DELEGADA MARIA ELISA (PARTE LXXXVII): “O CASO DO DELEGADO MARCO AURÉLIO MARCUCCI E AS OITIVAS DOS JUÍZES DE DIREITO RENATO ROBERGE E JOÃO MARCOS BUCH (FÓRUM DE JOINVILLE)”.
Por Felipe Genovez | 13/03/2019 | HistóriaOs magistrados:
Dia 21.09.07, horário: nove horas e trinta e quatro minutos, percebi que havia uma ligação do celular de Marilisa. Imediatamente retornei a ligação e ela primeiramente teceu comentários sobre a viagem do início do mês de outubro para Videira. Depois, disse que consultou sua agenda e lembrou que aquele dia nós tínhamos audiência no fórum às dez horas da manhã e que já estava quase na hora. Marilisa com aquela sua voz de quem parecia meio que perdida relatou que passou muito mal a última semana, pois teve uma crise e acabou no soro. Perguntei se ela já estava melhor e ela respondeu que sim. Marilisa quis saber se eu já estava em Joinville e eu respondi afirmativamente, inclusive, que em quinze minutos chegaria no fórum. Ela respondeu que já estava saindo e que era para a gente se encontrar naquele local.
Eram exatamente nove horas e cinquenta minutos e eu estava em frente do Fórum de Joinville para ouvida do Juiz Renato Roberge. Logo que cheguei dei de cara com o Delegado Marcucci que trajava uma camiseta amarela canarinho, juntamente com seu assessor político e mais o seu advogado. Marcucci disse que tomou conhecimento da minha decisão de indeferir o pedido de oitiva do Juiz João Marcos Buch que era a testemunha mais importante. Argumentei que ele poderia pedir reconsideração e que caberia a mim e aos membros da comissão disciplinar verificar a procedência ou não do seu recurso. O Investigador “Zico” também estava do lado da viatura e veio me cumprimentar. Procurei ficar para trás e procurei conversar um pouco com o estressado policial “Zico”, deixando o pessoal acessar por primeiro o fórum. Depois de alguns instantes, me dirigi para o segundo piso e fui direto para o gabinete do Juiz Renato Roberge, tendo sido avisado que ele já estava conversando com a Delegada Marilisa e que ambos já se conheciam há muito tempo. Depois de bater na porta girei a maçaneta e fui entrando sem muita cerimônica, diante dos olhares atentos dos presentes. Marilisa tomou a iniciativa e foi me apresentando para o Dr. Roberge que estava sentado e pareceu me fitar com certa curiosidade, mas com um olhar quase frio e insuspeito, sem perder a altivez magistral e a típica serenidade da toga, apesar de ser uma pessoa simples. Depois das apresentações, o Juiz Roberge me convidou para sentar ao lado de Marilisa. A conversa começou como terminou, ou seja, num terreno improdutivo, não havia muita liberdade para tratarmos de amenidades ou de temas casuais, afinal de contas tudo indicava que seria uma audiência bastante tensa. Perguntei se ele era filho do Desembargador Roberge e ele respondeu que sim. Comentei que trabalhei com seu pai na época em que ele atuou como Juíz de Direito em Blumenau. Depois falamos do Juiz Samir Saad, que trabalhou em Joinville alguns anos e estudou comigo (também foi Delegado). Roberge desabafou que a Justiça de Joinville vivia num caos e mandou que a gente olhasse para trás a fim de testemunhar a montanha de processos judiciais amontoados junto a parede do seu gabinete. Argumentei que a Polícia como um todo também vivia aquele mesmo drama. Em seguida iniciamos a audiência e percebi que Marcucci não se fez presente, muito embora estivesse aguardando no andar térreo. A audiência não foi muito longe e pude observar que o Dr. Roberge tinha uma certa amizade ou proximidade com o policial acusado Eleandro Felício, tanto que foi cumprimentá-lo, apesar das algemas. Achei interessante o desabafo do Dr. Roberge quando disse que ele e o Juiz Marcos Buch eram “amigos no plano profissional” do Delegado Marcucci e do Investigador Eleandro. Dr. Roberge comentou ainda que nunca quis o mal do Delegado Marcucci, mas mesmo assim ele o representou no Conselho Nacional de Justiça, fazendo várias denúncias contra sua pessoa. O magistrado fez desabafos emotivos e deu para perceber que aquilo havia causado uma dor interna muito grande... Eu cheguei a perguntar para o Dr. Roberge e para o advogado de defesa se queriam que eu constasse dos autos aquele desabafo, mas ninguém se manifestou e eu entendi que a defesa tinha dado uma “dormida”, afinal de contas era um detalhe muito importante. No final da audiência, pedi licença e me dirigi até o gabinete do Juiz Marcos Buck, pois queria conhecê-lo pessoalmente. Fui informado que ele estava no prédio, porém, não se encontrava no seu gabinete. Estranhei o fato e achei que ele poderia estar em alguma sala acompanhando a nossa audiência, pois Roberge tinha deixando escapar alguma coisa nas entrelinhas de que havia câmeras... Resolvi não aguardar o retorno do excelente Dr. João Marcos Buch, porém fiquei bastante desconfiado, era muita coincidência seu secretário dizer que ele tinha saído da sala, mas que estava no prédio (no horário da audiência) e que poderia retornar a qualquer momento... (“hummm”, pensei). Lembrei que achei Marilisa um pouco tensa, menos solta, espontânea (reservei isso em meus pensamentos, pois gostaria de conversar com ela, se bem que as coisas naquele momento pareciam estar diferentes entre nós, muito embora o meu carinho continuasse sempre o mesmo, talvez, com intensidade “deferente”...).