DELEGADA MARIA ELISA (PARTE XIV): UMA “JÓIA LOIRA”, O CACIFE DO DELEGADO DIRCEU SILVEIRA E AS ‘VISÕES’ DO DELEGADO-GERENTE SÉRGIO MAUS.
Por Felipe Genovez | 18/02/2019 | HistóriaA jóia “loira” do Delegado Marcucci:
Dia 29.08.06, por volta das dezesseis horas resolvi dar uma passada na Delegacia de Araquari para conversar com o policial e vereador (PSDB) Adelson Westrup. Fui direto até seu gabinete e ele – como das outras vezes - me atendeu prontamente. Perguntei quem ele estava apoiando para Deputado Federal e a resposta foi que era o Deputado Federal Paulo Bauer. Em seguida indaguei quem ele estava apoiando para Deputado Estadual e respondeu que estava com Maurício Peixer, Vereador de Joinville. Adelson explicou que não estava apoiando o Deputado Nilson Gonçalves porque o prefeito de Joinville Marco Tebaldi estava com Peixer que era comprometido com o partido, quanto ao Deputado Nilson Gonçalves, este era mais independente. Adelson relatou que o Delegado Marco Aurélio Marcucci não conseguiu sair candidato e que a esposa do mesmo (uma loira) foi para convenção do partido (PSDB) em Florianópolis e tentou de todas as maneiras assegurar a candidatura do marido, porém, não teve êxito. Adelson confidenciou que a esposa do Delegado Marcucci era bastante ativa politicamente:
- “Aquela loira é fogo na política, precisa ver...”.
O cacife do Delegado Dirceu Silveira:
Adelson ainda contou que o Delegado Dirceu Silveira estava apoiando o Deputado Nilson Gonçalves a quem devia o cargo de Delegado Regional e também o Deputado Adelor Vieira para Federal em razão do seu sogro Bizzoni estar com este candidato... Perguntei quem o Delegado Zulmar estava apoiando e Adelson respondeu que era o Vereador Darci de Mattos, e que se Luiz Henrique fosse reeleito Dirceu Silveira iria ocupar um cargo importante na Capital, quanto que o Delegado Zulmar Valverde assumiria a Delegacia Regional de Joinville. Perguntei quem a Delegada Marilisa estava apoiando e Adelson disse que achava que ela iria apoiar o Deputado Paulo Bauer, não sabendo especificar com quem ficaria para Deputado Estadual. Por último, Adelson apanhou um envelope saco num canto do Gabinete e disse:
- “Olha só o que mandaram para nós aqui...”.
Inspecionei e vi um monte de santinhos do Delegado Thomé e logo lembrei que o policial “Zico” andou por ali distribuindo material de campanha e repassando o “discurso” da “Central de Polícia. Argumentei:
- “Meu Deus, esse pessoal que apoiou o Luiz Henrique fez tanto mal para a Polícia Civil, dá licença, olha, Adelson, não tem a mínima condição, perdemos a Corregedoria-Geral, a Polícia Técnica, os Delegados foram tratados como “república”... e agora vem..., dá licença, sabe quem é que está financiando a campanha...?”
Adelson acabou revelando que o Deputado Djalma Berger iria ser um dos Deputados Federais mais votados do Estado e que ofereceu a cada vereador de Araquari a quantia de quinze mil reais para apoiá-lo. Nas cidades grandes Djalma Berger tem oferecido quatrocentos mil reais para os candidatos a Deputado Estadual que queiram apoiá-lo a Federal, independente de partido.
Nesse mesmo dia redigi a proposta de portaria e adicionei além do artigo duzentos e dez do Estatuto da Polícia Civil (eximir-se do cumprimento do dever legal) também o artigo duzentos e oito que trata do descumprimento do dever legal (proposta do Delegado:
“PORTARIA P-No. /SSP/CPC/GEORC/2006, de /2006. O Delegado-Chefe da Polícia Civil do Estado de Santa Catarina, no uso de suas atribuições legais (art. 226, da Lei n. 6.843, de 28 de julho de 1986), considerando o que foi apurado por meio de procedimento disciplinar preparatório (AIP n. 312/2005) deflagrado pela Corregedoria-Geral de Polícia; considerando a inferência de indícios de que Marco Aurélio Marcucci, Delegado de Polícia de 2ª Entrância, matrícula n. 308.518-0, lotado na DPCo de Itaiópolis, e Eleandro Felício, Investigador Policial, nível SP-PC-TP-1B, matrícula 307.688-1, lotado no Cepol/Joinville, na condição de responsáveis pelas investigações na extinta Divisão de Investigações Criminais – DIC – Joinville, deixaram de atender requisições judiciais, referentes a diligências requeridas pelo primeiro nos autos ns. 038.02.038470-7 (mandado de busca e apreensão), 038.03.002.398-7 (mandado de busca e apreensão), 038.03.002403-7 (mandado de busca e apreensão), 038.02.027333-6 (interceptação telefônica) e 038.03.002405-6 (mandado de busca e apreensão) e ao que consta não foram cumpridas tempestivamente; e, finalmente, considerando que deflui da prova indiciária que os acusados assim agindo transgrediram normas previstas nos arts. 208, inciso XV e 210, XIII, da Lei n. 6.843/86, resolve DESIGNAR o Delegado de Polícia Especial Felipe Genovez, matrícula nº 142.561-7, lotado na Chefia de Polícia e designado para prestar exercício na Corregedoria-Geral de Polícia, Marilisa Boehm, Delegada de Polícia de 4ª Entrância, matricula nº 195.649-3, lotada Delegacia de Polícia de Proteção à Mulher, Criança e Adolescente/Joinville e José Alves, Delegado de Polícia de 4ª Entrância, matrícula n. 108.166-7, lotado 2ª DP/Joinville, para, sob a presidência do primeiro, comporem Comissão de Processo Disciplinar, a fim de apurar irregularidades administrativas atribuídas aos mesmos. Delegado ILSON DA SILVA - Chefe de Polícia”.
O processo disciplinar do Delegado Marco Aurélio Marcucci e o que pensava o Delegado-Gerente Sérgio Maus:
Dia 08.11.06, por volta das 16:00 horas, estava na Gerência de Orientação e Controle da Polícia Civil (Florianópolis) e fui até o gabinete do Gerente Delegado Sérgio Maus para conversar sobre a Comissão de Processo Disciplinar para qual havia sido designado presidente e que iria apurar faltas disciplinares imputadas ao Delegado Marcucci e ao policial Eleandro Felício. Sérgio solicitou o nome dos vogais, pois o Corregedor-Geral da Segurança Pública – Delegado Aldo Prates havia se manifestado nos autos e opinado que fossem escolhidos Márcio Fortkamp e Luiz Carlos Half. Na verdade a comissão era para ser presidida pelo Delegado Valdir Batista, mas o mesmo se considerou impedido, pois discordava do enquadramento proposto pelo Chefe de Polícia. Durante o curso da conversa argumentei:
- “Pois é Sérgio, ontem nós estávamos conversando sobre a necessidade de sermos fortes com os fortes, não foi? Eu vou até sentar e tu vais me ouvir...”.
Argumentei sobre o que ocorreu com Sérgio Lélio Monteiro no final da década de oitenta e início de noventa. Sérgio Lélio conseguiu a nomeação para o cargo de confiança de Delegado Regional de Chapecó, apesar de ser novato na carreira, eis que conseguiu indicação política para o cargo... Na época eu viajava com certa freqüência para Chapecó por conta da representação classista (presidência de órgão de classe) e os policiais traziam informações de que Sérgio Lélio estava cometendo alguns “deslizes” de natureza ética, inclusive, sendo assediado por pessoas suspeitas... Argumentei que Sérgio Lélio era uma pessoa muito boa, mas faltou por parte do comando da Polícia Civil um serviço de inteligência que pudesse prevenir os acontecimentos que se sucederam e resultaram na sua demissão, sem contar que fossem evitados desgastes à imagem da Polícia Civil. Argumentei que a situação do Delegado Marcucci era idêntica e questionei:
- “Veja, Sérgio, a nossa legislação determina que os Delegados tem que ser lotado em comarca compatível com a sua graduação, não é? Isso foi uma conquista, imagina Chapecó é Quarta Entrância, então os Delegados lá lotados teriam que ser de Quarta, certo? Também, o Delegado Regional teria que ser escolhido desse mesmo patamar, porque seria lotado na DRP. Isso também é resultado do nosso princípio da hierarquia, está no artigo sétimo do nosso Estatuto. Então eu te pergunto: ‘como é que pode um comando da Polícia Civil que não exige o cumprimento de normas legais de comissionados e acaba dando exemplo de descumprimento das normas legais, utiliza dois pesos e duas medidas, , quando é para punir um policial bagrinho por não ter cumprido seus deveres aí passa a ter um outro viés, funciona de outro jeito? Dá licença! Olha, Sérgio, eu te relatei o caso do Sérgio Lélio por causa do Marcucci. Pensa bem, um Delegado novo como ele, recém ingresso na carreira, acaba fazendo o jogo do apadrinhamento político como muitos sempre fizeram, vira da noite para o dia Delegado Regional da maior cidade do Estado, passando todos os Delegados de Quarta Entrância para trás, só porque são éticos, não fizeram esse jogo... O Marcucci eu acho que era Delegado Substituto ou de Primeiro e já foi nomeado Delegado Regional para comandar os Delegados velhos da região, sem comentários! Se ao invés disso, a cúpula tivesse resistido e dito para os políticos, para o Governador que tinha que ser um Delegado de no mínimo Quarta Entrância, certamente que o Marcucci estaria hoje quietinho numa cidade do interior fazendo o seu trabalho, adquirindo experiência, maturidade, teria se evitado tudo o que ocorreu, tu não achas? Mas eu também critico a falta de uma rede de informações. Por que a comando da Polícia Civil ou a Corregedoria não tem uma rede de informações para saber o que está acontecendo nos bastidores da instituição? Quanta tragédia nós poderíamos ter evitado...”.
Sérgio concordou, mas não vi muita convicção nos seus gestos e palavras, não disfarçou que aquilo era mais uma questão política e que estava além da sua competência, dos seus interesses, das suas vaidades... Fiquei pensando na sua visão de “Polícia Correicional”, certamente seu foco parecia estar mais voltado no fazer de conta, cumprir papéis, fazer o jogo do poder e do bem servir aos superiores, além de se manter no cargo o máximo possível. Lembrei que outro dia Sérgio Maus tinha me confidenciado que estava em dificuldades financeiras e me perguntou se eu estava sabendo se já estavam pagando um precatório (Adpesc) no valor de quatro mil reais, justamente porque ele estava argolado. Diante desse quadro, realmente ficava difícil alguém resistir a alguma coisa. Retornei para minha sala e liguei para Marilisa Boehm em Joinville, convidando-a para participar na condição de vogal da comissão de Processo Disciplinar (Delegado Marcucci), porém não disse de quem se tratava como acusado. Depois, por indicação da própria Marilisa, liguei para o Delegado José Alves da Delegacia do Sul da cidade (DP/Sul) e formulei o mesmo convide, já que precisava de mais um vogal, o que também foi aceito...