasse a chave da Renault Cénic. Bem próximo do seu rosto, olhando nos seus olhos, fui dizendo:
- “Eu queria te pedir uma coisa. Espero que tu faças isso por mim...”.
Marilisa sem esperar que eu concluísse foi dizendo:
- “Claro. Pode pedir”.
Continuei:
- “Então, eu queria pedir para que tu entregasses o relógio para o ‘Zico’ agora, ele vai ficar muito feliz se tu fizeres isso. Eu entrego os chocolates para Ariane e Daniela e tu entregas o relógio para o ‘Zico’”.
Marilisa olhou nos meus olhos e foi dizendo:
- “Mas eu não posso fazer isso. Fostes tu que comprasses, ah, eu não posso...”.
Antes que ela terminasse interrompi:
- “Marilisa, tu não vais me negar isso, vais?”
Ela me fixou e ficou sem reação, quando eu reforcei:
- “Puxa, não tem nexo eu entregar os presentes sozinho. Você esteve o tempo todo comigo lá...”.
Fomos para o carro e junto ao bagageiro coletei os presentes e anunciei:
- “O teu presente está aqui na minha bolsa...”.
Marilisa olhou para mim e seus olhos brilharam seguido do seu comentário:
- “Ah, não acredito que tu comprastes...”.
Confirmei e ela ansiosamente esperou que eu o tirasse do interior da minha bolsa. Em seguida, retornamos para o Interior da pastelaria e eu fui dizendo para Ariane e Daniela:
- “Bom, gente, nós trouxemos uns presentinhos aqui para vocês, são coisas simples...”.
Entreguei as duas caixas de chocolate enquanto Marilisa colocava nas mãos de “Zico” o relógio. O que me chamou a atenção foi a forma como ela entregou o relógio para nosso motorista, sem dizer absolutamente nada. Acabei me sentindo culpado porque poderia ter preparado alguma mensagem para que tanto ela como eu repassasse aos nossos companheiros de viagem. Depois daquele momento de confraternização Ariane comentou:
- “Foi muito fino da parte de vocês comprarem os presentes...”.
Portas abertas na entrada da madrugada de "dezesseis do seis":
Dia 15.06.07, por volta da uma da madrugada, depois de comermos nossos lanches nos dirigimos primeiramente ao Hotel Cometa para cumprir nosso pernoite, só que não havia quartos disponíveis. Em seguida nos dirigimos até o Hotel Itamaraty, onde finalmente conseguimos nos instalar. Tinha acertado com Marilisa que iria lhe repassar seu presente na hora que ela já estivesse no seu quarto, pois não queria que os demais soubessem que eu tinha comprado. Já passado da uma e trinta da madrugada liguei para Marilisa e disse que iria até seu quarto. Ao subir até o andar superior encontrei a porta aberta, o que me surpreendeu. Logo que me viu Marilisa foi dizendo:
- “Entra, doutor”. Fiquei meio sem jeito, pois meu objetivo era apenas lhe entregar o presente e logo em seguida retornar. Marilisa veio até a porta eu a abracei efusivamente. Beijei seu rosto e a apertei nos braços fortemente deixando transparecer toda a minha afetividade. Assim permanecei durante segundos que pareciam o caminho do paraíso. Marilisa tentou me afastar, mas não permiti, mantendo a pressão dos meus braços que envolviam o seu corpo. Lembrei que no momento em que aproximamos nossos corpos, ela veio com seu rosto frontal, o que possibilitaria um beijo, porém, preferi não arriscar, não quis complicar nossa relação, nem ousar. Sobre isso pensei que tê-la nos braços com carinho já era o suficiente, porque estava ali mais que uma amiga, uma força espiritual, uma energia e eu nem saberia descrever aquele sentimento que parecia profundo num plano metafísico. Retornei para meu quarto e não pude me conter, lamentando o porquê de não ter aceito seu convite para entrar, teríamos ficado mais tempo juntos conversando... Em razão disso, passei a mão no telefone e liguei para ela novamente:
- “Marilisa, eu quero te dizer algo, é o seguinte: ‘saudade é algo que dói, mas a saudade pode não ser dolorida quando a gente tem certezas no coração. Acho que é isso...”.
Marilisa me interrompeu tentando revelar seus sentimentos:
- “Eu queria te dizer que cada vez mais eu te admiro. Quanto mais eu te conheço mais eu vejo que tu és uma pessoa muito especial...”.
Meio sem jeito e atordoado com aquelas palavras tão maravilhosas interrompi:
- “Que é isso Marilisa, por favor. Mas eu gostaria que tu lembrasses sempre o que eu estou te dizendo: ‘Saudade dói, mas quando a gente tem a outra pessoa no coração, tudo fica mais fácil’. Eu quero que você sempre lembre disso”.
Marilisa, com sua voz carreada de carinho e doçura, continuou a falar da minha pessoa de maneira muito superior para os mortais. Já entrava a madrugada, era dia dezesseis do seis e lembrei da numerologia..., encerramos a conversa e me esforcei para dormir depois daquele dia intenso e cansativo.