DELEGADA MARIA ELISA (PARTE XVII): O MAIOR “CANCER” QUE PODERIA AFETAR AS POLÍCIAS (AS INGERÊNCIAS POLÍTICAS?) E OS DESAFIOS DE UMA EQUIPE CORRECIONAL (PLANOS EXISTENCIAIS).

Por Felipe Genovez | 18/02/2019 | História

O encontro com o Delegado Hélio Natal Dornsbach em Chapecó:

Dia 12.06.07, Por volta das dezoito horas estava saindo de Videira, (Processo Disciplinar - acusado: Valdir Mechailo) e como estava com destino a cidade de Chapecó, quando resolvi telefonar para o amigo Delegado Natal, a fim de convidá-lo para jantarmos no “Galpão Grill”.  Tudo transcorria normal, em cujo percurso aproveitei para conversar um pouco com o  Investigador “Zico” (nosso motorista).

Por volta das vinte e uma horas já estávamos instalados no Hotel Cometa (Chapecó) e resolvi me dirigir  quase que imediatamente até o Galpão Grill na Rua Fernando Machado. Quando cheguei no estabelecimento levei um susto, pois era dia dos namorados e havia uma fila de espera imensa. Olhei para os lados e nem sinal de Natal. Por meio do celular entrei em contato com meu convidado e ele do outro lado avisou que iria me apanhar logo em seguida. Não esperei mais do que vinte minutos e Natal veio ao meu encontro, só que diante das circunstâncias resolvemos ir a pé até a “Pasteka” (pastéis) na Av. Getúlio Vargas.  Pedi dois “Demorados II” e, por último, um pastelão de “banana”. Natal já havia jantado e avisou que estava de plantão na Central de Polícia. Jogamos conversa fora e o assunto que passou a monopolizar nossas atenções foi o encontro dos Delegados na cidade de Lages que ocorreria no próximo final de semana. Natal lamentou que todo mês estava devolvendo dois mil e quinhentos reais em razão do teto salarial. Concluímos que a situação estava difícil, especialmente, tendo a Delegada Sonéa Neves (esposa do Delegado Neves – Secretário Adjunto da Segurança Pública) na Presidência da Adpesc. Enquanto comia os pastéis Natal me confessou que não iria ao encontro dos Delegados e eu comentei o mesmo.  Perguntei como era que estava o Delegado Regional de Chapecó, se não havia riscos de perder o cargo. Natal argumentou que o Delegado Alex Boff estava minando de vagar e silenciosamente...  Natal recebeu um contato no celular avisando que havia um flagrante na CPP/Chapecó (tentativa de homicídio) e aí surgiu a necessidade de irmos até  àquela repartição policial. Permaneci por pouco tempo na CPP, o suficiente para constatar a situação lastimável do prédio, todo cheio de deficiências, como a CPP de Joinville. Retornei ao Hotel Cometa já passado da uma hora da madrugada, a fim do descanso tão esperado.

Um “câncer” que afeta as Polícias:

Dia 13.06.07, por volta das dez horas da manhã, cheguei na Delegacia Regional de Chapecó para ouvida do Delegado Regional Mauro, de cujo ato participaram as vogais Delegada Marilisa e a Inspetora Daniela Arantes, além da Escrivã Ariane secretariando os trabalhos. Também, fizeram-se presentes o Advogado Altair e o acusado Valdir Mechailo (Investigador Policial de Videira). Depois da coleta do depoimento o advogado Altair o felicitou por sua nomeação no cargo, em razão de ser de cor preta. No final da conversa argumentei que tínhamos muitos problemas para serem superados na Polícia Civil. O Delegado Mauro que deveria estar ainda no início da carreira e mais o advogado Altair ficaram me observando para ver o  que eu iria dizer e tive que me conter porque iria ferir não só ele, mas também a minha querida Marilisa (ela foi Delegada Regional de Joinville em detrimento de outros Delegados bem mais antigos e graduados).  Na verdade eu pretendia dizer que o maior “câncer” na Polícia Civil era a ingerência política e acabei por dizer outra coisa quase que “perdida” no contexto, meio que sem nexo para não ferir ninguém. 

Os desafios de trabalhar em equipe correcional (um momento de fortalecimento interior):

Depois disso, seguimos viagem para Foz de Iguaçu, e no trajeto o clima não estava dos melhores, não estava conseguindo me ambientar, em especial depois que no dia anterior  - próximo a Treze Tílias - a Inspetora Daniela havia me dito algo não muito educado, justamente quando perguntei por que ela estava tão quieta, tendo me respondido:

- “Por quê, doutor Felipe? O meu silêncio lhe incomoda assim?”

Argumentei que só queria saber se estava gostando da viagem... “Zico” por incrível que pudesse parecer sempre ficava ao lado das mulheres e eram três (Marilisa, Daniela e Ariane). Pude observar o tempo todo que qualquer coisa que abalasse as mulheres “Zico” corria em socorro, dando a impressão que eu era o “ponto mais forte” o “opressor” ou sei lá o que... Para onde quer que as mulheres fossem “Zico” sempre estava atrás, seguindo aquela máxima do “boi” e da “vaca”. Tudo bem que eu contribuísse para aquela situação, por exemplo, não indo atrás..., em especial, da Delegada Marilisa  e da Inspetora Daniela quando se fechavam para fumar (Ariane não fumava).  Sim, as três possuíam muitas coisas para conversar, enquanto que nós, homens, somos mais fechados, focados... “Zico” a toda hora atrás das três, sempre querendo parecer ampará-las, bajulá-las..., às vezes me parecia passar dos limites. A viagem de Chapecó até São Lourenço do Oeste começou meio tensa porque dava para sentir que eu não parecia muito à vontade, ainda mais depois do que Daniela havia me dito e que de certa forma me tocou.  Mas estava disposto a passar uma borracha e apagar tudo, levar a coisa goela-abaixo, pois o importante era vencer aquela etapa e depois ver no que iria dar. Na verdade a minha pretensão era  rever meus pensamentos, depois largar tudo, mas agora tinha que superar aquele impasse, todo o meu silêncio, meus conflitos interiores, a tensão de ter que lidar com pessoas tão diferentes enquanto tinha outras coisas tão importantes para me preocupar. “Zico” tinha sérios problemas financeiros, e já no início da viagem, isso na segunda de manhã, ao verificar o extrato no Banco do Besc foi surpreendido com um débido de cinqüenta reais na sua conta e que não estava previsto. A partir dali havia se transformado, parecia bastante incomodado porque estava com pouco dinheiro para a viagem, preocupado com a sua família... Daniela (segundo relato da policial Patrícia da Corregedoria) tinha acabado uma relação com um argentino que a abandonou, retornando para Buenos Aires, chegou a entrar em depressão. Para agravar a situação, sua mãe teve um acidente de carro e ficou gravemente ferida, por último teve um “AVC” e coube a ela ter de cuidá-la, e estava realizando aquela viagem...  Ariane parecia bem, pude perceber uma pessoa maravilhosa, romântica, sensível, pura, sobrevivente... Nunca poderia imaginar que tinha tanto conteúdo e percepção, além de ser muito habilidosa.  No contexto Ariane era suporte emocional de Daniela (assim como a policial Patrícia Angélica). Já Marilisa, bom Marilisa significava muito para mim naquelas alturas, se fez importante e já vinha percebendo nas últimas viagens que fizemos uma energia que começava a se intensificar  e mexer comigo num sentido de servir de base histórica e ao mesmo tempo na linha da amizade. A cada contato que tínhamos, quanto mais próximos ficávamos, sentia nossas energias vibrarem fortes, muito embora sentisse  que ela estava cada vez mais forte no sentido de se relacionar em equipe, enquanto eu tinha  que me segurar, e era o que pretendia fazer doravante, muito embora não imaginasse como aquilo tudo iria acabar, como sairíamos daquela viagem ilesos no plano da amizade e relacionamento profissional. Porém estava disposto a entender essas relações, nossas energias, nossos contatos, nossas forças... 

Quando já estávamos chegando na cidade de São Lourenço do Oeste tudo começou a clarear e os cinco membros da equipe já estavam bem mais a vontade, em especial, eu. Cheguei a cantarolar várias músicas que tocavam. Ariane colocou aquele seus CDs românticos, como BEE GEES, Dido, ABBA...  E aproveitei para colocar meus Durutti Collum, Enigma, Pink Floyd, Carole King, Craig Chaquico, Beatles...  Chegamos em Foz do Iguaçu próximo das dez horas da noite e fomos direto para o Hotel Alvorada, próximo a Ponte da Amizade. Acabamos indo a uma pizzaria no centro de Foz, próximo ao Hotel Internacional (na rua que dá no Exército). Resolvemos degustar uma  pizza e eu duas ou três taças de vinho. O assunto foi reencarnação. Daniela comentou  que acredita piamente em reencarnação, citando um filme... Argumentei que não acreditava em reencarnação, procurando arregimentar alguns dados, como o número de habitantes da Terra, a visão do Cristianismo e o Juízo Final... Marilisa deu a entender que também acreditava em reencarnação, muito embora fosse católica de carteirinha...  Acabamos os três ali falando de coisas sem muita procedência, base científica...  Achei-me um bobo imaginando como “Zico” que deveria invocar “abobrinhas” para estar próximo das mulheres, enquanto que meu espaço era carregado, sem contar o peso da ação, a autoridade e liderança.