DELEGADA MARIA ELISA  (PARTE XC):  “ENTRE TORPEDOS QUE QUEIMAM, INSTINTOS QUE FALAM, PANELINHAS QUE  ESPINHAM... A GRANDE OUVINTE PATRÍCIA ANGÉLICA E O ESPÍRITO CÉLEBRE DE ‘MADAME NATASHA?’”   

Por Felipe Genovez | 15/03/2019 | História

O “feedback”:

No período vespertino do dia 21.09.07, no horário das 16:00 horas, resolvi telefonar para Marilisa, logo que deixei o gabinete do Delegado Regional Dirceu Silveira e ela prontamente atendeu minha ligação. Comentei que estava telefonando para uma despedida “decente” já que não tivemos tempo nem condições naquele dia que foi “carregado”. Marilisa relatou que estava num banco e passamos a conversar um pouco. Como já era previsível ela quis saber o que Dirceu Silveira havia comentado depois que ela saiu. Respondi que ele tinha feito alguns comentários importantes sobre sua trajetória profissional, inclusive, que sua vida era marcada por um divisor de águas. Marilisa se antecipou e disse:

- “Sei, antes da Regional e depois”.

Confirmei e ela quis saber o que mais ele havia falado. Eu comentei que somente poderia comentar o assunto pessoalmente. Marilisa sem esconder a irritação me cortou:

- “Sim, mas ele não disse também que na vida dele existe o antes e o depois da Regional?”

Achei instigadora aquela sua ironia com um fundo nervoso, mas procurei ficar quieto e mudar de assunto:

- “Bom, eu acho que tu estais precisando é de uma massagem tailandesa pra relaxar, o que tu achas?”

Marilisa soltou um daqueles sorrisos de antigamente, muito embora, dava para perceber que não era espontâneo, teria sido mais um sinal de “replicância” emocional diante da minha provocação, parecido como os nossos tempos mais antigos, havia algo na sua voz, por trás de seu sorriso algo diferente. Sim, eu havia deixado de ser o “Corregedor mito, um “homem importante”, uma espécie de “fidalgo institucional”, para se transformar apenas no “piloto”, um Delegado como os outros, alguém incapaz de despertar aquele sentido de grandiosidade, importância, ostentação...   Optei por continuar com os pés nos chão, na minha condição de “observador”, “pesquisador”, “historiador”..., participando ativamente dos acontecimentos,  procurando respirar e vivenciar todas as emoções possíveis, mesmo que tivesse que me expor, quebrar vidraças..., mas fiel a meus objetivos, princípios e ideais. Aproveitei para lançar uma pimenta:

“Pois é, Marilisa, o problema é que tu não gostas de poesia, não é?”

Neste instante ela apenas deixou escapar um riso rápido, dando a impressão que não tinha interesse em comentar o assunto, estava contaminada pelas impressões de Dirceu Silveira, deixando patente a força dos acontecimentos no plano policial e como aquilo determinava todo seus pensamentos, definia seu humor, desejava seu imaginário, encapsulava seus desejos planos... Voltei a insistir, enquanto ela articulava alguma idéia:

- “Ah, esse é o problema, Marilisa, tu não gostas de poesia, então não dá, é difícil a gente conseguir conversar, não é?”

Marilisa, refém do seu humor, acabou abreviando nossa conversa, como se já estivesse para ser atendida, com aquele seu final:

- “Depois eu te ligo”.

Fiquei pensando: “Bom, esse depois dela, é daqui dias, talvez até a próxima audiência... Bom, agora posso dizer que conheço Marilisa, consigo vê-la sobre várias dimensões”. Acabei pensando no Dirceu Silveira, quando na minha presença no seu gabinete minutos antes tinha dito como era difícil ser Delegado Regional de Joinville, cada dia tinha que matar um leão.

De qualquer maneira foi um dia em que Dirceu Silveira havia crescido, não de tamanho, mas de conceito. 

Um “torpedo” para “Marilisa:

Horário: por volta mais ou menos da dezessete horas, como nada de Marilisa ligar, resolvi mandar um torpedo dizendo mais ou menos isto: “Ma, não esqueça o parecer, vou te sabatinar na viagem. Bjs”.  Na verdade, queria que ela desse alguma importância ao que escrevi, simplesmente.

Por volta das vinte horas recebi uma mensagem de Marilisa com o seguinte conteúdo: “Algo errado”.  Estranhei e mandei uma resposta: “Fale com o coração sempre. Confie”. Imaginei que ela estivesse captando as energias no ar, talvez o meu afastamento, distanciamento e a tensão dos nossos últimos contatos que estava aquém do convencional, do palpável, tangível que sempre foi curial no espaço a dois.  Em seguida veio uma resposta mais estranha ainda: “Estais mandando para o número errado”.  Sem entender, resolvi mandar mais um torpedo: “Errado? Amigos. Sou. E no teu coração. Idem”.  No final, como não veio resposta, mandei mais um torpedo para finalizar: “Ma, fique boa, é o q. eu te desejo”.

Dia 22.09.07, sábado, fiquei pensando no comportamento de Marilisa e procurava reservar um espaço para pensar nela e tentar entender seu tratamento e comportamento.

Dia 23.09.07, domingo, novamente pensei em Marilisa, afinal, continuava intrigado e precisava mantê-la viva em meus pensamentos. Apesar disso, procurei me reservar o silêncio.

Dia 24.09.07, ainda nada de Marilisa, nenhum contato, tampouco, um sinal, nada. “Sim, não se pode dar o que não se tem... Algo parecia errado, mas não comigo, isto sim, com o seu “coração” que parecia insensível. Marilisa parecia ser do tipo que uma vez “acarinhada” apresentava como resposta “pisar”, “machucar”, “ferir”... Agora, se ameaçada, encurralada..., se tornava dócil, afável, simpática, receptiva..., mas tudo isso no plano das habilidades, sutilidades...  

Um jantar com “Madame Natasha”:

No horário das 20:30 horas estava no Hotel Susin localizado na cidade de Mafra, enquanto jantava com a policial Patrícia Angélica, o motorista Dílson dava uma caminhada pelo restaurante sem que se aproximasse de nós. Relatei para Patrícia o que tinha ocorrido na sexta-feira última, no gabinete do Delegado Regional Dirceu Silveira.  Comentei que Marilisa deveria ter ficado chateada com meu posicionamento, quando a critiquei (construtivamente) dizendo que ela tinha que procurar se especializar profissionalmente, era impossível para a instituição que principalmente os Delegados deveriam buscar o aperfeiçoamento profissional... É claro que nada comentei sobre os “torpedos”, pois isso era um assunto reservado e que dizia respeito apenas a duas pessoas muito próximas e especiais. Acabei comentando sobre a Corregedoria e lembrei que naquele dia, no período da manhã (entre oito e nove horas), antes de iniciar a viagem, encontrei as policiais Nora, Ieda, Ariane e mais a estagiária Patrícia, todas reunidas no setor de protocolo, conversando animadamente sobre assuntos particulares.  Já tinha observando aquele procedimento muitas vezes. Patrícia Angélica que estava jantando comigo comentou:

- “Doutor, a Nora vai trabalhar de manhã porque precisa ganhar horas extras. Lá existe um panelinha. A Nora, a Ieda, a Ariane e agora a Daniela fazem parte da mesma panelinha...”.

Interrompi:

- “Ah, mas isso é ruim, eu não gosto de ‘panelinhas’, pois é justamente isso que derruba direções...”.

Voltei a falar sobre o que aconteceu na sexta-feira no gabinete do Delegado Dirceu Silveira:

- “Pois é Patrícia, eu entendo que a Marilisa quer passar longe de computador, não quer aprender nada, não faz questão de fazer algum curso, porque ela sabe que isso implica em trabalhar mais, produzir mais. Ela sabe que se não usar computador o pessoal já não vai mandar serviço por causa das suas limitações, como aconteceu na sexta, quando o Dirceu teve que voltar atrás e não repassar o serviço. Brincadeira. Isso é muito complicado. A gente tem que buscar o conhecimento, melhorar a qualidade dos nossos serviços, e não ficar fugindo de responsabilidades. Eu sou radicalmente contra perseguições, sou contra hostilizar pessoas,  sou contra punir, julgar, mas também não posso admitir que os espertos ficam ganhando seus salários ‘fritando bolinhos’ nas Delegacias, enquanto que os outros ficam na pedreira, é injusto, eu não aceito isso”.

Patrícia Angélica concordou com meu ponto de vista.

A espera de um torpedo para curar a dor da falta:

Dia 24.09.07, no horário das dezoito horas, enfim, verifiquei meu celular e percebi que havia duas ligações de Marilisa, daquele mesmo dia, às dezessete horas e trinta e nove minutos... Fiquei ansioso, pois suas últimas mensagens mais pareciam sem pé e  sem cabeça. Era uma “Marilisa” irascível, revelando aquele seu lado “terrorífico”, abominável, bruto, vingativo... Logo em seguida, resolvi mandar um e-mail com o seguinte conteúdo: “Ma, vi a sua lig. Estou em Mafra. A tarde em Jville, até amanhã. Bjs querida”. É claro que aquele tipo de mensagem não era a indicada, pois Marilisa já tinha provado que quando adulada ela devolvia com os pés, isso em se tratando de “homem” com comportamento “babão”, parecendo “interessado”... Marilisa mostrou que gostava de homem de personalidade forte, marcante, atitude, desafiante, seguro... E, eu, justamente, fazia o tipo de homem “bonzinho”,  “docinho”... Mas era assim que eu queria me apresentar para manter viva a nossa relação e para que pudesse provar um pouco do seu lado, digamos, quase perverso e previsível, o seu jeito “Má” de Marilisa. Sim, com isso eu manteria vivo o relato dessa história e de sua (nossa) trajetória. Eu sei que Marilisa não iria me procurar, talvez, só quisesse se aproximar em razão de uma reflexão sobre sua conduta na sexta-feira passada...