DELEGADA MARIA ELISA  (PARTE VII): POLICIAIS AGONIZANDO NOS BASTIDORES ENQUANTO QUE PARA OUTROS O PODER ABSOLUTO?

Por Felipe Genovez | 15/02/2019 | História

A Agonia dos Delegados Dirceu Silveira e Zulmar Valverde:

Dia 15.02.05, por volta das quinze horas liguei para a Delegada Marilisa da Delegacia da Mulher de Joinville com o objetivo de obter informações a respeito de uma diligência de interesse correcional. Marilisa parecia eufórica, radiante... Fiquei surpreso porque no dia anterior ela estava baixo-astral e agora parece que o sol voltou a brilhar. Logo em seguida ela me fez ver o porquê da sua alegria:

- “Eu estava até agora com o Secretário (Deputado Federal Ronaldo Benedet). Almoçamos juntos e andamos de um lado para outro de braços dados. Andamos por tudo...”. 

Procurei conter minha surpresa com aquele seu estado de ânimo e fui dizendo:

- “Ah, sim, a cúpula também almoçou com o Secretário?”

Marilisa confirmou e eu fui mais além:

- “Escuta,  aproveitasses para esclarecer o que está acontecendo aí em Joinville?”

Marilisa confirmou:

- “Sim, ele saiu daqui com os ouvidos... Visse a manchete hoje no jornal ‘A Notícia’?”

Fiquei curioso e perguntei o que foi e ela continuou:

- “O jornal disse que a Chefia da Polícia estava suspendendo o Zulmar e o Dirceu, estais sabendo? É por causa dos atrasos dos procedimentos na Sétima Delegacia.  Eles mudaram o foco das atenções. Antes era o Marcucci e agora somos nós o foco...”.

Lembrei que tinha comentado esse fato no dia anterior com Marilisa e parece que andaram assimilando os fatos... Aproveitei para argumentar:

- “O Secretário é gente boa. Ele é bom de conversa...”.

Marilisa concordou:

- “Ah, sim, gostei muito dele. Fiquei o tempo todo aqui grudada nele...(risos)”. 

A indignação do Delegado-Corregedor Nazareno Zachi e o desígnio do Delegado Sérgio Maus:

Dia 16.02.05, logo que cheguei na Gerência de Orientação e Controle (Florianópolis),  poucos minutos antes das oito horas da manhã, encontrei o Delegado Nazareno Zacchi lendo as manchetes policiais que ostentavam a capa do “Diário Catarinense”. Logo que me viu foi dizendo:

- “Isto aqui é uma barbaridade. Nem  os Promotores quando fazem um trabalho num caso relevante deveriam ir para o jornal dar manchete.  Tu visse a matéria aqui no ‘Diário’?  O Zulmar e o Dirceu foram afastados por causa dos acúmulos na 7ª DP lá de Joinville... Isso não poderia ser tratado assim, tudo bem, se fizessem isso reservadamente, mas ir para a imprensa...”. 

Custava-me acreditar naquilo e logo lembrei de Marilisa. Argumentei que aquilo jamais poderia ter ocorrido e que o Delegado Dirceu Silveira era um ex-Chefe da Polícia Civil que antecedeu Ricardo Thomé na direção da instituição. Com pesar pelos dois companheiros acabei comentando:

- “Eu não entendo, um partido como o PMDB, aliás, o antigo MDB que passou por tudo o que passou, justamente nós que fomos simpatizantes do antigo MDB jamais pensamos que o partido fosse um dia assumir o poder e que iria fazer pior do que fizeram o pessoal da direita. Olha, Zachi, nós passamos por muitas na época do Heitor Sché, do “Pedrão”, foram momentos difíceis, mas sobrevivemos e conseguimos superar tudo. Agora vem este governo do PMDB, antigo MDB colocar esse pessoal aí para perseguir pessoas, aterrorizar, ir para a imprensa criar factóides, isso é brincadeira, é uma vergonha, que partido é esse...  Mas isso é da têmpera dos que estão aí..., tudo começou errado já na Academia de Polícia em oitenta e nove...”.

Zacchi interrompeu:

- “Sim...”.

Continuei:

- Depois veio aquele episódio lá em Joaçaba, quando ele começou a desafiar os Promotores e Juízes... Aquilo acabou gerando um procedimento disciplinar e remeteram para que eu desse parecer lá na ‘Assistência Jurídica’ sobre o pedido de instauração de Processo Disciplinar. Eu lembro que na época procurei aliviar mais uma vez a situação dele por questões corporativas...  Bom, agora ele sai por aí em perseguição dos próprios colegas, especialmente, o Dirceu que o antecedeu e do Zulmar...”. 

Nisso surgiu o Delegado Sérgio Maus e aproveitei para brincar:

- “Visse, Sérgio, no que deu a tua correição lá em Joinville na Sétima DP?”

Sérgio imediatamente rebateu dizendo:

- “Não foi eu que fiz a correição foi o Mário Martins...”.

Continuei:

- “Sim, eu sei, estava brincando, mas o Mário estava a serviço de quem, heim?”

Sérgio em seguida fez o seguinte comentário:

- “Tá certo, também, estava tudo atrasado lá, eles mandavam cinco inquéritos por mês... Aí não dá, né, cinco inquéritos por mês, o que é isso...?”.

Interrompi:

- “Mas péra aí, o Dirceu assumiu aquilo lá em abril do ano passado  com um monte de  coisas atrasadas, sem gente...”. 

Sérgio continuou:

- “Então, o que tu queres, mandaram cinco inquéritos por mês, não dá, né...”. 

Tanto eu como Zacchi preferimos não dar pano para manga e Sérgio ainda mencionou que existiam três Escrivães na 7ª DP e eu pensei em rebater dizendo que o problema talvez não fosse a falta de Escrivães, mas sim de Delegados e Policiais para investigar. Zacchi começou a cutucar dizendo que os comentários da mudança da Chefia da Polícia Civil para Joinville eram porque o pessoal só queria receber diárias corridas.  Depois, Zacchi fez uma crítica ao envolvimento de policiais com política, citando alguns casos como o de Zulmar Valverde e que isso acabava comprometendo a imagem da instituição. O assunto era complexo demais para se reduzir a simples frases ou pensamentos, sendo que diante das circunstâncias preferi me calar e deixar o local com muito pesar pelo que aconteceu a dois companheiros e, pior ainda, por saber que existiam Delegados como Sérgio Maus que defendem as ordens dos superiores sem uma análise crítica sobre as verdadeiras causas.

A agonia da Escrivã Giselda Rigo:

 Depois que deixei os Delegados Nazareno Zachi e Sérgio Maus, durante o caminho até minha sala fiquei imaginando: “Se o Delegado-Geral ouvisse isso certamente que promoveria Sérgio Maus a ‘coveiro-mor’ do inferno que está se criando para muitos policiais inocentes, fracos...”. Também, lembrei do que a Escrivã Giselda passou e chorou na sua mão por causa dos procedimentos atrasados na 2ª DP da Capital, enquanto que o Titular (Delegado Neves) juntamente com os Delegados Adriano Luz, Sonéa... se reuniam para fazer planos, projetos políticos com vistas a assumir o “poder” caso o PMDB viesse a ganhar as eleições no ano de 2002 (se reuniam ao lado da “Assistência Jurídica”, na sala de reuniões da Delegacia-Geral). Claro que Sérgio nunca esteve muito interessado em investigar esses Delegados que se reuniam para fazer projetos para o futuro governo, abandonando seus procedimentos policiais, seus deveres funcionais... o mesmo para saber o que fizeram em 2002 em termos de produção de serviços funcionais, qual foram as atividades administrativas, os motivos de suas ausências das suas repartições durante o horário do expediente (o Delegado-Geral estava na 6ª DP/Capital, outros na 2ª DP da Capital..., onde centenas e milhares de procedimentos estavam em atrasos...). Sim, é verdade, sempre pensei que Sérgio Maus, dentro da sua visão de mundo, viesse a se colocar num plano superior aos colegas, especialmente, durante um momento de opressão seu sangue ferveria e ele se transformaria num felino algoz a serviço dos opressores... (seria mesmo isso possível? Esse era o verdadeiro Sérgio Maus? Sinceramente, não sei, porém, suas atitudes, suas palavras, sua capacidade de oprimir os fracos era uma questão vocacional, talvez uma questão de essência..., Fiz essa indagação porque  também constatei que nos últimos tempos constatei a Escrivã Giselda chorando pelos cantos da Gerência de Orientação e Controle, parecia cheia de medos, atormentada...

A favor do Delegado Sérgio Maus registre-se que se tratava de um profissional presente e trabalhador, intensivo, como poucos, entretanto, a impressão era que isso deformava sua mente, colocando-o numa perigosa posição de julgador, acima do bem e do mal...  Nesse ponto o Delegado Zacchi era bem mais confiável e tolerante, com a vantagem de não ser menos trabalhador e responsável que Sérgio Maus...